Lição de Amor escrita por Srta Snow, Tahy S Snow


Capítulo 6
Casados




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Emma fitou o policial sem acreditar no que ele estava falando. Sentiu as suas pernas fraquejarem, sua visão embaçar e tudo em sua volta desmoronar.

–Não pode estar falando sério – Emma murmurou com lagrimas nos olhos – eles não podem estarem mortos. Eles... eles... vão vir me buscar e... Seremos felizes...

O policial não sabia mais o que fazer. Ele sentia muito por ela, mas dada as circunstancias deveria levá-la para confirmar a identidade deles e em seguida levá-la a alguma assistente social.

–Sinto muito pela sua perda, mas precisamos que você nos.... Acompanhe.

–Mamma, papà... – sussurrou desnorteada. – Eles não podem estar mortos. Você se enganou é isso. É melhor eu voltar pra sala e... – virou-se de costas e caminhou em direção a porta.

–Senhorita Sartorelli sei que esta noticia é difícil e o momento não é o mais oportuno, entretanto lhe peço para que me acompanhe, precisamos que reconheça... Os corpos.

Emma levou a mão aos cabelos deixando transpassar todo o desespero que sentia. Ela fechou os olhos com força e respirou fundo.

–Eu.. Vou... e então lhe mostrarei que está enganado – disse incerta sobre suas próprias palavras.

O policial assentiu e delicadamente, levou Emma para fora. Dentro da viatura, uma jovem ia em silencio durante todo o percurso. Inúmeros pensamentos passavam pela sua mente, mas o que mais lhe doía era pensar estar sozinha no mundo. Minutos depois, a viatura estacionou em frente a edifício parecido com um hospital. Emma saiu e o acompanhou ate uma ala afastada, deserta e com um ar fúnebre. Um homem velho olhou para Emma e tentou ser cordial, escutou do policial o nome das vitimas e a levou ate os corpos, que estavam em uma espécie de “geladeira”. Quando Emma viu o rosto de sua mãe com inúmeras escoriações ficou sem reação. Ela sentiu o seu corpo amolecer e a escuridão tomar conta de si. Em poucos segundos seu corpo caia no chão frio.

Emma sentiu um cheiro peculiar ao abrir os olhos, lentamente. Piscou incomodada com a intensa luz e não demorou para descobrir onde estava, pois um medico entrou no quarto com um sorriso gentil no rosto.

–Pelo jeito acordou – o medico disse ao olhar para a prancheta com o nome dela – mais tarde virei lhe dar alta, mas enquanto isso descanse.

Ao ver o medico sair em silencio, Emma olhou para o teto branco e logo lagrimas molhavam o seu rosto. O seu choro era silencioso igual a dor que sentia em seu coração. O choro transformou-se gradualmente em silencio a medida que as lagrimas cessavam.

–O que será de mim agora? – se perguntou com o coração entristecido – o que farei sem vocês?

***
Cinco meses depois...

Raoul saiu do aeroporto enfurecido. Ele não conseguia acreditar que o seu trabalho no Brasil havia sido interrompido. Ele retirou os óculos escuros no saguão do aeroporto e não demorou para ver uma placa com o seu nome escrito.

–Sr. Belinni? – um homem vestido como motorista perguntou temeroso ao ver um homem altivo se aproximar dele, pois muitos falavam de seu péssimo gênio.

–Sim – disse simplesmente entregando a sua valise a ele. Caminharam rapidamente e logo estavam dentro do carro. – vá ate a delegacia de policia – Raoul o instruiu. Ele ainda não entendia o motivo de ter sido procurado de forma tão insistente durante os últimos dois meses.

Ele fechou os olhos ao perceber que iria demorar a chegar. Toda a tensão doía-lhe os ombros. Aos poucos a escuridão tomou conta de seu corpo e pegou no sono. Sendo acordado minutos depois pelo motorista.

–Chegamos.

Raoul ajeitou-se antes de sair do carro. Olhou em volta e suspirou ao entrar na delegacia. Aproximou-se da recepção com um sorriso simpático para a mulher.

–Sou Raoul Belinni, me ligaram inúmeras vezes. Gostaria de saber o motivo.

A mulher demorou alguns segundos ate lembrar-se dele. Aos poucos o sorriso gentil que ela tinha na face se transformou em uma expressão dura.

–Siga em frente – disse apontando em uma direção –e procure pelo policial Jean.

Raoul estranhou, mas deu de ombros seguindo o caminho que ela havia indicado. Passou por diversas mesas e não demorou para ver um homem sorrir largamente.

–Onde esta o policial Jean? – Raoul perguntou ao homem, o qual apenas sorriu para ele estendendo a mão.

–Sou eu mesmo e o senhor é?

–Raoul Belinni.

O policial ficou sério de repente. Olhou com frieza para o homem a sua frente e indicou a cadeira para ele se sentar.

–Estive procurando pelo senhor há alguns meses.

–Eu estava no Brasil. Viajando há negócios, mas o que houve?

–Como pode deixar uma pessoa sozinha durante tanto tempo? Nem sequer tentou entrar em contato com ela. Como consegue ser assim tão frio?

–De quem está falando afinal? E porque me chamou ate aqui? – tornou autoritário atraindo a atenção de algumas pessoas. – espero que seja muito importante, pois estou perdendo a chance de conseguir milhões em um negocio.

–A sua esposa não é importante?

Raoul olhou para o policial e segurou-se para não gargalhar.

–Minha... Esposa?

–Sim.

–Esta falando de uma jovem por acaso?

–Ela mesma, senhor – falou sem paciência. Abriu a gaveta e entregou alguns papeis a ele – este são os documentos necessários para tirá-la de onde está.

Raoul leu os papeis em seu frente tentando assimilar o que estava acontecendo. Ele parou alguns segundos e quando compreendeu sentiu o ar lhe faltar.

–Espere um momento – seu semblante era de pura confusão – está me dizendo que os pais dela morreram?

–Exatamente.

–E o que isso tem haver comigo?

–Como o único responsável legal acredito que isto tem tudo haver com o senhor.

Responsável legal?” Raoul pensou perplexo. Levantou-se deixando os papeis em cima da mesa.

–Acredito que é melhor ela ficar onde está. – virou de costas antes de escutar a voz do homem.

–Ela está casada legalmente com o senhor mesmo sendo menor, o que por si só já é um caso extraordinário. Não acredito que estará fazendo o certo deixando-a sozinha.

–Deixá-la? Pelo amor de Deus – Raoul tornou sério ao se voltar – ela tem apenas o que? 15 anos? Acha mesmo que não seria melhor ficar com uma família do que um homem velho como deve estar imaginando? Ou melhor... Como todos aqui devem estar imaginando?

–Eu não.. Pensei isso, senhor – o policial murmurou sem reação – apenas fiquei surpreso por não entrar em contato com ela.

–Não importa. Ela não é de minha conta – virou de costas e prosseguiu o seu caminho ate a saída. Sentiu uma mão em seu ombro deparando-se com o mesmo policial de outrora.

–Leve isto com o senhor caso mude de ideia – Jean disse lhe entregando um papel saindo em seguida.

Raoul leu o papel e suspirou ao guardá-lo em seu bolso.

***
Uma garota olhava distraidamente para o céu ao segurar um livro contra o corpo. A sua vida havia mudado com a morte de seus pais. Saiu do colégio onde estudava no mesmo dia foi levada para um abrigo. Emma não sabia como seria a sua vida dali em diante, pois não conhecia nenhum parente. Para ela, os seus pais iriam aparecer em qualquer momento para levá-la de lá.

A diretora do abrigo olhou para a jovem loira sentada no jardim com o olhar perdido sentindo um aperto no coração. Estava tão distraída em seus pensamentos que não percebeu a aproximação de sua secretaria. Ela mantinha um sorriso genuíno na face.

–Ocorreu algo?

–Sim... – a secretaria disse entusiasmada – um homem... veio buscar a jovem Emma.

A diretora sorriu antes de caminhar ate a sua sala apressadamente. Ao abrir a porta de seu gabinete ficou parada olhando para o homem de costas para ela. Ele olhava pela janela que dava acesso ate o jardim distraidamente.

–Boa tarde – a diretora chamou a sua atenção. Ao ver o homem de frente, ela sorriu amigável. – soube que veio buscar a jovem Emma Sartorelli.

–Sim. – a voz dele saiu mais grossa do que o habitual.

–E o que o senhor é dela? Tem algum documento?

–Esposo – tornou sério ao entregar um envelope para a diretora que o olhava espantada. Ela pegou o documento das mãos dele, leu rapidamente ficando pálida. O fitou demoradamente e assentiu por fim.

–Quando pretende levá-la?

–Hoje mesmo.

–Muito bem – instruiu a sua secretaria para levar Emma ate lá com as suas coisas o mais rápido possível – ela já está vindo, mas enquanto isso preciso que assine alguns documentos.

Raoul assentiu não demorando para terminar todos os procedimentos. Ele já estava ficando entediado quando a porta se abriu e Emma surgiu ao lado de uma mulher.

–Aqui esta ela – a secretaria disse sorridente.

Emma olhou para o homem a sua frente sentindo já tê-lo visto antes. Os dois se olharam demoradamente ate a voz de Raoul ecoar pela sala.

–Preciso falar a sós com ela.

A diretora não disse nada, afinal a situação em si já era estranha o suficiente. Ela se levantou e saiu com a secretaria ao seu lado.

–Sinto muito – Raoul disse assim que as duas mulheres saíram da sala. Olhou para a expressão curiosa no semblante dela – já nos vimos uma vez, no escritório de advocacia. Sou Raoul Belinni e a partir de hoje irá morar comigo.

–Do que.. Está falando? Por acaso está me adotando?

–Não.

–Então... Porque se não nos conhecemos?

–A realidade é um pouco absurda em demasiada. – indicou a poltrona para ela se sentar e a encarou – É melhor ler este papel antes de qualquer coisa – entregou o mesmo documento que havia dado a diretora e esperou a reação que não veio. – não está entendendo algo?

–Na verdade... Acho que se enganou – estendeu o papel para ela sentada – isto aqui diz que somos casados e não é possível.

–Não há erro.

–Como? Como posso estar casada com alguém que nem sei quem é?

–Seus pais. Não vou dizer que eles a venderam, mas sim que foram enganados pela minha avó.

–Espere.. Como tens a falta de caráter de blasfemar os mortos? – indignou-se – meus pais nunca fariam algo assim comigo. Eles me amavam.

–Concordo, mas a tentação foi um pouco demais para ambos.

–Tens alguma prova que não seja este papel? Pode ser falsificado.

Raoul sorriu com vontade antes de sentar na beirada da mesa, próximo dela.

–Porque eu teria o trabalho de falsificar um documento como este ainda mais tendo em vista uma jovem sem dinheiro e órfã?

Emma manteve-se em silencio sentindo algumas lagrimas virem aos seus olhos.

–Como pode dizer que sou órfã com tamanha naturalidade? Se fosse me casar com alguém, o senhor seria o ultimo na face da terra.

–Nem eu pretendia desposar uma jovem com maneiras tão grosseiras, entretanto a minha avó pretendia brincar comigo ate depois de sua morte.

–Do que esta falando afinal?

–Para resumir – disse sem paciência – seus pais a fizeram assinar um documento, o qual nos casou. Eles conseguiram quitar todas as suas dividas, pagar o seu colégio e seu pai ainda conseguiu uma promoção no trabalho, correto? – ela assentiu pasma – este foi o preço pela sua liberdade.

Emma fitou o homem frio a sua frente e sentiu o seu coração bater descompassado.

–Deve ter alguma coisa errada – murmurou perdida em seus pensamentos ao vê-lo levantar e se dirigir ate a porta.

–Não há – sua voz encontrava-se fria e irônica – é melhor pegar as suas coisas e vir comigo se não quiser continuar aqui.

–Porque eu deveria ir com o senhor? – indagou atrevida.

–Porque não tens para onde ir. – abriu a porta e saiu calmamente. Não demorou para ser seguido por Emma.


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