Quando tropecei até o deck, procurei desesperadamente por Nico. Mas ele não estava em nenhum lugar visível, e eu comecei a entrar em pânico. Mas antes que eu pudesse dar um passo em direção ás escadas, o vento parou. E eu podia jurar que o mar também tinha.

–Então... Vocês são os Salvadores do Olimpo?-A voz era baixa, quase como um sussurro. Não. Mais como um sibilo. -Admito que esperava algo menos...Substancial.-continuou aquela voz maldita, nos rodeando e parecendo vir de todos os lugares, ecoando de forma curiosa. Parecia que tinha colocado um domo em volta do navio.

–APAREÇA!-Virei assustado e vi Percy agitando a espada no ar, como se esperasse o acertar na sorte. Quase que eu joguei minha espada nele. Quando esse garoto ia parar de ser obtuso? Ele ainda não tinha notado a situação em que estávamos?

–Perseu Jackson. -aquela voz sibilante irritante continuou, parecendo um tanto mais rouca e grossa.Mais uma vez procurei Nico.Sem o encontrar.Eu não devia tê-lo deixado ir sozinho buscar suas coisas.- Já ouvi muito a seu respeito.Será um prazer levar sua cabeça até a Senhora.-disse, parecendo rir. Mas a risada soou ecoada, como se houvessem duas. Ah, não me diga que era uma hidra. Como eu amava aquelas criaturas.

E então uma sombra cresceu a minha frente. Não era minha, pois nem sol tinha! Me virei lentamente e dei de cara com um decote enorme. Deu um pulo para trás, meio confuso. Levantei o olhar para encarar a mulher e senti minhas pernas fraquejarem. Não pela beleza dela- mas nem por isso te digo que ela não era- mas porque se aqueles dois não eram deuses, eu era um porquinho da índia. Encarei Annabeth, pedindo respostas.

–Apate, deusa do engano, dolo e fraude. Dolos, espírito da ardilosidade e da mentira. -ela disse engolindo em seco. Os dois sorriram da mesma forma, sádica e descontrolada, fazendo suas longas capas negras balançarem de forma engraçada.

–Sim, Annabeth Chase. -O tal Dolos disse sorrindo como um cão. Literalmente. Até com os dentes afiados e tudo mais.

–É bom ser reconhecida de vez em quando. -Apate disse, lixando as unhas compridas e negras com uma lixa invisível. Franzi a testa tendo o pior pressentimento possível. Não apenas porque eram deuses. Talvez eu estivesse paranoico e eu achasse que tudo se referia á Nico, mas o aviso de Piper parecia fazer sentido agora. Passei a música toda com cuidado na cabeça, tendo certeza de não esquecer de nenhum trecho.

–O que vocês querem?-Pedi, dando um passo á frente. A mulher se virou para mim, se abaixando até nossos narizes se tocarem. Não atrevi a mover um músculo sequer.

–E quem seria você, bonitinho?-perguntou raspando uma daquelas unhas- que eu podia te dizer que eram envenenadas- na minha bochecha. Engoli em seco antes de responder, forçando minha voz a ficar firme.

–Jason Grace, Filho de Júpiter. - Seus olhos amarelos se arregalaram e ela riu, parecendo gostar disso.

–Quando me disseram que gregos e romanos estavam trabalhando juntos, eu não acreditei. -ela ronronou me rodeando. Desejei poder invocar um raio e parti-la ao meio. -Agora entendo o porque.-ela sussurrou e agarrou meu cabelo com uma mão, puxando minha cabeça para trás. Com esse movimento, finalmente encontrei Nico. Empoleirado encima do mastro, onde ninguém o via. Suspirei aliviado, desviando o olhar. Apate pareceu interpretar errado minha reação.

–Eu sabia que romanos eram estranhos, mas não sabiam que gostavam de sentir dor. -Ela comentou puxando com mais força, parecendo achar aquilo engraçado. Quase choraminguei em resposta. Quando eu havia ficado tão atrapalhado?

–O que vocês querem aqui?- Annabeth chamou a atenção dos deuses para fora de mim e eu agradeci ao sentir que alguns fios ainda deviam estar no lugar.

–Ora, não é óbvio? Nossa grande Mãe nos pediu dois de vocês. Depois poderíamos dar um fim aos outros. - Dolos abanou a mão e andou até Apate, enroscando o braço em seus ombros. Eu tinha a leve impressão que eles eram irmãos, mas desde quando mitologia respeita esse tipo de coisa?

–Dois? Para quê?-Annabeth continuou enrolando eles. Senti vontade de abraça-la. Percy já havia me contado que muitas vezes ela havia os salvado enrolando os deuses e massageando seu ego enorme. Espero que ela consiga novamente.

Com os dois de costas para mim, arrisquei mais uma olhada no mastro. Nico continuava lá, se movendo de um lado para o outro, como se analisasse tudo. A espada de Ferro Estígio estava presa em sua mão de forma muito firme e ele parecia a ponto de saltar dali e bater em um dos deuses. Ele se abaixou um pouco e notei uma coisa vermelha brilhando no seu bolso traseiro. Arregalei os olhos e tateei meus bolsos.

O que Piper havia dito? ‘’Enquanto você tiver essa rosa por perto, você vai ter ele por perto. ’’ É colega das fraldas e asinhas, é bom você estar. Agora prove você para mim que Nico é importante ao ponto de você se arriscar para ajudá-lo.

–A grande Mãe precisa de um sacrifício para poder despertar completamente. Sangue de herói. -Dolos riu, parecendo achar legal nossas caras de medo e pânico. Movi minhas mãos pelas costas deles, pedindo para Annabeth continuar a enrolação. Nada em sua expressão se modificou, mas eu tinha certeza que ela tinha entendido o recado.

Me voltei para Nico balancei um braço por cima da cabeça, tentando fazê-lo prestar atenção em mim. Nada aconteceu. Pensei desesperadamente em alguma coisa para chamar sua atenção. Olhei em volta e só uma pedrinha rolava no chão. Quase a peguei, mas achei arriscado demais.

E então uma coisa me ocorreu.

Ele ainda estava com a rosa. E, segundo Piper fora por meio dela que eu...

Dei uma olhadela para meus amigos e Annabeth parecia estar fazendo um trabalho fantástico distraindo eles. Voltei meu olhar para Nico e me foquei nele. Nele e apenas nele. Me foquei em tudo que era relacionado a ele e chamei seu nome em minha cabeça várias vezes. Cheguei a gritar. E finalmente ele me encarou como se eu fosse maluco. Ele provavelmente achava que eu tinha gritado.

Abanei as mãos, o mandando sair dali. Sua expressão incrédula passou a ser irritada.

–A diversão não é só sua. Eu também posso ajudar. -ele moveu a boca, apontando um dedo para baixo e fazendo círculos no ar. Tentei gritar com ele por pensamento, mas dessa vez a irritação estava nublando minha consciência. Ele fez aquele movimento mais duas vezes antes de me olhar.

–Tire esse domo daqui. Sem ele eu posso dar um jeito. –pediu sentando-se no mastro. O olhei incrédulo. -O que você está esperando?–falou nervoso, remexendo no bolso e pegou aquela rosa. Seus olhos se prenderam nos meus por um momento, e eu tinha certeza que ele sabia que eu tinha visto aquela memória. Embora não parecesse aborrecido.

–O que você tanto olha, bonitinho?