Lição de Amor escrita por Srta Snow, Tahy S Snow


Capítulo 9
Decisão




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Todos os dias em que Emma abria os olhos imaginava que encontraria os seus pais sentados no sofá da sala sorrindo, esperando por ela. Entretanto a cada dia que se passava percebia o quão longe aquela realidade estava. Ela se levantou da cama com o semblante cansado. Havia passado a noite toda estudando. Olhou para o relógio ao lado da cama suspirando em seguida ao dar-se conta que já passava das dez da manhã. Espreguiçou-se, foi ate o guarda-roupa escolhendo um short e uma blusa simples para usar, entrou no banheiro, despiu-se lentamente e ao abrir o chuveiro deixou a água morna cair sobre o seu corpo. Saiu do banho arrumando-se deixando os cabelos molhados caírem ate seus ombros. Estranhou o silencio na casa ao sair do quarto. Procurou por Raoul por todo o apartamento suspirando ao se dar conta que estava sozinha em pleno sábado.

***

Raoul olhou pela janela de sua sala na seguradora e suspirou. Ele não queria admitir, mas a Emma lhe incomodava de alguma forma. Desde que ela havia ido morar com ele não conseguia mais sentir-se em casa como antes. A sua casa não demonstrava a mesma frieza de outrora, agora possuía algum calor, mesmo ínfimo, ele podia sentir. Suspirou frustrado ao se sentar em sua mesa, começando a trabalhar. Ele desejava poder voltar no tempo e não tê-la ido buscar.

***
Emma passou a mão sobre a testa suada. Ela queria retribuir de alguma forma o modo respeitoso como ele a estava tratando apesar de sua frieza. Abriu as cortinas deixando o sol entrar em toda a sala. Já fazia uma hora que limpava a casa apesar de ter percebido que ela era naturalmente limpa.

–Provavelmente alguém deve vir limpar quando ele não está em casa – disse a si mesma antes de ir para a cozinha. Desde pequena sua mãe havia a ensinado a cozinhar, mas nunca tinha precisado fazer nada. Abriu todos os armários, pegou os ingredientes necessários e não demorou para começar a cozinhar.

***
Raoul entrou em seu apartamento no final da tarde. Ele odiava passar os finais de semana na segurada, mas temia que aquela se tornasse a sua cruel realidade. Colocou as chaves em cima da mesinha sentindo um aroma delicioso preencher toda a sala.

Caminhou, lentamente, ate a cozinha surpreendendo-se por ver Emma lavando os pratos sujos. Em cima do fogão viu algumas panelas, olhou em volta percebendo um cheiro de limpeza.

–O que pensa que esta fazendo? – indagou a assustando.

–O..Oi.

–Quem disse para limpar a casa e cozinhar?

Emma o fitou em silencio surpresa pelas suas palavras. Ela não estava esperando agradecimento dele ou gentileza.

–Me perdoe – murmurou cabisbaixa – só quis ser gentil. – limpou a mão em um pano, olhou para Raoul tentando sorrir – Vou para o meu quarto. – passou por ele indo em direção ao seu quarto, onde fechou a porta recriminando-se pelo que tinha feito – Por causa de sua família estou casada com alguém 15 anos mais velho que eu, mas sem ele... eu estaria sozinha agora. – suspirou ao ir ate a varanda observar as pessoas passarem umas pelas outras sem ao menos se olharem. – Não há muita diferença de lá fora e aqui dentro.

Raoul olhou para a comida preparada sentindo raiva. Raiva por estar naquela situação e raiva por não saber como agir dali em diante. A sua vida nunca havia se tornado tão confusa quanto estava.

–Preciso encontrar alguém para ficar com ela – disse a si mesmo antes de sair da cozinha.

***

O final de semana havia passado rapidamente. Apesar dos esforços de Emma, Raoul mantinha-se frio como sempre afastando-se mais e mais dela. Na segunda pela manhã, Emma levantou-se cedo indo para o colégio antes que ele acordasse. Pegou o ônibus, se sentou no fundo ficando olhando pela janela durante todo o percurso.

Não quero morar com alguém que eu não conheço, mas isso não é melhor que ficar sozinha no mundo?” se perguntou confusa. Desceu do ônibus minutos depois em frente ao colégio. Entrou pensativa sem perceber que alguém a olhava de longe. Passou pelo corredor vazio, guardou as suas coisas em seu armário, andou sem rumo pelo colégio silencioso e sentou-se em um dos bancos no pátio. Pegou o seu bloco de anotações e começou a escrever algumas coisas sem dar-se conta que alguém sorria ao vê-la.

–Sempre estudando, não é? – a voz de um garoto chamou a atenção fazendo-a encará-lo.

Emma fitou surpresa o jovem ruivo a sua frente. Sua primeira reação foi sentir as faces avermelharem-se. Não conseguiu dizer nada ate vê-lo se sentar ao seu lado com um sorriso nos lábios.

–Seus pais devem estar orgulhosos de você – Rupert disse a olhando. – tira as notas mais altas, é sempre elogiada pelos professores. O exemplo deste colégio desde que chegou.

–Hum - murmurou tentando não chorar ao se lembrar de seus pais.

–Sou Rupert Gant– estendeu a mão para ela – estudamos na mesma sala.

–Emma... Sartorelli – a apertou sorrindo levemente. – é um prazer.

–O prazer é meu, mas o que está escrevendo ai? – tentou ler o que estava escrito, mas ela levou o bloco para perto de seu corpo. – me desculpe, deve ser particular, não é?

Emma assentiu envergonhada. O garoto que ela gostava estava falando com ela de um modo que apenas em seus sonhos acontecia.

–Será que estou sonhando? – murmurou sorrindo bobamente.

–Eu acho que está bem acordada – Rupert disse sorrindo divertido ao ver o rosto dela ficar ainda mais vermelho. – Emma. És um belo nome – levantou-se ao avistar alguns amigos – vou indo agora ate mais tarde na sala – piscou para ela antes de se afastar.

–O que foi isso? Será que Deus está me compensando por tudo isso? – murmurou sorrindo, mas logo meneou a cabeça voltando para as suas anotações. Ela estava determinada a encontrar um emprego e sair da casa de Raoul.

***

–Entregue isso a garota loira que está em meu apartamento – Raoul falou ranzinza ao entregar a copia da chave de seu apartamento para o porteiro do edifício que apenas sorriu. Raoul ignorou o olhar malicioso virando de costas para o homem. O seu carro estava estacionado em frente ao condomínio. Entrou em seu Jaguar e seguiu ate a seguradora onde sabia que uma pilha de documentos lhe esperava.

Assim que entrou em sua sala viu Enzo sentado em sua cadeira com um sorriso no rosto e um pacote em mãos.

–Já está virando uma rotina lhe ver aqui. Quer trocar de sala? – falou ao colocar a sua maleta em cima de sua mesa.

–Não precisa ficar tão emotivo ao me ver- brincou ao olhar para o primo – como esta a vida de casado? Divertida?

–Se quiser eu dou ela pra você. – resmungou sem paciência.

–Se for bonita, eu aceito – sorriu diante de seus pensamentos – falando nisso... quando poderei conhecer a minha cunhada?

–Enzo... não faça isso – disse sério – se ocupe em vez de pensar bobagens. Falando nisso, conhece alguém de nossa família que deseja uma filha?

–Filha? – ao vê-lo assentir pensou um pouco antes de responder – não, todos da família Bellini são muito férteis, deveria saber disso – sorriu – porque?

–Nada não – resmungou ao expulsar Enzo de sua sala. Ligou o computador, viu as ações, os cronogramas começando a trabalhar em seguida deixando o seu primo curioso e um pouco confuso. Olhou para um pacote deixado por Enzo em cima da mesa, o segurou, sacudiu abrindo em seguida. – O que ele está pensando? – murmurou para si mesmo ao retirar a camisola transparente da cor preta. Leu o bilhete dentro da caixa jogando-o no lixo em seguida.

Aproveite-o com a minha cunhada.

***

–Como assim ele falou com você? – Caroline perguntou animada para Emma que apenas suspirava sonhadora. Nem ela mesmo acreditava que tinha falado com o garoto que gostava.

–Foi... Magico – murmurou ao lembrar-se. Elas estavam sentadas no pátio conversando animadas no intervalo entre as aulas.

–Estou feliz por você – Caroline a abraçou sorrindo – agora poderá ter um encontro. O seu primeiro encontro.

–Calma – disse entre sorrisos. Apesar de sua nova vida aos poucos percebia que a vida não era tão triste como imaginava. “Daqui a pouco tudo ficará melhor” pensou ao lembrar-se de seus planos – Carol... eu vou ter que sair mais cedo hoje do colégio.

–Por quê?

–É... para uma coisa.. que depois eu lhe conto. Prometo.

Caroline assentiu sabendo que Emma lhe contaria. Voltaram para a sala sentando-se juntas. Antes do sinal bater, Emma pegou as suas coisas saindo sala atraindo a atenção de algumas pessoas, pois ela nunca havia saído cedo do colégio. Correu ate o banheiro trocando o seu uniforme por uma calça jeans, uma blusa branca sem mangas e um casaco jeans.

***

Um silencio comum impregnava o apartamento de Raoul quando ele chegou do trabalho a noite. Estranhou a ausência de Emma, dando de ombros em seguida. Tomou um longo banho, colocou uma musica de Jazz ficando relaxado em seguida. Pegou o café na cafeteira e ao olhar na geladeira viu uma comida separada em um prato com um bilhete.

Espero que goste.

Emma

Raoul suspirou ao pegar o prato, colocar no micro-ondas servindo-se em seguida.

–Tenho que colocá-la em outro lugar – disse a si mesmo determinado. Algo nela conseguia deixá-lo inquieto. Enquanto pensava em uma solução levou a comida dela a boca sentindo um gosto característico. – Lembra a comida de minha avó. – sussurrou para si mesmo ao fazer uma careta. Jogou o restante no lixo deixando o prato dentro da pia. Sentou-se no sofá olhando sem perceber os minutos passarem sem que Emma chegasse. – Onde aquela pirralha se meteu?

***
Emma olhou para o porteiro com um exímio sorriso no rosto. A felicidade a irradiava. Ao passar pelo portão de entrada escutou o porteiro a chamando. Virou-se confusa ao vê-lo lhe entregando uma chave.

–O Sr. Bellini pediu para lhe entregar – sorriu malicioso – agora é oficial, senhorita.

Emma ignorou o seu comentário ao pegar a chave, olhando-a sorrindo. Foi em direção ao elevador segurando a sua bolsa com firmeza. O elevador abriu a porta e ao andar ate o apartamento de Raoul sentiu um vento frio passar por si. Colocou a chave na fechadura e assim que entrou seus olhos e os dele se encontraram.

–Onde estava? – indagou friamente sem levantar do sofá – se vai viver comigo precisa ter horário para voltar. Acha que está vivendo em algum bordel?

Emma engoliu em seco diante de suas palavras. Ela queria compartilhar a boa noticia com ele, mas resignou-se a assentir e pedir desculpas. Caminhou pela sala indo ate o seu quarto quando o sentiu segurar em seu braço forçando-a encará-lo.

–Onde estava? – perguntou novamente aproximando os seus rostos. – não vai responder?

–Eu... Estava procurando um emprego – murmurou atordoada com o jeito dele e pela fragrância que emanava de sua pele.

–Emprego? Não diga bobagens. Onde estava?

–Eu já disse.

Raoul a estudou demoradamente ate soltá-la.

–Porque está procurando emprego? Algo lhe falta aqui?

–Não quero que me entenda mal senhor, mas... Desejo viver a minha vida. Agora que meus pais.. Não estão mais comigo, tenho que aprender a viver sozinha. Não poderia depender sempre do senhor, não é? – sorriu levemente – Acho que poderei sair daqui em alguns meses. Logo, voltará a sua antiga vida. Boa noite. – deu as costas a ele fechando a porta do quarto ao entrar.

–Isso foi.. Peculiar – passou a mão pelos cabelos fartos voltando para a sala. Ele não esperava que ela quisesse se ver livre dele tanto quanto ele queria vê-la longe. – Realmente foi uma surpresa.

O coração de Emma batia descompassado. Aquela era a primeira vez que um homem chegava tão perto dela. Os seus lábios poderiam ter se tocado se ela erguesse a sua cabeça um pouco.

–Preciso sair daqui o mais rápido possível – percebeu alarmada por se dar conta com quem estava vivendo. Com um homem desconhecido com quem estava casada.


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