Ninguém está pronto para a vida escrita por Kori Hime


Capítulo 45
Ninguém está pronto para: Ser moeda de troca


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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A ventania criou um vórtice dentro do apartamento, fazendo com que Drew e Luke precisassem se segurar com força para não serem arremessados para o teto. O ritual ainda não estava completo, embora a passagem estivesse aberta. Drew gritou que, se não finalizasse, as coisas não ficariam nada bem.

Não era como se, naquele momento, eles estivessem no paraíso, mas se a situação poderia piorar (ainda mais), estava na hora de fazer alguma coisa para resolver o problema. Luke pensou rápido, empurrando a mesa de jantar, onde o corpo de Percy se encontrava desacordado, ele gritou para que Drew finalizasse o ritual, confiante de que conseguiria segurá-los a tempo.

Era possível ouvir o barulho da luta sendo travada do lado de fora do apartamento. Até porque a batalha chegou até a sala de estar, onde os móveis precisariam ser trocados urgentemente antes que a família Tanaka retornasse das férias forçadas.

Por uma das janelas quebradas, uma harpia foi arremessada, logo em seguida, dois campistas, filhos de Ares, apareceram para jogá-la para fora do apartamento.

Toda aquela confusão se desenrolava diante dos olhos de Percy, que não podia ouvir nada do que eles falavam e o pior era que não podia fazer nada do outro lado da fenda que foi aberta. Ele tentou ultrapassar a barreira, batendo os punhos no portal, que mais parecia um vidro amolecido, causando um barulho oco conforme era socado com força.

As chances de romper aquela barreira mostravam-se cada vez mais nulas, Percy já não sabia mais o que fazer e, naquele momento, rezou para todos os Deuses que lembrava o nome. Então o portal foi se abrindo, e os sons do outro lado foram ficando cada vez mais altos.

Até que os três poderiam se ouvir. Percy então gritou:

— Que merda é essa? O que meu corpo está fazendo naquela mesa?

— É assim que agradece a gente por te resgatar? — Drew vociferou. — Antes de fazermos a troca, Nico precisa proteger Luke.

— Nico não está aqui! Ele sumiu. E quem disse que eu preciso ser resgatado? Ninguém volta depois da morte. Vocês por acaso profanaram meu túmulo?

Ao menos ele tinha quase certeza de que nos últimos anos estava proibido de retornarem a vida aqueles que já partiram. É claro que houve algumas exceções no passado, mas isso já havia sido resolvido e a regra estava bem clara.

A não ser que ele não estivesse morto. Mas olhando seu corpo, até que não parecia tão morto assim. Aquela sensação de que tem algo muito errado acontecendo ficou cada vez maior.

Percy não entendia muito sobre portais e rituais antigos, mas tinha quase certeza de que aquele ali não parecia ser um dos fáceis. Afinal de contas, o apartamento de Drew estava sendo invadido por uma Manticora, logo depois, apareceu Connor e Travor para expulsá-lo de lá.

Percy não poderia se responsabilizar pela morte de ninguém, principalmente de pessoas que estavam tentando salvá-lo. Entretanto, muitas coisas estavam em jogo naquele momento.

— Eu não posso ir embora. — Percy decidiu.

— Perseu. — Luke esbravejou. — A sua hora ainda não chegou.

Não havia muito o que discutir, ou Percy aceitava ou continuava morto. E com aquela sensação entranha, por fim, ele concordou. Drew enfiou a mão dentro do decote de sua blusa, tirando uma ampola com um líquido alaranjado.

— Essa é uma poção para reverter o veneno. Você ainda está condenado a morte, seu corpo apenas está num coma profundo, morto, mas nem tanto, entendeu? Mas não adianta seu corpo ingerir a poção se a sua alma continuar presa do outro lado.

— É claro, você é a louca das poções. O que eu devo fazer, beber?

Drew olhou para Luke.

— Não posso permitir que você se sacrifique. Eu prometi que daria certo. — O vórtice começou a acalmar, mas muito lentamente. O barulho da batalha ainda era ensurdecedor com o grito das Harpias voando do lado de fora.

— Eu não deveria estar aqui. — Luke concluiu, segurando a mão de Percy em coma.

— Podemos pensar em outra coisa. — Drew tremia, com a poção em sua mão.

— Já tive minha chance em vida, agora eu mereço descanso. — Luke confortou Drew com um olhar.

A filha de Afrodite abriu a boca de Percy, fazendo-o beber toda a poção.

Do outro lado do portal, metade do corpo de Percy tentava ultrapassar a barreira, ele se esforçava para que a outra metade também completasse a passagem. Era mais complicado do que imaginou que seria, parecia que o portal se transformou em uma gosma, grudando ao redor de seu corpo, impedindo-o de continuar.

— Está tudo bem, Perseu. — Luke falou, quando seu corpo dividiu o portal com o de Percy, sendo sugado para dentro, a troca seria completada em instantes. — As coisas vão acabar bem. — O sorriso de Luke transmitia paz.

Foram então as últimas palavras de Luke, até ele ser completamente levado para o Mundo Inferior.

Percy tentou puxá-lo de volta, mas não tinha controle sobre o que estava acontecendo, ele não viu o que aconteceu depois. Acordou sobre a mesa, vestindo um paletó azul marinho, tateou a mão nos braços e no resto do próprio corpo. Estava vivo, e a sensação era maravilhosa, obviamente.

A fenda voltou a ser uma parede de vidro amolecido. Ele podia ver Luke caído no chão. Levantou-se, sabendo que era inútil bater com toda a força que possuía, mas não conseguia parar de tentar.

Mas Luke já não estava mais sozinho, a figura de um homem de pele negra e enormes asas cor de chumbo apareceu diante de seus olhos. Ele se abaixou e pegou-o no colo, seu olhar era frio, não do tipo que dá medo, mas sem emoção alguma.

Thanatos não estava desacompanhado, Nico e Hazel apareceram atrás dele. Quando os viu, Percy gesticulou e continuou forçando contra o portal. Nico aproximou-se, mas nenhum dos dois podia ouvir o que o outro falava.

As mãos de Nico foram tomadas por chamas negras e Percy parou de bater no vidro amolecido, olhando-o sem nenhuma reação.

Hazel movia a boca e gesticulava, enquanto Percy não conseguia ouvir nada do que era dito. Nico estava paralisado e as chamas tomaram conta de todo o seu corpo, os olhos tornaram-se duas bolotas brancas, quase sem vida e os cabelos flutuavam como sem não houvesse gravidade.

— Não há nada que pode fazer para reverter. — Drew anunciou.

— Eu preciso voltar, Nico está perdendo o controle. Faça qualquer coisa, até me usar como garantia para manter essa coisa aberta, mas faça alguma coisa.

Embora a ventania estivesse controlada, ainda podiam ouvir um zunido no ouvido.

— Acho que fraturei algumas costelas, e meu tornozelo está ferrado. — Ela trincou os dentes para segurar a dor. Os deuses irão me punir por isso.

— Vamos pensar nisso depois, agora me ajuda trazer Nico de volta.

Percy pegou uma cadeira virada no chão e ajudou Drew a sentar, o livro das Harpias flutuava no ar, juntamente com uma barreira de proteção. Estava explicado porque ele não estragou após tudo o que rolo no esgoto.

— Você não está entendendo. Eu dei continuidade à loucura de Charlote para te trazer a vida. Usei o livro para criar uma poção de cura para o veneno que ela te deu. Mesmo sendo loucura, ainda é justificável. Me sinto lisonjeada por você achar que eu posso interromper aquilo.

— Ele não me abandonou, Drew, não posso fazer o mesmo. — Percy levou as mãos à cabeça. — Espera, você fez o que? — Drew, sentada na cadeira, abriu a boca para repetir o que tinha acabado de falar, mas Percy não permitiu. — A verdadeira morte vai despertar.

— Percy...

— As harpias não estão aqui por causa desse livro estúpido? Pelos deuses, era você o tempo todo. Das mãos do amor, uma vida sucumbirá. Você sabia. Odeio quando as profecias nunca fazem tanto sentido antes de acontecerem, não é mesmo?

Drew se levantou abruptamente, capturando o livro. Ela foleou as páginas, em busca de algo que pudesse ajudá-los.

— Charlote inventou todas aquelas coisas, ela não estava tentando liberar Freya, pelo o que sei, é algo impossível de se fazer. Eu sabia que Luke não era a alma perdida, pois ele não deveria estar entre nós, você não entendeu que não adianta a gente mexer na história do jeito que nós queremos. Nico violou uma regra do mundo dele e eu fiz isso acontecer.

— Você acha que sabe o que está fazendo, mas foi apenas mais um fantoche nas mãos dos deuses. — Percy a encarou severamente.

— Sabe que não tem como mudar uma profecia.

— É claro que não, pois nós estamos sempre correndo atrás de impedir que ela aconteça, piorando sempre a situação. Por que você não me abandonou lá? Qual a sua necessidade de sempre querer ser o centro das atenções e mostrar que tem poder. Para que isso? — Ele disse irritado.

Drew fechou o livro.

— Eu posso ter feito muitas coisas erradas, mas não vou me arrepender do que fiz por você.

— Não importa mais. — Percy virou-se, o portal possuía apenas uma ínfima parte aberta. Não dava para ver nada do que acontecia do outro lado.

A porta do apartamento estava no chão, quebrada, então eles não viram quando Annabeth e Thalia entraram. As duas correram para abraçar Percy.

— Eu não acredito que você está aqui. — Annabeth beijou-o na bochecha, passando a mão pelo rosto de Percy. O sorriso da filha de Athena não durou muito, ela olhou ao redor, perguntando por Luke.

Thalia encarou Drew, balançando a cabeça e não acreditando no que estava acontecendo.

— Você não tinha o direito. — Annabeth esbravejou.

Jason e Leo entraram no momento em que elas discutiam. Logo depois Alex e Dante também entraram para reportar que as harpias haviam ido embora, mas precisaram separar a briga que se formava.

— Ela sacrificou o Luke! — Thalia puxou o braço, quando o irmão tentou segurá-la. — Você não decide quem merece viver e quem merece morrer. Eu não devia ter aceitado participar disso. — Thalia vislumbrou Percy que estava ao lado da parede. — Me desculpe, Percy, eu o amo como um irmão, mas não posso concordar com isso.

Annabeth limpou as lágrimas, passando a mão no rosto, afastando Alex que tentou consolá-la. Ela caminhou até Percy, querendo saber se ele estava se sentindo bem.

— Ele quem escolheu partir. — Percy virou-se para a amiga e falou. — Ele me falou que estava tudo bem e eu senti que ele queria isso. Drew não fez nada além do que ela precisava fazer. Afinal... — Seu olhar era vago, ele suspirou e continuou falando. — A profecia sempre é cumprida, não é mesmo?

O silêncio se instalou na sala.


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Notas finais do capítulo

Oi, turubom? :D
Tenho certeza que te peguei de surpresa com dois capítulos em tão pouco tempo, né?
Fiquem a vontade de comentar, até mais.