Potterlock - A Pedra Filosofal escrita por Hamiko-san


Capítulo 4
Nicolau Flamel




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John tinha que confessar que a aula do professor Quirrel só não era mais chata que a do professor Binns, o fantasma que lecionava História da Magia. O professor de Defesa Contra as Artes das Trevas gaguejava a cada duas frases, tinha um ar medroso e parecia que iria desmaiar ao menor suspiro. O garoto chegava a imaginar que naquele ritmo seria um alvo fácil pra qualquer bruxo das trevas.

Esse traço do professor, somado à decepção que teve com Sherlock, fazia John ficar aéreo durante toda a aula, dando mais importância em como arrancar a verdade de quem considerava amigo do que de saber o que os trasgos montanheses fazem com suas vítimas. Olhou para Sherlock, que estava concentrado nas palavras de Quirrel.

Ou ao menos era o que parecia.

John ainda não queria acreditar que o amigo fora capaz de azarar a vassoura de Clara.

O aviso de encerramento da aula funcionou como música aos seus ouvidos.

— Eu acho que não duraremos nem dois segundos nas mãos de um bruxo das trevas se continuarmos tendo aula com um professor como esse. - Sally resmungava enquanto andava pelo corredor com Henry e John.

— Ele deve ter conseguido o cargo porque não tem muitos interessados. - Lembrou Henry.

— Por que? - John perguntou - Achei que essa disciplina era disputada.

— Não sei, mas já estou acostumado com um anúncio por ano no Profeta Diário.

— Oh.

— Eu tô faminta. - Avisou a garota - Vamos logo almoçar, garotos.

John ficou calado e não os seguiu até o refeitório com a desculpa de que tinha esquecido alguma coisa na sala. Estava sem o menor apetite em virtude do embrulho no estômago, e optou por ficar sozinho nos jardins de Hogwarts.

Ainda com a mente ladeando teorias sem base, o rapaz encostou-se na parede e passou a contemplar o céu nublado acompanhado do vento frio. Sherlock não azararia a vassoura de Clara, ao menos era isso que queria pensar, mas os indícios não ajudavam.

De repente ouviu passadas se aproximarem de si, e ao ver quem era engoliu em seco. Snape caminhava em direção ao aluno e não parecia contente.

— Professor?

— Watson. Até onde eu sei, todos os alunos estão almoçando. - Era como se ele tivesse percorrido uma longa distância só para atormentar o rapaz - Por que está aqui?

— Ah, eu só...

Foi sem querer que o olhar de John recaiu sobre o tornozelo de Snape e localizou a ponta de um ferimento profundo. Uma mordida talvez.

— ... Estou sem fome. - Respondeu sem conseguir disfarçar a mirada.

Snape incomodou-se e rapidamente cobriu o tornozelo com a capa preta.

— É melhor evitar atitudes suspeitas, senhor Watson. Se ficar perambulando por aqui sozinho, vou achar que está aprontando.

— Sim, senhor.

Snape continuou fitando-o, como se procurasse descobrir alguma coisa útil para arrancar de John. Talvez não tenha achado nada que valesse a pena, pois em seguida foi embora em silêncio, até sumir da vista do rapaz.

Por um momento, a mente do garoto ficou ocupada com isso.

"Você percebeu, não foi?"

— ARG! - John levou um susto ao ouvir a voz de Sherlock perto de si. Olhou para o lado e deu de cara com ele - De onde você surgiu?!

Sherlock abriu a boca pra responder, mas depois fechou-a, como se estivesse pensando em qual a melhor forma de responder. Olhou para o chão um pouco balançado e mordeu o lábio inferior ao fazer isso:

— Vim lhe ver. - Murmurou.

— Bem, estou aqui.

— Ainda está mal porque seu time perdeu?

— Não estou mal por isso!

— Então? Está me evitando, seus ombros estão caídos...

John respirou fundo e tomou coragem pra fazer a pergunta:

— Por que estava azarando a vassoura da Clara?

— Não! Moriaty estava fazendo isso! Não eu!

— Mas eu lhe vi movendo os lábios! E você não tirava os olhos dela!

— Eu estava recitando o contra-feitiço. No café da manhã, antes do jogo, ele me desafiou!

— E você aceitou?!

O silêncio do jovem Holmes confirmou a assertiva.

— Sherlock, ela poderia ter morrido!

— Eu não ia falhar. Só lamento seu time ter perdido.

— Perdido?! Então essa foi a aposta? Se você adivinhasse o contra-feitiço a tempo o meu time ganharia, caso contrário quem ganharia era o dele?

— Basicamente.

Dessa vez John sentiu o aborrecimento crescente se converter em raiva.

— Você... É... Inacreditavelmente idiota! E Parabéns! Encontrou sua alma gêmea! Sejam felizes juntos! - Deu meia volta e começou a se afastar.

— Espere! Você reparou na perna do Snape, não reparou?

— O que diabos isso tem a ver com sua aposta maluca?

Sherlock segurou o braço do amigo pra que ele parasse e virasse pra si:

— Snape esteve na sala com aquele cão de três cabeças, John. Foi machucado.

— E daí? Nós também estivemos.

— Mas não sabíamos de nada! Eu aposto que Snape e todos os professores sabem do perigo que os espera ao entrar naquela sala!

John balançou a cabeça confuso:

— E aonde quer chegar?

— Não vê? Snape foi atrás do que está escondido no alçapão! E aposto que ele ganhou aquela mordida no dia que os trasgos invadiram o castelo. Pense! Como trasgos conseguiriam entrar aqui? Alguém os deixou entrar. Pode ser uma coisa muito importante e alguém está querendo roubar.

— Snape?

— Talvez.

De alguma forma aquilo fazia sentido, embora John duvidasse que qualquer professor ou mesmo Dumbledore daria crédito às teoria de um garoto de onze anos.

— Ok, Sherlock. É uma boa teoria. - Soltou-se - Agora já tem uma maneira de se livrar do tédio. - Em seguida foi embora.

 

~O~

 

O Natal finalmente chegou, junto com neve suficiente pra fazer Filch perder o pouco de humor que ainda lhe restava. O frio passava a sensação de que as pontas dos dedos iam cair a qualquer momento e John andava rotineiramente vestido com a capa espessa, luvas grossas e um cachecol vermelho e dourado que o cobria até o nariz, além das orelheiras, mas mesmo assim não se sentia tão aquecido quanto queria. Os corredores de Hogwarts estavam gelados e as piores aulas eram as de Snape, nas masmorras, onde parecia que o vento soprava com mais crueldade. Todos os alunos ficavam bem próximos dos caldeirões para se aquecer.

A tarde, as aulas foram suspensas e a melhor maneira que John, Sally e Henry acharam para dispersar o frio foi travando uma guerra de bolas de neve. Em pouco tempo Donovan convidou o amigo Lestrade, que por sua vez convidou Molly, fazendo a batalha ficar mais consistente.

O grupo parou a guerra quando Greg mal conseguia se manter de pé. Foi nessa hora que viram dois pinheiros serem carregados por Hagrid ao longe.

— O salão vai ficar lindo! - Dizia Molly sorridente - Pena que não vou poder ficar.

— Está brincando? - Sally replicou - Agradeça por poder passar o natal com a família. Esse castelo está muito frio.

Henry pareceu incomodado ao ouvir isso e jogou sua bola de neve no chão, sibilando um "vou beber alguma coisa quente" antes de se retirar.

— Ops... Falei demais.

— Por que? - John indagou - Henry vai ficar?

— Ele é órfão de pai e mãe. Mora com os tios, mas não está com muita vontade de passar o natal com eles.

— Ah.

— Falando nisso, ainda tenho que arrumar minhas coisas. O expresso sai daqui há quatro horas. Hn?

Sally olhou preocupada para uma direção, e John seguiu a mirada junto com os outros. Viram que longe dali um calouro da Corvinal seguia a passos duros um rapaz do terceiro ano, da Sonserina. John reconheceu Sherlock, mas não fazia ideia de quem era o outro rapaz. Tinha rosto liso, redondo e com as maçãs bem sobressalentes que combinavam com o ar de arrogância que ele tinha.

De repente o sonserino se virou para Sherlock e falou alguma coisa que fez ambos sacarem a varinha e apontarem um pro outro.

— Ah, não... De novo não... - Lamentou Lestrade.

— Temos que impedi-los! - John correu na direção deles.

— John, espere!

O pedido foi inútil. O jovem Watson já havia disparado para intervir na briga:

— Sherlock!

Tanto Sherlock quanto o outro garoto o miraram surpresos quando o viram com a varinha em uma das mãos, embora não estivesse empunhando-a para nenhum deles.

— ... John? - Sherlock parecia incrédulo.

— O que está acontecendo aqui? - Perguntou o loiro desconfiado.

Sherlock não respondeu. Encarava John como se tentasse reconhecê-lo. Já o sonserino passou o olhar o recém-chegado dos pés à cabeça e ao fazer isso suas narinas se alargaram um pouco.

— Como vai, Watson? - O terceiranista o cumprimentou com arrogância.

— Como sabe meu nome?

— Eu estava na cerimônia de seleção. Memorizei o nome de todos.

Ainda temeroso, John devolveu a mirada:

— Desculpe, mas... Quem é você?

— O bruxo mais perigoso de Hogwarts e quem sabe do mundo mágico. - Sherlock respondeu no lugar do outro.

O sonserino revirou os olhos:

— Não comece. Você podia cooperar comigo pra variar.

— Ou virar capacho seu, você quer dizer.

— Sabe que essa rixa entre nós deixa as pessoas tristes. Especialmente a mamãe.

John franziu o cenho:

— Peraí. "Mamãe"?!

— A mamãe concordaria comigo se soubesse como você é na verdade, Mycroft! - Replicou Sherlock, que agora parecia uma criança birrenta. - Ficar oferecendo favores a todo mundo pra que fiquem à sua disposição! Se ela soubesse...

— Ah, meu Deus, vocês são irmãos!? - John estava estupefato.

— Claro que somos irmãos! - Replicou Mycroft - Sherlock, por favor, você já andou com gente mais inteligente.

— Eu ando sozinho, não sei se você reparou.

— Será? Esse garoto veio que nem um cão atrás de você.

O jovem Watson sequer ligava mais pra discussão. Estava começando a se sentir idiota por ter se intrometido e mais ainda por estar sendo ofendido sem a menor discrição.

— Eu não vou mais discutir com você, Mycroft. Sabe que mamãe não gosta quando brigamos no período do advento. - Disse Sherlock antes de puxar John pelo pulso para ir embora.

Quando se distanciaram, John olhou para Mycroft por cima do ombro. Lestrade tinha se aproximado do sonserino junto com Sally. Pelo visto os dois já estavam acostumados com as briguinhas dos irmãos Holmes.

— Então aquele é o tal Mycroft que Moriaty tinha falado um dia desses... - John pensou alto.

— Sim. Pelo menos nisso meu irmão e eu concordamos. Moriaty não é flor que se cheire.

— E o que você estava fazendo fora do castelo? Não me parece ser o tipo que gosta de fazer bonecos de neve.

— Eu estava procurando Hagrid, mas ele não tá em casa. Preciso saber como amansar o cão de três cabeças. Fofo.

John jurou que não tinha ouvido direito:

— Fofo?

— Não pergunte. Se Hagrid não está em casa, deve estar cuidando dos pinheiros. Tudo bem, vou ter tempo suficiente durantes as férias de Natal.

John reparou que Sherlock ainda não tinha soltado seu pulso.

— Vai ficar por aqui? - Perguntou o loiro.

— Sim, minha mãe tem um simpósio sobre arte trouxa na França e meu pai vai acompanhá-la, então comemorarão o Natal em Paris. Melhor assim. Vou vigiar aquele corredor.

Entraram no castelo e viram o professor Flitwick e a professora Minerva cuidando de toda a decoração de Natal com a ajuda de Hagrid. O local estava espetacular. Haviam doze pinheiros em volta do salão sendo decorados com flocos de gelo e pontos de luz. O professor Flitwick conjurava bolhas azuis da ponta da varinha para colocar nos ramos, deixando John com os olhos pregados naquele feito, maravilhado. Por um instante o Watson lamentou não poder passar o Natal no castelo.

— Oi, meninos! Linda a decoração, não? - A voz vinha de um Hagrid com várias guirlandas enormes nos braços - As cestas de doces das mesas não são para serem observadas. Podem se servir.

— Incrível! - John dirigiu-se rapidamente ao monte mais próximo, tirando saquinhos de feijões de todos os sabores e abrindo-os.

Sherlock o seguiu.

— Você conhece os doces do mundo mágico? - Perguntou.

— Sally já me deu sapos de chocolate.

— E esses feijões?

— Sim, ela me falou sobre eles. Tem todos os sabores. Chocolate, morango, mouse de passas, pudim de leite...

— ... Cera de ouvido, cocô, bicho papão, sovaco...

John fez uma careta e quase ficou verde quando provou um com gosto de vômito.

— Gasp! Gasp! Cof!

— Você é muito ingênuo.

— Cala a boca! Gasp!

— Não se incomode com o seu primeiro feijãozinho, Watson - Falou Hagrid entretido - É isso que torna os feijões divertidos. Você nunca sabe o que vai comer. Depende de sorte.

— Eu ainda vou descobrir um método pra saber diferenciar os sabores. - Disse Sherlock cruzando os braços.

— Bobagem. Aprenda a se divertir um pouco, Holmes.

— Pena que não vou poder ficar. - Dizia John deixando o saco de feijões de lado e abrindo um pacote com sapo de chocolate - Adoraria passar o Natal aqui.

— Não diga isso. - Contrariamente ao sentido da frase, Hagrid ria orgulhosamente - Aqui ficam os alunos que não puderam estar com suas famílias. Então fazemos o possível pra que esteja tudo tão bom que possa preencher esse vazio. Ah, eu tenho que entregar essas guirlandas pra professora McGonagall. Com licença.

Sherlock pegou o pacote de feijões de todos os sabores e começou a catá-los enquanto John pegava a figurinha do sapo de chocolate. Quando o loiro viu a foto de Dumbledore na figurinha de Bruxas e Magos famosos, abriu a boca impressionado.

— Nossa! O nosso diretor é tão famoso assim?

— Você nem imagina o quanto. Dizem que é o único bruxo a quem Voldemort temia.

— Uau... - Virou o verso e começou a ler em voz alta.

"Considerado por muitos o maior bruxo dos tempos modernos, Alvo Dumbledore é particularmente famoso por ter derrotado Grindelwald, o bruxo das Trevas, em 1945, por ter descoberto os doze usos do sangue de dragão e por desenvolver um trabalho de alquimia em parceria com Nicolau Flamel".

De repente Sherlock parou de remexer os feijões:

— O que disse?

— Que ele é famoso por...

— Não. Nicolau Flamel.

— Ah, sim. Tiveram parcerias juntos. Por que? Você o conhece?

— Tenho certeza que já li sobre ele. - Deixou o pacote de feijões de lado e lançou um sorriso aquilino ao amigo - E faço uma ideia de onde.

Continua


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Notas finais do capítulo

Demorou, eu sei, e isso porque ando atarefada com assuntos do trabalho, estudos e talz.

Mas não se preocupem. Tardo, mas não falto.

Se gostarem comentem e alegrem o dia da autora ;)

Abraços!