Caminhos

Kaline Bogard

Prólogo

Confissão à luz da lua

Essa história não começa com um “Era uma vez”, por que não se trata de um Conto de Fadas. Ou talvez, a sua maneira, até se trate, convenhamos. Não temos um príncipe, nem uma princesa... mas temos dois corações apaixonados e...

Espere...

Estou fazendo isso errado.

Mas nunca fui bom em contar causos.

Principalmente causos como a história desses dois, que tão bem se retratavam ardendo nas chamas da juventude e consumindo tudo ao seu alcance.

Agora estou exagerando.

A história é como tantas milhares de outras que se repetem dia após dia. E não tem nada de especial.

Talvez me entendam melhor quando eu contar direitinho.

A noite estava ótima, como uma boa noite de inicio de primavera deve ser. A praça principal da vila de Konoha, cercada por cerejeiras em flor, permanecia iluminada, com o clima de livros de romance.

O protagonista dessa crônica já estava por lá, andando de um lado para o outro, extremamente nervoso. Ele era um garoto inquieto por natureza, nascido e bem criado no exótico e inconfundível Clã Inuzuka. Educado por uma mãe de personalidade forte e muito mandona e uma irmã super protetora, mas meio sacana.

Sim. Você adivinhou.

Falamos sobre Inuzuka Kiba e a maneira perfeita que ele encontrou para fechar a etapa gennin e iniciar a etapa chuunin de sua vida.

Vamos entender isso bem: Konoha era uma das tantas vilas que formavam e ofereciam serviços ninjas a quem pudesse pagar. Os jovens estudantes até os catorze anos estavam no nível gennin. Depois disso, vinha o Ensino Médio, algo que demandava três anos de estudos. Aqueles que completavam os estudos chuunin passavam para a próxima fase: o terceiro nível, que cursavam com no mínimo dezessete anos e, de acordo com a área escolhida, podiam levar de três a dez anos para se graduar como jounnin.

Kiba tinha catorze anos e estava pronto para o próximo nível. Estava tão feliz que queria comemorar da melhor forma possível e começar essa nova etapa sendo sincero e lutando por seus sonhos.

Então teve a brilhante idéia de se declarar para o colega de classe por quem era apaixonado desde o Jardim de Infância.

Mentira...

No Jardim de Infância Kiba estava mais preocupado em chegar ao balanço primeiro e em roubar o lanche das meninas.

Mas em algum momento de sua vida encarara a verdade e aceitara o amor que sentia pelo jovem herdeiro do Clã Aburame.

E isso nos traz ao momento atual: chamara Shino à praça principal de Konoha, deserta àquela hora da noite onde se declararia. Um plano perfeito em sua mente.

O som de passos fez o nervosismo do moreninho aumentar. Em segundos estava cara a cara com um jovem alto, de cabelos negros espetados, casaco de gola alta e óculos de sol. Apesar de ser noite...

– Shino!

– Hn. Você me chamou?

Kiba engoliu em seco. Sentiu as mãos suarem e tremerem de nervosismo, mas mesmo assim ele enfiou os dedos no bolso da bermuda e tirou um envelope meio... eu disse “meio”? Quis dizer totalmente. Totalmente amassado. Segurou com as duas mãos e estendeu trêmulo para o outro.

– Shino... gosto de você! – exclamou de cabeça baixa.

Por alguns segundos o canto das cigarras foi o único som ecoando na noite quente de primavera. Uma pequena brisa agitou as árvores e fez uma chuva de pétalas de cerejeira cair em volta dos rapazes.

– Me chamou só por isso? – Shino repreendeu indiferente. Não tinha tempo para perder com amor e outros sentimentalismos. Seu clã se preocupava com coisas mais importantes como treinamento ninja e dedicação nos estudos.

O moreninho estremeceu. Seu coração doeu quando notou que Aburame sequer tiraria as mãos do bolso para pegar a carta onde escrevera seus sentimentos de um jeito honesto e límpido, exatamente do jeito que Kiba era.

– Mas... Shino...

– Não me faça perder tempo, Kiba. Vamos começar a etapa chuunin e isso é muito mais importante do que você e os seus sentimentos. Guarde-os para outra pessoa, por que eu não quero.

Inuzuka ficou sem palavras pela frieza de sua paixão não mais secreta. Nunca soubera de alguém que dispensara e pisara sobre os sentimentos de outrem com tanta facilidade.

Trincou os dentes e sentiu um ardor na garganta que subiu direto para os olhos. Odiou-se por se abalar tanto com o fora, mas realmente seguira esperançoso ao encontro marcado por ele mesmo.

– Era só isso que queria comigo? – perguntou impaciente e aguardou. Como o menino cão parecia que não ia responder, continuou – Boa noite.

E deu as costas indo embora daquele pseudo encontro que considerou pura perda de tempo.

Kiba ficou observando aquele rapaz indo embora, alguém que tanto amava, após menosprezar algo que lhe custara muita coragem revelar. Expusera seu coração por completo e por completo fora rechaçado.

Caiu de joelhos no chão. A carta ainda presa em ambas as mãos tremulas, lágrimas de tristeza e vergonha já desciam pelo rosto, deslizando pelas marcas vermelhas nas bochechas.

Como o impulsivo que era pensou logo em rasgar a declaração em mil pedaços, porém parou antes de fazer aquilo. Guardaria a carta como um lembrete. Aprendera a lição.

Que triste. Que triste ver o fogo da juventude sendo apagado dessa maneira! Que doloroso seria dizer que esse é o fim de uma tortuosa, complicada, sofrida e linda história de amor.

Mas não é.

Na verdade esse é o começo.

O começo de uma tortuosa, complicada, sofrida e linda história de amor.

Kiba jurou que depois daquela noite nunca mais se apaixonaria por ninguém e que odiaria Aburame Shino pelo resto de sua vida.

Mas as coisas seriam um tanto enroladas... na certeza de que seu amor seria correspondido, Inuzuka não considerara o outro lado da moeda: ele e Aburame estavam não apenas no mesmo time ninja, mas no mesmo ano escolar.

Viria por aí um longo período no qual teriam que conviver.

E não seria nada fácil, não é?

Agora você conhece o começo da história. Quer saber como termina? Quer ver amores aflorarem, se fortificarem, enfraquecerem, desaparecerem? Quer ver lágrimas e sorrisos? Deseja estar aqui quando o fogo da juventude arder em chamas flamejantes?

Pois seja bem vindo! Você será testemunha das escolhas que a vida oferece. E, melhor ainda, estará assistindo quando todos os caminhos se fecham e você é obrigado a abrir passagem a força.

Eis aqui um Conto de Fadas que não com “Era uma vez”. Mas a grande pergunta é: terminará com um “Viveram felizes para sempre”?

Só existe um jeito de saber...

Continua...