Saint Seiya Initiu Legends: Saga Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 12
Torneio Galáctico - A vontade de Pegasus


Notas iniciais do capítulo

Seiya vira o jogo, despertando a ira de uns, admiração de outros, ao mesmo tempo que um novo personagem surge das terras geladas da Sibéria.



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O frio vento cortava a imensidão daquela terra coberta de neve e apenas seu uivo ecoava, até chegar àquele vilarejo, mais ao sul da Sibéria. Seria uma região inóspita se não fosse por alguns poucos casebres em estado aceitável de habitação. De algumas chaminés, se desprendia uma suave fumaça, indicando que havia alguém tentando se mantiver minimamente aquecido ou confortável para enfrentar a nevasca que se anunciava.

Não seria prudente sair com aquele clima, mas parecia que alguém pouco se importava com aquele frio. Apenas um garoto, que havia sido encarregado de fechar as janelas de sua morada, percebeu a presença daquela pessoa, vestida em um hoodie, uma espécie de casaco pesado comprido de forro acolchoado e grande capuz. Reconheceu–o como sendo o rapaz que todos comentavam ser um estrangeiro, para treinar. Pensou em alertá–lo da friagem que se adensava, mas ele já havia desaparecido.

Um olhar atento ao céu anunciava que não haveria muito tempo, mas precisava fazer aquilo. Era seus últimos dias naquelas terras geladas e precisaria cumprir a ordem que lhe foi entregue. Haveria de cumprir em respeito a ele, somente a ele. Porém, ainda assim, haveria de cumprir o ritual que seguia nos últimos dois anos. Suportaria a resistência daquela massa branca sob seus pés e do vento frio e cortante em seu rosto, parando apenas diante de uma vasta e perfeitamente plana área que lembrava vagamente um lago congelado. Os aldeões chamavam aquela região de Vale Branco, cercado por paredões de gelo, e dali ele havia feito seu santuário.

Removeu o capuz que cobria sua cabeça e exibindo longas madeixas douradas que voavam com o vento gelado. Os seus olhos azuis lembravam cristais de gelo de tão cintilantes. Olhava observador para o plano à sua frente e se abaixando, encostando o joelho naquele chão branco. Estava lá. Qualquer outra pessoa veria apenas um espelho de gelo, mas não ele. Esboçou um sorriso e balbuciando algo.

Levantou a mão direita, emanando uma luminescência de seu cosmo esbranquiçado como as nuvens emanadas pelo gelo e apontando com o indicador para a camada de gelo à sua frente. Um fio daquele cosmo seguiu em direção à camada do gelo e criando uma linha invisível circular, fechando diante dele. Sorriu e concentrou mais aquele cosmo, agora em seu punho. Jogou o braço para trás  com os punhos fechados e desferiu um violento golpe no centro daquele círculo de gelo e saltou para trás ao ver as fissuras se abrindo.

Aguardou pacientemente o gelo trincar e ceder, revelando uma cratera com pouco mais de 1m de gelo antes de revelar as águas azuladas e geladas. Removeu o casaco que cobria seu corpo esguio e malhado, trajando uma calça preta e blusa azul escura.

No bolso do casaco, recolheu duas flores rosáceas e prendeu com a boca. Olhou a correnteza por alguns instantes e saltou, de cabeça, nas águas geladas até o grande navio que descansava no fundo daquelas águas. Estava presa por uma rocha, à beira do grande abismo. Porém, a sua visita seria rápida, apenas uma despedida.

Num dos inúmeros quartos daquele velho navio naufragado encontrava–se seu altar daquele santuário, e ao centro dele uma jovem adormecida nas águas geladas cercadas de outras flores que já haviam perdido suas cores, mas isso não importava. Ele sempre trazia novas peônias, uma típica flor da região, as suas preferidas. Arrumou as duas flores entre seus dedos e recolhendo com cuidado o terço bizantino que ela tinha guardado desde então.

"Prometo que voltarei e a trarei de volta", pensou ele nadando pouco acima e a beijando na altura da testa, fazendo sinal da cruz. Nadou para trás, contemplando–a mais uma vez, os olhos cerrados denotando uma silenciosa e amarga dor. Era o momento de partir, mas prometendo retornar, o quanto antes. "Até lá, espere por mim... mamãe!".

—---------◆◆✧◆◆----------

Miho desceu dois lances de escadas e cortando os corredores até chegar à sala dos funcionários. Eiri, outra jovem como ela, assustou–se com a presença aflita da colega que chegou ofegante. Todos estavam ligados no canal que transmitia, ao vivo, o Torneio Galáctico. Sabia que Seiya lutaria naquela tarde, mas se negou assistir na sala por acreditar não ser capaz de suportar ver sua luta. Ao ouvir pelo rádio o golpe traiçoeiro do Urso, desceu às pressas esperando que já estivesse terminado.

"Isso parece ser o limite do corpo, mesmo para um cavaleiro! A cada instante a pressão exercida pelo urso cresce. O público está enlouquecido! Muitos gritam em favor do Seiya e outros apoiando o Urso. O público está dividido... e, olhem! Seiya está tentando alguma coisa, está tentando se soltar, mas já se encontra sem forças"

 De fato, Seiya tentava golpear os braços de Geki, mas era em vão. Nem mesmo as pernas pareciam obedecê–lo naquele momento. O ar começava a faltar–lhe, e a cada movimento parecia que a força exercida por Urso em sua garganta era maior.

— Não adianta, Seiya... Acha que pode conter a força de meu braço? — dizia Geki orgulhoso, ouvindo os estalos dos ossos, e Seiya apenas engoliu a seco ouvindo–o dizer aquilo. — Nada pode detê–las! Em meu treinamento, adquiri a força de 100 ursos.

"E–Eu não posso... não posso desistir...! S–Seika...!!!", gritava Seiya mentalmente, pois nem mesmo a voz saía àquela altura, senão os gemidos da dor enquanto tentava se desvencilhar daquele homem. Nesse instante, sentia sua garganta queimar, juntamente com os pulmões enquanto buscava, desesperadamente, puxar o ar que não vinha. Abria a boca querendo ar, mas conseguindo apenas salivar. Os seus olhos, por um instante, pairou nas câmeras que o filmava, no público que o ovacionava e que, pouco a pouco, era silenciada. O que se ouvia era apenas o estalar de seus ossos. Tão logo seus olhos perdiam o foco dos presentes no estádio enquanto sentia-os lacrimejar. Repousava, por fim, aonde se encontrava Saori — esta que o olhava incisivamente.

"Pegasus parou de se mexer... parece que ficou inconsciente! Cogita–se a ideia de interromper o combate..."

"Interromper o combate? N–Não! Não... podem... fazer isso....! E–Eu... Eu fiz uma promessa...E–Eu... preciso...", dizia para si mesmo, mas pensava em como fazer isso.

— Desista Seiya, e a luta termina aqui! Nada pode contra meus braços, a minha arma mais poderosa. Desista! — dizia Geki com um orgulho vitorioso.

"A arma mais... poderosa...?", escutou Seiya. Aquelas palavras soavam bastante familiar.

Foi acordado com um balde de água fria que o fez cair da cama. Engoliu boa parte da água e buscando se localizar após o susto, até ver Marin passar por ele deixando o balde sobre a mesa.

— CARACA, MARIN! QUER ME MATAR? — exclamou Seiya se levantando, todo molhado, passando as mãos no cabelo ensopado. — Por que diabos fez isso? 

— Treinar, Seiya. Já descansou bastante. — disse ela chamando–o para acompanhá–la para fora.

— Treinar? Marin, treinamos a manhã inteira. Tem dois dias que não durmo! — reclamou Seiya, removendo a blusa molhada e torcendo, seguindo sua mestre entre tropeços, pulando em um pé só após uma topada que o fez xingar, e ser olhado com censura por Marin. — Eu dormi quanto tempo? 

— 1h mais ou menos, tempo suficiente para descansar. — disse ela cruzando os braços ao lado de um boneco de pau improvisado. Aquilo mais lembrava um espantalho que viu em revistas. — O que vou te ensinar é uma regra simples, mas que muito vai ajudar a avaliar seu adversário numa luta.

— Acho que durante o combate estarei pensando em como sobreviver e não avaliar meu oponente, não acha? — dizia batendo de um lado da cabeça para tirar a água do ouvido, balançando a cabeça de um lado para o outro para livrar–se da água no cabelo.

— Vou considerar que por ter despertado agora não esteja raciocinando melhor... — disse Marin com sarcasmo na voz que irritou Seiya, fazendo–a olhar de lado. — Mas é durante um combate que melhor pode avaliar seu adversário, pois é quando exatamente ele mostra suas vantagens e desvantagens.

Marin apontou um tronco à sua frente para que Seiya se sentasse, um tanto contrariado, os olhos ainda pesando pelo sono.

— Descobrir a fraqueza de seu adversário não é tão difícil se abrir bem sua atenção. Ele terá orgulho de sua técnica e concentrará tudo nesse ponto... e é nele que deve focar–se. Se destruir sua arma, você o deixará vulnerável, e uma vez assim, abre vantagem ao seu favor. Entende o que digo?

Seiya coçou a cabeça, balançando–o. Buscava se manter acordado, mas assentindo. Olhava para Marin e para aquele boneco improvisado com capa e elmo de soldado do santuário. Tinha os braços abertos em T e usando as braçadeiras de couro de Marin, assim como os pés usavam suas proteções. Nessa rápida distração, percebeu um vulto em sua direção, segurando a mão de Marin, e em outro rápido movimento, bloqueou suas pernas antes que ela desvencilhasse e saltasse para trás.

— Muito bem, vejo que está alerta... então acredito que entendeu o que eu disse. — disse Marin apontando para a cabeça daquele boneco. — Onde quer que concentrem sua força, deve ser destruída, Seiya. A postura de seu oponente pode dizer muito, principalmente sua fraqueza. Se for as pernas, quebre–as! Se forem os braços, inutilize–as, se for a cabeça, atordoe. Um único segundo de vantagem é o que definirá o vencedor.

"Destruir a arma de seu inimigo... seu ponto fraco...!", pensava Seiya, forçando a abrir os olhos, lacrimejando, vermelhos. Seiya lutava para se manter consciente. Todo o seu corpo estremecia. As mãos que se apoiavam no braço do urso, mesmo com alguma dificuldade, mas alcançando até próximo da altura do pulso, protegido pela armadura. Geki observou as mãos de Seiya se moverem e sorriu, rindo em seguida.

— Ainda está consciente, Seiya? Admiro sua persistência, mas não adianta. Acha que esses braços podem contra os meus?! Que idiota! — disse Geki rindo, exercendo mais força em suas mãos.

"Minha nossa! Os computadores estão registrando uma força de mais de 3000Kw! O pescoço de Seiya será quebrado!"

 Uma parte do público se levantava, assustado com aquilo. mesmo na sala dos cavaleiros, todos assistiam calados, com Shun sendo o mais apreensivo. Miho também estava na sala dos funcionários, com as duas mãos na boca, tremendo. Eiri alternava seu olhar da colega para a TV, também apreensiva. Sabia que Miho conhecia aquele cavaleiro e as duas muito conversaram sobre Seiya. Nenhuma das duas tinha o que dizer naquele momento. Saori apenas assistia, impassível a tudo aquilo, com os olhos fixos na tela diante dela.

— Acabou Seiya. A vitória é mi... — dizia Geki quando viu Seiya abrir os olhos e estes fitá–lo com uma determinação que congelou o Urso por alguns instantes. — Você ainda acha que pode... O QUÊ?

Um sorriso brotou na face de Seiya, mesmo meio a dor e sentindo as mãos fechadas em sua garganta. Geki não acreditava no que estava acontecendo. Num instante Seiya estava a ceder em suas mãos, mas agora sentia uma rigidez em seu corpo e um olhar que jamais presenciou antes. Não bastante, sentia uma forte pressão em seu pulso, percebendo tarde demais o que estava acontecendo. Seiya havia concentrado seu cosmo em suas mãos. Pequenas fissuras surgiam em sua armadura para o espanto de Geki que começava a suar frio.

"O que está acontecendo? Pegasus está reagindo? Sim, Seiya está reagindo e parece que é Urso que está sendo dominado" 

Geki tentava se soltar de Seiya, mas parecia imobilizado por aquele olhar tão intenso sobre ele, reluzindo sem igual para o cavaleiro de Urso. Assistiu os punhos de sua armadura serem destruídas e Seiya alcançar seu pulso, pressionando com força suficiente para que seus dedos fossem abertos e libertando–o de vez.

"INCRÍVEL! Como Pegasus pode ter tamanha força!? Ele sobrepujou a força do Urso e conseguiu se libertar de suas garras. Ele estava quase morrendo e agora revida de maneira espetacular!" 

O público vinha abaixo ovacionando, instigado pelo locutor. Geki, por sua vez, estava surpreso, perplexo pela superioridade de Seiya naquele momento. Até mesmo Miho olhava a TV sem ao menos piscar, segurando a respiração. Foi aproveitando esse breve momento que buscou impulso, torcendo os pulsos do seu adversário e jogando seu corpo para trás, desvencilhando de vez do seu oponente que recuou segurando os pulsos quebrados. Uma vez ao chão, Seiya buscou se manter de pé, recuperando o ar que lhe faltava. Enfurecido, Geki avançou de maneira desesperada.

"Deixe–o o vulnerável e ele agirá de maneira desesperada o bastante para decidir o combate". Foram as palavras de Marin ecoando em sua mente naquele momento. Seiya sorriu naquele instante.

Esperou o momento oportuno e saltou, diante de Geki, sobre ele, e num rápido movimento, virou–se para que fosse ele a avançar em direção do urso com seu punho em riste e saltando, mais uma vez, em direção de Geki que apenas jogou o corpo para trás e voltando para frente, com os olhos arregalados. Seiya girara no ar, caindo com uma perna dobrada e outra ajoelhada, respirando ofegante.

Um momento de silêncio se fez presente quando os dois cavaleiros se mantiveram parados na Arena. Mesmo o locutor aguardou o painel que acendeu anunciando a vitória de Pegasus.

O público se mostrava confuso com o resultado, principalmente por ver os dois Cavaleiros ainda de pé. Porém, foi somente Geki se virar e olhar para Seiya, de costas para ele. Deu alguns passos em sua direção, mas suas pernas cederam, levando–o ao chão, com diversas fissuras em sua armadura, enquanto Pegasus se levantava sob a aclamação do público. Seiya observava o Coliseu que gritava seu nome, mas em potencial à câmera que o focalizava.

"Eu venci, Seika. Eu venci! Onde quer que esteja, espero que esteja me vendo.", pensava ele levantando o braço vitorioso.

Na sala dos funcionários, Miho recebia o abraço de Eiri, meio às lágrimas.

Na sala dos Cavaleiros, num nível abaixo da Arena, Jabu saiu enraivecido, chutando uma mesa próxima e deixando todos comentando sobre o vacilo de Geki e dos inúmeros golpes lançados por Seiya que foram imperceptíveis ao público. Para todos, foi apenas um único golpe, mas que escondeu dezenas dele num único segundo.

Em sue camarote, Saori mantinha–se olhando para a tela quando levantou a mão, chamando por Tatsumi que se prontificou à sua frente.

— Tatsumi, prepare tudo. — disse ela somente, com um ar levemente tedioso e dispensando–o em seguida.

Após a saída de Tatsumi, Saori tocou na tela e permitindo que várias imagens, quadros da luta ficassem disponíveis, e ela passou muitos empurrando–os para o lado de maneira interativa até que uma em especial a fez aumentar a tela e tocar duas vezes rápido. O vidro à sua frente escureceu e a imagem dos olhos de Seiya se mostraram diante dela, em tamanho gigante. Saori se levantou de seu trono e foi até próximo à tela, observando aqueles olhos.

Havia algo diferente neles, mas ela não sabia precisar o quê.

Algo aconteceu naquele momento.

—---------◆◆✧◆◆----------

Os seus olhos estavam pesados ainda pelo sono. Após relaxar os músculos, podia sentir o quão dolorido estava envolto do pescoço, fazendo com que levasse a mão para uma massagem na região. Talvez estivesse tão embriagado pelo cansaço que seus sentidos demoraram alertá–lo dos sons de talheres e do aroma que impregnara suas narinas. Demorou a focar alguém no cômodo da cozinha até perceber quem é, principalmente quando viu a pessoa se virar e ir ao seu encontro ao se levantar da cama.

— Seiya! Até que enfim acordou. Está quase pronto! Devia estar mesmo cansado.

B–Bom dia... Miho! Que... Que horas são agora? — dizia Seiya conseguindo se colocar sentado, esfregando os olhos. Recebeu um copo de água da amiga que puxou uma cadeira sentando à sua frente dizendo ser tarde, quase 13h. — Tudo isso? Nossa! Realmente desmaiei! — riu ele, olhando à sua volta. — Como entrou aqui? 

— Desculpe invadir, mas fui procurá–lo no hospital hoje cedo achando que tinha passado a noite lá e disseram que saiu antes do amanhecer, daí vim aqui. Lembra que me deu o endereço? — comentou ela se levantando e indo até o fogão. — A porta estava somente no trinco e o encontrei desmaiado. Achei que fosse acordar com fome então...

Ouvia a Miho falar, agradecendo por ela estar ali. Realmente estava faminto, e o cheiro estava bastante convidativo. Apanhou um pote ao lado da cama que tinha unguento esverdeado que ele encheu a mão e massageando envolta do pescoço. Miho assistiu aquilo e desligava o fogo, colocando a panela para esfriar, perguntando o que era aquilo e notando o hematoma na região do pescoço, suspirando por aquilo.

— Sumo de ervas. Trouxe... do Santuário. Alivia bastante as dores. Usava muito após um dia de treinamento. É meio nojento, mas é bom. — comentou, fazendo movimentos com o pescoço de um lado para o outro e se colocando de pé. Estava com uma blusa vermelha e sua calça jeans surrada, mas usando meia. Nem lembrava de ter tirado os sapatos. — O cheiro parece bom. 

— Fiz uma sopa. Imaginei que algo líquido seria melhor após a luta de ontem. — disse tímida. 

— Obrigado. Realmente, uma sopa vai cair bem. Almoça comigo? — disse ele puxando a cadeira em um convite à ela.

— Desculpe, Seiya. — lamentou ela, seprando a panela para esfriar. — Deixei  a Eiri no meu lugar e não quero abusar da boa vontade dela. Volto amanhã para saber como está. Até lá, se cuide, sobretudo desse pescoço com esse rouxidão aí. Coma tudo e descanse.

Ela sorriu, pegando sua bolsa e se retirando. Realmente, a refeição parecia deliciosa.

E realmente estava.

Seiya ignorou as recomendações de Miho. Afinal, havia um assunto pendente a ser resolvido e queria cumpri–las o quanto antes. Embora tivesse às portas do verão japonês, uma massa de ar frio e quente colidiam sempre no início da estação, e aquele dia estava moderadamente frio em comparação ao dia anterior. Isso levou Seiya vestir um casaco, auxiliado por um cachecol que jogou envolta do pescoço dolorido, além de levar consigo um guarda–chuva. O que menos precisava agora é ficar gripado.

Após 10 anos, olhar o prédio da Fundação Graad soava nostálgico, mas ao mesmo tempo irritante. Foi por chegar ali que se distanciou de Seika, que perderam toda e qualquer forma de contato e onde decidiram seu destino. Nada parecia ter mudado à primeira vista, senão o prédio onde eram seu dormitório junto de tantos outros que parecia ter sido mais modernizado e ganhado um andar a mais. O jardim e a área de campo mantinham–se bem cuidados como sempre — e ele muitas vezes cuidou daquele lugar. Até mesmo a grande árvore de oliveira imperava no jardim, com Shun junto a ele, contemplativo.

— Olá, Shun! Parece pensativo. — indagou Seiya com as mãos no bolso do casaco. A sua voz ainda um pouco rouca. — Tudo bem? 

— Olá, Seiya! Eu que deveria perguntar se está tudo bem. Soube que fugiu do hospital.  — disse o rapaz se encolhendo pelo vento frio que cortava ali naquele instante. — Como você se sente? 

— Sobrevivi. — os dois riram, mas Shun tinha um riso triste. — Lembro dessas marcas. São dele, não é? Não teve notícias ainda? 

— Não. Acredito que ainda deva chegar. Você chegou tarde, espero que ele também chegue, e ele vai! — dizia com convicção, respirando fundo. — Pensei que estava dormindo aqui. Estranhei achar seu quarto vazio. 

— Arranjei uma quitinete no centro. Não aguentaria ficar aqui. Bem que a Saori me ofereceu, mas declinei... — disse Seiya se virando e olhando o prédio. — Já tenho que suportá–la nesse torneio, não quero ter de encontrar com ela todo o tempo. 

— Que interessante, Seiya...  — a voz de Jabu soou bem próxima, e Seiya apenas virou os olhos acompanhado de uma careta para Shun antes de se voltar para o próprio. — E é Srta. Kido! Mostre pouco mais de respeito. Não se ache o tal porque venceu uma luta.

Jabu se mostrava muito contrariado e Shun sussurrou a Seiya que ele estava assim desde que ele venceu a luta, tornando–se a nova celebridade do torneio. Seiya apenas sorriu satisfeito, olhando para Jabu com um orgulho irritante.

— A Srta. Kido o aguarda. — e deu às costas, seguindo pelo caminho de pedras em direção da propriedade. — Espera que te carregue no colo? — e seguiu sem mais olhar para trás.

Seiya riu, despedindo–se de Shun que apenas meneou negativamente para aquilo e se voltando para a grande árvore. Levou a mão ao pescoço e apertou com força algo que trazia com ele, soltando um longo suspiro.

Na propriedade, Jabu o guiou até a um escritório, abrindo a porta para ele com notória má vontade, mas seguindo frente ao Seiya para que fosse então anunciado. Saori estava sentada numa poltrona, usando um casaquinho de crochê rosado e mangas compridas com dobrado no pulso, acompanhado de uma calça vinho e botas de cano alto preta. Os cabelos soltos caiam sobre os ombros e peito, e parecia muito tranquila sorvendo de seu chá quando dispensou Jabu, mandando–o fechar a porta para que os deixassem a sós.

— Esperava por você, Seiya. — disse ela com sua voz firme e olhar incisivo sobre ele, parado com as mãos no bolso do casaco. — Aliás, acreditei que viesse me procurar ontem independente do que aconteceu. 

— Devo acreditar que esperava ver Geki quebrando meu pescoço? Por que acho que adoraria isso? — questionou Seiya cerrando os olhos e com forte tom de sarcasmo. Porém, ele viu apenas Saori sorrir enquanto descruzava a perna e se levantando.

— Na verdade, nunca acreditei que fosse perder, ou eu o teria julgado muito errado perder logo na primeira luta quando se mostrou tão... obstinado! — disse ela dando os ombros e se voltando para ele. — Acreditei que fosse virar ao seu favor. Afinal, seu objetivo não poderia ser assim, tão vazio.

Comentou por fim, conseguindo arrancar o sorriso debochado de Seiya de sua face a ponto dele virar o rosto.  Quando voltou a fitá–la, ele a viu próxima a ele com um envelope, fazendo sinal para que ele o apanhasse, distanciando–se em seguida quando ele o teve em mãos, olhando aquilo apreensivo. Seria algo de Seika? Ela o teria reconhecido na TV?

— Acordo é acordo. Você lutou e ganhou, em troca fiz a minha parte. — comentou Saori voltando a se sentar em sua poltrona, comendo um biscoito.

Seiya rasgou o envelope e encontrando uma pilha de papéis com registros sobre Seika, folheando enquanto se senta numa poltrona próxima sob o olhar de Saori. Foi quando ele parou, voltando algumas páginas e se levantando, olhando em direção de Saori que piscou fitando Seiya como se não entendesse sua reação.

— Faltam... Faltam algumas páginas. Ela pula ao menos... 10 páginas aqui. — questionou Seiya para Saori e a vendo sorrir.

— Eu sei, e você a receberá se vencer a segunda luta, Seiya. — ele arregalou os olhos, intencionando dizer algo. — Não foi esse nosso acordo? Você luta e ganha, e eu uso a fundação para encontrar sua irmã. Vença e terá os documentos que faltam e algo mais. — Saori sorri orgulhosa. — Isso é tudo. Boa sorte em sua próxima luta em alguns dias. Você vai precisar.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo...
Santuário inicia uma fase turbulenta e uma grande ameaça nasce. E uma nova batalha tem início no Torneio galáctico.



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