Ninguém está pronto para a vida escrita por Kori Hime


Capítulo 53
Ninguém está pronto para: Presente de Grego


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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As caixas empilhadas no meio do corredor não era exatamente a maneira mais eficaz de organização, mesmo assim, Nico deixou passar. Ele pediu para Percy tirar todas aquelas caixas de dentro do quarto, ou seria impossível os marceneiros trabalharem na montagem dos móveis. Havia contratado uma empresa de um dos irmãos de Annabeth, que garantiu fazer a entrega do mobiliado antes de um mês. Não dava mais para dormir em colchões de ar.

O pensamento malcriado fez Nico parar no meio do corredor e tentar ver o lado positivo da história. Ele não estava mais preso no Mundo Inferior, Percy estava vivo e seus amigos estavam bem na medida do possível.

É! Não incomodava tanto dormir em um colchão de ar, pois já passou por coisas piores para chegar até ali.

Pensando nisso, Nico foi até a cozinha, encontrando mais bagunça. Respirou fundo repetindo para si mesmo que pelo menos não estava preso em um mundo com muita gente morta.

Assim que terminou de lavar a louça na pia, ele organizou os objetos nos armários. Optaram por manter os antigos móveis da cozinha para não ter que esperar mais um mês para que fossem instalados. Dava para viver perfeitamente bem com os que possuíam ali. Nico olhou para a geladeira, era a única coisa nova no ambiente, o fogão poderia fazer parte de um belo catálogo de móveis vintage, assim como os azulejos de cor branca, precisou passar um rejunte preto para deixa-lo com uma cara mais jovial.

Tudo isso acontecia enquanto Nico estava ainda desempregado e Percy Jackson trabalhava em sua cafeteria. O negócio dele prosperava, sorte que teve a ajuda de Alex e outros funcionários que não deixaram Sally Jackson desistir de manter a cafeteria aberta, quando todas as coisas insanas aconteciam na vida de Nico e Percy.

Fazia um mês que ele retornara ao mundo, mas ainda se sentia um peixe fora da água. E essa era a segunda vez que precisava adaptar-se ao mundo atual. Claro que agora não demorou tantos anos. Contudo, o Mundo Inferior não possuí uma contagem de tempo igual ao mundo dos vivos. Ele não conseguia definir o que era cinco minutos ou cinco meses. As coisas não aconteciam como em uma linha do tempo reta e ajustada. Era como um espiral, indo e voltando em diversas épocas distintas, onde o passado o presente e barreira do futuro se encontravam. Como o senhor do Mundo Inferior, Nico precisou tomar decisões difíceis que provavelmente chocaria os amigos. As lembranças, por mais que desejasse, retornavam em sua mente cada vez que ele desejava esquecer. E ainda não tinha tido uma conversa com Percy sobre esse assunto, no mais, o namorado estava ansioso para aquela nova fase da vida se mostrasse promissora. E por isso trabalhava tanto, e sem parar, todos os dias.

Metade da tarde passou e Nico terminava de limpar e organizar o quarto, assim que os móveis foram instalados. Forrou a cama com o lençol azul marinho que compraram, jogando por cima uma colcha lisa preta. Eles foram mesmo em uma loja de colchões para comprar o que mais gostassem. Experimentou todos que podiam, sentando ou deitando. Até mesmo rolando e, quando o vendedor não estava olhando, eles pularam em cima dos colchões.

Nico parou no meio do quarto, analisando o ambiente logo que terminou. Olhou a hora no relógio do celular, já era noite e algumas mensagens de Percy não lidas. Ele sentou na cama e leu todas as mensagens. Começava com “acho que vou me atrasar” enviada as cinco horas da tarde e terminava com “Você já deve tá querendo voltar para o Mundo Inferior de tanto que eu dou desculpas, não é?” enviada há cinco minutos.

Nico respondeu, dizendo que o jantar ainda não estava pronto, e se ele poderia trazer algo quando voltasse para casa. Percy não demorou para falar que em no máximo meia hora estava voltando para casa.

Demorou uma hora para ele chegar, mas Nico sequer se incomodou, estava ocupado arrumando a prateleira de livros. Não eram muitos, mas colocar a prateleira na parede foi mais complicado do que pensou que seria.

— Trouxe comida chinesa, eu sei que você gosta. — Percy falou, deixando o saco de comida sobre uma mesa de vidro ao lado do sofá. — Nossa, você está mesmo empenhado em transformar nosso lar em uma capa de revista de arquitetura, não é? — Com um assobio, Percy andou até a lareira para acender. — Você não está com frio? O aquecedor foi ligado?

— Não, eu não liguei, desculpe.

— Vai acabar pegando uma gripe. — Percy foi chegando por trás e o abraçou, apoiando o queixo no ombro dele. — Desculpe, eu estou sendo muito cuidadoso, né? Eu vou tomar um banho e aí a gente pode jantar, ok?

— Está bem. — Nico virou e o beijou levemente nos lábios. — Aliás, o quarto finalmente está pronto, quer olhar?

— Boa ideia. — Percy começou a beijá-lo no pescoço, puxando-o para um abraço. — Podemos testar a cama nova.

Nico ergueu o braço até os ombros dele, o beijo começou agitado, mas depois foi se acalmando, os lábios moviam-se gentilmente, enquanto a língua de Percy entrava pela boca de Nico, favorecido pela falta de resistência, conforme andavam pelo apartamento até o quarto.

Parados na porta, ainda aos beijos, Nico acariciou-o no pescoço e desmanchou o toque das bocas, fazendo-o olhar para o quarto.

— Ficou perfeito. — Ele falou, entrando no quarto ainda segurando a mão de Nico. — Você tem mesmo um jeito com essas coisas, podia fotografar e colocar no Instagram, ia ganhar vários likes.

— Não quero expor nossa casa para as pessoas. — Nico comentou.

— Certo, eu falei sem pensar, desculpe.

— Não precisa pedir desculpas por tudo.

— Está bem. — Percy passou a mão nos cabelos, constrangido, enquanto andava até a porta do banheiro. — Vou tomar logo um banho para a gente não jantar tarde.

Ele entrou no banheiro e logo que Nico ouviu o barulho do chuveiro, deitou na cama olhando para o teto. Havia falado num tom grosseiro com Percy e isso vinha se repetindo há algum tempo. E por mais que o namorado tivesse paciência e falasse que estava tudo bem e que era uma fase ao qual eles precisavam se adaptar, Nico via aquilo com outros olhos.

Sentia o corpo manifestar necessidades que até então não havia notado antes, ou que já existia e só agora se tornou mais evidente. Não sentia frio, é verdade, o calor que emanava de dentro dele o aquecia e sequer usava blusas ao ir no supermercado fazer compras, ou passear com Percy no parque. Ele também se perdia no tempo, como na espiral do passado e presente. Em uma ocasião, visitando a cafeteria, decidiu passar antes em uma galeria que tinha vaga de emprego, não possuía nenhum currículo, mas queria tentar a chance. Ficou lá talvez meia hora? E quando saiu da galeria já era noite e Percy desesperado a sua procura.

Os cuidados excessivos do namorado incomodavam um pouco, não a ponto dele reclamar, mas, ainda assim, eram excessivos e Nico estava a ponto de não aguentar mais dar satisfações de onde estava e o que fazia. Era compreensível, devido aos acontecimentos passados, contudo, não se sentia mais no controle de suas ações.

Nico ouviu a porta se abrir e Percy saiu do banheiro com uma toalha enrolada na cintura. As gostas de água ainda escorriam pelo seu peito, ele parou na frente do closet, tirando a toalha da cintura para secar as costas. Nico o observou, ainda deitado na cama. O corpo de Percy era mais desenvolvido que o dele, isso era óbvio. Os músculos se destacavam não pelo excesso, mas pelo torneamento na medida, os braços firmes e as costas chamavam a atenção pela linha da coluna até o quadril.

— Se perdeu aí? — A voz de Percy o tirou da concentração. — Tá me comendo com os olhos.

— Você é bonito demais para eu não aproveitar. — Nico respondeu.

— É, mas você poderia tá aproveitando mais tudo isso, não é? — Sem censura, Percy apontou com a mão na direção pélvica, fazendo Nico gargalhar. Ele foi até a cama, com a toalha pendurada sobre os ombros. — Posso chegar mais perto para você ver tudo com mais detalhes.

— Você é sempre assim generoso?

— Quase sempre. — Os lábios de Percy roçavam, na expectativa de ver Nico sentar na cama. — Quer passar a mão também? Ouvi dizer que o tato ajuda a gente a tomar decisões.

— Onde você ouviu isso? — Nico estreitou os olhos, sem acreditar de fato que aquilo saíra de algum tipo de jornal ou revista.

— Em algum lugar aí. — Ele balançou os ombros, pegando a toalha e a enrolando para depois jogar ao redor de Nico e usar para prendê-lo em um laço. — Agora você está preso, tudo o que fizer será usado contra você no meu tribunal.

— Em que lugar fica ele exatamente? — Nico sussurrou, mordiscando o próprio lábio.

— Nossa cama.

— Ah! Então eu também tenho jurisdição sobre ela. — Ele deu uma piscadinha e Percy afrouxou um pouco a toalha ao seu redor, mas voltou a apertar, fazendo Nico ficar em pé na sua frente. O corpo dele nu roçava contra o seu, a ereção evidente, assim como a expressão lasciva.

Por mais que Nico se sentisse um peixe fora da água, Percy Jackson estava ali para provar que estava ao lado dele, não importando a situação, o lugar e a dificuldade. Eles estavam juntos, afinal.

 

***

Uma caixa grande estava a sua espera no hall de entrada do prédio. O porteiro assegurou que ninguém deixou o nome, apenas o fez assinar um documento e saiu. Olhando para a caixa, Nico pensou como levaria aquilo para o apartamento, já que o elevador estava em manutenção. Aqueles prédios antigos não possuíam um elevador de serviço, conforme a lei ordenava, e por isso Nico precisou esperar que Percy retornasse para casa e o ajudasse a levar pela escada.

— Se o BlackJack estivesse aqui, seria tudo muito mais fácil. — Percy reclamou, empurrando a caixa escada acima. — Eu juro que não quero ser chato nessas horas, mas minhas costas doem.

— Espera, eu vou ajudar. — Nico passou pelo vão estreito entre a caixa e a parede, para ajudar Percy a segurar a caixa e não a deixar cair. Os dois ficaram de costas para a caixa, apoiando-a, ambos cansados e puxando o ar. — Estamos quase lá, só mais um andar.

— Me diz porque a gente não abriu a caixa lá embaixo para ver se valia a pena essa subida?

— Não pensei nisso. — Nico passou a mão no rosto, estava suado. — De qualquer forma, tem a assinatura do seu pai na caixa, não é como se a gente fosse jogar fora um presente de Poseidon.

— Ah, é! — Percy suspirou e virou para voltar a empurrar a caixa.

Eles conseguiram chegar vivos até o apartamento, restava agora saber qual era o presente de Poseidon. O mais curioso era que o Deus não estava totalmente contente com o relacionamento dos dois. Afinal de contas, as antigas relações entre descendentes do Deus dos Mares e do Mundo Inferior, abalaram o mundo diversas vezes. E não era do tipo show da Lady Gaga, era mais para um Tsunami.

Os dois pegaram cada um uma faca e cortaram a caixa, aos poucos foram conseguindo se livrar da proteção, o plástico bolha se mostrou bastante relaxante enquanto Percy pisava sobre ele e estourava as bolhas.

Pararam diante do presente e analisaram como era possível Poseidon achar que aquela era uma boa ideia.

— Que tipo de presente você costuma receber do seu pai? — Nico perguntou, sem entender porque uma fonte estava no meio da sua sala. Um enorme cavalo marinho entalhado numa pedra brilhosa, com um rabo colorido, enquanto era sustentado por alguns peixes de quatro olhos e no centro uma bacia de bronze onde supostamente a água poderia escorrer, proveniente da boca do cavalo marinho.

— Eu aprendi a não questionar essas coisas. — Percy tombou a cabeça para o lado e depois para o outro. — Será que dá para a gente fazer uma chamada nessa coisa?

— Não custa tentar, tem um dracma?

— Sim. — Percy enfiou a mão no bolso da calça jeans, enquanto Nico procurava descobrir como ligar a fonte. Quando ele conseguiu, Percy fez a chamada e logo em seguida ela foi completada. — Pai?

— Oh! Percy, meu filho. Então você recebeu o meu presente?

— Sim, será que não tinha uma dessas em tamanho de bolso?

A risada de Poseidon ressoou pelo apartamento de forma estridente.

— Olá, senhor. — Nico acenou, ao lado de Percy, assim que o Deus se mostrou satisfeito com a sua risada.

— Hmm o menino de Hades, então você realmente voltou. Me diga, como está aquele tolo?

— Não tenho certeza, mas minha mãe disse que ele está na Grécia, ainda não consegui entrar em contato depois que ela foi embora.

— Sua mãe? — Se o fundo do mar não tivesse cheio de água, Percy poderia jurar que ouviu o pai engasgar e cuspir o café. — Maria di Angelo está com seu pai?

— Parece que você não está surpreso com o fato de a mãe dele estar viva, não é, pai?

— Ah! Sim, a deusa do caminho dos vestíbulos do inferno. É um nome um pouco grande, mas os benefícios são muito bons, ela não era a mãe das harpias?

— As que tentou nos matar e ressuscitar a antiga mãe maluca? Sim, é. — Percy cruzou os braços. — Me diz que você não me fez de idiota e sempre soube disso?

— Se eu começar a mudar os caminhos dos humanos, então as coisas podem fugir do controle.

— Vocês sempre interferem na vida dos humanos. — Percy alisou a ponta dos dedos sobre as pálpebras. Nico tentou mudar de assunto, mas já era tarde, pai e filho iniciaram uma pequena discussão que findou quando a névoa se dissipou com a mão irritada de Percy no ar.

Foi decidido que a fonte ficaria na varanda, isso se o excesso de peso não fosse contra as leis do condomínio. Francamente, Nico não estava preocupado com uma fonte naquele momento. Encontrou Percy no quarto, deitado na cama e virado para o lado. Ele sentou aos pés da cama, tentando iniciar uma conversa, mas o namorado não estava tão animado em falar. Achou melhor deixa-lo sozinho por um tempo, para que colocasse os pensamentos em ordem.

Nico retornou para a sala, pegou o tablet e sentou no sofá, e selecionou alguns artigos de um classificado de um jornal digital. Precisava conseguir um emprego urgente, já não poderia simplesmente contar com Percy para trabalhar e bancar sua vida. E também não tinha mais nenhum acesso ao mundo inferior, onde praticamente a maioria de suas coisas estavam.

Ele tentou entrar em contato com Hazel durante as últimas semanas, mas sem sucesso. Estava impossibilitado de falar com a irmã, não conseguia notícias do pai e da mãe. Em seus pensamentos, Nico soou mais reclamão do que Percy. Não era hora para lamentar, precisava agir. Pegou o celular e enviou o currículo por e-mail, como solicitavam os anúncios. Os empregos eram de diversos estilos, professor de italiano, grego e inglês. Não possuir um diploma acadêmico era um problema grave para ser notado na seleção, mas não custava tentar.

Durante a semana ele não recebeu nenhuma resposta no e-mail, já até desistira de ser chamado. Foi no final da tarde que ele recebeu a ligação de Rachel, o oráculo. Nico ficou surpreso ao ouvir sua voz, principalmente quando ela ofereceu um trabalho.

— Percy me disse que você costumava fotografar antes de... você sabe, tudo aquilo.

— Sim, eu realmente gostava de trabalhar com isso, infelizmente meu material ficou na casa do meu pai.

— Oh! Que azar, não tem como buscar?

— Infelizmente os portais estão todos lacrados e bem seguros pelos demônios.

— Eu tenho uma Nikon, nada muito especial, mas costumo usar para fotografar paisagens quando viajo. Posso te emprestar, o que acha?

— Mas eu ainda não entendi qual é o emprego. — Nico pigarreou. — Não quero parecer ingrato, você é a primeira pessoa que me liga oferecendo um trabalho.

Rachel gargalhou do outro lado da linha.

— Preciso de alguém para fotografar minha exposição, vou ter uma reestreia em outra galeria. É um lugar com mais espaço para meus quadros e, em consequência disso, mais convidados. Preciso de alguém de confiança para me acompanhar e fazer fotos para colocar no meu site, enviar para jornais e revistas. Enfim, não posso pagar muito pelo serviço, mas qualquer fotografia que conseguir vender para revistas, o dinheiro é todo seu. E vou te contar, teremos algumas celebridades importantes por lá, então qualquer foto exclusiva pode fazer dinheiro.

Nico ponderou, não tinha nada a perder, mas também não pensava que seria fotógrafo de celebridades.

— Achei que com a internet esse trabalho de fotógrafo de celebridades tinha ficado no passado.

— Eu também, mas parece que uma foto de boa qualidade ainda vale alguma coisa. Além do mais, os celulares serão confiscados na entrada da galeria, será uma apresentação mais sensorial, por isso quero que as pessoas fiquem mais focadas.

— É uma ideia boa, mas acho que vão reclamar muito.

— Também acho, mas ainda tem muitas pessoas que gostam de intervenções artísticas, afinal, estamos em Nova Iorque.

— Então acho que vou querer pegar o trabalho, você me convenceu.

— Maravilhoso, Nico, estou animada para trabalhar com você. Passa no meu apartamento amanhã, o Percy tem o endereço. A gente se vê depois, quero que você veja meus trabalhos.

— Estou ansioso por isso. Obrigada por lembrar de mim. Até mais.

Ele desligou a ligação e ficou sentado por um momento olhando a paisagem fria da cidade pela varanda. Se perguntando se Percy entrou em contato com Rachel para arrumar um emprego para ele. Não que isso o incomodasse, muito pelo contrário, se ele estava o ajudando de forma indireta, merecia mais era um agradecimento.

Naquela noite Nico não ligou para Percy trazer comida de restaurante, ele mesmo quem cozinhou as costelas de porco e preparou uma salada caprichada, além de arroz de forno e peras em calda para sobremesa. Quando terminou, a mesa estava arrumada e com uma velinha aromática no centro.

 

Percy abriu a porta do apartamento, pendurando o casaco no cabideiro atrás da porta e deixando as chaves sobre o móvel ao lado. Assim que o cheiro gostoso de comida invadiu suas narinas, ele sentiu o estômago reclamar de fome. Almoçou apenas um lanche rápido e tomou um chá que Andrômeda o obrigou, enquanto trabalhava na contabilidade do lugar.

Vinha mexendo com números todos os dias, e cada vez que olhava para as planilhas, parecia que as colunas zombavam dele, fazendo algazarra enquanto os números dançavam na sua frente. Talvez sem Alex para ajuda-lo, a contabilidade teria falido, assim como o estabelecimento.

Sua missão era não ser embargado pelo banco, pagar o empréstimo e fazer o lugar dar lucro para pagar os funcionários e fornecedores, além de sobrar dinheiro para ele sobreviver. E naquele momento sua conta estava com oito dólares e vinte centavos. Nada mal para alguém que tinha acabado de salvar o mundo mais uma vez.

A parte boa era aquela história de sempre, estava vivo e com saúde. Tá, Percy queria que a voz da consciência ficasse no mudo cada vez que ele reclamava e ela vinha importunar com aquele discurso. Estava ficando chato até mesmo ter uma crise.

Só que sempre caía em si e concordava com a voz interior. Ele estava vivo, melhor, Nico estava vivo e ao seu lado. Poderiam suportar qualquer coisa dali em diante, não?

E o cheiro da comida que lhe despertou a fome fez com que fosse até a cozinha ver o que o namorado aprontava.

— Estou apenas esquentando o molho, ficou frio enquanto eu te esperava. — Nico falou, enquanto batia na mão de Percy que tentava roubar uma batata corada.

Os cabelos negros dele estavam maiores, por isso Percy precisou afastar as madeixas para beijar na curva de seu pescoço. Era um lugarzinho perfeito para um beijo, primeiro porque sentia o cheiro gostoso do pós barba e do shampoo, também sentia o eriçar dos pelos do corpo dele. Além disso, sabia que era uma área sensível e Nico nunca resistia as carícias.

Mas precisou se afastar para não causar um incêndio na cozinha, caso o molho queimasse. Ele decidiu tomar um banho, voltando para a sala já vestido e com os cabelos ainda úmidos mesmo após passar o secador.

Nico o aguardava com a mesa posta e ele o serviu, já que Percy era mestre em deixar cair as coisas e acabar se atrapalhando.

— Sério que você cozinhou isso? — Falou, com a boca cheia, limpando-a no guardanapo. — Está tão boa quanto a comida da minha mãe.

Nico riu, mas depois o olhou sério.

— Eu sou medido pela sua mãe?

— É só modo de falar, não conheço outra pessoa que cozinha tão bem assim.

Eles terminaram de comer e Percy se ofereceu para lavar a louça. Enquanto enxaguava os utensílios, perguntou se Nico tinha alguma novidade sobre os anúncios de emprego. Viu então o namorado cruzar os braços ao lado dele, encarando-o de forma sisuda. Nico então falou sobre a ligação de Rachel e toda a proposta que ela fez. No final, perguntou se Percy tinha algo a ver com aquilo.

— Você vai ficar chateado comigo? — Perguntou, enquanto secava as mãos o pano de prato.

— Eu decido isso depois que me contar tudo.

— Muito bem, a Rachel apareceu lá na cafeteria um dia e a gente conversou sobre o que estava rolando, acabei citando seu nome quando ela disse que precisava de um fotógrafo. Só isso. — Ele terminou de falar e abriu a geladeira em busca de uma lata de cerveja.

— Ela se ofereceu em ajuda?

— Isso mesmo, ela se ofereceu. Afinal, ela é um oráculo, os oráculos tendem a ser bons, não é?

— Não é requisito.

— Jura? — Percy moveu o nariz e bebeu a cerveja em seguida. — O fato é que ela precisa de alguém e eu achei que você fosse gostar.

Nico suspirou e Percy aproveitou para envolvê-lo num abraço com um dos braços, enquanto terminava de beber a cerveja. Os dois se olharam em silêncio por um momento. Nico sorriu, tirando a lata de cerveja da mão dele e o beijando. Deduziu que estava tudo bem, mas nada que pudesse melhorar.

Ele então esqueceu-se da bebida e o abraçou com força, apertando as mãos ao redor de sua cintura, pressionando-o contra a pia. O beijo célere e as provocações que resultou nos dois terminando a noite sobre o tapete da sala deitados diante da lareira.

— É possível ser feliz desse jeito? Tenho até medo. — Nico revelou e Percy segurou sua mão, beijando cada um dos nós de seus dedos, para depois olhar para ele com um sorriso.

— Eu já passei por tantas aprovações, mas nenhuma foi tão duro quando achei que nunca mais ia te ver. — Ele abaixou a cabeça para alcançar os lábios do namorado. — E a minha família também, eu não teria medo de ir para o outro lado sabendo que eles estão bem aqui.

— Em seu próximo julgamento, sinto muito, mas você perdeu regalias, não namora mais o senhor dos mortos.

— Vou ter que me contentar com o apoio da minha cunhada. — Percy piscou, acomodando-se melhor no chão para abraçar Nico. — Eu te amo tanto. — Ele o apertou, as mãos possessivas segurando-o, enquanto Nico ria das cócegas que sentia quando Percy passou os dedos em suas costelas.

Ouvi-lo sorrir, sua respiração, tê-lo a seu lado. Como poderia amar e ser amado com tanta intensidade? Agradeceu mentalmente a Afrodite por pela intensidade que o sentimento que se instaurava no peito e transpassava pelo corpo. E era por isso que dava medo. Se entregar de corpo e alma, era apavorante, mas as consequências se mostravam extraordinárias.


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Notas finais do capítulo

Obrigada para quem leu, agradeço os comentários também.



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