Não morra de fome escrita por MafagafoGirl


Capítulo 2
Coelhos e Flores




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A luz fria do Sol refletiu nos meus olhos inchados. O tempo está começando a esfriar pouco a pouco. Minha barba cresceu bastante -- Ela protege meu pescoço e meu peito do frio da noite.

Meu estômago roncou. Só há coelhos para esta noite.

Lembrei-me da primeira vez que capturei um coelho. Eu estava procurando minha cabana (era meu segundo dia aqui), e me deparei com um tipo de savana. Era um bioma cheio de capim e tocas de coelho. Eu recolhi muitos desses capins, e fiz um tipo de armadura com eles. Eu esperava que não houvessem insetos naquela coisa.

E as tocas de coelho, haviam tantas que eu me surpreendi que o chão não afundasse e despedaçasse, como uma madeira comida por cupins.

Reaprendi, naquele momento, a fazer armadilhas para capturar esses coelhos. Digo reaprendi pois, na mocidade, já havia aprendido com meu pai a fazê-las; agora esse conhecimento me seria útil.

Haviam sobrado algumas frutinhas do jantar do dia anterior. Com cuidado, eu as coloquei na armadilha e esperei, um pouco afastado, um coelho se aproximar.

Sim, sim, eu peguei aquele coelho. Só não sabia como matá-lo. Meu estômago reclamava, mas eu simplesmente não sabia como matar um coelho. Esperei até o anoitecer, procurando pela minha cabana, para fazer uma fogueira e cozinhá-lo. Não estava muito bom, faltava tempero, obviamente, mas quando se está morrendo de fome você não percebe.

Comecei a guardar troncos, para depois construir uma cabaninha, caso passasse mais tempo lá. Usei como combustível para a fogueira pinhas, mas elas acabavam depressa e não eram tão boas assim.

Então enfrentei minha primeira noite acordado. Haviam aranhas por perto. Apesar de eu as achar interessantes, sempre odiei aranhas. Elas não eram normais, aqui. Eram muito maiores, e faziam um rugido estranho ao me verem. Uma delas se aproximou. Eu não sabia o que ela queria até que ela tentasse me morder.

Assustado, eu dei algumas machadadas nela e ela caiu morta. Eu resolvi fazer uma experiência, ver se a carne dela era comestível.

Eu cozinhei, comi, vomitei e desmaiei. Acordei no dia seguinte, com a cabeça quase explodindo, extremamente irritado e confuso. Aparentemente, carne de aranha não é comestível.

Eu estava aflito, assustado. Saí dali o mais rápido que pude, e procurei por um local mais seguro para ficar, e também algum arbusto que pudesse comer frutinhas.

Quando eu era criança, minha mãe costumava me fazer uma coroa de flores para me acalmar. Ela pedia que eu pegasse as flores, e trançava uma pequena coroa, e colocava em volta de meus cabelos. Então, eu afundava o rosto em seu colo e ela me consolava, calmamente.

Ás vezes, eu tranço uma coroa de flores para mim, quando estou muito nervoso. Foi isso que fiz, aproveitando que haviam muitas flores ali em volta do lugar em que parei para descansar.

Quando eu a coloquei em volta de meus cabelos, foi como retornar á minha infância. Ah, aquela coroa cheirava a beleza. Fiquei sentado ali, esperando o anoitecer, balançando meu corpo para trás e para frente, abraçado ás minhas pernas. Quando começava a escurescer, eu fiz uma fogueira.

Não consegui dormir. A coroa de flores não estava me acalmando.

Ela ainda não me acalma, nos dias atuais.

A noite chegou, acendi minha fogueira. Não posso ficar muito perto, corro o risco de minha barba pegar fogo, mas fico o mais próximo o possível. É sempre bom se aquecer, principalmente no inverno.


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