Lição de Amor escrita por Srta Snow, Tahy S Snow


Capítulo 46
"Estou aqui"




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Enrico apoiou a cabeça em sua mão ao escutar a conversa de Enzo com Emma. Ele ainda tentava buscar algum indicio verdadeiro dos sentimentos dele.

–Eu disse que ia ficar bom – vangloriou-se ao vê-la provar a lasanha com os olhos brilhando – mas devo confessar que esse é o único prato que sei fazer.

–E isso eu confirmo – Enrico disse sorridente – então Emma... conte-me como esta sendo sua vida desde que saiu do apartamento de Raoul.

Os dois homens olharam para ela a espera de uma resposta, mas a mente da jovem não estava naquela sala. Ela havia ido embora com Raoul. Por mais que tentasse ser forte sentia vontade de ir atrás dele. A cada instante recordava-se de suas palavras e de seu pedido, não podia evitar. Ela começava a se arrepender de certa forma.

–Só posso ser uma louca masoquista – sussurrou consigo mesma ao cutucar a lasanha a sua frente. Quando levou o olhar deparou-se com o semblante divertido de Enrico e o de tristeza de Enzo – me perdoem.. Eu estava distraída, mas sobre o que falavam?

–Emma.. ainda esta em tempo – Enzo disse calmo escondendo o seu sentimento– pode ir atrás dele.

–Porque eu iria atrás de alguém que me trata daquela forma? Ele é apenas um homem problemático.

–Quer dizer que sente pena dele? – Enrico indagou curioso.

–Pena? Não sei se sinto pena ou outro sentimento qualquer.

–Mas deve sentir algo por ele para estar pensando nele – insistiu apesar do olhar de advertência que Enzo lhe lançava. – apenas expondo os fatos – deu de ombros ao ver a expressão de desagrado em Enzo.

–Sentir algo por ele? Não... Isso.. seria improvável – disse mais para si mesma do que para ele. O viu assentir e dar de ombros.

–Vamos mudar de assunto – Enzo comentou após pigarrear – então Emma, quer mudar de colégio?

–É muito radical, não acha?

–Então o que pensa em fazer?

–Apenas enfrentar.

–Sozinha?

–Eu tenho Caroline e você, não tenho? – sorriu levemente.

Enrico levantou-se e fingiu bocejar.

–Estou indo para a minha cama, te espero mais tarde docinho – brincou ao piscar para Enzo.

–Ele é sempre assim? – Emma indagou com um leve sorriso na face – sempre brinca com tudo?

–Todas às vezes.

Sorriram um para o outro dando inicio a uma longa conversa. Sem perceberem a noite já havia chegado e eles encontravam-se envolvidos um com o outro.

***
As luzes coloridas davam um ar mais alegre e movimentado a boate em que Raoul encontrava-se. Ele estava sentado no bar da área reservada rodeado de pessoas, mas sentia-se sozinho. A mesma solidão que imaginara ter abandonado anos atrás. Olhou para o copo vazio a sua frente e suspirou. Fez um discreto sinal para o barman e não demorou para o seu copo estar cheio novamente. Bebeu vagarosamente o terceiro copo de whisky sem dar-se conta da mulher loira que se aproximava.

Como pode um homem como eu.. com minha experiência estar sentindo isso por uma adolescente? Isso não é normal. Não tem como ser.” Repetiu em pensamento.

–Nem a empresa esta mais servindo como desculpa.. – bebeu todo o conteúdo que estava em seu copo de uma só vez – eu me nego a estar apaixonado por ela – murmurou.

A mulher loira parou ao lado dele colocou uma bebida em sua frente e sorriu ao vê-lo erguer os olhos.

–Estava te olhando faz um tempo. Me parece que esta sozinho.

–E se estiver? – tornou sem vontade ao afastar o copo dela.

–Bem.. eu também estou sozinha – sorriu singela. Raoul a olhou demoradamente e pode jurar uma semelhança entre ela e Emma. Meneou a cabeça para afastar a lembrança de sua esposa e encarou a mulher ao seu lado.

–Quer sair daqui? – ao vê-la assentir depositou dinheiro sob o balcão, segurou em seu braço e a levou para fora da boate. Ele não queria pensar. Ele não queria se lembrar da rejeição. O que ele queria era afogar os sentimentos em um mar de escuridão e esquecimento. Logo no estacionamento imprensou a mulher contra o capô de seu carro e a beijou demoradamente.

–Nada mal – provocou sedutor ao apertar o alarme do carro e colocá-la para dentro. Deu a volta e não demorou para estar dirigindo em direção ao seu apartamento.

***
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Emma olhou para o relógio em cima da mesinha ao lado da cama de Enzo e levantou-se incomoda. Já se passara da meia noite, mas não conseguia dormir. Olhou em volta sorrindo levemente. O quarto de Enzo era exatamente como imaginava: tranquilo e lhe dava a sensação de calor ao olhar para a decoração. Retirou a coberta de si e caminhou para fora do quarto, a sala estava escura. Caminhou ate o sofá, mas ao se sentar sentiu algo nele. Levantou-se sorrindo ao ver Enrico deitado. Já estava voltando para o quarto quando escutou a sua voz.

–Perdeu o sono ao pensar em qual dos dois Belinni? - brincou ao bocejar. - ou será que foi em mim?

–Pensei que estava dormindo...

–Não estava conseguindo dormir – confessou ao sentar-se – mas e você porque esta acordada?

–Nem eu sei – suspirou ao sentar-se ao lado dele. Aconchegou-se no sofá e fechou os olhos – porque é tudo tão complicado?

–Quem sabe.. – murmurou a olhando – sabe que ficar aqui não vai resolver nada,não é?

–Eu sei e é isso que me deixa tão mal.

–Hoje... quis ir com ele, não quis?

–Cla...claro que não – disse nervosamente ao olhar para o lado.

–Se não queria porque esta tão nervosa?

–Impressão sua..

–Emma.. não sou um bobo – “apaixonado como Enzo” acrescentou em pensamento.

Ela o olhou e sorriu levemente após suspirar.

–Apensar lhe sou grata por tudo o que fez por mim.. Ir com ele seria uma forma de retribuir, não acha? – perguntou ao abrir os olhos e encará-lo.

–Ir com ele não seria a forma mais sensata de demonstrar gratidão e sim de dizer que o escolhia e neste contexto seria o mesmo que dizer que gosta dele, talvez? – sorriu.

–Isso é loucura.. – envergonhada respondeu.

–Pode ser, mas eu percebi o seu nervosismo e sua felicidade ao vê-lo. – comentou sorrindo - Estava vendo tudo.. Na verdade eu havia chegado um pouco depois que ele, mas não quis acabar com o clima. Não deveria ter ficado se não era isso que desejava.

–Não poderia ter o deixado depois do que disse pra mim... eu me sentiria mal se assim o fizesse.

–Prefere a felicidade da outra pessoa do que da sua? Realmente és uma peça única.

–Enrico.. Nem eu mesma sei por que estou falando disso contigo. É melhor eu ir tentar dormir – levantou-se, mas foi impedida pela voz dele.

–Não pode se negar a felicidade ou ao que sente pelas outras pessoas se continuar assim acabará sozinha ou presa em algum relacionamento fadado ao fracasso. Se quer ir atrás dele, vá. Não pense em ninguém para tomar suas decisões. Se quiser posso levá-la ate Raoul, estou sem sono de qualquer forma – sorriu. A viu se afastar em silencio e suspirou em seguida –estou parecendo a fada madrinha deles. – resmungou bem humorado ao passar a mão pelos cabelos voltando-se a se deitar em seguida. Após alguns minutos olhando para o teto em meio à escuridão escutou a voz de Emma e sorriu.

–Me leve ate ele – ela pediu confiante assim que retornou para a sala. Ela vestia uma calça jeans e uma blusa folgada branca.

Flashback on

Emma entrou no quarto e jogou-se na cama. Fechou os olhos, mas as únicas imagens que vinham em sua mente eram a de Raoul.

–Como posso pensar tanto em alguém que me trata tão mal? Isso não tem lógica. – resmungou para si mesma ao se levantar e olhar pela janela. Ficou alguns segundos daquele jeito ate lembrar-se dos momentos felizes que havia passado com ele – apesar de serem poucos.. eu me diverti muito.. mas se eu for atrás dele isso não será o mesmo que dizer eu gosto de você e que lhe escolhi? – suspirou, mas ao olhar para o seu celular, o qual estava ao lado da cama deu-se por vencida – Ele estava preocupado comigo, o mínimo que posso fazer é lhe dizer que ficarei bem, não é? – com tal pensamento se arrumou rapidamente e foi em direção a sala.

“Não sabia que mentia tão bem para mim mesma” pensou.

Flashback off

Enrico levantou-se com um sorriso satisfeito no rosto. Retirou a chave de seu bolso e a balançou.

– A sua carruagem a espera – tornou travesso.

Emma não conseguia conter o seu nervosismo, pois ao mesmo tempo em que sabia que estava sendo correta imaginava estar errando ao enganar Enzo.

Eu só vou vê-lo.. falo algumas coisas e volto... isso deve ser o suficiente, não é?” pensou ao ver Enrico dirigindo com prazer pelas ruas italianas.

Assim que chegaram ao prédio, Enrico falou que a esperaria no carro e lhe pediu para que ligasse caso acontecesse algo. Ela assentiu ao caminhar em direção a entrada do edifício e em seguida para o elevador. Seu coração palpitava e um sorriso brotava em seus lábios. Os segundos que levavam para o elevador chegar a cobertura nunca lhe pareceu tão demorado. Ao escutar o sinal de que seu andar havia chegado saiu apressada, abriu a porta e estranhou o gemido que escutou. Caminhou pelo apartamento um pouco escurecido e logo estava em frente ao quarto dele. Respirou fundo antes de erguer a mão para bater na porta, mas ao vê-la entreaberta, a empurrou levemente. O seu coração parou junto com sua respiração com a cena que viu. Raoul encontrava-se sentado na cama, mas uma mulher com vestido erguido ate a sua cintura estava sentada sobre ele, beijando o seu pescoço. O olhar dele estava perdido como se não estivesse presente ou não quisesse. Emma levou a mão aos lábios para não emitir nenhum som. Sentiu as lagrimas caírem pelo seu rosto ao mesmo tempo em que uma dor tomava conta de seu coração. Deixou-se cair no chão frio e fechou os olhos ao levar a mão em seu coração.

–Como dói – murmurou chorosa. Ela sabia que deveria sair dali, mas não tinha forças. – Porque tinha que ser assim?

Raoul viu um vulto na porta de seu quarto, mas não se abalou.

Deve ser minha imaginação..” pensou ao imaginar Emma o beijando daquela forma. Sua mente estava longe daquele quarto. Os beijos e as caricias da mulher em cima de si não transmitiam nada para ele.

Com dificuldade Emma se ergueu do chão, apoiando-se na parede. Caminhou desta forma ate a porta e ao fechá-la caiu no corredor do andar do edifício. Chorou sozinha durante longos minutos, mas o triste episodio lhe mostrara uma realidade incontestável. Ela sentia algo por Raoul.

–Meu coração parece que vai se partir em dois – sussurrou consigo mesma em meio a lagrimas. Olhou para o nada com o semblante perdido. “Porque me sinto assim?”.

Enrico tamborilou os dedos no volante a medida que a musica tocava. Ele já imaginava retornar sozinho quando viu uma jovem ir ate a sua direção cabisbaixa. Estranhou ao perceber ser Emma. A esperou entrar no carro para perguntar o que havia acontecido, mas ao vê-la chorando e com a respiração difícil ficou pasmo.

–Emma.. o que houve contigo? Ele lhe fez algo? Aquele idiota.. não se preocupe aposto que... –antes que pudesse terminar de falar, ela se jogou sob ele, o abraçando. Suas lagrimas agora caiam em sua camisa. Os braços de Enrico a envolviam sem ao menos imaginar o motivo de a estar consolando. – “Provavelmente foi assim que começou para Enzo.. o calor de seu corpo é realmente aconchegante apesar das lagrimas em seu rosto” pensou no silencio. O único barulho dentro do carro era o do choro de Emma.

Enrico já não sabia o que fazer quando Emma se afastou com os olhos vermelhos. Ela se mostrou acanhada e sem jeito ao olhar para o homem ao seu lado.

–Me.. desculpe por isso – desculpou-se ao vê-lo sorrir um pouco.

–Só lhe desculpo se me contar o que houve.

–Apenas me dei conta de algo.

–De que?

–De que sou uma criança. Percebi que não importa o que eu pense, nada irá mudar. O melhor é manter tudo ate essas nuvens escuras sumirem dando lugar ao sol.

–Do.. que está falando? – murmurou confuso pensativo – será que está falando de Raoul?

Emma manteve o seu olhar perdido e prometeu a si mesma naquele instante que não o deixaria mais brincar com ela seja com palavras ou ações.

–Enrico.. o que pensaria de alguém que diz uma coisa, mas faz outra, completamente diferente?

–O que Raoul fez?

–Não foi ele.. só.. – suspirou ao passar o dorso de sua mão no rosto – esqueça. Estarei sendo idiota se continuar com isso.

Enrico piscou confuso. Para ele aquela conversa não fazia o mínimo de sentido.

Esse sentimento... essa dor irá sumir tão rápido quanto surgiu, não é?” pensou ao pegar o seu celular em seu bolso e apertá-lo contra a sua mão, pois sempre que o fazia imaginava estar ao lado dele. Entretanto naquele momento desejou ter coragem para jogá-lo fora junto com suas lembranças.


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