Como assim um bebê?! escrita por MariGuedes


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Ei gente! Ontem eu acabei postando duas vezes o mesmo capítulo. Eu estava morrendo de sono. Acabei apagando o capítulo seguinte. Esse capítulo tem um POV especial. Espero que gostem.



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POV Johanna

Os dias e as noites passavam sem distinção. A dor, minha companheira constante. A raiva de ser abandonada a própria sorte por aqueles que eu considerei aliados, se tornou rancor. Eu não tinha mais uma razão para viver. Ninguém que eu amo está vivo e a dor se torna mais intensa a cada dia, sem contar os “adicionais” das mulheres que estão presas. Eu sinto um verdadeiro nojo desses guardas. Rindo da dor de um bebê.

Rue é um bebê calmo e ela foi colocada na minha cela. Eu evitei me aproximar, na expectativa de que a levariam. Mas eles não o fizeram. Eu fui incumbida de cuidar dessa menininha. Ela me lembra muito a minha irmãzinha, Ridley, eu a amava mais que tudo na vida. Ela tinha o mesmo tom de cabelo e o mesmo formato no rosto. Olhar a filha dos Amantes Desafortunados e como olha-la novamente. Era impossível eu não sorrir mesmo que minimamente quando a olho.

Observo a pequena. Magérrima e bem fraquinha. Eles só dão leite o suficiente para que ela não morra, já que ela tem mais valor viva do que morta. Tenho certeza que Katniss deve estar pirando no 13. Sorte a dela, eu estou pirando presa na capital, sendo cruelmente torturada.

Meus companheiros de prisão são Effie e Annie. Peeta fica bem longe, mas seus gritos são audíveis e aterrorizantes. Acontece praticamente o dia inteiro, todo dia, mas é impossível me acostumar com o grau de agonia nos gritos.

Eu nunca havia conhecido Annie Cresta, só sabia que ela não batia muito bem da cabeça. Mas ela tem segurado bem a barra pesada pela qual passamos. Ela grita e chora mais do que eu, mas mantemos um nível de amizade que nos impedia de conhecer.

Sempre pensei que Effie era uma mulher arrogante e vazia. É mais ou menos isso, só que humana, Como todos nós. Ela é mais forte do que pensei que fosse. Ela grita pelas filhas e por Haymitch em seus pesadelos. É bem estranho vê-la sem maquiagens e perucas, sem contar suas roupas berrantes e saltos altíssimos.

–Vem! –um pacificador me arrasta para fora da minha cela

Já sei que vão me torturar e que querem informações que eu não tenho. Mas eles não acreditam e as torturas se tornam cada vez piores e mais longas. Por que eles não entendem que eu não sei nada?!

Eles me colocam numa sala escura. Olho o barril d’água e tremo. É a pior tortura, pelo menos é o que acham.

–Qual é o plano deles? – um pacificador me indaga amargo.

–Pela quinquagésima vez. Eu não sei.

Ele me dá uma bofetada na cara, seguida por um soco que me faz perder um dente.

–Ah, é. Talvez isso reative a sua memória.

Ele enfia minha cabeça dentro do barril d’água. É como se eu fosse morrer afogada. Que forma estúpida de morrer, afogada num barril! Quando penso que morrerei eles tiram minha cabeça e me dão um choque. Meu corpo inteiro treme pela potência do choque. Sinto como se fosse cozinhar por dentro e a dor insuportável quase me faz clamar pela morte. Quase. Mas nunca daria esse prazer a eles, então travo a mandíbula reprimindo a vontade de gritar e tento aturar os minutos de agonia que parecem horas.

–E agora, sabe alguma coisa? – ele pergunta depois que os choques param.

–Eu já disse que não sei. Você é burro ou o que, seu retardado?

Ele fica furioso e repete o processo que ele sabe que é o pior, só que sua ira faz com que o choque seja tão forte que eu desmaio.


Acordo jogada no chão da minha cela. Acordo e os gritos de Peeta ressoam pela prisão. Imagino as torturas as quais ele é submetido diariamente para que seus gritos. Mas nada do que ele diz faz sentido e a bastante tempo eu desisti de entende-lo.

–Como foi hoje? – Annie pergunta.

–Horrível como sempre e você?

–Fiquei pendurada por quase duas horas. Quase implorei para morrer, mas eu tenho meu Finn, ele vem me buscar.

Confirmo com a cabeça e me encolho perto do pequeno ser na minha cela. Tem muito tempo que eu parei de acreditar que alguém de fato viria nos buscar. Fala sério, a filha do Tordo está aqui e ainda não vieram. Com certeza não virão mais.

Rue se mexe na cama e resmunga. Eu a pego no colo e tento acalmá-la, mas não consigo. O que ela quer, eu não tenho. Comida. Eu odeio ver essa menininha inocente sofrer horrores. Ela chora e sei que, no fundo, ela precisa da mãe. Ficou segundos no colo da mãe, mas ainda precisa dela.

Eu sigo cambaleante para as grades e vejo Effie caída perto das suas grades. O rosto arranhado e sujo e seu corpo magro doentiamente. Por seu olhar perdido sei que ela lida com seus fantasmas pessoais, assim como todos nós. Já tem tempo que ela se isolou da dor e pronuncio palavras que faziam sentido.

Lembro-me da minha família. De minha mãe, minha meio-irmã e meu padrasto. Meu pai foi embora quando eu tinha cinco anos e fomos só eu e minha mãe por um bom tempo até ela conhecer meu padrasto. Ela devolveu a vida a minha mãe a alguns anos atrás, minha irmãzinha nasceu. Nossa vida não era perfeita, mas eu gostava dela. E tudo ia bem até eu ser sorteada. Minha vida virou de cabeça para baixo.

EU tive de ser mais forte do que eu já era para matar a sangue frio e não sentir remorso. EU precisava voltar para minha família. Eu havia demorado tanto para que a minha se tornasse como deveria ser. E eu ganharia os Jogos e seria tudo como foi antes.

Mas não foi. Os Jogos podem mudar as pessoas. Ergui murros a minha volta, os pesadelos me assolavam acordada ou dormindo, dia pós dia. E foi então que Snow foi falar comigo. Nutro um ódio profundo por ele desde sempre. E ele me fez uma proposta. Não, não uma proposta. Uma ameaça. Eu teria que me vender ou ele mataria todos que eu amo. Não acreditei e recusei. Dois dias depois minha família e minha única amiga haviam morrido em “acidentes” diferentes no mesmo dia. Trágico, não?

Fui largada a própria sorte, com meus fantasmas de culpa. Eu deveria ter me vendido. Eu teria minha família e minha única amiga e seria minimamente que fosse feliz. Eu já havia perdido a minha essência. Vender-me não faria diferença. Mas não havia volta. Todos que eu amava haviam morrido. E por minha causa.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Comentem, favoritem e recomendem. Isso me faz mais feliz!!! Nos vemos no 15!
Beijocas de melancia