It's not a Fairy Tale escrita por Emmy


Capítulo 3
Um Lugar em Lugar Nenhum


Notas iniciais do capítulo

"O desespero é o maior dos nossos erros."
Luc de Clapiers Vauvenargues



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Abri meus olhos lentamente, e John estava sentado na cadeira, olhando pro nada, perdido em pensamentos. Já eu estava imunda, com a bexiga cheia, um mau hálito horrível, e sem forças para brigar com ele.

– John eu preciso de cuidados, nunca estive em situação pior- resmunguei.

– Iremos trocar de lugar ao meio dia, lá você poderá tomar um banho e terá roupas novas. Marcos está chegando ai, me desculpe, mas vou ter que amarrá-la novamente- falou me olhando como se suplicasse pra que não dificultasse as coisas.

Fiz uma careta e não falei nada, sinceramente estava com medo de falar alguma coisa e ele cair pra trás com o meu mau hálito. Pensando bem essa seria uma ótima maneira de fugir, com isso em mente não consegui segurar o riso imaginando a cena.

Ele me olhou curioso, querendo saber o motivo de minha risada, porém não daria a ele o gostinho de saber. Apenas levantei e me sentei na cadeira. John me amarrou delicadamente. Alguns minutos depois Marcos entrou no Galpão.

– O outro lugar está pronto. Venda ela, vou te esperar no carro- anunciou assim que chegou.

John colocou uma venda preta em meus olhos. Como só tinha amarrado minhas mãos pude ir andando. Ele passou uma de suas mãos em volta da minha cintura para me conduzir pelo caminho. E naquele momento soube que não foi ele que me abordou no estacionamento e sim Marcos.

A viagem para fora de Porto Alegre- pois pelas horas que estávamos no carro, era só o que podia ser- foi silenciosa.

O carro finalmente parou, John me conduziu para o suposto lugar. Subi pequenos degraus, uma porta foi aberta, subi um lance de escadas, essa era maior. Outra porta foi aberta. Fui colocada lá dentro, e John me sentou no que parecia uma cama e amarrou minhas mãos na cabeceira.

– Eu já volto está bem! - falou John.

– Vou esperar ansiosamente- disse sarcástica.

Ainda estava vendada, ouvi a porta se fechando. John e Marcos estavam conversando do outro lado dela.

– Vou voltar pra Porto Alegre, não deixa a loirinha fugir. Se bem que ela não conseguiria mesmo se tentasse a vida toda, pois este lugar está literalmente no meio do nada. - falou rindo baixo. Tinha raiva daquele cara, talvez só tivesse falando aquilo para me assustar.

– Não vou deixar ela fugir pode ficar tranquilo- respondeu John.

– Voltarei daqui a dois dias, vou resolver as paradas lá, assim que estiver tudo certo te ligo. A geladeira está bem abastecida, da tranquilo pra passar esse tempo. Também já tirei a moto da caminhonete, caso precise fugir, mas creio que não será o caso- Marcos dizia a seu irmão.

– Pode deixar. - respondeu John.

– Irmão desculpe envolver a gente nessa roubada, vai dar tudo certo e logo nossas vidas voltarão ao normal- Marcos falou tentando aliviar a consciência.

– Nossas vidas nunca mais voltaram a ser como antes, mas eu te desculpo, afinal somos da mesma família- John falou, parecendo sincero.

Ouvi Marcos descendo as escadas.

– Tchau boneca, até breve- gritou antes de chegar ao final.

– Vá se ferrar seu cretino- gritei de volta.

A porta do meu quarto se abriu, e de repente uma mão começou a me desamarrar gentilmente. Ela tirou também a venda sobre os meu olhos.

John era lindo e tudo mais, porém não sou louca de ficar por conta própria, tinha que tentar fugir de novo. A porta estava entre aberta, tirei os saltos que usava no dia do sequestro. Estávamos num quarto e nele havia: uma cama bem confortável, uma penteadeira, um espelho no canto, e uma porta ao lado. A parede era de um azul claro, e o quarto tinha uma enorme janela que estava fechada no momento.

– Aquela porta ao lado do espelho é um banheiro, você pode se arrumar lá, e tem roupas do seu tamanho dentro da gaveta da penteadeira. - explicou.

Enquanto ele estava distraído explicando, corri. O lugar era uma casa de dois andares, e enquanto corria não ouvi passos vindo atrás de mim. Desci apressadamente as escadas, abri a porta da frente, estava no hall de entrada da casa. Olhei pro lado e pro outro, não aguentei e cai de joelhos chorando. Estava numa casa no meio do nada. Nem uma trilha, nem uma estrada, parecia mais uma fazenda. Para todos os lados que eu olhava só via um gramado verde. Como eles sabiam o caminho? Parecia que o lugar não tinha início nem fim. Fui tomada pelo desespero, a sensação era que não conseguiria mais levar ar para meus pulmões. Queria gritar, mas não tinha forças pra isso. Queria correr, porém não sentia as minhas pernas. Queria quebrar tudo, mas isso só me levaria ao esgotamento. Então, tudo que fiz foi continuar a chorar histericamente e fintar o horizonte, no qual o sol estava se pondo. Aquilo me deixou mais triste ainda e até com inveja do sol, pois ele tinha a liberdade de ir e vir, e ninguém poderia prendê-lo. Acho que a insanidade começou a me atingir. De repente senti seus braços em minha volta, me levantando. Queria me aninhar neles e chorar para sempre, mas isso seria sem sentido, pois ele era o responsável por eu estar ali. A raiva me subiu a cabeça. O empurrei de leve e subi pisando forte a escada, bati a porta e fui direto pro banheiro. Ainda usava as roupas de trabalho do dia do sequestro: minha saia social cinza que ficava um pouco acima do joelho, uma camiseta e um blazer da cor da saia.

Observando o banheiro percebi que era aconchegante. Tinha uma pia e um vaso branco, um espelho, uma banheira simples daquelas que se vê em filme americano, e as paredes eram cor de areia. Coloquei a banheira para encher enquanto tirava a roupa, logo após entrei. Como era bom poder tomar uma banho, aquilo me deixou tão relaxada que comecei a rir do nada. Demorei o máximo que pude. Sobre a pia havia uma escova ainda lacrada, finalmente ia poder tirar aquele bafo de onça. Terminei de escovar os dentes e sai do banheiro.

Na penteadeira tinha todos os produtos para higiene pessoal que precisava. Depois de usá-los abri a gaveta, lá continha várias camisetas sem estampas, eram todas iguais só mudavam a cor. Abri a próxima gaveta, tinha várias calças de algodão, mesmo modelo, cores diferentes. Que pessoal sem criatividade! A terceira e última gaveta, continha calcinhas, sutiãs e absorventes. Analisei para ver se aquilo já tinha sido usado, mas tudo parecia novo. Escolhi uma camiseta e calça preta. Decidi que dali em diante faria John pagar por ter me sequestrado! O que um bom banho não faz. Foi o suficiente para clarear meus pensamentos. E com isso em mente desci as escadas para encontrar John.


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