Ninguém está pronto para a vida escrita por Kori Hime


Capítulo 51
Ninguém está pronto para: Admitir o erro.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Senhor D. foi claro quando proibiu Percy Jackson e seu grupo de amigos de retornarem a Las Vegas e ao Acampamento Meio-Sangue, até que a confusão que eles haviam armado fosse resolvido. Como metade dos problemas foram resolvidos, Percy achou que seria bem-vindo ao acampamento dessa vez. Mas foi um engano.

Grover o olhava com um semblante de piedade, buscando palavras para consolar o amigo. Eles estavam na entrada do acampamento e havia uma placa fincada na grama, avisando que era terminantemente proibida a entrada dos filhos de Ares, Afrodite e Poseidon naquele acampamento, todos que formaram aliança com Perseu Jackson nos últimos meses.

— E porque ele não proibiu o próprio filho dele de entrar? — Percy perguntou irritado. — Os filhos de Atena também não foram proibidos de entrar!

— Talvez porque os filhos de Atena possuem muita utilidade no acampamento, sem eles as coisas não andam por aqui. — Grover comentou e depois tentou corrigir, mas já era tarde para isso. — Olha pelo lado positivo, você não vai ser obrigado a participar da festa do vinho. É sempre depreciativo ver o Sr. D. resmungar sobre a maldição que o impede de beber vinho. O cara nunca se cansa de passar vergonha na frente dos campistas, as vezes tenho pena, mas aí lembro como ele foi ingrato com você...

— Grover! — Percy exigiu a atenção do amigo. — Preciso que você pegue o livro das Harpias para mim. — Mas aquilo parecia ser mais do que um simples pedido do tipo “me passa a manteiga?”. O sátiro fez uma careta, seus olhinhos pequenos arregalaram de tal forma que Percy achou que eles iriam cair para fora da cavidade ocular.

 — Nem pensar, eu não toco naquele livro, ou o Sr. D. vai fazer churrasco de Grover. — O garoto bode bateu os cascos no chão, cruzando os braços.

— Eu preciso desse livro para amanhã a noite. — Percy insistiu, até que Grover se deu por vencido, o que não levou muito tempo e nem esforço por parte do filho de Poseidon. Grover era um amigo de fato que se enfiava nas confusões que Percy criava, sentiu-se culpado no momento, mas se convenceu de que era por uma boa causa. — Vou te esperar no final da colina, tente vir o mais rápido possível, criarei alguma distração nos campos de morango e daí eles não irão perceber que você pegou o livro.

Grover balançou a cabeça, concordando com o plano, embora os pelos da cintura para baixo ficaram todos eriçados imaginando o que o Sr. D. poderia fazer com ele se descobrisse a traição.

Percy não planejou nada muito elaborado para aquela noite. Conseguiu com Travis alguns foguetes e decidiu acendê-los, mas precisaria escapar de lá o mais rápido possível. Por isso foi até os estábulos, onde encontrou BlackJack.

O Pégaso ficou empolgado com a presença de Percy. Foi necessário suborná-lo com algumas maçãs para que ele não fizesse muito barulho e acabasse acordando os outros animais, em consequência, o acampamento todo.

  — Minhas maçãs estão aí dentro do seu bolso? Ele parece pequeno demais para caber maçãs do tipo que eu gosto.

  — BlackJack, eu não tenho maçãs aqui comigo, vamos buscá-las logo depois de eu ascender uma vela. — Percy o levou até os campos de morango, e então tirou uma caixa de fósforo do bolso. — Quando eu soltar isso, nós voamos para a colina, certo?

— Pode deixar, chefe.

Percy montou no Pégaso e acendeu o foguete, apontando para o alto. Assim que o estouro começou, eles voaram em direção à colina. Aguardaram escondidos até a chegada de Grover. O sátiro apareceu arrastando os cascos pela colina acima, reclamando que quase foi confundido com um invasor e precisou fugir de um grupo de jovens campistas cheios de vigor.

  — Eles estão com sede de sangue, precisam queimar as energias em alguma outra coisa que não seja a captura de bandeiras.

— Trouxe o livro? — Percy não queria ser insensível ao ignorar o relato do amigo, mas estava ansioso demais para pensar nisso no momento.

— Sim. — Grover respirou fundo, tentando recuperar o fôlego. — Mas tive que escondê-lo para que não me pegassem com ele nas mãos.

— E onde está agora?

— Na caverna do oráculo. — Grover desistiu de manter-se em pé e largou o corpo no chão, fazendo grunhidos estranhos com a boca, enquanto alisava os cascos.

— Ele morreu, chefe? — BlackJack bateu o focinho nas patas do sátiro. — Posso comê-lo?

— Sai para lá. Eu ainda estou vivo. — Grover balançou os braços, mas com preguiça de se levantar.

Percy não tinha muito tempo para prestar atenção naquela discussão. Orientou os dois para aguardarem ali até ele retornar, ou, caso alguém aparecesse, eles poderiam ir para a Colina no Leste do acampamento.

A caverna do oráculo ficava naquela mesma colina, era só preciso chegar lá sem que ninguém o visse. Dessa forma, Percy esgueirou-se pelas moitas, até que chegou na caverna. Ele só não esperava encontrar Rachel lá dentro.

— Perdeu alguma coisa aqui? — Ela perguntou, com o livro das harpias nas mãos. — Eu não acreditei quando Grover me entregou isso, dizendo que você estava aqui. Sr. D. vai ficar bem irritado.

 — Oi, Rachel. Como você está? — Percy levantou-se, ainda estava no chão tentando parecer furtivo.

— Melhor, bem melhor. — Ela entregou o livro para Percy, sem criar nenhum obstáculo. — Parece que eu tive um pequeno problema com minha última profecia, não foi?

— Você se recorda de alguma coisa?

— Sinceramente, não me lembro de nada. E eu sempre me recordo de todos os meus sonhos, todas as profecias e tudo o que me falam. Estranho, não é? Quem sabe com a pintura eu não consiga me lembrar. — Rachel ajeitou a manta que cobria seus ombros. — Você precisa de ajuda?

— Sim, eu preciso da ajuda de outra pessoa. Na verdade, não sei se ela vai querer me receber depois de tudo o que a acusei.

Rachel exibiu um sorriso para encorajá-lo.

— Você enfrentou monstros perigosos, mas está com medo de ser rejeitado por uma pessoa. Engraçado como são as coisas, não é? — Ela o abraçou, incentivando-o a seguir em frente. E foi o que Percy Jackson fez quando saiu rastejante pela caverna.

***

Nova Iorque era tomada pelo sol da manhã.

Visto do alto, aquela cidade parecia um lugar tranquilo, mas bastou BlackJack fazer um mergulho em direção ao telhado de uma casa, a magia da cidade foi perdendo o encanto com a poluição, o barulho e o cheiro estranho que emanava das esquinas. Assim que pousaram, Percy desceu do Pégaso e alisou sua crina, tirando uma maçã de dentro da mochila e colocando na boca dele. O cavalo alado comemorou, balançando suas belas asas negras.

Percy enviou uma mensagem de texto pelo celular e aguardou ser recebido no telhado.

— Chefe, posso dar uma volta? — BlackJack movimentava as patas de forma ansiosa.

— Pode sim, mas não vá para longe, vou precisar de você depois. — Assim que Percy terminou de falar, o Pégaso alçou voo, enquanto do outro lado do telhado, Drew fechava a porta que dava acesso para sua casa.

— Não deixe meu engenheiro ver seu cavalo em cima do meu telhado, ou ele vai me cobrar mais caro pelo serviço. — A filha de Afrodite deu alguns passos para frente, enquanto Percy cogitava a aproximação mais segura. — O que faz aqui tão cedo?

— Desculpe, eu não queria te acordar, mas é urgente. — Percy completou os passos de Drew, ficando frente a frente.

— Tudo é sempre urgente com você, não é mesmo? — Ela chutou alguns cascalhos que estavam espalhados por todo o telhado, vestia um roupão cor de rosa, e os cabelos estavam amarrados de uma forma displicente, mas que a deixava com um ar de sou linda mesmo com bafo da manhã. — Vão construir um jardim aqui em cima, espero que BlackJack não estrague as minhas roseiras quando elas florescerem.

— Não, ele não vai fazer isso. Eu espero. — Percy tirou a mochila das costas e a abriu. Entregou em seguida o livro das harpias, provocando o interesse dela. — Eu acho que te devo um pedido de desculpas.

Ela o encarou de forma rígida, mas depois seu semblante foi suavizando.

— Estamos vivendo um clichê e tanto. — Drew abriu a porta, convidando-o para tomar café e explicar o motivo dele estar carregando o livro mais poderoso dos últimos tempos. Frisando que um dia Percy iria levar todos a morte.

***

O outono apenas iniciava, mas as temperaturas estavam baixando gradativamente, assim como a transição no cenário de toda cidade, onde as folhas começavam a mudar de cor. BlackJack estava cansado após passar o dia todo voando pela cidade. Percy não quis saber o que ele havia aprontado, pois retornou com as patas sujas de lama e penas brancas emaranhadas em suas penas negras. O Pégaso descansava na varanda do apartamento, ao lado de uma cesta de maçãs que Percy abasteceu assim que chegaram.

Depois de limpar a lama que seu amigo espalhou por toda a varanda, Percy acendeu a lareira e esticou no chão um lençol de algodão que pegou emprestado da casa de Drew. Além das maçãs, ele também comprou cervejas, uvas e dois sanduíches no supermercado.

Sentado em frente a lareira, Percy respondia uma mensagem de Annabeth. Ela estava preocupada com seu desaparecimento suspeito desde a última vez que haviam conversado e agora ele a convencia de que estava tudo bem. Todavia, não era tão simples enganar a filha de Atena, não só porque ela era muito inteligente, mas também porque seus irmãos do acampamento informaram que houve uma invasão naquela noite e que BlackJack havia sido sequestrado, além do livro das harpias ter sido roubado. Qualquer um só precisava ligar uma coisa a outra para sacar o que estava acontecendo.

Percy esperava que sua porta fosse arrebentada a qualquer momento por Sr. D., contudo, ninguém sabia onde ficava seu novo endereço. Ninguém, senão Annabeth.

A única coisa que Percy pode dizer naquele momento, era que ela poderia confiar nele. Era certo que o seu histórico de planos extravagantes estava agora manchando sua reputação, mas ele queria se segurar ao fato de que Annabeth ainda era uma amiga com quem poderia contar.

A outra pessoa com quem ele poderia contar estava chegando e havia solicitado a portaria que fosse liberada. Percy atendeu o interfone e pediu para que ela subisse. Em pouco tempo Drew entrava no apartamento. Ela retirou a jaqueta de couro que vestia, pendurando no cabideiro ao lado da porta.

— Então esse é o apartamento que Hades comprou para a mãe de Nico? — Ela passeou pela sala e parou em frente as portas duplas que davam para a varanda. — Para um Deus mórbido, ele possui bom gosto.

— Não tenho detalhes sobre quem escolheu esse apartamento. Mas ele deve possuir algo especial para Nico conseguir entrar em contato comigo.

Drew virou-se e caminhou até a lareira, estendendo as mãos para aquecê-las diante do fogo.

— Estamos dentro do perímetro de proteção triangular. — Ela observou o semblante túrbido de Percy e riu. — O que você faz quando vai naquele acampamento? Annabeth não te ensinou nada?

— Não me lembro de todas as coisas que ela me falou, tudo era interessante e maravilhoso ao mesmo tempo, mas não a ponto de eu sentar e querer estudar. — Percy sentou no lençol e convidou-a para fazer o mesmo. — Logo mais vai anoitecer e preciso saber o que a gente vai fazer.

Drew também sentou e aceitou a cerveja que ele ofereceu, mas recusou os sanduíches, estava de dieta, afinal de contas, não havia recuperado seus poderes totalmente, e o DNA de Afrodite não daria conta das calorias ingeridas naquele período.

— A zona de proteção começa no Edifício Empire State, por motivos óbvios. — Ela colocou uma lata de cerveja em cima do lençol, para representar o prédio. — Então temos mais duas pontas do triângulo, para fechar a zona de segurança. — Drew pegou mais duas latas de cerveja e colocou-as de forma estratégica para criar um triângulo. — Aqui fica Yorkville e do outro lado do Rio Hudson, fecha a ponta do triângulo em Nova Jersey.

— Isso quer dizer que agora você está morando longe desse triângulo de proteção? E minha mãe também.

— Sim, mas não se engane, ele não é para nos proteger. — Drew desfez o triângulo de latas de cervejas e bebeu a sua. — Esse é um lugar sensível, que liga alguns mundos com esse em que vivemos. Por isso existia aquela entrada para o mundo inferior no parque. E talvez seja por isso que Nico di Angelo quer que a gente crie um portal.

— Mas você disse que não poderia abrir um portal direto para o mundo inferior. Isso que eu não estou entendendo.

— Querido, você não deve ter encaixado todas as peças desse quebra cabeça louco. Ou não está querendo enxergar com seus próprios olhos a verdade. — Ela pegou o livro e o abriu na página do feitiço que precisariam fazer. — Emanuelle traduziu quase todo o livro para mim, e aqui tem um adendo ao qual eu não tinha conhecimento. Podemos fazer o que ele pediu, se alguém do outro lado fizer o mesmo serviço. Alguém forte e que saiba o feitiço. Ou seja...

Percy desviou o olhar, encarando a lareira.

— Ele encontrou Maria di Angelo.

— Ou ela o encontrou. — Assim que terminou de beber a cerveja, Drew se levantou. — Vamos, não temos tempo para lamentar. Eu sei que estava certa, mas não vou me vangloriar disso e exigir que você se ajoelhe pedindo desculpas.

— Sei que agi de forma estúpida, mas você entende que não era fácil para mim. Na verdade, nunca é. Para semideuses principalmente. Sempre é mais fácil recuar do que encarar algumas duras verdade.

— Estou orgulhosa de você, Perseu. Admitindo seus erros. Bastou um ano para ir do céu ao inferno e mudar a ordem das coisas, mais de uma vez. — Drew pegou o livro. — Estou ansiosa para conhecer essa Maria di Angelo. Mexa-se.


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Notas finais do capítulo

Amanhã tem mais.
Se encontrar algum erro, por favor, me informe. Beijos!



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