Lição de Amor escrita por Srta Snow, Tahy S Snow


Capítulo 47
Questionamento




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A água fria caia pelo corpo de Raoul, despertando-o. Fechou os olhos ao passar a mão pelos seus cabelos.

–Devo estar mesmo louco – murmurou ao prosseguir o seu banho.

***
O rosto de Emma ainda mostrara sinais da noite passada. Ele encontrava-se inchado e seus olhos fundos com olheiras, o que não passou despercebido para Enzo na manhã seguinte, mas ele ignorou e fingiu não ter percebido nada. A tratou normalmente e antes de ir para o trabalho a deixou no colégio prometendo que iria buscá-la. Assim que ela o viu se afastar, suspirou ao olhar para os grandes portões do colégio.

–Tenho mesmo que enfrentar tudo sozinha? – se perguntou antes de seguir em frente. Colocou os seus fones a fim de evitar escutar alguma coisa e seguiu em frente tentando não olhar para os lados. Entrou em sua sala e logo viu Caroline lhe sorrir afetuosamente. –É bom vê-la.. porque não veio ontem?

–Estive.. meio ocupada – disse calma, mas ao olhar em volta suspirou – porque não me ligou? Uma pena que tenha descoberto desse jeito.

–Tudo bem.. eu consigo superar.

–Emma.. eu sei que não – a olhou ternamente. Levantou-se e a abraçou – tem a mim para se apoiar.

–Obrigada – agradeceu correspondendo ao abraço caloroso. Não percebeu o olhar de desprezo que Rupert lhe lançava e nem seu sorriso maléfico.

O orgulho dele estava ferido e a magoa remoia o seu coração. Por mais que tentasse esquecer e seguir em frente, sempre que a via, Rupert, desejava vê-la se lamentar pelas suas mentiras.

***
A reunião semestral da seguradora ocorria melhor do que Raoul esperava. Todos os setores mostravam melhorias e avanços em diversos aspectos com exceção do marketing, onde o diretor responsável ainda não havia aparecido. Os balancetes estavam sendo mostrado através de uma apresentação quando a porta da sala de reunião se abriu dando espaço para a entrada de Enzo, o qual sorriu para todos antes de sentar em sua cadeira.

–Atrasos não serão tolerados na próxima reunião – Raoul tornou antes de indicar para o homem prosseguir a falar.

Enzo não emitiu nenhum som, ele sabia que estava pisando em um campo minado desde o momento em que optara por Emma e não pela sua família, no caso Raoul.

–Gostei dos resultados – Raoul disse ao fim da reunião – espero o relatório dos diretores sobre os encargos financeiros ate a próxima semana e peço para que a diretoria de Marketing marque uma reunião comigo. – levantou-se e caminhou em direção a saída. Não precisou olhar para trás para saber que Enzo iria lhe procurar, o que ocorreu assim que abriu a porta de sua sala.

–O que se passa pela sua cabeça afinal? – Enzo disse assim que entrou na sala de Raoul. Fechou a porta e o olhou com incredulidade – como pode ser tão insensível?

–Do que está falando agora? – indagou calmo ao ir para trás de sua mesa – se está falando sobre a vergonha que passei em sua casa basta esquecer.

–Vergonha?

–Sim, não encontro palavras para o meu comportamento.

–A única vez que te vi agir impulsivo diz que foi um erro, uma vergonha – bufou – muito bem. Eu ainda pensei que estava sendo sincero, mas enganei-me. Muito bem.. Vim lhe dizer que não deixarei Emma ir com você para a viagem, mas mudei de ideia.

–Desde quando manda em sua vida? Não sabia que o relacionamento de vocês tinha chegado a tal ponto. – sorriu sarcasticamente.

–Ela só irá se eu for. Está decidido. – disse virando-se de costas.

–Enzo.. Já lhe disse e tornarei a falar. O que está sentindo é passageiro. Não a envolva nisso, porque nós sabemos que não irá durar.

–O que sinto por ela é mais duradouro do que o seu desejo por seu corpo, isto é a única certeza que tenho.

–E se for? O que tem de mal em um marido sentir desejo pelo corpo de sua esposa? Isso me parece aceitável e saudável.

–Aceitável? – olhou incrédulo – então esta afirmando pra mim que tudo isso é normal?

–Acho que deveria retornar para a sua sala, depois conversaremos – disse ao ver a sua secretaria na porta envergonhada – tenho coisas a fazer agora.

Enzo olhou para trás e resmungou algo inaudível ao sair. Raoul assentiu para a sua secretaria e logo trabalhava com afinco, entretanto as palavras de Enzo não lhe saiam de sua mente.

Será que ela esta se apaixonando por ele?” pensou.

***
A saída do colégio fora movimentada como sempre e ao sair Emma viu Enzo parado, a sua espera com um sorriso na face. Caminhou ate ele e o cumprimentou.

–Esperou muito?

–Não – sorriu – espero que tudo tenha ocorrido bem.

–Melhor que da ultima vez – mentiu. A verdade é que as situações armadas pelos alunos estavam tornando-se pior e mais lamentável para ela, mas não queria preocupar o homem a sua frente. – Vamos? Tenho que pegar minhas coisas e ir para o trabalho. – disse ao entrar no carro.

***
Por mais que não quisesse enxergar ou admitir para si mesma Emma buscava semelhanças de Raoul em todos os homens que entravam na cafeteria.

Porque estou pensando em um homem como ele? Devo focar meus pensamentos em alguém como.. como o Enzo”.

Tentou espantar as más lembranças trabalhando, mas percebeu ser complicado. Retirou o celular de seu bolso e suspirou ao ver um casal sentar-se em uma mesa.

–Pelo menos alguém deve ser feliz... – murmurou pessimista. Foi atendê-los e logo se entregava ao trabalho. No final da tarde quando já estava cansada escutou a porta da cafeteria se abrir e ao olhar, se surpreendeu ao ver Raoul parado olhando para os lados. – Raoul? – sussurrou com um sorriso na face. Sem perceber, levou a mão aos cabelos a fim de ajeitá-los. O viu olhar em sua direção e em seguida andar ate ela com toda a autoconfiança que sentia.

–Me traga um café descafeinado – disse sério ao passar por ela e ir sentar-se em uma das mesas.

Emma ficou parada sem saber o que havia acontecido ate que deu-se por si. Providenciou o seu café e ao se aproximar da mesa dele, depositou o copo em cima da mesa.

–Mais alguma coisa? – perguntou sem jeito.

–Sim – a encarou sério – volte para a minha casa.

–Como?

–Estou dizendo que deve voltar para lá. Não acho correto continuar no apartamento de Enzo.

–Ele é uma ótima companhia – argumentou sem saber o motivo. Ao escutar a proposta de Raoul ficou tentada, por alguns segundos, a aceitar.

–Até uma anaconda é uma ótima companhia quando não está com fome – rebateu demonstrando paciência.

–Pode ser, mas eu confio nele.

–Bobagem. É melhor voltar antes que se arrependa.

–Não irei me arrepender. Eu confio em Enzo e sei que se voltar para o seu apartamento será dar adeus a tudo que conquistei. Alem do mais.. não ficarei na casa dele. Eu tenho a minha agora.

–Aquilo não é uma casa e sim...

–Aconselho a não terminar a sua frase, se deseja continuar em minhas lembranças com um pingo de humanidade decência.

Raoul resmungou algo inaudível e respirou profundamente. Ele sabia que aquela seria uma batalha a ser lutada a longo prazo. Na realidade, não imaginava o motivo de ter ido atrás dela. A verdade é que ele apenas desejava vê-la, saber como estava e usou como desculpa o seu apartamento.

Me transformei em um adolescente depois de velho. Que vida trágica” pensou.

–Faça como quiser então – bebeu um gole do café levantando-se em seguida. Depositou algumas notas na mesa e seguiu em direção a saída.

–Ele só veio aqui por um café.. ou para me pedir para voltar? – se perguntou ao vê-lo se afastar. Um sorriso brotou em seus lábios, entretanto ao se lembrar da cena que presenciara o sorriso fora substituído por um olhar triste. – ele só pode estar brincando comigo. É a única explicação.

***
Emma olhou para o prédio onde Enzo morava durante longos instantes. Ela sabia que o correto seria entrar e se despedir, mas não conseguia. Já estava dando meia volta quando reparou no homem a olhando do outro lado da rua. Sorriu ao ver Enrico acenando.

–Pensando se deve ou não entrar? – Enrico indagou bem humorado ao lado dela. Apesar de aparentar ser um casanova, Enrico tinha um coração e não gostava de ver uma jovem como Emma se lamentar por bobagens. Após analisar optara não por Enzo ou Raoul ou a empresa, mas sim por ela. Ele estava disposto em ajudá-la.

–Anda me seguindo? – brincou ao olhar para ele.

–Talvez – piscou – quer ir beber alguma coisa?

–Eu.. Não sou de beber Enrico.

–Estará comigo então.. vai estar segura – sorriu confiante. Emma assentiu sorrindo em seguida.

O pub para onde Enrico havia levado Emma possuía uma atmosfera cativante. As mesas eram separadas por divisórias e cada uma possuía sua privacidade. O dono era amigo próximo dele.

–O que quer beber? – Enrico perguntou assim que o garçom parou ao lado da mesa – ou posso escolher?

–Eu prefiro algo sem álcool.

–Ah, mas está comigo – fingiu parar para pensar – porque não fazemos assim... peço duas bebidas para você e ai escolhe. Uma será com álcool e outra sem, que tal? – ao vê-la assentir, sorriu – quero uma noite excitante, um luar suave e um Hot Kiss.

O garçom anotou e saiu segundos depois deixando-os a sós. Enrico sorriu ao imaginar como Emma seria estando bêbada.

***
A mão de Emma estava tremula ao colocar a chave na porta. O sorriso fácil não saia de seu rosto apesar de suas pernas não estarem sustentando o seu corpo. Suas faces encontravam-se avermelhadas. A porta abriu com dificuldade e assim que adentrou no apartamento estranhou. Sua visão estava embaçada e não sabia se equilibrar corretamente.

–Não me lembrava de meu apartamento ser tão grande.. Uauuu – falou languida ao caminhar a esmo. Esbarrou-se em todos os moveis em seu caminho ate cair no chão, sorrindo abertamente apesar de seus machucados nas pernas. Uma luz foi acessa no final do corredor o que passou despercebido por Emma.

–Emma? – Raoul disse surpreso ao vê-la sentada no chão com as faces vermelhas e o sorriso no rosto – você.. bebeu?

–Raoul? – olhou para ele com o semblante aliviado – em meus sonhos você é gentil, isso é bom.

–Sonhos? Do que está falando? – ajoelhou-se em sua frente, olhou em seus olhos e suspirou – o quanto bebeu?

–Senti sua falta.. Mesmo que.. não dissesse.. eu senti mesmo sendo um idiota... Eu senti– colocou a sua mão no rosto dele e o acariciou – não sabia que podia se tocar alguém assim nos sonhos – o encarou firmemente – Isso é mesmo.. bom – falou antes de se aproximar dele e tocar os seus lábios com os dela. – tão bom – fechou os olhos sorridente – ainda bem que é um sonho.. uma pena acordar e não te ver mais..

–Devo imaginar que isso é culpa de Enrico.

Emma nada disse, apenas sorriu ao passar a mão pelo rosto dele, contornando-o. Algo que desejava fazer, mas não possuía coragem para tal.

–Será mesmo uma pena..– Raoul sussurrou consigo mesmo ao olhar para ela com gentileza. Pegou uma mecha do cabelo dela e o colocou atrás de sua orelha – Será que se lembrará de tudo amanhã?

***
Enrico sorriu travesso ao ligar o carro e seguir em frente. Ele havia pegado duas bebidas alcoólicas e entregado a Emma. Não fora difícil fazê-la beber mais de dois drinks e logo ela estava sorrindo a toa e falando coisas que não deveria. Recordou-se de escutar o nome de Raoul e Enzo indiscutíveis vezes, mas ao perguntar quem queria ver ela não hesitou e respondeu Raoul. E foi isso que ele fizera, a levou ate Raoul.

–Acho que devo sumir amanhã – Enrico comentou ao ligar o radio e cantar uma velha canção.

***
O sol brilhava fortemente ultrapassando a janela. Emma levou a mão aos olhos para se proteger e estranhou. Estranhou a maciez de sua cama e a luminosidade.

–Devo ter bebido muito? – se perguntou antes de abrir os olhos. Assim que o fez, arrependeu-se. Olhou em volta e o desespero logo tomou conta de si. Não sabia onde estava. Se levantou da cama, aliviada por estar vestida, e ao ir em direção a porta reconheceu o lugar – isso não pode estar certo – murmurou. Abriu a porta e não soube se ria ou chorava. Ela estava na casa de Raoul – como eu vim parar aqui?

–Eu também me pergunto a mesma coisa – uma voz soou logo em sua frente. Ela o olhou surpresa em vê-lo em pé, altivo e com o semblante relaxado.

–Raoul...

–Emma.. espero que tenha dormido bem.

–Eu... como cheguei aqui?

–Não sei, provavelmente devo culpar Enrico por isso, estou certo?

–Enrico.. – murmurou ao recordar-se da noite anterior – eu estava com ele e.. – aos poucos algumas imagens desconexas se formaram – eu.. disse algo.. ontem a noite?

Raoul não falou nada, apenas sorriu, caminhou em sua direção e depositou um beijo em sua testa.

–Tome um banho e vista algo. Sobrou algumas roupas suas no guarda-roupa. – disse antes de virar as costas e seguir para a cozinha.

–Raoul gentil? Será que... aquilo não foi um sonho? – indagou-se alarmada.

Raoul ajeitou a panqueca que fizera em dois pratos. Arrumou a mesa e olhou em direção da porta.

Seria errado me deixar envolver por essa atmosfera?” perguntou-se no silencio da cozinha.


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