“Você pode encontrar as coisas que perdeu, mas nunca as que abandonou.” –A Sociedade do Anel.

“Rachel estudou o dia inteiro em seu quarto, naquele dia. Kate e Emily haviam brigado, de novo. Isso significava que os ares do apartamento estavam mais pesados do que a própria poluição do lado de fora, de uma Nova York inteirinha.

No começo da tarde, recebi mensagem de James dizendo que ia ao pub. Ponderei toda a situação do apartamento e acrescentei a balança a ausência de comida –Kate não cozinhava quando estava chateada–e por fim, decidi ir.

Era um dia comum no pub. A moça de cabelos petróleo limpava a bancada do bar, enquanto conversava com os clientes, às vezes, jogando certo charme.

–Oi Miranda. –a cumprimentamos, sentando nos bancos altos.

–Andaram sumidos integrantes da Sociedade dos Come e Foge.

–Andamos ocupados, acho. –dei de ombros.

–Com o quê, Roach?

James riu e eu lhe dei um soco mais ou menos leve, nas costelas.

–Quieto, DeTamble.

Miranda arqueou uma sobrancelha.

–Bom... Sinto cheiro de mulher nessa história. Na verdade, não gosto nada disso. Se um de vocês se apaixonar, fode a sociedade.

–Você quis dizer que não fode, né? –James riu.

–É. Exatamente! Nada de foda. –Miranda fingiu estar triste.

Os dois estavam caçoando da minha cara.

–Certo. Vão se foder. –respondi.

–No seu apartamento ou no seu, Miranda?

–No meu, James.

–Te vejo mais tarde, então. –James sorriu presunçosamente. –Cara, eu vou pegar minha bebida e vou para a pista. Você vem?

Olhei para Miranda, ponderando.

–Ele vai ficar, James. –a morena respondeu por mim.

James assentiu e foi para a pista de dança com sua bebida esquisita em mãos.

–O que afinal tem naquela porcaria de copo? –perguntei.

–Vodca, batida de frutas vermelhas –framboesas, morangos e cerejas e uma gotinha de licor de chocolate.

–Mesmo?

–Sim... –Miranda pausou e umedeceu os lábios, pensativa. –Ele foi levar Nicotine para beber uma vez e ela dizia que não gostava, sabe? Alegava ser amargo e sem fundamento. Ela talvez, talvez não estivesse tão errada, mas James pediu ao barman que fizesse com as frutas que ela mais gostava, um pouco de vodca e acresceu licor de chocolate. Ele disse que era uma espécie de “poção do amor”. Ela adorou o gosto e tudo o que a bebida em questão viria a representar.

–E ele ainda bebe isso...

–Não é sempre, mas eventualmente sim.

–Você não se importa com o fato de que hoje ele está mal pela ex-namorada e ir ao seu apartamento?

Ela riu um pouco.

–Luke, às vezes você parece tão ingênuo. Claro que não me importo. Não nesse sentido, ao menos.

–Isso não lhes faz mal?

–Ele não vai se machucar mais do que já foi. Acho que não tem como James ficar mais quebrado que isso. E talvez, nem eu. Me diga... O que dois fodidos podem fazer de mal para um ao outro?

Dei de ombros.

Miranda bufou.

–Vou ter que te embebedar igual uma adolescente para finalmente abrir o bico?

–Rachel.

–O que tem ela?

–Ando ocupado por causa dela...

–É mesmo, garanhão? –ela riu.

–Não dessa forma. –passei a mão nos cabelos, com força. –Desde que o Surfista Esquimó se foi, fazemos o possível para ela se sentir melhor. Atualmente, o tempo que romperam é maior do que aquele que ficaram juntos. Como é possível ela ainda sofrer? Quanto absurdo!

–Absurdo mesmo é você vir para o mundo, achando que irá encontrar respostas para tudo. Desde quando o coração é racional? Desde quando amar tem sentido?

–Você anda filosofando demais, Miranda.

–Fiz da minha dor, minha poesia.

Eu não pude evitar e acabei rindo.

–Oh, merda... Agora eu preciso de distração! –a morena jogou o pano para o alto –Luke, assume o bar. Vou colocar música nesse estabelecimento!

–Miranda, eu...

–Você consegue. –ela piscou para mim e pulou a bancada.

✶ ✵ ✴

Como Miranda assumiu toda a parafernália de DJ, o pub “explodiu” de empolgação. A morena era famosa no local.

Peguei o pano no chão e como todo bom barman, o usei para limpar os copos que estavam ali para ser lavados. Suspeitava que o sabonete líquido da pia do bar era trocado apenas uma vez por mês.

Miranda falou no microfone, algo que eu não consegui assimilar e todo o pub jogou as mãos para o alto, empolgado.

Eu ri.

Miranda era sensacional.

–Ah, oi, barman... Alguém ai? –uma mulher de cabelos castanhos lisos estalava os dedos na minha frente.

Ela parecia com a Sara, quando esta estava bem arrumada. Muito bem arrumada. O que não fazia muito seu tipo. Pubs não era um lugar que eu esperaria encontrar minha... O que ela havia sido, por definição? De qualquer modo, uma festinha no bairro, no meio da rua, com som alto e palco no teto de um carro antigo combinava bem mais com ela. A mulher de olhar franzido e paciência limitada –igual a minha Sara, apesar de não ser ela, lembrava muito.

Fiquei atordoado, talvez.

Mas só talvez.

–Perdão, moça bonita. Em que posso lhe ajudar?

Ela sorriu, satisfeita.

–Quero uma bebida. Um coquetel, na verdade.

Arqueei a sobrancelha.

–Há vários.

–Qualquer um que tenha fruta, por favor. Eu confio em você.

Não deveria. Respondi em pensamentos.

Eu estava apenas substituindo Miranda. Esperava no máximo, abrir tampas de cervejas e escorregar a garrafa no balcão, porém, sempre aparece um ser do sexo feminino para foder todos os planos da sua vida. Eu não sabia fazer mais do que abrir uma tampa, de qualquer forma. Sim, já havia visto Miranda preparar diversas bebidas, mas nunca prestei lá muita atenção. Minha sorte –ou azar, dependendo do ponto de vista –era que Rachel não bebia como o Kate e eu, logo, ela tomava coquetéis. Então, eu sabia todos os ingredientes... Não podia ser tão difícil.

Bati tudo no liquidificador –Kate nunca havia me deixado colocar as mãos no dela –acrescentei um pouco de vodca e entreguei para a mulher.

–Obrigada.

Assenti.

–Qual seu nome? –perguntei.

–Sarah. –claro que esse era o nome dela.

–Sério?

–É... Por quê? –ela me olhou confusa.

–Oh! Nada, moça. Perdão.

–Não gosta do meu nome? –ela perguntou, provocativa.

–Muito pelo contrário. –sorri de canto.

–E qual o seu nome?

–Luke.

–Sério? –ela perguntou, chocada.

–Sim. Algum problema?

Ela deu de ombros, fingindo desinteresse: -Oh! Nada. Perdão, moço.

Eu ri.

Mulheres assim me atraiam.

–Certo. É vingativa hein, Sarah?

–Gosto de pensar que devolvo na mesma moeda, Luke. A que se faz, a que se paga.

–Então além de bonita, é astuta?

–Oh, Luke, sou muitas coisas. –ela me olhou de cima a baixo e sorriu.

Sara's e Sarah's eram meu ponto fraco. Dava no mesmo, no final das contas.

Adorava aquele pub. Estava pensando seriamente em trabalhar ali. O emprego de “Sapo” já não rendia tanto, de qualquer forma. Além disso, estava cansado daquilo.

–Bem que você podia me mostrar quais outras coisas é...

Sarah se escorou no balcão, se aproximando. Ela sorria, divertida. Não era o tipo oferecida –pelo visto –só estava... Se deixando levar.

Nesse momento, um homem com cara de adolescente, olhos azuis e e pálido puxou Sarah pelo braço.

–O que você pensa que está fazendo?

–Ai, Ben, o que você está fazendo?

–Por que está conversando com... ele? –"Ben" me lançou um olhar de repulsa.

–Porque, –uma nervosa Sarah soltou-se do adolescente–eu não sou nada sua. Estávamos apenas saindo. ESTÁVAMOS!

–Ora, sua... –Benjamin deu a entender que investiria brutalmente contra a morena.

Eu pulei do balcão e me materializei entre os dois.

–Cara, você vai mesmo dar uma de escroto e estragar a noite? –perguntei, abrindo os braços.

–Não apenas a noite... Sua cara também, folgadinho.

Gargalhei.

Sarah colocou a mão em minhas costas, alertando-me. O homenzinho com cara de adolescente soltava fumaça pelas orelhas, estava vermelho e a as mangas da blusa, regaçadas até os cotovelos.

–É? Vamos ver, então. –respondi, sorrindo de canto."