Eu me lembro de ter tido um sonho estranho.

Estranho porque não parecia um sonho, e sim uma lembrança.

Bem difusa e tremida, mas era uma lembrança. A questão, é que se realmente fosse minha, eu devia ser esquizofrênico. Pois eu não me recordava dela.

Não era nada demais. Era uma garota morena de boina engraçada que cantava uma música de ninar para um garotinho deitado em suas pernas. Mas o fato de e me recordar bem da letra que me intrigava. Porque eu tinha certeza que nunca havia a escutado. E também tinha certeza que não conhecia aquela menina. Mas o menino. Se ele fosse branquelo e não tivesse um sorriso enorme no rosto, eu poderia te dizer que era Nico.

Abaixei meu rosto para ver como ele estava e arregalei os olhos. Presa atrás da orelha dele, aquela rosa vermelha estava se enrolando no cabelo. Por um momento me perguntei se ele estava com aquilo antes e eu que não notei. Mas aquela rosa era muito diferente para ter outra igual. E a menos que estivéssemos num universo paralelo, Nico jamais colocaria uma rosa atrás da orelha por conta própria.

Cupido havia nos visitado. Ele que havia me fornecido aquela lembrança, que agora parecia fazer sentido pertencer a Nico. A grande questão era por que. O que ele queria que eu fizesse com aquilo?E quem era aquela menina? E porque aquela musica não desgrudava da minha cabeça?

Tirei com cuidado a rosa de trás da orelha dele, realmente tentado a deixá-la ali. O vermelho combinava de forma doce com seu rosto pálido. A girei nos dedos uma vez, me perguntando se eu estava ficando maluco.

–Jason?-Eu estava tão distraído que nem notei Piper parada á minha frente, torcendo os dedos nervosa, encarando a rosa em minhas mãos com medo. -Sem querer ser intrometida... Mas onde você arrumou isso?-perguntou parecendo realmente assustada. Franzi a testa olhando em volta e tentando me situar.

–Eu... -Parei. Não tinha como eu explicar aquilo para ela sem contar o segredo de Nico. -Achei por aí.-menti descaramente. Ela me olhou cínica e se sentou a minha frente.

–Faça o favor de me contar. Querendo ou não, eu sei de todos os desastres amorosos desse navio. Eu sei que ele gosta do Percy. -falou entediada e eu arregalei os olhos.Não ia demorar muito e todos no navio saberiam.Eu até achei que ele era bem discreto...-Desembucha.-mandou e eu não tinha certeza se ela estava usando ou não o charme na voz.

–Aquela missão para recuperarmos o cetro. -comecei, meio confuso- O Cupido apareceu e obrigou Nico a confessar.Ele me evitou e me odiou por um tempo.-dei de ombros- Você viu o que aconteceu nesse meio tempo. Na noite que Nico estava desmaiado, ele apareceu de novo. Disse ter o curado e sumiu. -Levantei a rosa- E isso ficou no lugar dele. Ela não murcha, não desmancha e eu tenho certeza que isso ainda estava no meu quarto. -falei meio irritado. Eu não entendia o que aquele maldito queria que eu fizesse com aquela flor inútil, e eu resolvi jogá-la pela janela na primeira oportunidade.

–Eu achei que isso não existia mais. - ela balançou a cabeça atordoada.-Nem pense em jogar isso fora.-ameaçou colocando um dedo em riste no meu nariz. A olhei surpreso.

–Você sabe como ela veio parar aqui?-perguntei, imaginando se haviam pernas escondida em algum lugar.

–Assim você me ofende. Cupido é meu meio-irmão; claro que eu sei. -disse se fazendo de magoada. Não pude deixar de notar que ela parecia mais... Feliz-e porque não mais bonita- agora que tinha se aceitado como filha de Afrodite.

–Explique. -Pedi, passando a rosa para sua mão estendida.

–Elas são raras, sabia? A última delas acho que foi dada á Aquiles. -falou pensativa- Essas são as Rosas do Cupido. Antigamente se acreditava que era uma representação do coração dele. Porque você acha que se dão rosas vermelhas no dia dos Namorados?-ela nem de deixou tentar responder- Eles tentavam recriar essa aqui. - girou-a nos dedos, parecendo confuza.

–Ok. E o que, exatamente elas fazem demais?-ela me olhou ultrajada.

–Você não teve nenhum sonho ou vislumbre de alguma coisa que você tem certeza que não é sua?-perguntou. Arregalei os olhos e ela sorriu convencida- Exato. Porque essas memórias são dele. -indicou Nico com a cabeça.Franzi a testa.

–Essa parte eu supus. Prossiga. -ela pousou com cuidado a rosa próximo á mão de Nico.Ele se remexeu, tentando ficar mais confortável.

–A questão é que ele quer dizer que está olhando.

–Você está dizendo que aquele Deus maldito está me espionando?-perguntei meio alto. Nico resmungou em seu sono. Piper olhou para cima como se pedisse paciência.

–Basicamente. Na verdade, você deveria agradecer. Essas rosas são como ter um pedaço dele sempre por perto, te ajudando. –ela disse, meio irritada.-Não fale assim dele.Cupido e Afrodite são muito parecidos. Eles amam uma história de amor trágica. Se minha mãe tivesse se metido nisso é que você devia se preocupar. Romeu e Julieta foram autoria dela. -suspirou e se inclinou para frente, enrolando uma mexa do cabelo de Nico entre os dedos, como se estivesse fazendo perguntas.

–Piper?-soltei meio assustado. Ela me olhou distraída.

–Longa história. -ela sussurrou- A questão aqui são vocês dois. Como eu dizia, enquanto você tiver essa rosa por perto, você vai ter ele por perto. Isso é bom. Ele escolheu vocês dois antes de Afrodite. Os escolhidos dele sobreviviam, na maioria das vezes. -ela deu de ombros e soltou o cabelo dele, se levantando e indicando que eu devia fazer o mesmo logo.

–O que quer que você tenha visto, é bom não esquecer. Você provavelmente irá precisar disso. -ela olhou Nico, parecendo triste- Espero que você sabia o que está fazendo.-ela falou, parecendo ainda mais triste e preocupada encarando os dedos que se enroscaram no cabelo dele- Esse menino não merece mais dor, Jason. Tome cuidado. -falou e deu um sorriso tremulo. -E... Nós provavelmente vamos ter sérios problemas hoje. Minha adaga mostrou... -ela se cortou rapidamente.

–O que?-pedi ansioso. Ela balançou a cabeça em negativa.

–Só se apronte e fique á postos. -disse e se deteve antes de sair- Ele... Ele chegou a tocar em Nico quando apareceu?-perguntou. Meneei a cabeça.

–Sim, no braço machucado. -ela fechou os olhos como se tivesse levado uma pancada- Piper?-chamei preocupado.

–Eu tinha medo disso. -ela suspirou.-Acho que você vai ter uns dias tristes agora.-olhou o garoto em meus braços com preocupação- Não pire.-sussurrou e saiu correndo dali.