Red Wing, Spike e Teela logo chegaram aos portões da Forja, que naquele momento estava mais calma jorrando bem menos lava que de costume.

– Bem Spike essa é uma reunião sua não tenho nada que fazer lá dentro, muito menos encarar Éfeso me perguntando o porquê de estar aqui. Avisarei ao Blue onde você está.

– Obrigado Red Wing.

– Me siga Spike. – falou Teela e prontamente o pequeno o fez.

– Caminhando por entre as sobras de armaduras Spike não conteve sua curiosidade, mas não pelo motivo de sua convocação.

– Então, não quero ser indiscreto, mas você e Garble se conhecem há muito tempo?

Teela sorriu.

– Nossa a sutileza de uma hidra numa loja de cristais...

– Ah desculpa, só estava puxando assunto. É que meio que, não falo com alguém mais novo aqui com frequência. – falou de forma envergonhada.

– Não seja bobo estou brincando com você, eu o conheço desde que nasci somos da mesma época. Já te falaram que os todos os dragões se reproduzem na mesma época não é?

– Sim.

– Pois então, muitos de nós crescemos juntos, bem digamos que andei cometendo alguns erros na escolha de parceiro, bem que eu gostaria de apagar certas burradas minhas em relação ao Garble.

– A poxa que bom... Digo sinto muito! Que chato.

Teela da uma olhada marota para Spike.

– Não fique com ciúmes ok? – risadinha marota.

– Ciúmes? Que nada... – falou um ruborizado Spike.

– Lembre-se só que nem todo dragão adolescente age como idiota, bem pelo menos não naquele nível.

– Pode deixar já não penso mais assim. – sorri o pequeno.

No grande salão da Forja impossível era não ver o grande vulto negro mexendo em peças metálicas, uma pequena cachoeira de lava escorria por um dos cantos e desaparecia no chão indo para sabe-se lá onde. Éfeso passava a peça metálica com as próprias patas nesse fluxo de lava deixando-a incandescente.

– Mestre aqui está o Spike como solicitado. – ambos fazem reverência ao grande negro.

– Ótimo agora nos deixe a sós.

De imediato a jovem verde sai do recinto.

Fizeram-se uns instantes de silêncio enquanto Éfeso observava a peça esfriar. Spike estava começando a ficar nervoso com isso, foi quando ele esticou a pata esquerda e pegou um cesto quase do tamanho do Spike e o pôs a sua frente.

– Tome, prove, preciso ver como ela está ficando.

Eram partes de uma armadura do tamanho do Spike, em um estado bem bruto, sem detalhes. Ele logo colocou o elmo, havia um sulco pelo qual sua crista saía, braceletes peitoral e costas.

– Bem parece que precisa de muita coisa ainda. – falou aproximando seu olho bom – Espere. - Puxou uma lente e começou a ver os detalhes. – Você está meio quieto rapaz me conte alguma história. Fale-me sobre suas amigas, ouvi dizer que uma delas agora é uma nova princesa alicórnio.

– A desculpe pensei que o senhor queria se concentrar.

– Me concentro melhor conversando jovem fale, gosto de saber o que acontece fora dessa montanha e além, agora estique os braços.

Spike contou sobre cada uma de suas amigas, de como fora criado por Twiligth o que aos olhos de Éfeso só confirmou que ele a considerava uma irmã mais velha, deixou seus sentimentos por Rarity transparecerem, e deixou evidente como admirava cada uma de suas amigas e suas saudades, a conversa demorou mais de duas horas algumas vezes Éfeso pegava uma das peças da armadura de Spike e fazia algumas anotações. A conversa transcorria de forma animada, até que num certo momento Éfeso recolheu todas as partes da armadura, colocou num canto e olhou para Spike num tom sereno.

– Spike, e se eu te dissesse que você não poderá mais vê-las?

Spike paralisou.

– Mas por quê? Não pode ser assim, elas são minha família também. Olha eu não sei o que entre dragões e pôneis, mas eles são bons valentes e nobres, vocês não podem me obrigar...

– Calma rapaz, sei muito bem o que você sente por elas, sei o quão um pônei pode ser nobre, mas agora me escute, você precisa saber quais são as responsabilidades de um dragão nos dias de hoje. Seria mais fácil contar como chegamos aqui...

Éfeso olhou para a lava escorrendo pela parede e pôs sua pata no fluxo como se estivesse lavando-a.

– Há muito tempo vivíamos em clãs separados cada um cuidando de sua própria família e espalhados por toda Equestria e além, não havia uma organização éramos como famílias de desgarrados, até que um dia eu e meus irmãos sentimos que algo estava para acontecer e que os dragões precisavam se unir, porém uma sombra já estava agindo muito antes de começarmos.

– Sombra? O senhor está falando do rei Sombra?

Éfeso sorriu.

– Rei Sombra... Aquele pobre coitado ganancioso foi só um subproduto, uma marionete da verdadeira sombra, Hades o traidor. – ao falar isso Éfeso passou a pata na cicatriz do seu olho – Na maioria dos casos em que os pôneis sofreram houve influencia dele, sempre nos bastidores viemos a descobrir isso só depois...

– Depois?

– Depois da grande guerra dos dragões, Hades levantou um grande exército numa época que ainda estávamos nos organizando, que ironia, foi nessa guerra que acabamos nos unindo de vez, mas a um alto custo. Hades foi banido magicamente, mas sua essência não foi destruída, desde então treinamos, nos organizamos e ficamos sempre vigilantes caso ele venha a escapar do seu cárcere no Fosso que fica debaixo da Rocha onde todo dragão deve circundar quando volta de viagem sempre observando tentando detectar alguma anomalia.

E continuou.

– É missão de todo dragão evitar que tal mal venha a recair nesse mundo novamente. Spike já percebeu que cada um de seus colegas de treino tem uma tarefa? Badrock guarda o santuário dos heróis passados, Naila está designada como médica nas horas vagas, percebeu que você não a vê com tanta frequência?

– Sim.

– Blue temporariamente faz às vezes de patrulheiro de outros reinos sempre xeretando quando solicitado, ainda não é a sua função definitiva, mas não acho que vá ser algo diferente, mas entenda Spike, cada tarefa de cada dragão por mais tola que possa parecer tem um motivo de ser.

– Como uma bela marca.

– É uma comparação válida, mas claro isso não engessa o dragão a ficar sempre fazendo só aquilo, em momentos críticos ele deve estar preparado para ser realocado.

– Mas não vê-las mais?

– Escute Spike a pouco o Gold me chamou para conversarmos sobre uma tarefa para você, achei melhor contar logo isso, não ia deixar esse fardo para Solaris, muito menos para o Blue que é inexperiente para tal.

– Não vê-las mais...

– Spike olhe para mim! Você as ama?

– Sim claro.

– O que você faria para protegê-las?

– Tudo o que estivesse ao meu alcance.

– Mesmo que tal tarefa o afastasse delas?

Spike fez silêncio total, várias imagens vieram a sua mente sua vida em ponyville, as estátuas de seus pais, o treinamento seus sonhos de seres de sombras atacando suas amigas e depois disso tudo simplesmente falou.

– Sim...

– Sei que será difícil você digerir isso tudo agora Spike, mas provavelmente a decisão de sua tarefa demorará a sair, não seria justo conversarmos a respeito disso sem você estar ciente.

– Obrigado por ser honesto comigo Éfeso, eu preciso pensar um pouco.

– Claro vá, as portas da Forja estarão sempre abertas, e conte sempre com a Solaris ela é uma ótima mestra.

Spike saiu, nos portões externos Blue já o aguardava, Nestor o havia colocado a par da situação Red Wing e Teela também continuavam lá.

Spike subiu nas costas de Blue e se despediu.

– Spike eu te prometi que você veria suas amigas de novo e eu cumpro minhas promessas. – Blue fez menção em mudar de rota para Ponyville, mas foi logo interrompido por Spike.

– Não Blue, por favor, vamos para caverna eu preciso descansar.

Blue assim o fez, ele sentiu Spike com uma voz coberta de sentimentos contraditórios, o dragão azul não concordava com a designação de tarefa para o pequeno, ele tinha pensamentos muito diferentes da maioria dos dragões justamente por causa do seu frequente contato com as outras raças, mas naquele momento ele só poderia deixar o pequeno mergulhado em seus pensamentos.