Acordei estranhamente cedo, eram seis da manhã. Me sentei na cama e vi James sentado na poltrona me olhando com um sorriso torto.

– Feliz Natal lírio. – ele falou vindo até mim e me dando um beijo na testa.

– Feliz Natal! – falei sorridente. Eu amo o Natal. É um dia tão cheio de paz, tão mágico... não tem como explicar.

– Vai se arrumar e vamos descer, sim? – James falou me puxando da cama.

Depois de me arrumar desci as escadas de mão dada com James. Todos já estavam na sala, sentados em volta da árvore.

– Chegaram, finalmente! – Marilu exclamou. – Só faltavam vocês para abrir os presentes.

Minha família tem uma mania estranha de acordar com o cantar do galo. É irritante, já que as vezes você quer dormir o dia inteiro e não pode.

Eu e James nós sentamos do lado de Marilu ao mesmo tempo em que meu avô se levantava. Ele pegou uma caixinha e se virou para nós.

– O primeiro presente será para uma pessoa que está praticamente o ano inteiro distante de nós. – ele começou. – Essa pessoa não sabe a falta que seus sorrisos e seu amor fazem falta. Lily, minha querida, espero que goste.

Ele estendeu a caixa em minha direção, sorrindo. Peguei a caixa e a abri com cuidado. Era uma boneca feita de madeira.

– Eu lembro que quando criança você sempre quis uma bonequinha de madeira. – Vovô explicou. – Só que eu nunca te dei. Mais agora você tem dezessete, já é uma mulher. Espero que não se importe.

Abracei-o sorrindo, enquanto todos aplaudiram.

Então todo mundo começou á dar seus presentes para mim. Ganhei várias roupas das minhas tias e primas, um vaso horrível da Petúnia e um cachecol vermelho e dourado e fofinho da Marilu.

– Eu sei que as cores da Grifinória são esses. – ela explicou baixinho para que só eu e James ouvíssemos. – E fiz esse cachecol pra você. Assim vai ter uma peça exclusiva e só sua para usar no uniforme.

Abracei Marilu bem forte. É muita fofura para uma pessoa só. James se levantou e pegou uma caixinha bem pequena, a menor que tinha. Virou-se pra mim, nervoso.

– Lily, nós conhecemos desde o primeiro ano. No começo a gente não se dava muito bem, você só se dirigia á mim para ralhar ou para falar “É Evans pra você, Potter”. – ele tentou me imitar, e todos riram. – Então um belo dia você aceitou sair comigo. Você não viu, mais eu fiz uma dançinha da vitória junto com Padfoot. – todos riram novamente. – E agora estamos aqui, num relacionamento perfeito e que eu espero que seja eterno.

Então, ele me fez ficar de pé e abriu a caixinha. De lá ele tirou um anel de ouro. Vi que dentro estava escrito “Para sempre James e Lily”. Então ele colocou o anel no meu dedo.

– Um anel de compromisso, esse é meu presente. Meu pai deu esse anel pra minha mãe, e ele disse para eu dar para a pessoa que eu achasse certa. E essa pessoa é você.

Todo mundo bateu palmas de pé. Puxei James para um beijo que durou um minuto, mais ou menos.

James me deu o anel que pertenceu á mãe dele. Por mais que tenha sido um simples anel, eu achei que foi o melhor presente que ganhei naquele Natal de 1977.

Porém era tudo uma farsa.

***

– Lily, o seu namorado é o melhor do mundo. – Marilu exclamou enquanto eu fazia um penteado em seus cabelos ruivos. – O discurso foi tão fofo!

Eu, Marilu e Victoria estávamos no meu quarto, nós arrumando para a festa de Natal.

– Juro que vi a Petúnia e a Eliza quase morrendo de raiva. – Victoria comentou divertida. Ela estava se maquiando.

– Ah gente, nem foi tão assim. – comentei sem graça. E se elas soubessem que meu namoro com James é de mentira?

– Deixe de ser modesta, minha divindade ruiva. – Marilu reclamou. – Nenhum dos namorados deram anéis de compromissos, nem o David. E o anel que James te deu pertence á família.

Victoria assentiu.

– Okay, pode ter sido grande coisa. – falei. – Mais vamos mudar de assunto, vocês duas estão me constrangendo.

Meia hora depois estávamos prontas. Marilu usava um vestido branco (eu que dei o vestido á ela, só para constatar), Victoria um vestido preto e eu um vestido vermelho.

Descemos as escadas juntas, e encontramos o hall lotado de Evans e convidados importantes. Várias famílias estavam ali.

– Lily. – James apareceu. – Você está linda.

Sorri agradecida. Notei que James estava ofegante, parecia que estava com raiva. O puxei até um canto vazio.

– Você está bem Jay? – perguntei preocupada.

– Nada demais Lils. – ele respondeu tentando me acalmar. Coloquei as mãos na cintura e levantei sobrancelha. – Ok, eu briguei com o David.

– Como assim brigou? – perguntei assustada.

– Não se preocupe, foi uma discussão boba. – ele sorriu de lado.

***

Em certa hora da festa, fazíamos os “brindes”. Eram desejos de bom natal e próspero Ano Novo, coisas assim.

Todos os convidados estavam na Sala de Jantar, cuidadosamente decorada pela Vovó Milly. Após muitos brindes, David limpou a garganta.

– Gostaria de fazer um brinde. – ele levantou a taça e todos o imitaram. – Á esse Natal maravilhoso, á minha namorada Maria Luiza e á Lily Evans. – ele se virou pra mim e sorriu. – A bruxa da família.

Nessa hora eu gelei. Senti o meu coração parar de bater por um milésimo de segundo.

David sabia que eu sou uma bruxa, e pelo visto também me acha uma aberração, assim como Petúnia.

Algumas primas idiotas riram, outras ficaram desconcertadas, minhas tias acharam um absurdo me “chamar de bruxa” e as pessoas que sabiam disso arregalaram os olhos e ficaram ligeiramente brancas.

Marilu riu sem graça.

– Desculpem pessoal, David gosta de fazer brincadeirinhas. – então ela saiu arrastando David consigo.

O clima voltou ao normal, porém James também me tirou de lá.

– Por isso que eu briguei com o David. – ele falou irritado. – Ele perguntou se eu sabia que minha namorada era uma bruxa verruguenta e eu disse que ele estava falando asneiras.

– Como ele ficou sabendo? – perguntei.

– Será que a Marilu...? – o interrompi.

– Ela jamais faria isso.

Ficamos uns segundos em silêncio, quando ouvimos a voz alterada da Marilu, o que era bem raro.

– Você não tinha o direito de fazer isso, David! – eu e James entramos no hall, onde os dois discutiam. – E como você descobriu que a Lily é bruxa?

– Petúnia me contou. – ele respondeu. Juro que vou matar aquela idiota. – Disse que era melhor eu me afastar da Lily, ela poderia me fazer mal.

Marilu riu incrédula.

– Lily não faria mal á ninguém, David.

– Ela é uma bruxa. – ele falou pausadamente. – Bruxas são do mal. Lily pode nós matar, e matar todos os outros que estão aqui.

– Você é um idiota! – Marilu gritou. Percebi que ela já estava chorando. – Ela é uma bruxa do bem, a maioria dos bruxos são do bem.

– A maioria? – David perguntou. - Nenhum bruxo é do bem.

– Existem alguns bruxos das Trevas, mais são poucos. – Marilu estava obviamente errada, os Comensais da Morte estavam á cada dia crescendo. – Mais Lily, James...

David á interrompeu:

– Ah, quer dizer que o Potter também é uma aberração?

– Eles não são aberrações, são meus amigos! – Marilu falou raivosa, seu penteado já estava desfeito. – Acabou David, acabou! Eu não quero namorar um ignorante como você.

Nessa hora Victoria apareceu. Ela foi até o irmão.

– Vamos embora David. Depois você e a Marilu conversam melhor. – a morena falou desesperada.

– Não, Victoria. – ele se virou novamente para Marilu, uma cara de psicopata estava estampada em seu rosto. – Entenda uma coisa, Maria Luiza. Só acaba quando eu quiser.

– Não estamos mais na era do machismo. As mulheres podem fazer o que quiser. – Marilu respondeu tentando soar confiante.

– Eu disse que só acaba quando eu quiser. – David levantou a mão, e Victoria deu um grito.

Então percebi o que ele ia fazer. Corri até Marilu.

– Você realmente não vai fazer isso, não é? – falei assim que me coloquei em meio á ela e David. Mais um tapa na cara me acertou, confirmando minhas suspeitas.

Cambaleei para trás, tamanha a força. Marilu sufocou um grito,e ouvi Victoria ralhar com David.

– Lily, ele te machucou? – senti as mãos de James tiraram delicadamente a mão do meu rosto. Um filete de sangue saiu da minha boca.

James fechou os olhos, respirando fundo. Sua mão tremia.

– Sabe, Willians. – a voz dele era fria e cortante, de dar medo em qualquer pessoa. – Não se deve bater em mulheres.

Então James deu um gancho de direita em David, que caiu no chão. Os dois começaram á lutar feito dois animais.

Eu e Victoria separamos a briga. Ela estava branca e preste á chorar.

– Desculpa, desculpa. – Victoria falou. – E-eu não devia ter deixado a Marilu namorar com o David, ele não aceita ser rejeitado, ele é meio doente.

– Meio? – James gritou. O segurei mais forte. – Ele ia bater na Marilu. E mesmo quando a Lily se meteu no meio dos dois, ele não parou.

– O que está acontecendo aqui? – Meu pai falou assustado, enquanto entrava no hall com todos os convidados e familiares atrás dele.

– Sr. Evans, você tem um covarde morando de baixo do seu teto. – James falou. – David Willians não aceitou que Marilu terminasse com ele, e tentou bater nela. Aí Lily se intrometeu, e ele deu tapa na cara dela. – James então pegou meu rosto e mostrou o filete de sangue. – Olhe só o que ele fez.

Todos olharam David horrorizados. Victoria olhava o irmão com nojo.

– Fora daqui, moleque. – Papai falou. – Você e sua irmã, saiam agora!

– Não, Titio. – Marilu se manifestou. – Victoria também me defendeu, ela não tem culpa!

– Tudo bem, então saia você rapaz, e nunca mais pise aqui novamente.

David arrumou o terno e me olhou furioso.

– Você me paga, aberração. – e então saiu pela porta da frente.