Ninguém está pronto para a vida escrita por Kori Hime


Capítulo 55
Ninguém está pronto para: Finais felizes


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/433728/chapter/55

Percy estava diante das obras pintadas por Rachel, que ainda secavam ao lado das imensas vidraças do apartamento em que ela morava. O silêncio dominava o ambiente, assim como o cheiro das tintas. O chão de cimento queimado, impregnado com grandes manchas de amarelo e azul, já o vermelho, escorria da última tela que a oráculo/artista, pendurou no cavalete ao lado dos demais quadros.

Com um suspiro pesaroso, Rachel caminhou até o frigobar para pegar duas latinhas e cerveja. Ela não costumava beber, mas não deixaria o amigo sem companhia. Entregou a garrafa para Percy e os dois, parados um ao lado do outro, viraram a garrafa e beberam, admirando depois as pinturas.

A cerveja desceu amarga pela garganta de Percy. Não, não era porque a bebida tinha gosto ruim, mas por ele próprio estar com o paladar alterado pela acidez provocada no estômago, enquanto as imagens das telas à sua frente contavam uma história ao qual não se sabia exatamente quando iria acontecer.

Ele então olhou para Rachel, que forçou um riso sem graça.

— Há quanto tempo você desenhou isso?

— Durante toda a semana. Os primeiros quadros já estão secos, mas aqueles ali não. — Ela apontou na direção de um quadro onde Nico segurava a mão de duas crianças.

— Você tem outros quadros de profecias que ainda não foram realizadas?

— Sim, mas eu não os deixo aqui. — Rachel cruzou os braços, usava uma camiseta preta com alguns furos e o símbolo de uma banda de metal. — Eu aluguei uma garagem para guardar os quadros. Na verdade, são dois pequenos depósitos em Nova Jersey. — Ela abaixou a cabeça, olhando para os tênis sujos de tinta, sem conseguir encarar Percy nos olhos. — Eu pretendo levar esses para lá assim que secarem.

— Não. — Percy disse, fazendo Rachel olhá-lo finalmente. — Pelo menos não todos eles. Se me permite uma sugestão, eu gostaria que aqueles dois ali fossem destruídos.

Ela olhou para as duas peças ao qual Percy apontava com o dedo.

— Eu não posso.

— Quem disse que não pode?

— Percy, eu sou...

— O oráculo, sim, eu já sei. Mas sou eu retratado naquele quadro, e não quero que ele caia em mãos erradas. — Ele caminhou até as obras, analisando-as de perto. — Me desculpe se preço grosseiro, fico feliz que tenha me chamado aqui, mas não posso permitir que Nico veja essas pinturas.

— Faz parte da vida dele também! — Ela ergueu a voz alterada, mesmo sabendo que era quase impossível uma discussão com Perseu Jackson devido ao grande grau de teimosia que regia sua cabeça.

— Rachel, entenda, os seres humanos e até mesmo você antes de tudo isso acontecer, não tem um oráculo para dizer o que está por vir. — Ele coçou a nunca, passando as mãos em seguida no cabelo recém aparado. — Nós sabemos que isso vai gerar confusão.

— Mas também pode ajudar a impedir que se realize. — A voz dela ficou miúda diante da gravidade do assunto.

— Quantas vezes conseguimos mudar o que foi escrito em suas telas? Quantas vezes as profecias foram transformadas?

Não houve resposta. Percy deu de ombros e pegou uma pequena faca em cima da mesa, que Rachel usava para aviar os lápis de desenho. Depois, parou em frente ao quadro onde mostrava Nico di Angelo e ao seu redor uma grande névoa negra, flutuando sobre a cidade em uma possível luta contra algum tipo de aura dourada que formava a silhueta de uma pessoa muito grande. Percy ergueu a faca e enfiou na lona coberta de gesso que formava a tela, destruindo-a. Depois, fez o mesmo com a tela em que o corpo de Percy jazia no chão sem vida e uma batalha e Nico deitado sobre ele.

— Pode não significar morte, também. — Rachel desabafou.

— Eu parecia bem morto naquela poça de sangue.

— Você quase morreu várias vezes ao longo dos anos, vai morrer por causa de meio litro perdido? — Ela riu, enquanto ligava o moedor de café da cafeteira. — Percy, se isso acontecer eles vão me questionar sobre o ocorrido.

— E você vai dizer que não sabia.

— Como vou mentir para os deuses? — Ela finalizou o café e entregou a xícara para Percy.

— Do mesmo jeito que Luke mentiu, do mesmo jeito que Silena mentiu, posso fazer uma lista.

— Está bem. — Rachel se sentiu vencida. — Então, o que vai fazer agora?

— Agora? Eu tenho um casamento para ir. — Ele terminou de tomar café. — E a senhorita precisa tomar banho, se ainda quiser ser uma das minhas damas de honra.

Rachel concordou e foi tomar banho, Percy esperou por ela, pois sabia que poderia perde-la para uma pintura nova a qualquer momento, e aquela sala já possuía muitos quadros para o gosto dele. Nem todos eram grosseiros e tristes, para não chamar de deprimentes e fúnebres.

O primeiro era um quadro de Percy e Nico um diante do outro, bem vestidos e com um arco de flores logo atrás, o mesmo arco que Drew encomendou para seu casamento e que estava sendo montado naquele momento no Fort Fish, dentro do Central Park. Seguindo a história dos quadros, Percy e Nico em uma praia, depois com um bebê no colo, em seguida correndo no parque até mesmo com um cachorro. Ele não acreditava que iriam ter um pastor alemão, era seu sonho de infância ter um bicho desses. Entendia que os anos se passavam, pois, as crianças pareciam maiores a cada quadro, até chegar nos cavaletes em que não existia mais os quadros que ele destruiu. Em seguida, os últimos eram seus amigos com os filhos no acampamento meio sangue.

— Quem diria, Drew mãe de gêmeos. — Percy murmurou, embora uma parte da vida parecesse obscura e dramática, o que ele via naquelas telas era amor e uma vida muito bem vivida.

Sentiu-se ainda mais ansioso para o casamento, e assim que Rachel apareceu na sala, usando um longo vestido lilás com os cabelos ruivos projetados para cima em um penteado moderno, ele a apressou para que descessem de uma vez e pudessem ir.

 

***

Enquanto se olhava pelo espelho retrovisor do carro, Nico perguntava as horas para Leo Valdez. Eles estavam estacionados em uma área proibida, até então nenhuma surpresa, já que usavam a névoa para distorcer a realidade, e os humanos veriam uma vaga interditada com cones e faixa. Ninguém tinha orgulho de fazer isso, só que chegaram ao senso de que não havia alternativa, já que a cidade estavam um caos. Não esperavam que um protesto fosse marcado para o mesmo horário do casamento, e mesmo que os veteranos de guerra estivessem do outro lado do parque exigindo melhorias em suas aposentadorias, onde Leo e Nico se encontravam, formou um trânsito gigantesco onde nem mesmo as motos e bikes conseguiam passar.

O caos se formava do lado de fora do carro, mas não estava melhor dentro do carro.

— Já descobriram onde está o Percy? — Nico perguntou pela centésima vez naquele mesmo minuto e Leo não conseguia processar como ele podia falar mais do que os segundos que passavam.

— Eu acabei de falar que não. — Respondeu, respirando fundo, pois precisava ter paciência com o noivo. Entender que ele estava nervoso e que casaria com Perseu Jackson. Só essa última observação já fez Leo compadecer da situação que o filho de Hades passava.

Não que Perseu Jackson não fosse um partidão, muito pelo contrário, mas algumas coisas não poderiam se chamar de positivas. O futuro marido de Nico era filho de Poseidon, logo eles eram primos. Eles também foram gerados quando os três grandes formalizaram um acordo de que não teriam filhos, logo, seus sobrenomes eram ‘problema’. E Percy era, digamos, enrolado. Metia-se em encrenca com facilidade.

E com esses pensamentos, e olhando para um desolado Nico di Angelo, Leo piscou lentamente, pegando o celular em seguida para descobrir onde estava Percy.

***

                — Tá de brincadeira esse trânsito. — Percy reclamou, batendo a mão no volante.

— Os carros não vão voar magicamente só porque você está bravo. — Rachel pegou o celular e tentou ligar novamente para Annabeth ou Drew, mas estava sem sinal. — Que merda.

— Brigar com o telefone não vai fazê-lo funciona.

— Cala a boca, Percy. — Ela resmungou, enquanto ele gargalhava.

Depois de quinze minutos parados dentro do carro, Percy desistiu. Rachel ordenou que ele entrasse no carro, pois não podiam abandoná-lo ali, mas ele sequer virou para trás. Tirava o paletó e afrouxava a gravata, enquanto caminhava a passos largos por entre os outros carros, até a calçada.

Rachel pegou as chaves do carro e atirou para um guarda de trânsito que tentava desafogar a avenida. Ela apontou na direção de Percy, que estava já na frente, mandando rebocar o veículo, já que o amigo estava mais interessado em casar naquele momento.

Estavam há pelo menos seis quilômetros do local da cerimônia, a única alternativa era alugar uma bicicleta e quando chegassem ao Central Park, pegassem um atalho.

— Senta na garupa. — Percy mandou e Rachel riu de nervoso, sentando-se na garupa da bicicleta e abraçando-o nas costas, rezando para que o vestido não enroscasse na engrenagem da roda e ela ficasse nua.

Eles conseguiram chegar ao parque e então não levou muito tempo até encontrarem o Fort Fish. O lugar estava bem arrumado e os convidados esperando ansiosos. Não eram muitas pessoas, amigos próximos e família. Não toda a família, os pais deles não estavam lá e nem Hazel. Mas, felizmente, alguns amigos do Acampamento Júpiter deram as caras. Todos cumprimentaram Percy, enquanto ele se perguntava onde estava Nico.

— Está no carro, eu não quis que ele ficasse te esperando aqui com cara de abandono no altar. — Drew rosnou, enquanto arrumava a gravata do noivo. — Você está suando, traga uma água para esse idiota.

— Não precisa ofender, tá um trânsito do caramba na cidade.

— Querido, Nico disse que você saiu de casa as sete horas da manhã sem dar motivos e sumiu. — Sally entregou-lhe uma garrafa de água mineral e Percy bebeu tudo de uma só vez.

— Eu fui fazer algo importante, só acabei me enrolando.

— Espero que tenha sido mesmo importante. — Annabeth estava ao lado dele, enquanto julgava-o com seus olhos clínicos. Rachel preferiu não se aproximar da conversa, sabia que não era inteligente tentar enganar Annabeth. — Leo está me ligando de dois em dois minutos faz duas horas, seu noivo acha que você desistiu do casamento.

— Eu vou falar com ele. — Percy jogou a garrafa de plástico no lixo e acenou para Rachel com a cabeça, piscando em seguida, como se aquilo fosse o bastante para dizer que ela devia segurar a onda de interrogatório que aquelas três mulheres fariam a seguir.

Encontrou Leo encostado no carro, assim que foi visto, ele deu alguns tapinha na porta, e Nico sentou no banco, aparecendo na janela do carro.

— Cara, sério, eu espero que você tenha ido resgatar crianças órfãs de um incêndio. — Leo falou, enquanto batia nas costas de Percy, deixando-os a sós em seguida.

— Onde você estava? — Nico saiu do carro, batendo a porta. — Pelo jeito não foi assaltado. — Ele falou, observando Percy tirar o aparelho do bolso do paletó. — Então me dá um bom motivo para manter a merda do celular desligado.

— Sobre isso, acabou a bateria. — Mentiu. — Eu estava com Rachel, ela teve um problema, coisa de oráculo, então fui ajuda-la.

— Não me leve a mal, Percy, mas há pessoas mais adequadas em ajuda-la sobre isso.

Percy não conseguia deixar de sorrir mesmo com Nico tão bravo. E tinha tantos motivos para não se importar com brigas.

— Me desculpe, eu quis ser um bom amigo e fui um péssimo noivo. — Ele tentou pegar na mão de Nico, que, a princípio quis desviar, mas depois permitiu o toque. — Você está lindo.

E ele estava, os cabelos deviam estar mais arrumados, antes dele deitar no banco de trás do carro para meditar, ou metade de Manhattan seria engolida por um buraco de ódio. Ele vestia um paletó preto e camisa branca, permitia que os cabelos dele destacassem na pele pálida. Usava um lenço no bolso e um pequeno cravo na lapela.

— Você também está bonito, mas o que aconteceu? Está suado. — Nico aproximou-se e passou a mão nos cabelos de Percy.

— Se importa de eu me casar assim fedendo?

— Não está fedendo, não a ponto de eu desistir de você. — Ele respondeu, beijando-o em seguida. E Percy o abraçou, com tanta força que achou tudo muito estranho. — Tem certeza de que está bem?

— Nunca me senti tão vivo na minha vida. — Sorriu, pegando-o pela mão, entrelaçando os dedos. — Está pronto para casar com o homem mais gostoso da cidade?

— Se ele me prometer que não vai mais desaparecer sem aviso prévio.

— Qual é? Somos semideuses, desaparecer sem aviso prévio está nas entrelinhas.

— Estou falando sério, Percy. — Nico parou de andar e apoiou as mãos sobre o peito do noivo. — Já faz quatro anos que moramos juntos, estava tudo dando certo até que um dia... no dia do nosso casamento, você desaparece por quase dez horas sem dar satisfações para ninguém.

— Olha, você mesmo disse que foi a primeira mancada em quatro anos, acho que eu mereço umas três ou quatro até pegar o jeito.

— Não temos três ou quatro chances de fazer o que é certo na vida.

— Não é como se a gente nascesse com um manual de instruções. — Percy esfregou a mão no rosto, sentia calor e começava a pensar se aquele dia estava fadado a tudo dar errado.

— Eu sei disso, mas nós aprendemos vivendo. As vezes não haverá uma segunda chance para lamentar. Ninguém está pronto para essa vida, ainda mais um semideus. Então me diz que você está realmente pronto para viver comigo sem me deixar louco no banco de trás do carro.

A voz e a expressão de Nico denunciavam toda a sua angústia. Percy segurou seu rosto com as duas mãos e olhou fixamente em seus olhos.

— Eu vou cometer burradas na vida, mas eu vou fazer isso ao seu lado. Não sou perfeito, Nico.

— Não quero que seja perfeito, mas quero ser seu parceiro. Quero que me conte tudo o que acontece.

Era a chance de Percy de falar a verdade, mas não queria tirar a chance de Nico de viver uma vida normal, ou pelo menos o máximo que poderiam chamar de normal.

— Nós temos que aprender a lidar com o que a vida nos dá. Não é mesmo? — Nico concordou. — Eu amo você demais para querer perder a chance de viver ao seu lado.

— Eu também te amo.

— Vamos? — Percy afastou-se um pouco para poderem andar novamente.

Perseu Jackson e Nico di Angelo trocaram os votos diante dos amigos e familiares. Prometeram amar e, na medida do possível, não desaparecer sem explicações. Eles se beijaram embaixo de uma chuva de pétalas de rosas amarelas, enquanto alguns balões eram soltos no ar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Final da historia e ninguém comentou :(
Que q ta acontecendo? Poxa.
O próximo é o epílogo. Até mais.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ninguém está pronto para a vida" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.