Skinny Love escrita por Queen


Capítulo 19
Hands Open.


Notas iniciais do capítulo

EU ESTOU DE FÉRIAS. PORRA. FÉRIAS CACETE. AI DIJHIKWEJHENUSHUKEI FÉRIAS Nossa, férias, ain, férias, to feliz



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/437252/chapter/19

Existe coisa melhor do que voltar para casa?

Tipo, juro que eu comecei a amar a clinica, pois lá eu aprendi a me amar, aprendi a ver como eu realmente sou, aprendi a ser uma pessoa melhor, aprendi a viver. Só que, eu estava com uma puta saudades dos meus amigos, da clinica de San Diego, da San Diego em si, do meu irmão e até mesmo da minha mãe. Então, quando naquela manhã recebi a noticia de que eu havia apresentado ótimos resultados e havia sido liberada foi a melhor noticia que eu havia recebido em semanas. Um mês, eu fiquei na clinica exatamente um mês, céus.

Claro que eu iria sentir saudades dos outros pacientes aos quais eu fiz amizade, do Dr. Thomas, Demeter, Katie e Travis. Mas prometi que, quando Katie finalmente conseguisse sair da clinica deveríamos nos encontrar novamente, sendo em São Francisco, San Diego ou até mesmo em Los Angeles. Ela topou na hora. A única coisa que me deixou triste foi o fato de que Travis não terminou com Miranda, o que dificultava as coisas para Katie, fiz ela prometer que deveria batalhar por ele.

A Dra. Jackson e o Dr. Thomas juntamente com outros psicólogos e psiquiatras chamaram-me para uma sala, onde todos estavam reunidos em uma espécie de conselho. Eles falaram que, em relação aos distúrbios alimentares eu deveria apenas falar com meu próprio subconsciente que ele estava errado, que eu não era gorda, fazendo com que isso aumentasse em 98% a conclusão do meu tratamento. Eu deveria continuar indo sempre que possível por força de vontade para a clinica da Dra. Jackson, para desabafar ou conversar e que Eme era algo inexistente, do meu psicológico e que eu deveria tomar os remédios que eles passaram para que eu pudesse ter uma vida normal sem surtos ou ataques de psicose. A conclusão do meu tratamento foi que eu me senti pressionada pelas lideres de torcida, fazendo com que eu criasse uma obsessão em estar sempre magra, a depressão foi por eu confiar muito no meu pai, entregar minha vida a ele e não estar preparada para o pior, e que a grande ajuda para meu tratamento foi Luke e o grupo de apoio, juntamente com Sam e até mesmo Annabeth, que aos poucos fizeram com que eu retomasse a minha autoestima de volta. E quanto os surtos e Eme, foi por culpa do que eles chamam de trauma pós morte, pois ver minha avó morrendo não foi uma experiência muito positiva.

Eu fiquei bem grata por eles terem explicado detalhadamente porque diabos eu havia me tornado aquilo, e ver que foi por motivos que podem ser considerados bobos mostrou-me o quanto o ser humano reagi de forma diferente a certos tipos de coisa. Eu estava feliz, sentia-me livre e havia engordado, antes estava com exatos 38 quilos e agora com 55. Sinceramente, acho que eu não estava terrivelmente ridícula por ser tão magra só pelo fato de que eu tenho curvas, porque se não eu seria considerada a Olivia Palito.

Tia Ártemis estava com um grande sorriso no rosto e então me deu um forte abraço, retribui e entrei no carro. Chegamos no seu apartamento e ela apenas pegou algumas roupas, ela era rica pra caralho, tinha três casas na California, sendo uma em San Diego, São Francisco e Santa Monica. Além de que tinha uma apartamento em Londres e outra casa em Nova York, as vezes me pergunto para onde vai o dinheiro dela quando ela morrer, já que ela se diz não precisar de nenhum homem e tudo mais, além de não querer ter filhos, já que, bem... Para ter filhos você tem que ter relação sexual com um homem, e já que ela não quer casar... Então talvez ela adote alguém, não sei. Apenas sei que ela prometeu que iria me ajudar com a faculdade, o que me deixa grata e em divida com ela.

– San Diego, aí vamos nós! – Ela falou quando estávamos na estrada, sorri e soltei um grito de animação, ouvindo The Smiths pelos fones de ouvido, Tia Ártemis cantou comigo.

Chegamos no começo da manhã de domingo, já que saímos no fim da tarde de sábado. Entrei em casa e vi minha mãe esperando-me na sala com um bolo um tanto quanto pequeno demais e alguns salgadinhos, ela estava acompanhada de Annabeth, que tinha um sorriso no rosto.

– Bem vinda de volta! – Elas falaram juntas e eu as abracei.

– Obrigada! – Exclamei e vi minha mãe sorrir ao ouvir minha voz, beijei seu rosto – Estava com saudades de vocês!

Comemos e conversamos enquanto assistíamos juntas The Vampire Diares. Depois a Amnabeth teve que ir embora, pois segundo ela precisava estudar para repor a nota vermelha que havia tirado. Combinamos de nos encontrar no dia seguinte para que ela me passasse todo o conteúdo que eu havia perdido enquanto estive fora.

Subi para meu quarto e o arrumei, deixando-o a minha cara e colocando o pinheiro, o globo de neve e a coleção do Green Day em cima de uma prateleira. Fui no quarto de Jason e dei uma espiada, estava calmo e vazio. Soltei um suspiro. Estava com saudades dele.

Chequei as horas, eram quase oito horas, por isso desci as escadas decidida a ir à casa de Hemes, talvez Luke estivesse lá. Ele deveria estar puto comigo, pois não liguei para ele uma vez sequer desde que eu havia entrado na clinica, mas puxa, foi parte do meu tratamento não manter contato com quem estava no mundo fora da clinica. Não tive culpa.

Encontrei minha mãe na porta de casa, ela disse que iria para o hospital visitar Jason e perguntou se eu queria ir também, mas falei que primeiro iria fazer algumas coisas e depois iria, ela apenas assentiu e me informou que Jason estava bem melhor, começava a dar sinais de vida e jurou para mim que um dia ele havia apertado a sua mão. Apenas sorri esperançosa.

Fui em direção à casa de Luke, eu estava vestida com um short, vans e uma das camisetas que ele havia me dado. Ajeitei os cabelos e apertei a companhia, colocando meu melhor sorriso. Sendo o pai dele ou não que fosse abrir a porta eu não me importava, eu deveria estar apresentável para vê-lo.

Por algum milagre a porta não demorou a ser aberta, Luke vestia uma blusa azul de botão bem passada, calça jeans e sapato social, o cabelo estava perfeitamente arrumado e em gel. Fiz uma careta, nunca havia visto Luke tão arrumado antes. Normalmente ele usa camisetas de bandas, polo ou regata, acompanhado de uma bermuda e xilenos ou tênis. Ele provavelmente iria para algum lugar importante.

Eu sorri ao ver seus olhos se arregalarem. Ele ficou meio estático e a boca semiaberta, olhou-me no fundo dos olhos e logo depois analisou meu corpo, ele ficou perdido em algum ponto da minha cintura e quando levantou os olhos novamente para meu rosto arquejou. Gargalhei.

– Não mereço um abraço, babaca?

– Thalia? – Ele perguntou lentamente, ri novamente – Samantha corre aqui!

Aproximei-me e nós nos abracemos, eu sorri quando senti meus pés fora do chão e ele me rodou. Quando me colocou no chão me abraçou fortemente.

– Eu estava com saudades – Declarei quando nos separamos, ele assentiu e então assumiu uma expressão séria.

– Você não me ligou!

– Desculpa! Eu não tive culpa!

– Ah, esquece e... – Ele olhou para a minha blusa e então sorriu – Feliz Aniversario atrasado. Gostou do presente?

– Amei – Sorri e ele sorriu de volta, senti minhas bochechas corarem, abaixei a cabeça. Que comportamento era aquele?– Alias ainda não superei o fato de você me chamar de magrela, dizer que eu tenho um olhar diabólico e que eu sou birrenta.

– Mas você tem um olhar diabólico, você está com um olhar diabólico agora! Aí meu Deus, socorro! – Ele falou e eu sorri, então ele continuou – Vocêé birrenta e um pouco marrentinha. Não tente negar. Você magrela, mas para falar a verdade você até que está....

– Gorda?

– Pagável.

– Pega o quê?

– Pagável, tipo, você sabe.. – Ele começou a fazer uns gestos com as mãos e ficou meio vermelho, ele estava se embaralhando todo,que fofo. – Ah, esquece, você entendeu.

– Entendeu o que? – Alguém perguntou e eu olhei para o lado, me deparando com Samantha vindo atrapalhada mente em nossa direção. Ela vestia um vestido branco e calçava sapatilhas, também estava com os cabelos bem arrumados. Ela bebia um pouco de suco em sua garrafinha. Cara, aquela menina só sabe beber suco? Eu hein.

Quando seus olhos pousaram em mim ela deu um gritinho e correu em minha direção, agarrando minha perna e enterrando a cabeça ali – Tathá!

– Samantha que saudades de você, princesa – Falei me agachando e a abraçando com um sorriso, ela estava cheirando a suco de maracujá misturado com shampoo de morango. Seus bracinhos estavam ao redor do meu pescoço e ela fazia uma força enorme demonstrando que não queria me soltar – Tudo bem?

– Sim! Estava com tantas saudades de você, pedi para o papai do céu te trazer logo, ele demorou um pouco, mas você está aqui! – Ela falou sorridente e me abraçou mais forte. Eu definitivamente amo crianças, elas são tão fofas e inocentes, conversar com elas é bem mais interessante do que conversar com certos tipos de pessoas – E você? Preciso te contar uns segredinhos que ninguém pode saber!

– Sério? Que segredos? – Perguntei surpresa e arqueei uma sobrancelha, me afastando delicadamente dela. Olhei para Luke, que nos encarava de uma forma engraçada, fiquei de pé e Luke a colocou no colo – Pode me contar, prometo não falar pra ninguém!

– Shiiiiii, é segredo de amigas, o Luke não pode ouvir, ele pode ser fofoqueiro – Ela falou baixinho olhando torto para Luke, que sorriu.

– Nossa Sam, assim você me deixa ofendido! – Ele falou e ela revirou os olhinhos azuis, dando um beijo em seu rosto e reclamou da barba que começava a crescer em seu rosto, pois ela dizia que machucava a sua pele. Eu nem havia percebido que ele estava com a barba para fazer, ele apenas assentiu minimamente e me encarou.

Nós ficamos nos escarando por um tempo em silencio enquanto Samantha tagarelava sobre meninos serem nojentos, até que um som irritante de salto se instalou na sala.

A garota do vídeo, a tal Clara, estava vestida de vermelho e calçava um salto enorme. Usava uma maquiagem bem feita e tinha uma pose ereta com um sorriso debochado no rosto. Ela era meio que perfeita, uma modelo. Fiquei um tanto com inveja da forma como ela andava decididamente em direção a Luke, como se ela fosse à dona do mundo. Queria ser confiante dessa forma.

– Luke coloque essa garota no chão, senão sua camisa ficará toda amarrotada e eu vou ter de passa-la, de novo – Ela tinha um sorriso que faltava rasgar seu rosto e uma voz maliciosa, de cara não gostei. – Vamos, amor, facilite as coisas.

Ela ainda não havia notado minha presença, já que eu me afastei de Luke por instinto quando ela apareceu, algo me dizia que ela era perigosa. Clara tirou Samantha do colo de Luke, que protestou e veio para o meu lado, então ela apenas revirou os olhos e se aproximou de Luke, passando uma gravata sobre o seu pescoço.

– Estamos indo para a igreja, Luke, não para um bordel – Ela falou como se fosse sua mãe e ele permaneceu calado, me olhando de uma forma estranha. Clara parecia ter muita intimidade com Luke, o que me deixou meio receosa com algo – Nossa, que perfume é esse?

– Do meu pai, por que? – Ele perguntou desviando seus olhos de mim e a encarando.

–É cheiroso.

Ela aproximou o nariz do seu pescoço e inspirou, senti meu maxilar travar. Olhei para Samantha, que observava a cena incrédula, parecendo que queria subir em Clara e arrancar todo o seu cabelo loiro oxigenado longo e bem tratado. Luke permaneceu quieto de uma forma estranha, olhou para mim novamente e eu o olhei mortalmente com as sobrancelhas arqueadas, ele se encolheu um pouco sob o meu olhar, pois no momento em que Clara começou a rir e beijar o seu rosto como se eles dois estivessem sozinhos com uma intimidade exagerada eu fiz meu pior olhar diabólico e engoli em seco, minha garganta estava doendo. Quando ela aproximou a boca da dele e depositou um selinho eu arregalei os olhos e senti Samantha me balançando, falando baixinho para que eu tomasse uma atitude e acabasse com aquela palhaçada, então quando percebi que ela se afastou para logo em seguida lhe dar um beijo mais intenso eu exclamei com a voz alta, quase gritando:

BOM EU ACHO QUE JA VOU INDO SABE, TENHO MUITA COISA PRA FAZER E...– Clara soltou um gritinho se afastando de Luke e encarando-me assustada, só agora notando a minha presença, Luke murmurou "Desculpa" baixinho, mas eu ignorei, a raiva que eu estava sentindo era imensa.

Eu nem ao menos sabia por que estava com raiva. Céus.

– Quem é você? – Clara perguntou, se aproximando com um olhar critico. Devo dizer, novamente, que ela era muito bonita, muito alta, cabelos loiros lisos, corpo escultural, pele limpinha e tinha pose de uma socialite. Fiquei me perguntando, na verdade, quem é ela e o que diabos estava fazendo na casa de Luke com uma vontade reprimida de agarrar ele.

– Thalia Grace, prazer. –Obrigada por me ensinar a ser educada e falsa ao mesmo tempo, mamãe, muito obrigada.

– Clara Heather, desprazer – Eu fui bem meiga, sabe? Mas deixei de lado toda essa coisa a partir disso, quando me aproximei com um sorriso presunçoso.

– Legal, como eu disse, eu já vou indo, acho que vou deixa-los a sós ou...

– Você pode ir conosco – Luke falou, de certa forma me convidando. Me senti lisonjeada, já fazia um bom tempo que eu não ia para a igreja.

– Eu ia falar "Ou continuar aqui”, mas tudo bem, eu vou com você.

– Você não está vestida apropriadamente – Clara falou de forma venenosa, pior do que cascavel. Até que ela parece uma rosa, de longe é toda formosa sabe? Mas ela é toda recalcada e acredito que a alegria alheia lhe incomoda, super venenosa.

– Eu tenho um vestido da Miih dentro do meu guarda roupa – Samantha falou levantando as mãos em vitória e eu sorri. Clara prendeu a respiração e revirou os olhos quando ouviu Samantha falar "Miih", e aí eu me perguntei novamente: Quem é essa garota?

– Não precisa, eu vou com shorts e uma blusa da minha banda preferida mesmo. E daí que estou toda punk, com roupas estranhas em vez de um vestido? E daí que estou usando um coturno extremamente antigo que mais parece uma bota em vez de saltos? E daí? Hein? – Perguntei divertidamente, Clara revirou os olhos e foi para a cozinha, May estava lá dentro com Hermes. Um silencio se instalou quando ela saiu, mas foi substituído pelo sorriso de Luke, logo eu e Samantha sorrimos também. – Quem é essa?

– Minha ex – Luke falou e eu fiz uma careta, quantas namoradas esse garoto já teve?– Não me olhe assim, ela foi minha primeira namorada quando eu tinha quinze anos.

– Tá, mas eu acho que ela não está mais se encaixando no quesito de ex, se é que você me entende.

–É que as vezes ela confunde amizade com outra coisa – Ele falou envergonhado desviando os olhos, eu estava lhe direcionando um olhar intimidador, juro que não sei porque eu queria lhe encher de tapas e matar aquela loira chata da Heather. – Foi mal.

– Você não me deve satisfações nenhuma sobre sua vida amorosa e não é obrigado a pedir desculpas.

– Que bom que você sabe

–Ótimo.

– Maravilhoso.

– Fantástico.

– Extraordinário.

Extra super mega hiper...

–Querem parar de nhenhenhem? – Samantha falou de forma desengonçada nos olhando com tédio, arqueei as sobrancelhas e ela murmurou um "Vamos logo para a droga da igreja.” e então Luke a repreendeu por ter xingado, ela pediu desculpas e arrumou os cabelos, depois estendeu a mão para mim e eu a segurei. – Mamãe, papai, a gente já vai indo na frente.

– Tudo bem – May disse em resposta, parecia que estava tomando café. Pela sala pude ver Heather sentada na mesa me encarando, com cara de irritação.

A igreja ficava a quatro quarteirões do nosso bairro, quase no fim da praia, por isso fomos a pé. Eu estava ao lado de Samantha e Luke vinha atrás, às vezes ficava ao meu lado e tentava puxar assunto, mas eu o ignorava, fazendo-o ficar frustrado e voltar a ficar atrás de nós. Eu não sabia que sentimento era aquele, aquela coisa toda de eu querer enforcar Heather até ela não ter mais vida. Era tão bom quando eu estava sem sentimentos, era maravilhoso, porque eu não podia sentir esse incomodo ao ver Luke com outra garota, com uma garota como ela. Eles formavam um casal muito bonito e cheguei a me perguntar por que eles haviam terminado.

Quando chegamos, a missa não tinha começado ainda. Samantha e eu nos sentamos na primeira fileira e Luke na segunda, as vezes ele esticava o corpo e tentava novamente puxar assunto, sua respiração se chocando no meu pescoço e a voz baixa em meu ouvido, mas eu ficava em silencio apreciando a arquitetura, vendo o reverendo, pai da Michele, falar e abraçar todos, acompanhado de sua esposa. Fico me perguntando como foi para eles ao saberem que a filha havia cometido suicídio, já que os cristãos acreditam que suicídio é um pecado ao qual não existe perdão. Eles devem ter ficado triste, não sei, nunca presenciei tal coisa.

Quando May e Hermes chegaram eles sentaram-se na frente ao nosso lado, descobri que na verdade eles ainda eram casados, mas moravam em casas separadas, vai entender. Já Heather ficou ao lado de Luke, com a cabeça em seu ombro. Quando olhei para trás e a vi ali eu já não sentia mais raiva dela, na verdade eu sentia pena, pois eu sabia que Luke estava na verdade sendo apenas simpático com ela, ele era gentil demais, não teria coragem de dar um fora nela definitivo. Que pena.

Em determinado momento, quase na metade da missa, senti as mãos de Luke em meus ombros e ele se escorou no meu banco, mais uma vez, falando baixinho em seguida:

– Vamos sair daqui? – Neguei e ele apertou meu pescoço, se aproximando mais, colocou o queixo em meu ombro esquerdo e disse com a voz chorosa – Por favor.

Respirei fundo e assenti, falei para Samantha que iria para o banheiro e quando saí da igreja e Luke veio atrás, ficamos em pé na calçada apenas olhando para a rua, em silencio.

– Como despistou a sua namoradinha? – Dava pra sentir o sarcasmo em minha voz.

– Ela não é minha namorada – Ele rebateu irritado, fazendo-me revirar os olhos e cruzar os braços – Eu disse que iria beber água.

– Ok, e por que quis sair do nada bem no memento em que o Pastor começou a falar sobre sermos a semelhança de Deus e tudo mais?

– Eu me senti meio sufocado lá dentro. Acho que foi porque a Clara começou a apertar meu braço e se inclinar em cima de mim, colocando a cabeça no meu ombro, impedindo-me de se mexer, quando eu me inclinei para falar contigo ela quase me matou com o olhar.

– Ela parece ser ciumenta.

– Você também.

– Não sou ciumenta – Bufei e ele olhou sugestivamente para meus braços cruzados, declarando que o fato de eu estar com birra significa ciúmes, apenas bufei – E ela é meio obsessiva.

– Sim, por isso nós terminamos. Ela meio que tentou controlar tudo na nossa relação, era um saco.

– Isso é falta de amor, ela deve ter sido de alguma forma rejeitada quando criança. Deve ter faltado o amor dos pais ou algo do gênero, fazendo com que ele não se sentisse amada, e tornou-se obsessiva ao conseguir as coisas, declarando " Isso é meu" e tudo mais.

– Acho que você está certa.

– Eu sempre estou certa – Repeti o que eu disse na festa de Reyna com um sorriso, ele apenas assentiu e passou um braço em meus ombros. Começamos a caminhar para um parque que tinha ali perto e sentamo-nos na grama.

Quando eu era criança costumava ir ali com o meu pai, ele colocava-me no balanço e empurrava, fazendo meus pés flutuarem. Eu gritava "mais papai, mais!" e então ele fazia o que eu pedia. Eu sentia-me tão bem, não tinha medo de altura, eu queria na verdade saber voar. Dizia que eu iria renascer como um pássaro e voaria por aí, sendo livre.

Sorri com a lembrança e senti Luke me analisando, o olhei pelo canto do olho e então meu celular tocou, era um numero desconhecido. Era apenas uma mensagem, de Leo, pedindo para que eu o encontrasse na minha casa para “conversarmos” eu achei isso estranho, já que eu nem ao menos falava com ele. Ignorei.

Desliguei e coloque o celular no bolso. Olhei para Luke, que me olhava desconfiado.

– Que foi?

– Você e o Valdez vão ficar novamente?

– Te interessa?

– Claro. Vocêé minha melhor amiga e eu sou seu protetor, não posso deixar um babaca ferir seu coração.

– Na verdade já tem um babaca me magoando com coisas idiotas.

– Quem?

– Você.

Ele ficou em silencio e engoliu em seco, murmurou um "Sinto muito" e eu assenti. Não era assim que eu imaginava que nós dois ficaríamos quando eu chegasse da clinica, estava tudo indo por agua abaixo por causa de dois simples mal entendido: Clara ressurgir das cinzas mais obsessiva do que nunca e o Leo estar no meu pé.

– Eu já vou indo, vou ir visitar meu irmão agora.

– Tchau.

Levantamo-nos e nos encaramos, depois demos um abraço apertado e ele beijou a minha testa para logo em seguida beijar o meu pescoço. Senti-me indefesa, sem ter meu escudo de não-tenho-sentimentos me protegendo.

– Desculpa pela cena na sua casa e em frente à igreja, não tenho nada contra ela.

– Desculpa por ser tão chato em relação ao Leo, não devo ficar me metendo nos seus interesses amorosos.

– Ele não é meu interesse amoroso.

– E quem é?

Dei de ombros. Eu realmente não sabia, era novo essa coisa toda de me interessar, de se apaixonar, de amar. Muito novo, diferente e interessante.

***

O hospital não havia mudado em nada, até mesmo a recepcionista era a mesma. Normalmente em hospitais cada um tem seu turno, já lá eram sempre as mesmas pessoas, o que me fazia ficar perguntando como funcionava todo esse esquema de horários.

Fui até o quarto de Jason e vi que minha mãe estava lá, sentada ao seu lado. Ela segurava a sua mão e sorria radiante, um médico e alguns enfermeiros estavam em volta da maquina de batimentos cardíacos e eles faziam algumas anotações. Fiquei confusa, por isso entrei e sentei ao lado da minha mãe, que sorriu mais ainda ao me ver ali.

– Você não vai acreditar no que aconteceu.

– O que foi?

– Seu irmão acordou.

Eu abri a boca reprimindo um arquejo e senti meus olhos ficarem úmidos, olhei para Jason, que estava com os olhos fechados. Ele não estava mais tão pálido como da ultima vez que eu havia vindo visita-lo, na verdade ele estava radiante, sadio e respirava normalmente.

Sorri e apertei minha mãe em um abraço estranho, ela chorou junto comigo, eu estava tão aliviada, com vontade de sair por aí gritando.

– Como isso aconteceu? Quando? Porque ele não esta acordado agora? – Fiz vários perguntas e minha mãe absorveu cada uma delas. Explicou-me que houve que podemos realmente chamar de milagre, onde teve um grande avanço na melhora de Jason, em que ele começou a ter reações físicas a tudo o que as pessoas falam. Depois o batimento cardíaco aumentou e ele não precisou mais utilizar aparelho respiratório, e naquela manhã, no horário que eu estava na igreja, ele finalmente abriu os olhos. Ele ficou olhando para todo o quarto por um bom tempo antes de olhar estranhamente para a minha mãe e perguntou baixinho aonde eu e o papai estávamos, o que comprovava que ele havia mesmo perdido uma parte da memoria. Depois, sem mais nem menos, dormiu novamente, e as vezes acordava para logo em seguida dormir novamente.

Eu apenas assenti e dei mais uma espiada em Jason, ele continuava imóvel. Olhei para minha mãe e então começamos a conversar sobre coisas bobas, em certo momento ela disse que iria na lanchonete. Quando voltou, seu hálito cheirava a álcool e então ela me contou baixinho que estava começando a ficar com medo de virar dependente do álcool, não poderia virar uma alcoólatra, não com tantos problemas ainda para resolver. Eu apenas fiquei calada, imaginando como ficaríamos se mamãe realmente virasse alcoólatra.

Iria ser horrível.

E realmente foi horrível.

Depois de quase uma hora sentada ao seu lado eu decidi que iria levantar e dar uma volta pelo hospital, mas aí eu olhei de soslaio para Jason e vi que ele estava com os olhos abertos, acordado, olhando vagamente para a sala e as vezes para mim.

Arregalei os olhos e puxei a mamãe, que teve uma crise e começou a abraçar Jason, eu apenas observava a cena imóvel.

– Lia... – Jason falou baixinho e eu me aproximei, sentindo um aperto no peito, um aperto de emoção, de felicidade. Eu sorri ao passar os dedos pelos seus cabelos e ele dar um sorriso de canto.

– Oi Jay. – Murmurei beijando a sua testa, ainda estava muito chocada para ter uma reação mais eufórica. Eu não sabia o que fazer, se deveria permanecer calma como estava ou pular como a minha mãe, acabei apenas ficando quieta massageando seu braço.

– Há quanto tempo eu estou aqui?

– Não sei ao certo dizer, não lembro-me quando ocorreu o acidente, mas acho que uns dois meses...

– Acidente? Eu entrei em coma, foi isso? – Assenti e ele me olhou confuso, estava pondo força para falar – Eu não me lembro de nada.

– O medico disse que você perderia parte da sua memoria – Mamãe falou com um olhar triste, Jason permaneceu sem ação – Qual é a coisa mais recente que você se lembra?

–Deixe-me ver... Tenho uma lembrança de que, sei lá, da aquela sensação de que eu a vivenciei ontem. Um passeio que nós fomos para o Zoológico, foi recente? Foi um dia antes do acidente? Foi no dia do acidente?

Aquilo havia sido umas três semanas antes da morte do meu pai, ele nos obrigou a ir para o Zoológico com ele e a mame, foi até legal, Jason e eu aprontamos muito com os funcionários e ele chegou a ate mesmo roubar uma banana de um chimpanzé, a cara do meu pai ao ver o que Jason havia feito foi impagável.

– Isso faz dois anos, Jason.

– Mas... Por que... Eu não entendo... Eu tenho dezesseis anos, é isso? E não quatorze? Eu... Quem sou eu?

– Olha o drama, cara – Eu falei risonha e ele fechou a cara – Não é como se você não se lembrasse de absolutamente nada da sua vida, você apenas perdeu tudo o que acometeu de 2011 até aqui, além de que hoje é doze de janeiro de 2014, pois é.

– Não é possível!

–É sim!

– Mas... Merda, eu não me lembro de nada! Eu... Espera, eu finalmente consegui ser popular igual você, Thalia?

Abaixei os olhos, se ele ao menos soubesse o que aconteceu em outubro, o que me fez se excluir perdendo todo o meu status de popular, enquanto ele conseguia alcançar o topo da pirâmide. Lembrei-me do que Dr. Thomas falou, sobre ele precisar de mim para conseguir alcançar algumas coisas, e quando eu virei as costas ele soube se virar sozinho, fazendo com que a morte do meu pai não fosse tão drástica para ele.

– Sim.

– Que legal! Me conta mais! Eu quero saber, tenho muitos amigos, tenho namorada? Não, melhor, sou pegador? – Ele foi fazendo varias perguntas uma atrás da outra fazendo eu e mamãe gargalharmos, mas tudo ficou sério quando ele disse apenas nove palavras: – Onde o pai está? Ainda não vi ele aqui.

Minha mãe olhou rapidamente para mim deixando claro que eu era quem deveria falar a Jason sobre esse assunto. Eu fiquei apavorada e arregalei os olhos, tentando me controlar para não sair correndo dali. Eu queria me enfiar em um buraco e nunca mais sair, como é que eu iria falar uma coisa dessas para ele? De cara, sem recuar, sem gaguejar? Como? Ele havia acabado de acordar, poxa, e eu já deveria chegar com uma bomba dessas sendo que ele nem ao menos se lembra de que o pai está morto a muito tempo, há anos?

– Jason, ele... – Minha mãe começou, suspirando – Ele...

– Está trabalhando, não é? Ele é sempre no trabalho quando o assunto sou eu, já quando é a Thalia ele está sempre disponível. Ele ao menos veio me visitar? Claro que não, ele nunca se importa mesmo, não sei nem porque perguntei, preferia ter...

– Jason! – Minha mãe repreendeu alto, fazendo eu e Jason encolhermo-nos, ela raramente usava esse tom de voz – Seu pai está morto.

Jason me olhou, depois olhou para minha mãe. Abriu a boca e depois a fechou, quando eu achei que ele iria berrar, gritar, começar a pedir explicações e ter um ataque, ele simplesmente desmaiou.

Ele sempre desmaia quando a porra fica séria.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

--- LINK DO VÍDEO GENTEY: https://www.youtube.com/watch?v=W_aOruqc6oY SEI QUE VOCÊS QUEREM ME MATAR. EU TMB QUERO ME ENFORCAR POR ESSE CAPITULO, PELA CLARA HEATHER, MAS ENFIM, É ISSO. AMO BARRA SOU. Beijos