Ninguém está pronto para a vida escrita por Kori Hime


Capítulo 27
Ninguém está pronto para: Desistir de quem ama


Notas iniciais do capítulo

Ninguém está pronto para desistir?



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Sally Jackson estava preocupada com seu filho. Fazia três meses que ele não trabalhava, dormia ou comia direito. Passou dias, até mesmo semanas longe de casa em busca de Nico di Angelo. Quando retornava, Sally podia ver em seus olhos que a busca foi sem sucesso. Entretanto, ela sabia que o filho jamais suspenderia as buscas. E a única coisa que uma mãe poderia fazer nesse momento, era dar total apoio a ele.

— Aqui está uma refeição completa. — Sally entrou no quarto de Percy, sem bater. Ela carregava uma bandeja com pães, frutas, suco e bolo. Forçava-o a comer nem que fosse uma uva.

— Obrigado. — Percy agradeceu, sem erguer a cabeça para olhar a mãe — Pode deixar aí em cima.

Sally sabia que se deixasse a bandeja em cima da cama, retornaria dali duas horas e ela estaria do mesmo jeito que havia colocado.

— O que tanto olha para esse mapa, querido? — Sally colocou a bandeja sobre a escrivaninha, afastando alguns livros e blocos de papel empilhado.

Percy coçou o queixo, já nem se lembrava da última vez que havia feito a barba.

— Estou mapeando os lugares em que as buscas foram efetuadas.

Sally acariciou os cabelos do filho. Queria poder dizer que está tudo bem com Nico, mas essa afirmativa já não era mais tão concreta. Era como se o garoto tivesse sido engolido pela terra. Ninguém o viu. Os deuses não respondiam as preces de Percy, muito menos Hades. Sally temia que o filho fizesse alguma loucura somente par se certificar de que Nico estava no Mundo Inferior. Mas ela o fez prometer que jamais faria algo que colocasse sua vida em risco.

Obviamente Sally não era tão ingênua. Ela sabia que o filho só prometeu aquilo para tranquilizá-la.

— Eu tenho uma ideia. — Sally massageou os ombros de Percy. — Coma pelo menos o bolo que eu preparei. Depois nós poderemos ir até o Empire State, quem sabe teremos mais sorte dessa vez?

— Eles já estão cansados de ver minha cara por lá. Semana passada me falaram para não insistir mais. — Percy comentou, com um pesar na voz.

— E por acaso isso vai fazer você parar?

— Não.

Sally sorriu e deu um beijo no rosto de Percy, falando baixinho em seu ouvido.

— É claro que não. Nós não desistimos assim tão rápido e fácil de quem amamos.

***

Percy não sentia fome, mas comeu ao menos um pedaço do bolo de cereja e bebeu todo o suco de laranja que sua mãe havia preparado. Ele se sentia mal por deixá-la tão preocupada, mas nada o faria desistir de encontrar Nico.

Os últimos três meses se arrastaram lentamente. Percy sentia-se exausto, mas se recusava a descansar. E mesmo quando encontrava um tempo para colocar a cabeça no travesseiro, seus olhos não fechavam, seu cérebro não descansava, seu corpo não relaxava.

Quando conseguia dormir, Percy sonhava com Nico. Ele apenas via Nico deitado em uma cama, como se estivesse dormindo profundamente. Vê-lo dormir não significava que estava tudo bem. Mas isso significava que ele estava em algum lugar. Precisando ou não de sua ajuda, Percy o encontraria.

Orar para os deuses havia se tornado um costume diário, mas suas preces nunca eram atendidas. Percy não poupou nenhum deus. Até mesmo Ares, ele ofertou algo em troca de ajuda. E principalmente para Poseidon. Infelizmente, nem mesmo seu pai, o atendeu.

Percy também contava com a ajuda de todos os seus amigos e, é claro, do Acampamento Meio Sangue e Acampamento Júpiter. Jason retornou para o Acampamento Júpiter, onde estava comandando uma busca em todo o lado oeste do país. Quíron também estava empenhado na busca, entrando em contato com todos que ele conhecia. Por outro lado, Dionísio dizia que era inútil a procura, afinal, nada, ou ninguém, conseguiria achar um filho de Hades. Caso ele não quisesse ser encontrado. Pois, quem quer que tenha sido responsável pelo desaparecimento do garoto, fez o trabalho tão bem-feito, que nem mesmo seu pai, Zeus, poderia encontrar.

No entanto, a declaração do Senhor D. não desmotivou Percy.

Próximo ao prédio Empire State, Sally sentiu um enjoo habitual da gravidez e estacionou o carro. Completava 16 semanas de gravidez e os enjoos se intensificavam.

— Quando eu estava grávida de você, não tive tempo para sentir enjoo. Estava tão ocupada trabalhando, que eu não podia me dar ao luxo de parar. — Sally bebeu um pouco de água que Percy havia comprado em um mercadinho.

— Você disse que passou a gravidez na casa de uma tia.

— Ah! Sim, sim. Mas eu trabalhava para ela. — Sally encostou-se no veículo, respirando devagar. — Eu ajudava ela fazer bolos e tortinhas para vender. Também costurava por fora.

Percy levou a mão até a barriga da mãe, que já estava saliente.

— Mas agora Paul e eu estamos aqui para cuidar de você no que for preciso. — ele deu um sorriso sem graça. — Quero dizer… sinto muito por não estar tão presente e cuidadoso nos últimos meses, eu…

— Não peça desculpa, querido. — Sally segurou a mão do filho e o tranquilizou. — Agora que tal a gente parar em algum lugar para eu comprar umas maçãs?

— Está com desejo?

— Sim. Um desejo enorme de comer torta de maçã. O que acha?

— Vamos comprar, então. — Percy abriu a porta do carro, para que sua mãe entrasse. Dessa vez ele que dirigiria. — Não quero que minha irmã tenha cara de maçã.

— Irmã? Acha que é uma menina?

— Poderia ser, não? O que você acha?

— Eu acharia maravilhoso. — Sally colocou o cinto de segurança e logo Percy ligou o carro. Mas diferentemente do que haviam combinado, ele não dirigiu em direção do Empire State. Sally não queria questioná-lo, mas achou que precisava dizer alguma coisa. — Querido, eu tenho certeza de que está tudo bem com ele. Logo teremos notícias.

Percy respirou fundo, limpando a garganta em seguida, forçando-se a concordar com Sally.

— Eu também sinto isso. Só que… eu precisava ter uma confirmação. Entende? Qualquer coisa que pudesse provar que está mesmo tudo bem com ele. — A voz de Percy saiu embargada pela emoção. — Quando eu desapareci... ele estava lá. Não me contou quem eu era. Mas ele estava lá, e de certa forma, cuidando de mim.

— Vou ligar para Paul e dizer que vamos nos atrasar para o jantar. — Sally pegou o celular e ligou para o marido. Em seguida, ordenou que Percy virasse a próxima rua e pegasse a avenida em direção ao Central Park.

— Para onde vamos?

— Um lugar especial. Dirija.

Percy dirigiu até o Central Park e estacionou. Sally saiu do carro, fechando a porta e ajeitando os fios de cabelo que balançavam com o vento. Percy desistiu de perguntar por que eles estavam ali, apenas seguiu a mãe parque adentro.

O lugar estava movimentado devido uma apresentação musical gratuita. Sally e Percy caminharam por mais alguns minutos até uma das muitas fontes dispostas no parque.

— Mãe, o que exatamente estamos fazendo aqui?

Sally sentou-se na borda da fonte, mergulhando os dedos na água.

— Aqui foi onde seu pai e eu nos vimos pela última vez. Quero dizer, não a última, última. Foi um pouco antes de você nascer. Eu estava com oito meses e vim aqui uma tarde. Eu estava tão cansada e perdida, precisava ter certeza de que tudo daria certo. Foi quando ele veio em meu chamado.

— Mãe, eu tentei de todas as formas, ninguém me respondeu. — Percy se sentou ao lado da mãe. — Mas agradeço por ter me trazido aqui.

Percy já estava convencido de seu pai não atenderia seu chamado. Entretanto, ele não contava com o poder de persuasão da mãe. Sally ficou de pé, olhando em direção do outro lado da fonte. Percy seguiu o olhar da mãe e lá estava Poseidon.

Poseidon poderia se passar como um homem normal e elegante, que vinha ao parque todos os dias após o trabalho se encontrar com alguém importante. Uma namorada por exemplo. Percy estava até contente dele ter aposentado aquela camisa de flores havaiana. Ao aproximar-se, ele também notou que o pai havia passado perfume.

Tanta produção seria para ver sua mãe?

— Sally Jackson. — Poseidon passou por Percy e segurou as mãos da ex-mulher. — Está tão bonita como da última vez que eu te vi nesse mesmo lugar.

Sally deu um sorriso iluminado, soltando suas mãos e levando até a barriga.

— Talvez o motivo seja esse. Dizem que as mulheres quando estão grávidas, exalam beleza.

— Você fica linda em qualquer situação, minha doce Sally. Que Hera proteja a ti e tua menina.

Percy pigarreou, ou precisaria de terapia para conseguir superar aquela cena.

— E então, pai. Nos últimos três meses tenho feito de tudo para falar com o senhor. Até mandei recado por Tyson, e nada. Valeu pela consideração.

Poseidon balançou a cabeça.

— Eu não o ignorei, se é o que está pensando. Apenas não tenho nenhuma utilidade em sua jornada. Não tenho conhecimento do paradeiro de Nico Di Angelo.

— Então você veio aqui só para cantar minha mãe?

— Percy! — Sally o repreendeu. — Eu acho que já está na hora de vocês dois terem uma conversa. — Sally olhou seriamente para Poseidon. — Coisa de pai e filho.

Sally despediu-se de Percy com um beijo na testa, enquanto Poseidon recebeu apenas um aceno de mão.

— Como vai o casamento de sua mãe com aquele cara? — Poseidon perguntou, enquanto alisava a barba.

— Vai muito bem. — Percy não acreditava que sua mãe havia conseguido trazer Poseidon até o parque e largado eles ali a sós para terem uma conversa de pai pra filho. — Olha, eu posso adiantar essa conversa avisando que eu sei de onde vem os bebês e que estou ciente do meu futuro, embora ainda não tenha certeza de que salvar o mundo, seja uma das especificações que devo acrescentar no meu currículo.

Poseidon gargalhou, batendo a mão nas costas do filho, fazendo-o cair pra frente.

— Pois saiba que não houve um filho tão dedicado como você em toda a história.

— Uau, medalha de consolação por ser um filho dedicado. Incrível.

— Não seja sarcástico, Perseu. — Poseidon adiantou-se e comprou um saco de pipoca para os dois. — Dizem que a pipoca foi criada na América, mas a verdade é que seu pai foi o grande responsável pela primeira remessa de pipoca no mundo.

— Ah, é mesmo?

— Foi há muitos anos. Decidi jogar alguns grãos em uma fogueira e então começou a pipocar para tudo que foi lado, aquelas coisinhas brancas. Foi aí que batizei de pipoca.

Poseidon arremessou algumas pipocas para o alto e capturou-as com a boca.

— Eu fico imaginando como é que minha mãe caiu na tua conversa.

— Sou um galanteador nato, você deve ter puxado isso de mim.

— Não, não. Geralmente eu fazia a Annabeth dormir quando contava alguma história. Já o Nico, ele não dormia com minhas histórias, talvez porque tem problemas de insônia e...

Percy parou a caminhada com o pai, fechando o saco de pipocas, ele não conseguia fingir que estava tudo bem, quando não estava.

— Esse rapaz que você fala com tanto amor. — Poseidon colocou o braço em volta dos ombros de Percy. — Ele é seu primo…

— Você não tem moral de vir me falar sobre incesto. Conheço histórias muito suspeitas sobre os deuses.

Poseidon deu uma nova, e mais alta, gargalhada.

— Tem razão, meu filho. Você está certo. O que eu quero dizer é que, seu primo é filho de meu irmão. Meu grande irmão. E ele é mais poderoso do que se pode imaginar. E sabe que filho de peixe…

— Pai, o que você sabe sobre a maldição dos Três grandes?

A pergunta não pegou Poseidon desprevenido, pelo contrário, ele continuou mastigando a pipoca tranquilamente.

— Minha pequena Marrie teve um fim trágico. Mas pior foi Pierre que a viu morrer antes, com seu filho no ventre. O rapaz não conteve a dor e tamanho era o poder que criou uma cratera na cidade de Forbach.

— Drew me contou essa história, ela disse que os monstros perseguiram eles até essa cidade. Mas porquê?

— As crianças geradas por Hades tende a passar por diversas aprovações de dor e tristeza. E qual a maior dor senão aquela ligada ao amor?

— A troco de quê os filhos de Hades devem passar por isso?

— Para encontrar o herdeiro do trono do Mundo Inferior. O substituto do deus dos mortos. E é por isso que você deve estar preparado. Seja qual for o destino de Nico di Angelo, a dor o acompanhará.

Naquele instante, Percy desejou que aquela fosse somente mais uma das histórias que Poseidon contava.


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Notas finais do capítulo

Essas duas semanas foram muito loucas. Vim para o RJ ver a copa e ainda tem a moderação do Nyah. Toda vez que entro no site tenho que verificar um monte de denúncia, seria mais fácil se todo mundo seguisse as regras do site :v

Obrigada por acompanhar. Assim que eu tiver um tempinho vou publicar novamente. No momento estou escrevendo para o desafio do Nyah :D

Beijos amores, até o próximo.