Ninguém está pronto para a vida escrita por Kori Hime


Capítulo 35
Ninguém está pronto para: Ser banido


Notas iniciais do capítulo

(Não betado)
Ninguém está pronto para ser banido do "paraíso"



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As coisas poderiam ser piores. Mentira. As coisas já estavam muito ruins para pensar que poderiam piorar. Jason estava inconsciente no chão, recebendo toda a atenção que Leo poderia lhe dar, até que decidissem o que fazer.

— Como pode não ser ele? — Valdez perguntou, alisando o rosto de Jason. Naquele momento, ele se sentia como um trapo velho, desses que você descarta para usar como pano de chão.

— Eu vi seus olhos dourados. — Alex respondeu, em pé, ao lado dos dois. Cruzou os braços, irritado com a maneira que Leo o tratava, indiferente, quase que proposital.

— Olhos dourados? Eu não vi nada disso. — Leo ergueu a cabeça pela primeira vez para encarar Alex. — Os olhos dele estavam normais.

— Ficaram dourados depois, pelos deuses, você acha mesmo que eu mentiria sobre isso somente para desferir um soco na cara azeda dele?

Leo não respondeu. Mas o seu silêncio era a pior resposta para Alex.

Percy passou a mão na cabeça, dando uma olhada ao redor. Uma considerável parte do Hotel Cassino havia sido destruída, a névoa provavelmente teria tido bastante trabalho para distorcer a realidade. E, enquanto Alex e Leo se estranhavam, velando o corpo de Jason no chão, Percy decidiu que era hora de deixarem os escombros, antes que D. aparecesse e os transformasse em lagartixas.

— Oh meu Deus! — a voz escandalosa de Drew alcançou os ouvidos dos rapazes.

— Estamos aqui! — Percy acenou para ela, que vinha acompanhada de Dante.

Drew desvencilhou como pode da mão estendida de Dante, escorregando por uma parte da parede. A julgar pela expressão de horror na cara dela, as coisas deveriam estar bem piores do que Percy imaginava.

— Drew! — Leo exclamou, como se ela fosse a única salvação do momento. — Você pode ajudar?

— O que você acha que eu sou? Uma enfermeira? — ela se aproximou de Jason, levando automaticamente sua mão direto para o pescoço dele — Vivo, ele ainda está. O problema é se nós sairemos daqui inteiros. O Hotel foi evacuado, os bombeiros já chegaram e a polícia está aí fora. Estão procurando por terroristas.

Leo ficou de pé, enfiou os dedos nos caracóis de seus cabelos, andando de um lado para o outro. Ele parou, com as mãos presas na cintura. Quando virou, apontou o dedo na direção de Alex.

— Você poderia ter evitado tudo isso. — esbravejou.

Alex riu, balançando a cabeça. Seus cabelos loiros estavam acinzentados com o pó do concreto.

— Foi você quem me procurou no meu quarto. Não coloque a culpa somente em mim.

— Eu não disse isso. — Leo trincou os dentes — O que eu quero dizer é que você poderia ter feito diferente.

— Diferente como? Deixar que ele me partisse ao meio com um raio? Não seja infantil Leo. Você foi atrás de mim, no meu quarto, estava na minha cama quando Jason apareceu.

— Isso não vem ao caso.

— Ah! Vem sim. — Alex girou o corpo, com seus braços abertos na direção dos amigos. Luke estava ao lado de Percy e Dante. — Eis a grande verdade. Eu sou um idiota. Acabei de nocautear o namorado do cara que eu estou apaixonado e, ao invés dele se preocupar comigo, está mais ocupado com o seu perfeito namorado que tentou nos matar.

— Mas você afirmou que não era ele. — Percy não queria dar pano pra manga, mas já que estavam falando francamente, achava que tinha direito a explicação. — O que você acha que aconteceu?

— Quem sabe? — Alex deu de ombros, ele não convenceu ninguém com aquela resposta. É claro que Alex sabia que todos ali já imaginavam que ele possuía no mínimo umas dez teorias sobre o que aconteceu, mas preferiu se calar.

As coisas não pareciam piorar na perspectiva deles. Mas piorou, é claro que piorou.

Dionísio não estava sozinho, talvez por isso Percy & Cia puderam notar a gravidade do acontecimento.

***

Drew já havia passado por aquilo quando foi castigada pela mãe por vender poções clandestinamente. Ela se apresentou diante dos deuses no Olimpo, onde ouviu um sermão, ao qual Afrodite pareceu muito decepcionada. Embora, as escondidas, ela felicitou a filha pela criatividade.

Agora, eles estavam no que restara do Cassino. Todos em pé, um ao lado do outro. Drew podia sentir o nervosismo de Leo Valdez, ao seu lado, com uma das mãos dentro do bolso da calça, mexendo em algo mecânico que fazia um CREC CREC CREC irritante. Bem do seu outro lado estava Alex, rangendo os dentes como se tivesse problemas de bruxismo. Ela suspirou, irritada por ter que ficar entre aqueles dois.

A sorte deles é que não estavam no Olimpo, comentou Drew, quando se encaminhavam para o salão do cassino. Lá, encontraram o restante do grupo. Annabeth havia se encarregado de juntá-los. Uma pena, pois eles poderiam ter escapado dessa. Mas Annie jamais abandonaria seus amigos. Essas coisas de lealdade que Drew não suportava, mas admirava. Odiava ter que dever algo para alguém, principalmente para os filhos de Atena.

Drew foi enfática em mandar os primos ouvirem tudo de bico fechado, olhando especialmente para Percy e Annabeth, já que eles tinham o dom de irritar deuses.

Dionísio não estava para brincadeira, a primeira coisa que ele falou, causou comoção em todos.

— Vocês estão banidos de Las Vegas. — ele disse autoritário, com um olhar desafiador, aguardando que alguém abrisse a boca para questionar. — E eu não estou falando de 5 anos ou 10. É de pelo menos 3 mil anos. — ele riu, sem humor. — Também não quero que vocês apareçam no Acampamento. — ele olhou para trás, fazendo um sinal com a mão.

Afrodite estava sentada em cima da mesa de Black Jack, com um baralho nas mãos. Deixou as cartas de lado e destinou toda sua atenção para o grupo de semideuses.

— Não seja tão duro com eles, Dionísio. São crianças.

— Irresponsáveis — ele retrucou.

— Mas são crianças, lembra-se de quando ainda éramos pequenas criaturas aprontando por aí? — ela deu uma risada doce — Nós costumávamos pregar peças em todo mundo. Uma vez colei as flechas de Ártemis dentro da aljava dela.

— Não se compara com isso. — Dionísio balançou a cabeça.

— Oh! É claro que não. — Afrodite levantou-se da mesa e caminhou em direção aos semideuses. — Acho que vocês se excederam. Como da vez que Hades e Poseidon tiveram aquela briga e acabaram separando um continente.

Dionísio balançava a cabeça negativamente. Por sua vez, Afrodite continuou contando algumas histórias sobre uma época distante, em que os deuses eram jovens.

Assustador.

— É claro que Hefesto me perdoou por isso — ela parou em frente a Leo — Você me lembra muito seu pai, tem um dom para grandes planos. Mas também um dom para se afundar neles.

— Acho que estou descobrindo isso. — Leo olhou de canto, espiando Alex.

Afrodite sorriu para sua filha. Por sua vez, Drew continuava fitando o mesmo ponto desde que a mãe começou a falar.

— Você colocou seus amigos em perigo, meu jovem. — Afrodite passou direto e parou na frente de Alex — Queria provar algo, mas isso teve consequências graves — ela alisou o queixo de Alex, tranquilizando-o logo em seguida — Mas eu compreendo que nossos corações as vezes nos controla.

Afrodite caminhou diante dos demais jovens, até retornar para a mesa onde estava, pedindo para que Dionísio não fosse tão severo. Talvez suas doces palavras tenham tocado o coração do deus.

— Retornem ao acampamento apenas quando resolverem os problemas que causaram. — D. por fim falou, a mão de Afrodite o confortou com um toque delicado em seu braço.

Drew sabia que não havia nada que sua mãe não conseguisse.

***

Todos ainda estavam com seus membros no lugar, ninguém foi transformado em uma cotia ou um pato. Praticamente uma vitória. Embora Leo não estivesse tão contente com o caminho que toda aquela história seguia.

O rapaz estava se sentindo culpado por tudo o que aconteceu nas últimas horas. E, mesmo que tenha sido reconfortado por uns e outros, Leo não conseguia tirar de seus ombros o peso da culpa. Estava obstinado a fazer tudo o que fosse preciso para resolver o problema. E começaria colocando ordem em seu coração.

O grupo deixou Las Vegas naquela noite. Estavam em um ônibus que Rachel conseguiu após algumas ligações para o pai.

— Nós vamos de ônibus até Nova Iorque? — Perguntou Percy, distraído olhando para a janela.

— Não sei se é uma boa ideia perdermos tanto tempo na estrada. — Rachel respondeu, estava sentada ao lado dele. — O único voo disponível é amanhã de manhã.

Leo ouvia a conversa sentado no banco da frente. Ele preferiu ficar sozinho. Jason estava ainda inconsciente no último banco do ônibus, sendo observado por Andrômeda. Leo não sabia exatamente onde Alex se sentou, e nem ouvia a voz dele para ter uma ideia.

Entrou calado no ônibus e assim permaneceu.

— Sabe o que eu queria agora? Um sanduíche de rosbife e refrigerante — Percy fez um gemido, resmungando algo sobre fazer uma parada para um lanche.

— Como você pode pensar em comer numa hora dessas? — Rachel o questionou, dando uma risada — Acabamos de ser banidos do paraíso.

— Eu não me importo. Por mim, eu não voltava aqui nunca mais. Senhor D. me fez um favor nos expulsando. — Percy reclamou de fome mais uma vez e se levantou de seu lugar. Ele foi até a cabine do motorista, para saber se podiam fazer uma parada em algum restaurante próximo.

Leo afundou-se na poltrona do ônibus, observando a paisagem do lado de fora. Ele só percebeu que era observado, quando ouviu Luke limpar a garganta, chamando sua atenção.

— Posso me sentar? — Luke perguntou, movendo levemente a sobrancelha, olhando a poltrona vazia ao lado de Leo.

Hmm. Pode. — Valdez respondeu, esticando o pescoço, para ver a quantidade de lugar vazio, que Luke ignorava. Por que ele queria sentar ali?

— Obrigado. — Luke sentou e apontou o dedo em direção à janela. — A última vez que passei por aqui, eu era só um adolescente. Mas parece que nada mudou.

— É, ainda mais para alguém que morreu. — Leo falou sem pensar, mas não tinha a intenção de ofender. — Digo, para alguém que morreu, achei que seria tudo diferente.

— Algumas coisas sim. Mas outras coisas não vão mudar nem se passasse mil anos.

Leo balançou a cabeça, e olhou para Luke. A cicatriz no rosto dele chamava atenção, não tinha como não olhar. Leo se recordava de uma fotografia em especial no mural de recordações do Acampamento. Annabeth, Luke e Thalia, quando mais novos.

— Eu queria que algumas coisas mudassem, seria mais fácil apagar tudo e começar novamente.

— Você quer dizer uma segunda chance? — Luke perguntou.

— Sim. Como você. Está de volta, pode tomar novas decisões.

— Ah! Sim, sim. Eu acho que posso dizer que fui abençoado com uma segunda chance. — A voz de Luke não parecia tão contente para alguém que não estava mais morto.

— Você já sabe o que vai fazer?

— Vejamos... — Luke desviou o olhar, pensativo. — Comer um cachorro-quente e beber um refrigerante.

Leo riu.

— Não é isso. Quero saber se você já pensou em como vai aproveitar a sua segunda chance.

A princípio, Luke ficou em silêncio, mas depois, ele abriu um sorriso amigável para Leo.

— Posso confessar algo para você? — ele olhou seriamente para Leo. O moreno balançou a cabeça positivamente. — Certo! — Luke suspirou — Eu estou com medo. Sinto que nada do que eu fizer, será o bastante para merecer essa chance.

Leo moveu a cabeça, olhando novamente para o lado de fora. Ele queria poder dizer para Luke que tudo ficaria bem. Mas Leo não sabia nem se ele ficaria bem, imagina alguém que acabara de voltar a vida?

O ônibus fez uma parada de quinze minutos, onde alguns foram comer. Leo se levantou depois que todos havia deixado o ônibus, ou melhor, quase todos. Alex estava sentado em uma poltrona na frente de onde Jason dormia.

Leo passou a mão nos cabelos de Jason, falando baixinho que ele ficaria bem. Logo depois, ele olhou para Alex. Os dois tinham muito a dizer um para o outro, mas não ali, não naquelas circunstâncias.

Então Vadez se sentou na poltrona ao lado de Alex, e relaxou o corpo, fechando os olhos para descansar. Ele sentiu o braço de Alex passar sobre seus ombros, trazendo-o para perto de seu peito, onde o rapaz pode se acomodar e aquecer.

Não era momento para se afastarem ou guardarem rancor, eles precisavam se unir, se quisesse que houvesse, um dia, um final feliz para aquela história.


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Notas finais do capítulo

Oi gente. Saudades? Pois é, eu tô com saudades de quando as coisas eram fáceis e divertidas.

Semana passada estive na Comic Con Experience. E antes disso eu estava trabalhando muito.
Eu só entrava aqui no Nyah para resolver algumas coisas da moderação. Daí quando vejo, ta tarde e não aguento mais o computador.

Mas hoje tirei uns minutinhos para vocês Weee. Assim que puder, vou responder todos os comentários.

Beijocas.