Sete dias.

Sete dias haviam se passado e o clima de Natal já havia acabado completamente. Uns estavam empolgados com a chegada do trinta e um de dezembro, outros nem tanto. Desde cedo os preparativos começavam nas casas, os trouxas fazendo simpatias e os bruxos fazendo seus malões. Dentro de dois dias voltariam para Hogwarts, então não era recomendado arrumar tudo de última hora.

Luna Lovegood havia acordado relativamente cedo, em parte por estar entusiasmada. Passara o dia todo ajudando seu pai com a edição d’O Pasquim, o que a fez acabar perdendo a hora.

***

Não muito longe dali, Molly já se preocupava com a ceia, enquanto seus filhos resmungavam.

–Percy, você ‘tá precisando fazer um regime, olha a barriguinha aparecendo pelo seu suéter.

–Muito engraçado, até parece que vocês não me deram algum logro para isso.

–Não, Percy. Dessa vez todos nós engordamos alguma coisa. – disse Carlinhos.

–Menos Rony. – disse Gina.

–Será que dá para parar? Isso não tem a menor graça.- disse o ruivo ficando verde.

O que de fato havia acontecido, podia ser considerado cômico e trágico ao mesmo tempo. Na ceia de Natal, Ronald havia comido tanto, mas tanto, que não conseguia nem comer mais um pedacinho do pudim.

O que dois dias depois resultou num completo desarranjo, tendo que ser levado ao St. Mungus às pressas. O ruivo apenas tomou um soro e foi mandado para casa, mas do mesmo jeito, era vergonhoso. Agora, mal aguentava ver comida, e não sabia o que faria de noite.

***

–Hermione, querida, será que pode largar um pouco este livro e me ajudar aqui no jardim?

–Mamãe... Eu passei a semana inteira te ajudando.

–Mas não pode ficar cheio de neve o caminho para a entrada. Seus primos vão vir aqui hoje de novo e...

–Hermione, tem um rapaz ali na porta querendo falar com você.

Estática. Ficou paralisada não acreditando no que ouvia. Até tentou controlar sua agitação, mas não dava.

Num pulo, a garota levantou-se e correu até a porta, deparando-se com um ... Moreno.

–Neville?

–Hermione, eu preciso de sua ajuda. – o garoto estava visivelmente perturbado.

Ao subirem para o quarto da garota, onde haveriam mais privacidade, ele disparou sua preocupação.

–Luna me chamou para ir na casa dela hoje, e eu não sei o que fazer.

–Sério, Nev’s?

–Sim...

–Vá à casa dela, simples assim.

–E se eu não conseguir?

–Faça-me o favor, não é?

***

O silencio o torturava havia horas.

Horas já haviam se passado desde que algum som tivera existente naquela casa, mesmo que agonizante. Seu braço esquerdo latejava, o suor escorria por suas costas. A queimação ainda não havia saído de sua pele alva, o que o apavorava ainda mais. As lágrimas secas marcavam seu rosto.

Ele não queria ter feito isso.

Podia ser esnobe, mal-educado, presunçoso. Mas nunca faria parte dos “malvados”.

Apenas teve forças para fechar os olhos e dormir, pensando que talvez conseguisse descansar.

***

–Ron, tem certeza d que não quer sentar na mesa com a gente?

–Sim, Harry. Não quero passar mal de novo.

–Mas se sentar conosco não tem nada haver com passar mal, cara.

–Só te prevenindo.

–Rony, posso te perguntar uma coisa?

–Até duas.

–O que ‘tá rolando entre você e Lilá?

–Sinceramente, nem eu sei. Quer dizer, ela fica grudada em mim, a gente dá uns amassos, mas nem eu sei direito.

–Você tem que ver isso hein, porque conhecendo o jeito dela, daqui a pouco ela fala que vai se casar com você.

–Vira essa boca ‘pra lá, Harry.

***

“TOC, TOC”

Era relativamente cedo, quando alguém bateu à porta dos Lovegood. Xenofílio foi abrir enquanto sua filha arrumava a mesa de jantar.

–Boa noite, Sr. Lovegood.

–Então você que é o famoso Neville Longbottom, meu rapaz?

–Creio que sim. - disse o garoto afrouxando o nó de sua gravata, em sinal de nervosismo.

–Minha filha fala muito bem do senhor, sabia?

–Papai! Deixe Neville entrar, por favor.

–Claro, claro. Entre meu rapaz.

–Desculpe-me se ele falou algo que não deveria. – disse a agarota pondo-se na ponta dos pés e arrumando a roupa de Neville.

–Está tudo bem. Mas quer dizer então que a senhorita fala muito de mim, é?- perguntou com o sorriso que tirava o folego de muitas garotas.

–Pode ser que sim, pode ser que não. Vai saber.

***

O relógio soava dez da noite em ponto. Os convidados começavam a chegar, e nada de Hermione sair do quarto. Não que ela estivesse nervosa, pelo contrário. O único problema era que, como uma trouxa, tinha seus costumes de simpatias. E como uma famosa delas, não sabia a cor da lingerie que usaria.

Na verdade, ela mesma não sabia o que queria para o Ano-Novo.

Todo ano desejava inteligência, que passasse nos exames. Calma, paz, saúde... porém, esse ano tinha algo de diferente, e ninguém poderia discordar.

Quer dizer, ela tinha parado para pensar durante a semana, e percebeu que estava ficando, de “rolo” com um dos garotos mais quentes de toda a sua escola. Ainda não sabia ao certo como definir eles.

Daí veio sua inquietação. Seria melhor usar vermelho ou rosa? Laranja ou preto? Já fazia quase quinze minutos que revirava sua gaveta de lingerie somente de toalha, e o desespero tomava conta dela. Por fim, lembrou-se do presente de Gina, e resolveu misturar as coisas. Pegou o sutiã vermelho e usou junto com uma calcinha rosa. Sabia que a mistura lhe renderia muito amor para o Ano-Novo, mas não ligava.

Mais do que rapidamente, a garota corria apenas de calcinha e sutiã pelo quarto, tentando se arrumar rápido. Em questão de segundos, colocou o vestido que Neville dera de Natal, uma mistura de pérola com detalhes no busto dourados. Colocou também brincos que ganhara de seus avós, juntamente com um colar que era de sua mãe. Prendeu seus cabelos num coque mal feito, usou e abusou da maquiagem nos olhos, contrastando com um batom claro. Quase esqueceu-se de seu relógio, e tropeçou um pouco nos saltos.

Ao descer, todos ficaram boquiabertos com a garota, não acreditando em tamanha beleza.

ALGUMAS HORAS DEPOIS

A contagem regressiva já havia começado, e estrategicamente, Hermione encontrava-se nos jardins de sua casa, próxima a uma árvore, onde, quando o relógio deu meia noite, um rapaz alto, loiro surgiu, abraçando-a por trás, que apenas deu uma risadinha, antes de virar-se e o agarrar.

Tinha sido uma bela maneira de começar o ano. Beijando Draco Malfoy.

***

–Luna, acho melhor eu já ir, minha avó pode estar preocupada.

–Tem razão, o que sua avó pensaria de um neto adolescente que é um gato, que chega só depois das duas da manhã?

Luna estava um pouco alterada, devido ao champanhe que havia tomado.

–Provavelmente que eu estava com alguma garota.

E Neville também não estava muito puro.

Desde que chegara, ele havia se encantado com o vestido d garota. Totalmente rosa, com grandes babados na saia. Parecia uma artista de circo. E ele adorava o circo.

–Nos vemos em Hogwarts então. – disse o garoto

–Nos vemos então.

A garota o acompanhou até a porta, onde segundos antes de ir embora:

–Neville...

–Sim? – disse virando-se de frente para Luna.

–Feliz Ano-Novo.

Ao terminar a frase, Luna o puxou pelo colarinho e o beijou. A princípio, o garoto ficou estático, mas logo correspondeu, agarrando-se com ela na soleira da porta enquanto seu ar permitiu.

Ele sabia que só estavam se beijando assim por terem bebido. Seu amor era puro demais para um beijo cheio de desejo e segundas intenções como aquele. No fundo, sabia que os beijos ela permitira seriam somente castos, e não avassaladores como este.

E ele gostava da ideia, já que não seria Luna Lovegood se não fosse desse jeito.