Skinny Love escrita por Queen


Capítulo 21
Everything.


Notas iniciais do capítulo

Oiieeeee!
Isso é o que eu chamo de super atualização. Qual é, depois dos comentários que eu recebi no capitulo passado não pude deixar de ficar inspirada e super empolgada em postar! Sei que estão achando estranho eu postar tão rapidamente, mas é a lei da vida. Mais comentários= mais capítulos.
É pessoal, quanto mais comentários haver na fic mais rápido eu posto os capítulos. Se eu tiver mais de 15 comentários nesse capitulo EU JURO, JURO JURADINHO, que posto na segunda feira(01) de manhã bem cedo.
Gostaria de agradecer a quem comentou no capitulo passado, suas lindjas (Miss Potter Valdez, Vic, LiFeltonLynch, Nowhere, Lily Grace, LaraCastellan, Frozen,
Miss Annie, Agatha, Anne e Amia Mellark Everdeen) se mais pessoas comentarem no próximo eu cito elas aqui :))))))

GENTE EU AMO AMO AMO ESSE CAPITULO. Ele me dá vontade de chorar, de morrer, de me enterrar. Ain meu coração.

Tá, boa leitura



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– Onde está o pessoal? – Perguntei para Rachel assim que eu me sentei, mas ela não me respondeu, estava mais concentrada em desenhar. Estávamos apenas nós duas na sala de espera, Afrodite havia saído e deixou a recepção abandonada. Toquei no braço da Dare e ela deu um pulo, encarou-me e depois suspirou, voltando a desenhar – Rachel! Não me ignore!

– Foi mal – Ela falou fechando o caderno de desenho.

– Eu pensava que você apenas gostasse de pintar.

– Eu comecei a desenhar faz pouco tempo – Ela disse roendo as unhas, seu esmalte laranja, quase da cor do seu cabelo, estavam descascando – Porque demorou isso tudo para vir para a clinica? Reyna havia me dito que você voltou já faz um tempinho.

– Eu esqueci, aí ontem a Afrodite ligou perguntando se eu estava doente ou algo assim, e quando eu disse que não ela ficou brigando, depois me ameaçou dizendo que se eu faltasse mais uma vez eu iria para a Clinica de São Francisco de novo.

– Ela é mal.

– Pois é.

Trocamos um olhar estranho e depois rimos.

Ficamos em silencio quando Afrodite chegou, ela parecia estar zangada com algo. Ficava batucando os dedos no teclado do computador sem parar, me deixando desconfortável. Chegava a ser irritante. Aos poucos o pessoal foi chegando e então começamos a conversar, mas em nenhum momento eu vi Reyna. Quando o Percy chegou nós fomos para o porão, onde o grupo acontecia. Falamos nossos nomes, como sempre, e Will ficou realmente feliz ao me ver falando sobre mim mesma. Eu apenas disse meu nome, idade, porque estava ali e declarei que eu estava realmente bem.

Calipso não estava lá, creio eu que ela já havia concluído seu "trabalho para a faculdade" e ninguém parecia sentir sua falta. Reyna ainda não havia chegado, me deixando com uma sensação estranha.

– Eu gostaria de fazer um desabafo – Hazel declarou no meio do discurso de Percy, deixando-o constrangido. Todos nós olhamos para ela, que suspirou profundamente – Acho que todo mundo aqui sabe o motivo de eu estar aqui. Cyberbullying não é algo legal, é algo horrível. Quando eu fiz uma conta naquela rede social de merda eu estava tão feliz, sabe? Eu havia acabado de ganhar um notebook de aniversario, minha mãe e minhas amigas estavam do meu lado enquanto eu preenchia todo o meu perfil. Então aos poucos eu fui recebendo vários convites, inclusive de pessoas que eu não conhecia. Duas semanas depois um garoto da minha sala ao qual eu não falava muito veio conversar comigo no chat, ele foi tão gentil, ele falou que eu era linda, e eu fiquei imensamente feliz, ele pediu para que eu postasse mais fotos mais vezes, sabe? Disse que eu tinha poucas fotos em meu perfil, então eu postei uma com minhas amigas. Eu achei que as pessoas iriam gostar, mas elas... Elas simplesmente começaram a falar mal de mim e das minhas migas por comentários, me chamavam de gorda, falavam que meus olhos eram sem graça, que minha mãe era uma bruxa, que eu era apenas uma garota burra que usava a dislexia como desculpa. Todas as vezes que eu entrava e postava algo eu recebia um comentário negativo, mensagens ruins eram enviadas no meu chat. E eu não tinha coragem de enfrentar aquelas pessoas cara a cara, eu me escondia feito um rato. Porque eu tinha medo. Eu tinha medo do que elas eram capazes de fazer. Eu me senti tão sozinha, sabe... Quando aquelas pessoas começaram a dizer coisas sobre mim, eu me senti uma aberração. Eu realmente achei que eu havia feito algo para elas me tratarem assim. Eu comecei a ter crises e não queria sair de casa de forma alguma. As coisas estavam indo de mal a pior. Então eu conheci o Frank, ele me barrou do nada no meio dos corredores e falou "Não leve a serio o que eles dizem. " Eu nunca tinha o visto na minha vida, ele é do segundo A e eu do E, aí ele passou a me seguir todos os dias e falar coisas legais sobre mim enquanto todos na internet me lixavam, e aí por ele eu descobri o grupo de apoio. E, bom, estou aqui agora. E estou bem, mas me pergunto por que eu não havia tomado uma decisão como essa antes, essa de pedir ajuda, e, sei lá, as vezes acho que eu deveria ter feito algo para evitar tudo isso.

– Por que você simplesmente não excluía a conta? – Nico perguntou.

– Porque eu era orgulhosa, acreditava que eu poderia fazer essa situação se reverter. E ai... Olha so no que deu.

Nós ficamos em silencio. Olhei para Hazel, que estava de cabeça baixa, então desviei o olhar para qualquer outra coisa. Ninguém sabia exatamente o que falar diante de uma confissão como aquela.

– Você está mesmo bem? – Percy perguntou preocupado.

– Na medida do possível, sim. Não precisam fazer essa cara, está tudo bem. Eu apenas estava cansada de guardar isso, então despejei aqui.

Nós assentimos e vagarosamente Beckendorf começou a bater palmas então acompanhamos. Hazel sorriu timidamente e nós sorrimos também, de forma triunfante.

Já fora da clinica eu batucava meus dedos em minha jaqueta, sentada na calçada de braços cruzados. Havia ligado para minha mãe e ela me informou que estava em um pub e que demoraria um pouco, ela provavelmente estaria bebendo. –Ultimamente ela tem bebido bastante, o que tem causado preocupação em mim e Jason. – Então eu fiquei ali sentada, sem nada para fazer. Não poderia ligar para Luke, pois ainda estávamos brigados. Já havia completado um mês desde o ocorrido com Leo e Clara, mas tínhamos o orgulho tão forte que nenhum deixava o braço a torcer.

Suspirei e coloquei minha cabeça entre as pernas, depois de um tempo senti alguém sentar ao meu lado e encostar o ombro o no meu. Afastei-me e levantei a cabeça, me deparando com Reyna. Ela estava com os olhos inchados, a ponta do nariz vermelha e o rosto abatido. Pisquei algumas vezes para ver se era ela mesmo ou não.

– Reyna? – Perguntei analisando seu estado. Ela estava meio encolhida, com as roupas compridas abarrotadas. Ela estava estranha.

– Oi.

– Tudo bem? – Perguntei me aproximando e ela não respondeu, baixou a cabeça e ficou roendo as unhas. – Reyna...

– Tudo bem, Thalia, tudo está bem – Ela disse com a voz embargada. Me pus de pé.

– Bem o caralho. O que foi?

– Hylla.

– O que é que tem ela?

– Morta.

Arregalei os olhos e engasguei com minha saliva. Reyna estava agora com lagrimas nos olhos, grossas e transparentes descendo por suas bochechas. Ela abriu e fechou a boca algumas vezes, soluçando e arquejando. Percebi que ela estava com a blusa manchada de vermelho, sangue, e me ocorreu que ela havia de cortado. Fiquei apavorada.

– Quando foi isso?

– Já faz cinco dias. Eu nem ao menos pude ir na droga do enterro, eu estava chapada quando ela morreu, estava chapada quando foi enterrada. Descobri que ela havia morrido só dois dias depois. Eu me senti uma completa merda, eu to me sentindo uma completa merda. Eu... Eu quero morrer.

– Ah Reyna...

Me aproximei com os braços abertos e ela me abraçou, encharcando minha blusa de lagrimas. Deixei um suspiro escapar e senti uma lagrima descendo pelos meus olhos. Ela estava tão frágil. A Reyna Ramirez de pose ereta e nariz empinado estava em meus braços, em prantos. Minha garganta estava doendo, eu poderia dizer que sabia exatamente o que ela estava sentindo, mas fiquei calada, porque as vezes o silencio faz bem.

Quando ela finalmente parou de chorar eu me afastei e analisei seu braço, quando puxei a barra da camisa fiquei surpresa por não encontrar nenhum corte, mas o que poderia explicar o sangue? Decidi ignorar, e a abracei novamente, dessa vez mais forte. Ela caiu no choro, de novo.

– Você falou com a Sally?

– Sim, nós conversamos bastante e ela tem me dado muito apoio. O que eu não suporto é o olhar de pena que ela lança para mim, então vim falar com você por que... Sei lá, as vezes eu só quero compartilhar a minha dor, entende? Eu apenas quero que alguém me segure. Eu confesso que tenho tanta inveja de você, Thalia, tem uma Tia incrível que sempre que pode ou não pode te ajuda, um cara que é sempre ao seu lado e varias pessoas se preocupando com você. Enquanto eu... Bem, sou uma nada. Ninguém sente a minha falta. Ninguém sentiria a minha falta. Há tanta dor, tanta. Eu não estou mais conseguindo suportar. Não dá.

– Eu sentiria a sua falta.

– Não adianta, nada faz meu pensamento mudar. Eu... Eu realmente acho que não vou durar muito. Meus prazeres para a vida são tão poucos, tão pequenos. Não me vejo chegando aos quarenta anos, tendo filhos e uma vida razoável. Vejo-me morta antes disso, pois posso morrer jovem, mas morro sabendo que não foi uma grande perda. Não faço a diferença em nada. Nada mesmo. Sinto muito.

Eu não sabia o que falar. Então permaneci em silencio enquanto ela fungava e limpava o rosto. Meu celular começou a tocar e quando atendi era Samantha, pedindo para que fossemos para o cinema assistir Frozen, eu não pude negar, pois havia prometido isso a ela a muito tempo, desde o outubro passado, quando “Ta chovendo hambúrguer dois” foi lançado. Olhei para Reyna, que estava quieta em um transe. Segurei e puxei sua mão suada, a arrastando comigo. Chamei um taxi e pedi para que nos levássemos até o cinema onde Samantha estava, Reyna ainda continuava quieta, olhando vagarosamente para as coisas lá fora. Eu me senti mal por ela, mas decidi que tentaria ao máximo possível fazer ela se sentir melhor, talvez a presença de uma criança agitada como Samantha pudesse melhorar seu estado.

Quando chegamos ela estava com a aparência razoável, os olhos não estavam mais inchados e os cabelos estavam arrumados. Entramos e encontramos Samantha com a May na fila da bilheteria, fui ate lá e dei um abraço apertado nelas.

– Oi Tathá! – Ela disse e deu um sorriso engraçado. Percebi que ela estava banguela de dois dentinhos inferiores, tentei não sorrir.

– Oi Sam. Quando foi que você perdeu esses dentes?

– Ah! Faz tempo! Já recebi visita até mesmo da fada do dente, da pra acreditar? Ela estava tão fofinha, vestida de rosa e tudo mais. Clara diz que foi um sonho, mas sei que ela está mentindo, porque apenas pessoas boas podem ver essas criaturas magicas magnificas. Você consegue ver, não é?

– Claro que sim. A criatura mágica que eu mais gosto é... Deixe-me ver... O Coelho da pascoa!

– O meu também! – Ela disse empolgada e alevantou os braços, a peguei no colo e fui até Reyna, que estava comprando as pipocas. Quando Samantha a viu ficou encarando-a estranhamente, como se pressentisse algo. – Quem é ela?

– Uma amiga.

– Ela é bonita. Parece um anjo.

Assenti, mas a frase de Samantha parecia ter um duplo sentido. Reyna trouxe pipocas e sorriu timidamente para Sam, que a analisava desconfiada. Eu sorri disso, as vezes Samantha olhava as pessoas com os olhos cerrados e um biquinho, como se soubesse um grande segredo sobre aquela pessoa. Depois dava um sorrisinho maligno, como se estivesse tramando algo, e isso me deixava relativamente nervosa, sabe-se lá Deus o que se passa na cabecinha dela.

Entramos e sentamos em nossas poltronas, com Samantha entre nós. Eu gostei bastante do filme e fiquei apaixonada pelo Olaf, achei o filme muito interessante e ri bastante, diversas vezes. Durante o filme inteiro Samantha cismou que a Elsa era namorada do Jack Frost, por mais que eu dissesse que eles dois não tinham nada haver, não eram do mesmo filme nem nada Samantha ainda continuava dizendo isso. Já Reyna comentou em alto e bom som que Elsa era, na verdade, uma vilã disfarçada mas ninguém percebia, que no segundo filme – e se tivesse – ela iria ser uma bruxa má, Sam a olhou de forma estranha, da mesma forma como aquela Chloë de " Vamos para a Disney!". Eu ri com isso.

Quando o filme acabou Sam continuava dizendo que o Jack Frost e a Elsa eram um casal, Reyna ficou falando que a Anna era muito fofa e eu ficava dizendo, a todo momento, do nada " Oi, eu sou o Olaf, e gosto de abraços quentinhos " era viciante.

Decidimos ir para algum parque, então fomos para um que tinha ali próximo da ponte. Samantha passou o percurso inteiro cantando as musicas do filme, chegava a ser enjoativo. Sentamos em um banco, Reyna e eu, enquanto Samantha brincava na areia com outras crianças. Sua forma de se interagir era engraçada, ela falava com algumas pessoas e depois falava com outras, dentro de exatos trinta minutos ela havia conhecido todos do parquinho e parecia animada em ter feito novos amigos. Quando se cansou sentou ao lado de Reyna e pôs a mão no queixo, a analisando. Olhou para ela por um bom tempo, observando cada detalhe que pudesse guardar. Depois, sem mais nem menos, falou do nada:

– Você é um anjo.

Reyna pareceu não entender.

– Eu? Não sou um anjo.

– É sim.

– Não, anjos não existem. O que te faz acreditar que eu sou um anjo?

– Eles existem sim. Meu irmão me disse que pessoas que tem a pele marcada são anjos que caíram do céu e estão insatisfeitos com a vida aqui na terra, por isso ficam se machucando para voltarem logo, pois aqui é um lugar muito horrível e lá de onde eles veem é um lugar limpo e puro, por isso querem tanto voltar para lá. Ele me disse que esses anjos se cortam porque são muitos sensíveis as dores de outras pessoas e deles mesmos, e que vai chegar o dia em que finalmente conseguirão chegar ao paraíso.

– Seu irmão é muito sábio

– Eu sei. A ex-namorada dele também é um anjo, mas ela já voltou para casa e agora é meu anjo da guarda. Acho que você também é um anjo, mas ainda não voltou para o céu.

– Ainda não.

Eu fiquei tão chocada que não soube dizer nada. Fiquei ali, quieta, enquanto Sam levantava para ir brincar novamente e Reyna a ficou observando. Eu gostaria de saber ler mentes, só para saber o que Reyna estava pensando naquele momento. Ela estava tão séria diante de uma imagem tão linda.

– Eu tenho quase que uma certa inveja de crianças. Por que sei lá... Eu deveria ter aproveitado a minha infância, mas não, ela foi definitivamente estragada.

–Como assim?

– Ah, você sabe... Toda aquela coisa do filho do meu vizinho – Ela falou gesticulando com as mãos, ainda olhando para as crianças.

– Não sei não, do que você tá falando?

Reyna pareceu acordar de um transe e arregalou os olhos, olhando estranhamente para mim. Ela olhou para as próprias mãos e então piscou os olhos varias vezes. Estava começando a ficar meio pálida.

– Ai – Ela disse calmamente e baixinho, colocou a mão sobre a testa – Esqueça sobre isso. Deixe quieto.

Eu assenti desconfiada. Normalmente tudo o que Reyna falava fazia sentido, mas ela havia começado a falar algumas coisas bem estranhas. Ou talvez eu estivesse imaginando. De qualquer maneira, quando voltamos para casa eu decidi que iria questionar sobre isso depois. Deixei Samantha na sua casa, depois fui para a minha junto de Reyna, ela havia dito que queria ficar na minha casa. Quando chegamos, Jason estava assistindo animes na TV e ao ver Reyna deu um sorriso fofo e ela ficou constrangida. Sentamos ao seu lado no sofá.

– Oi Rey – Ele disse olhando diretamente para ela. Reyna abaixou a cabeça e deu um olá fraquinho, olhando para a sapatilha. Ela estava triste e tensa, disse que já iria subir. Continuei assistindo com o Jason, até que escutei um barulho de vidro sendo quebrado. Olhei para Jason, mas ele pareceu não ter ouvido, levantei-me calmamente e subi as escadas, entrei no meu quarto e notei que a porta do banheiro estava trancada. Arqueei as sobrancelhas e ouvi novamente um barulho, de algo se chocando na pia. Suspirei já imaginando o que seria, engoli em seco, a saliva rasgando a minha garganta e abri a porta com a chave reserva.

Reyna estava em pé, apenas de lingerie com um pedaço de vidro do espelho na mão. Seu corpo inteiro estava vermelho, inchado, e saia sangue. Eu perdi o ar ao ver aquela cena. Ela chorava, chorava como eu nunca tinha visto alguém chorar antes.

– Reyna...

– Eu tenho que voltar para o céu, Lia – Ela disse, envergonhada. Soluçava bastante e se encolheu um pouco quando eu me aproximei. Seu corpo estava inteiramente mutilado, e eu tive medo de triscar em algum lugar que pudesse trazer dor a ela – Eu necessito.

– Você precisa ser forte, Reyna. Você precisa tentar.

– Eu tentei. Tentei de verdade. Batalhei, lutei, usei todas as minhas forças. Levei o lema de "Permaneça Firme" por um bom tempo. Mas não dá mais. Sabe quantas vezes eu pensei em desistir? Quantas vezes eu quis dar um fim? Muitas.

– Reyna – Eu solucei ao me aproximar definidamente. A abracei, com medo de machuca-la, e tremi ao notar que atá mesmo nas suas costas tinha cortes. Liguei o chuveiro e a coloquei ali embaixo. Meus olhos estavam ardendo, as lagrimas ameaçando cair. Eu queria gritar, sair correndo. Mas eu deveria estar ali, ao lado dela, porque é isso o que os amigos fazem.

– A culpa é dele e de muitas outras coisas. Mas principalmente dele – Ela declarou depois de um tempo, o sangue já havia parado de escorrer pelo ralo. Reyna parecia estar anestesiada, pois tinha um olhar estranho. Eu estava sentada na tampa do vaso sanitário, a observando.

– Do que, exatamente, você está falando?

– De algo que aconteceu a um tempinho... Eu estava em casa com minha mãe, tinha apenas oito anos e nós estávamos assistindo desenho juntas. Então, minha mãe recebeu um telefonema do seu trabalho e pediu para que eu ficasse quietinha em casa, pois ela precisaria ficar um tempo fora, eu apenas assenti e continuei assistindo o desenho. Mais ou menos duas horas depois a companhia tocou, por mais que minha mãe avisasse que eu não deveria abrir a porta enquanto ela não chegasse eu não liguei muito para isso, abri sem me importar com nada, afinal, eu tinha apenas oito anos, não sabia de absolutamente nada. Não sabia como o mundo era cruel.

O filho do vizinho estava ali com uma xicara na mão, ele deveria ter uns 16 anos. Eu o achava tão lindo, as vezes quando eu ficava brincando com minhas bonecas eu o observava levar suas namoradas para casa e ficava imaginando se algum dia eu iria saber como era ao menos beijar na boca. Ele me direcionou um grande sorriso e perguntou se tinha alguém em casa, e logo em seguida perguntou se eu poderia lhe dar um pouco de açúcar. Eu não vi nada demais naquilo, então abri mais a porta e deixei ele entrar. Fomos até a cozinha e mostrei para ele onde ficava a vasilha com o açúcar, enquanto ele colocava calmamente na xícara ele perguntou várias coisas para mim, minha idade, se eu sabia ler, se gostava disso e daquilo, e eu respondia prontamente com um grande sorriso no rosto, me sentindo empolgada por ele dizer que eu era uma mulher muito esperta. Isso, ele me chamou de mulher, não de criança, menina ou garota, ele me chamou de mulher. Eu estranhei aquilo e perguntei para ele, então ele disse que eu tinha corpo de mulher. Ainda sem entender eu apenas dei de ombros, ele terminou de colocar o açúcar e perguntou o que eu estava fazendo, então disse que ficaria mais um pouco, iria assistir TV comigo. Fomos para o sofá e ele se sentou ao meu lado, começamos a assistir, até aí tudo bem, mas então ele colocou as mãos ao redor dos meus ombros com um sorriso um tanto quanto estranho, de inicio fiquei assustada, mas ele sorria tão abertamente que eu sorri de volta. Eu olhei para o seu bolso e vi o seu celular, eu era fascinada por tecnologia, fascinada mesmo, e pedi para que ele deixasse eu ao menos ver seu celular, ele disse que sim, apenas com uma condição: Ele me dava o celular enquanto ele poderia colocar a mão sobre a minha coxa. Não vi nada demais, comecei a mexer no celular e ele foi passando a mão pela minha coxa, seu polegar fazendo pequenas caricias. Eu estava tão entretida em um joguinho idiota que não percebi quando ele começou a tirar o meu pijama, arregalei os olhos e ele disse “ei, calma, está tudo bem” e continuou apertando a minha coxa enquanto meu pijama caia no chão. Fiz menção de chorar, mas ele falou que se eu chorasse ele iria matar meu cachorro. E eu amava meu cachorro, então engoli em seco, as lagrimas se acumulando em meus olhos. Ele apertou a minha cintura e então ele... Ele... é tão difícil falar isso, é tão difícil narrar isso, entende? É tão... sufocante falar essa pequena palavra que começa com “m” e termina com “u” mas que causa uma dor enorme. O filho da puta me molestou, me deixou jogada no sofá enquanto eu chorava descontroladamente. Minhas pernas doíam, meu ventre doía, tudo meu doía, ardia. Minha infância foi totalmente estragada naquele momento. Eu não tive coragem de contar para a minha mãe, eu a culpei pelo que havia acontecido. Eu me exclui do mundo. Eu virei uma criança tão revoltada, e minha irmã era adolescente e levava garotos lá para casa, eu ficava com tanto medo de eles fazerem alguma coisa comigo, tanto.

Eu convivi com isso até meus 14 anos, com essa angustia. O filho do vizinho havia se casado, construído uma família, e falava comigo normalmente, achando que eu havia esquecido o que ele havia feito comigo. Eu era tão boa atriz que até chegava a abraça-lo quando tinha Ceia na minha casa e a família dele era convidada. As vezes me pergunto como eu tinha estomago para isso. Então, eu conheci a Mason. Ela era tão... louca. E me tirou da zona, me tirou da lama, me tirou da merda. Fez minha vida valer um pouquinho a pena, entende? É. Ela fez com que eu parasse por um tempo de me cortar, de me excluir, até que ela começou a ficar estranha, ela começou a entrar em depressão. E então, ela morreu, quando eu mais precisei dela, quando eu comecei a ter pesadelos sendo estuprada. Lembra da Amanda Todd? Então, eu cheguei a ter, na minha adolescência, uma história parecida com a dela. Bem parecida mesmo, e eu tentava, eu tentava me manter firme, mas não conseguia. Não conseguia porque meu passado me infernizava. E eu juro que sinto muito, mas não creio que consigo aguentar mais. Não quando todo santo dia eu tenho sonhos estranhos, não quando sinto repulsa de qualquer garoto que chegue perto de mim. Não quando eu não consigo ser uma pessoa normal. Ninguém sabe sobre isso, Thalia, ninguém, nem mesmo a Dra. Jackson, então eu peço, por favor, não conte a ninguém. Eu me sinto tão suja, me sinto tão envergonhada, porque eu poderia ter evitado, eu poderia ter gritado, eu poderia ter reclamado. Mas não, eu deixei que ele e aquelas mãos sujas tocassem o meu corpo. Eu fui atacada, caralho, eu era uma criança, dá pra entender? Eu fui crescendo e ficando suja, com a mente suja por culpa disso. Eu pedi tanto para o “tal Deus” da Mason que me ajudasse, mas eu não tinha fé, eu nunca tinha fé. Porque eu? Por que não qualquer outra pessoa? Por que eu, Thalia? Isso é tão sufocante. Eu acho que estou morta, que apenas estou aqui para ocupar espaço.

Eu estava tensa, minha cabeça e coluna doíam além de que o meu coração estava a mil. Segurei-me ao máximo possível para continuar sem ao menos soltar um suspiro abafado. Ela estava tão quieta e indiferente, como se isso não fosse nada demais, enquanto eu estava chocada, sentia pena, mas não queria sentir pena, pois é horrível quando as pessoas sentem pena de você. Reyma deu um sorrisinho e logo depois uma fungada, levantou-se e desligou o chuveiro, estendi uma toalha a ela.

– Sabe, quando eu finalmente deixar de ser uma suicida passiva eu vou dar um jeito de te avisar. Se eu deixar uma carta ela vai estar dentro do colchão, entre as espumas e molas. – Ela disse meio débil e eu não levei muito a sério. Mas eu deveria.

Reyna se enxugou e eu lhe emprestei uma roupa comprida. Ela se deitou na cama e se aninhou entre os travesseiros, estava chorando silenciosamente e eu estava observando-a. Ela estava tão frágil.

Olhei para o calendário e vi que eu teria apenas mais dois dias de aula antes do repouso. Minha escola iria dar um repouso de quase um mês para os alunos estudarem para os seletivos que estavam por vir. Por incrível que pareça eu vinha estudando desde o começo do ano letivo, e usaria esse repouso para descansar em vez de estudar. Mas então eu olhei para uma foto no criado mudo: Eu e Tia Ártemis. E então, sem pensar direito, já estava discando seu numero.

– Tia Ártemis, a senhora ainda tem uma casa em Santa Monica? É, aquela casinha simples próximo a praia... Sim, sim. Então, eu preciso viajar por um tempo... Não, não irá atrapalhar meus estudos, vou entrar se repouso agora, é... Ok, então eu vou buscar a chave aí amanha a noite, ok? Beijos. Amo você.

Desliguei o celular e o joguei em cima da cama. Cruzei os braços e fiquei andando pelo quarto por um tempo, pensando no que eu havia acabado de fazer. Parei em frente à janela com as mãos na cintura, olhei para trás e observei Reyna dormir. Soltei um suspiro.

– É, "Rainha", vamos para Santa Monica. - Declarei. Seu nome significa rainha em Espanhol, combinava com ela. Uma garota forte, guerreira, com um ar de superioridade, linda da sua própria maneira. Simplesmente Reyna.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? DIGAM QUE SIM. Estou a aberta a perguntas no ask ou em comentários em relação a esse final, esse "Vamos para Santa Monica" Sei que muitos ficaram sem entender, mas vou explicar a todas as perguntas. E se você tiver perguntas sobre outros personagens ou sobre algo da fic, pode perguntar, prometo não dar spoiler :) ask: queenfanfics

Beijão na bunda. E Aghata (Carol) quero um comentário bem sincero e critico seu sobre esse cap, na boa.

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~Queen