— Ah... Acordou cedo...? - Savannah diz numa voz abafada pelo sono. Suas pálpebras teimavam em fechar.

Mas não obteve resposta. Algo que a deixou enraivecida.

— Ei! Seu cérebro de rato! Estou falando com você!
— Savannah, não enche. Por favor. - Grimmjow diz num tom melancólico.
— Espera um pouco...

Savannah observa o rosto do rapaz, que comia uma torrada recheada com manteiga.

— Você sequer dormiu?! - Savannah diz num tom preocupado. Encarando as olheiras monstruosas do rapaz. - Seu louco! Com quê energias você vai aturar aquele inferno agora?!

— Guarde sua preocupação para outra pessoa. - Ele dá uma mordida final, e lambe os próprios dedos. - Vá se ocupar com um livro ou coisa do tipo. Não é isso que uma CDF gosta?

— Ei, você nunca foi tão idiota assim. Não comigo. Algo está te perturbando e eu preciso saber oqu--

Savannah recebe algo em sua mente como num estalo.

— Ah! Está arrependido de ter dito coisas cruéis à Angela-chan?

Grimmjow dá um pulo de susto.

— Oquê te faz pensar isso?! Eu não disse nada desnecessário!

Ele se vira na direção oposta do rosto da jovem, vai até a geladeira e por fim agarra uma caixa de suco de uva.

— Grimmjow, você está sério desse jeito desde que recebeu aquele belo tapa. E você não é assim!

— Eu só estou de mau-humor gráças aquele tapa, nada de mais!

— Você não sabe mentir. - Savannah agarra a orelha do azulado. - Você não me engana brutamontes!

Ela ficou o encarando por alguns segundos. Um olhar de desapravação que o deixou desconfortável.

— E porquê eu estaria preocupado com algo como aquilo...?

— Porquê a Angela soltou lágrimas verdadeiras de tristeza? Porquê você a desapontou? Porquê você destroçou sentimentos de uma adolescente inocente e gentil?

— Nada disso me afetaria, você sabe. - Grimmjow diz com o rosto avermelhado.

— Seu coração não é de pedra, e eu sei bem disso tutti-frutti.

— PÁRE DE ME CHAMAR ASSIM!!!

— Angela? O café está pronto!

O grito do moreno ecoa pelos corredores. Talvez ela simplesmente não tenha ouvido, já que seu quarto era no segundo andar.
Largou a frigideira e apagou o fogo. Tirou seu avental carmesim e o colocou em cima do balcão da bela cozinha estilo americana. Ele logo se direcionou às escadas, dando passadas rápidas nos degraus.
Mais cinco ou seis passos e ele agarra a maçaneta dourada da porta de madeira. Ele a gira, e logo torna a cena de Angela dormindo. Se preocupou por um momento, mas logo dá um sorriso relaxado.
A cena dos fios rosados entrelaçados ao rosto da menina era algo angelical. Aizen por si só quase resolveu deixá-la dormir, mas não queria que ela perdesse a escola. Lentamente se aproximou e removeu a coberta dela.

— Ei, Angela... Você tem escola.

Ele a sacode levemente pelos ombros, que abre os olhos ainda desnorteada.

— Ah... É o nii-sama... Aizen-nii-sama... Deixa eu faltar hoje? Não me sinto muito bem... - Ela se agarra ao travesseiro, se encolhendo em seguida.

Ele a encarou enquanto arqueava uma sobrancelha. Angela não parecia mal, apenas com sono. E ela nunca pedia para faltar o colégio.
Ele sacudiu a própria cabeça num lento gesto negativo, pondo logo a mão na própria face. Desapontamento não era a palavra correta, talvez frustração era o que ele sentira.
Em si, ele queria deixá-la faltar apenas um dia. Mas isso estava longe do que ele queria ensinar sobre responsabilidade para Angela.

— O que nós tínhamos combinado, Angela? Escola todos os dias, exceto quando estiver doente.

Ela dá um suspiro, que é abafado pela almofada. Aizen dá leves tapas nas costas dela.

— Levante-se e vá se arrumar. Eu te levo hoje se quiser.

Ela dá um gemido, num protesto, mas logo se levanta.

Após um tempo, Angela desce os degraus prendendo seus cabelos em uma trança lateral. Seus fios rosados deixavam seu rosto ainda mais alegre e infantil, algo que fez Aizen dar um leve riso.
Angela apenas devolve, e logo senta-se ao balcão com seu irmão, tornando a comer.

— Coma devagar, ainda temos tempo.
— Certo.

Ela se despreguiça, enquanto ele se levanta e lava as próprias louças.

A caminho do colégio, os dois irmãos pareciam inquietos. Grimmjow pensava em muitas coisas em sua mente, e a cena do tapa que recebera repetia-se várias vezes em sua mente.
Savannah estava incomodada com o comportamento de Grimmjow, que estava fora do normal. Ela encarava ele pelo canto dos olhos discretamente sempre que podia e observava cada mínima mudança na expressão de seu irmão.
"Não é um simples sono. Acho que ele rachou tanto a cara que criou trauma."

— Ei, nem pense em falar disso com aquela mimadinha dos cabelos de cereja.

O rapaz quebra o silêncio. Savannah já ia respondê-lo, porém ambos são surpreendidos por uma mão aos ombros do azulado cutucando-o.

— Por acaso está falando de mim? - A silhueta de Angela faz um sorriso esboçar-se na outra jovem.

— Angela! - Savannah parte para um abraço amigável o suficiente para Grimmjow franzir a testa confuso.

Mas ele encara feio a rosada.

— Exatamente. - Ele dá de ombros. Mas logo torna a falar. - Não aja como se fôssemos amigos.

— E quem disse que somos, cabeça de tártaro?

Savannah fica boquiaberta.
A doce Angela, quieta, apreensiva, e na maioria das vezes tímida, dando um belo fora em seu irmão com uma postura de delinquente?
Com certeza
o inferno havia congelado.

— Mimadinha do irmãozão, cabelo de ameixa!
— Cabelo de retardado, cara de dor de barriga!

E assim estendeu-se o caminho para a escola inteira, onde Angela e Grimmjow bateram boca e Savannah permaneceu quieta;
Apenas observando pasma.
Logo o trio se aproxima do pátio. Ao passarem pelos portões, Savannah já havia se habituado à série de apelidos não-tão-carinhosos. A um ponto que já os ignorava e achava irritante.
Ela também é a única a notar que eram o centro das atenções. Todos encaravam os três, e uma sessão de sussurros começa.
Mas nem mesmo por isso os dois deixam de bater boca. Justamente pelo contrário, virou mais um motivo para brigarem.

— Vê? A preciosinha do colégio batendo boca escandalosamente, vai acabar com tua reputaçãozinha de merda!

— Com você até uma barata se iguala!

Savannah fica pasma.
Já cerrando os dentes, Grimmjow cospe e sai andando na frente, como se cuspisse tudo que foi obrigado a ouvir.

— Hmpf! - A rosada cruza os braços emburrada.

Savannah continuava encarando a menina ao seu lado sem absolutamente reação nenhuma.

— O-Oquê diabos acabei de presenciar...? Você fez o Grimmjow... Meter o pé?

Angela a encara confusa. Pareceu não entender a pergunta.

— Esqueça. - A dona dos fios roxeados desiste de tornar a falar algo, revirando os olhos como se tentasse por si mesma esquecer sobre o tópico.

Ambas caminham, Angela cantarolando alegre por deixar o delinquente sem argumentos, e Savannah quase desferindo a própria cabeça na parede de tão confusa que estava.
O quê levou Angela a mudar sua postura assim?
Ao sentarem em suas carteiras, já na sala de aula, ambas tem a atenção chamada por Kouta. O rapaz se aproximou quase como uma raposa, de maneira silenciosa e que deu um susto em ambas.
Savannah o cumprimenta, ele dá um aceno até Angela, sem encará-la. Ela apenas devolve o gesto.

— Ei, Savannah... Você sabe por quê o Grimmjow tá com a cabeça tão quente? - O menino dos cabelos louros questiona com um olhar preocupado.

— Pergunte pra Angela. - Savannah põe a mão na cabeça, e a apalpa. - Nem meu cérebro entendeu essa.

Kouta franze a testa confuso, e encara a rosada.

— Nossa, primeira vez que te vejo de perto... - Ele pareceu se encantar por um momento, mas dá um sorriso bobo. - Bem, prazer Angela.

O rapaz estende a mão com um sorriso amigável. Angela se encanta com a gentileza do rapaz, ele havia etiqueta e parecia ser uma ótima pessoa, fácil de se conviver.
Kouta era um menino belo, de ambos cabelos louros e olhos amarelados. Angela por um momento achou irônico ele também ter os olhos da mesma cor que o cabelo, assim como Grimmjow.
Rumores diziam que ele é um rapaz tímido, e só fica a vontade entre amigos. Angela fritou ao pensar que Kouta já a via como amiga.

— P-Prazer... - Ela estende a mão acanhada.

Os olhos azulados de Grimmjow encaravam diretamente a situação. Ele logo franze o rosto, e ao ver que Kouta a cumprimentou e ainda deram as mãos... Aquilo o deu nos nervos.

— Aquele traidor...!

Uma batida na porta chama a atenção de todos, ao mesmo que assusta.
Duas longas marias-chiquinhas negras balançam desesperadamente. Os olhos púrpuros dela procuram alguém, que ao ver Grimmjow ganham um certo brilho.

— GRIMMJOW! - Ela dá meia volta, pois tinha passado direto por ele em seu frenesi de busca.

Ela pula em cima dele, completamente entusiasmada. Ele, a agarra sem sequer esboçar reação.

— Eaê Loly. - Ele diz dando um beijo seco no rosto dela, o suficiente para ela ficar vermelha e feliz.

Kouta encarou o casal e lançou um sorriso. Mas logo se desfaz quando o gesto sem emoção e seco de Grimmjow é feito.

— A Loly tá feliz pra caramba com ele. - O rapaz comenta. - Mas não sei se posso dizer o mesmo por ele.

— Na verdade, acho que ele sequer se importa. - Savannah diz não aparentando interesse. - Ela é tão obcecada por namorar o cara mais popular do colégio que nem se dá conta.

Angela encara os dois e sente algo estranho... Seu coração parecia apertado ao observar a cena, mesmo que de canto. De alguma forma aquela cena a incomodava.
Ela queria tirar aquela garota ousada dali naquele mesmo instante. Não aguentava tanta ousadia com Grimmjow.
Ao ter esse pensamento na própria cabeça, ela a sacode, com o rosto em uma expressão irritada. Ela encara mais uma vez a cena, e seu olhar se cruza com o de Grimmjow.
A rosada, apenas vira o rosto e finge não ligar.

— Ei, Angela, o quê pretende fazer durante a tarde? - A jovem de cabelos roxeados questiona Angela.

— Bom... Eu ia comer onigiris e--

— Que eu digo, de importante. - Savannah apoia o queixo na mão. Com uma expressão tediosa, pareceu que não se preocupou nem um pouco em cortar Angela.

— Ah! Bem... Não sei ao certo. - Ela fica avoada nos próprios pensamentos.

Ela dá um leve tapa na própria cabeça e volta a encarar Savannah.


— Nada, acho... - A rosada responde com uma expressão tediosa.

— Poderia me ajudar com umas papeladas do Comitê depois da aula? - Savannah suspira.

— Claro!

— Obrigada... Vai ser muito menos traba--

— Ei, meninas, eu e o Grimmjow estávamos marcando de sair... Que tal? - Kouta sem notar interrompe ambas.

— Obrigado pelo corte. - Savannah diz quase o esgoelando com os olhos.

Ele se desculpa com um gesto relaxado. Mas suava frio ao ver essa expressão no rosto de sua representante.

— Quando? - Savannah pega seu material e o põe na mesa.

— Bom, nesse domingo. - Kouta responde sorridente.

— Eu. Não. Vou. Não com aquele pote de colorante azul ambulante! - Angela faz bico e cruza os braços.

Ambos Savannah e Kouta riem.

— Vamos Angie, o Kouta é gente boa, e além disso, ficarei com você o tempo todo. - Savannah diz ainda risonha do comentário de Angela.

— Hmmm... - Angela pensa, e encara a jovem ao seu lado.

A porta abre, e entra o professor de Japonês, Ukitake.
Ele encara Loly, e dá um sorriso gentil.

— Loly-chan, eu sei bem que você não é dessa sala, saia, por favor.

A mesma emburrada, batendo os pés sai. Ela faz questão de bater fortemente a porta, a qual todos encararam em silêncio por alguns segundos.
Grimmjow, simplesmente ignorou. Foi o único, juntamente de Angela que sequer esboçaram reação.
Kouta dá tchau para as meninas. Ele se dirige ao seu assento, na frente de Grimmjow. E assim que se ajeita em sua cadeira, recebe um cascudo e de brinde um galo.

— Tra-i-dor!

— Mas oquê que eu fiz? - O louro acaricia o local do impacto.

— Falando com a inimiga? - Grimmjow o encara de modo censurador, semi-cerrando os olhos.

— Inimiga? A Angela? Você é paranóico, isso sim. - Kouta diz revirando os olhos.

— Ela tem aquele rosto doce e inocente, mas é uma puta desmiolada com dentes mais ameaçadores que um leão!

— Você tá ficando doido com aquele tapa, é? - O dono dos fios dourados agarra a própria bochecha e a sacode levemente.

E logo em seguida recebe outro cascudo, mas não segura as risadas da mesma maneira.

— Eu não acho ela assim tão má. Ela foi um doce comigo. Talvez finalmente uma garota com consciência que não gosta de você veio pro colégio.

Grimmjow parece receber algum tipo de flechada.

— Quer morrer é?!

— Foi mal, foi mal!