POV LUKE'

"-Eu queria que você me quisesse da mesma maneira, e você não queria." –A Viagem do Tigre.

–Puta merda, irmão! Você está jogando como uma garota. –o loiro bateu a mão direita na coxa.

–Vai se foder. –respondi para James.

–Mais tarde. Preciso de um tempo de folga. –ele afinou a voz enquanto dizia tais palavras.

–Sempre suspeitei da sua sexualidade.

–Vai tomar no seu...

–Ah! Olha a boca, James. –balancei a cabeça negativamente. – James, James... Rachel detesta palavrões. São proibidos dentro dessa casa.

–Não ponha a porra da culpa na pobre coitada da Rach, irmão.

–Rach? Que merda de intimidade é essa?

James então levou as mãos ao alto em sinal de rendição.

–Opa!Calma, ciumentinho. Não vou pegar sua mulher. –deu de ombros e sorriu. –Só se ela quiser, claro.

–Vai se foder, DeTamble! –gritei.

–Por que vocês dois não se fodem de uma vez já que adoram essa palavra? –Kate disse sarcasticamente enquanto passava por nós, indo em direção a cozinha.

–Você não vai à faculdade nunca?

–Quando estou a fim, sim. Você não trabalha nunca? –ela rebateu.

Bufei.

–Você sabe que sim.

–Ótimo. Voltem para o seu joguinho ridículo, então. Vou dormir. Façam menos barulho!

–Chame a Emily para jogar conosco. –eu disse encarando a tela da televisão com a manete em mãos.

–Vão se foder! –Kate gritou do quarto.

–Ela tem sérios problemas com compartilhamento. –James expressou sua opinião.

–Você não é muito melhor.

–Do que você está falando, parceiro? Eu divido a Miranda com você!

–Por que você não da à mínima para ela.

–Não é verdade...

–Não no sentido... Romântico?

–Miranda é boa de cama. Eu preciso de sexo. Você precisa de sexo. Ela é nossa amiga e podemos pegá-la quando bem entendemos. Não é uma relação lá muito legal?

–Vocês dividem a mesma mulher? –Emily bicou a conversa, sentando no meio de nós dois. –Isso é doente. Está faltando mulher por acaso?

–Você rouba todas elas! –exclamei e entreguei a manete para a morena.

–Eu não. As mulheres que me adoram... Não tenho culpa, Homem Fogo e Amigo Galinha do Homem Fogo. Mas vocês nunca passaram para pensar, lá na hora ‘H’ algo como “O Luke esteve exatamente aqui alguns dias atrás... Será que ainda tem restos dele?”

Eu e James nos olhamos. Surgiu uma careta após a troca de olhares.

–Homens não pensam isso, Mary. Ao menos, não por tempo o suficiente. –dei de ombros.

–Qual seu problema de compartilhamento, James? –Emily perguntou.

Sutil como ralador de queijo.

–No passado, tive uma namorada.

–Ai, meu Zeus! Você já foi uma pessoa com coração e tudo, antes da Sociedade dos Come e Foge?

–Fui. E eu era um lorde.

–Essa eu pagava para ver. –Emily riu alto.

–Sério. Eu trabalhei minha vida inteira na oficina do meu tio, juntei o dinheiro a vida inteira praticamente e então, ofereci para alguém que eu amava.

–E o que houve? –Mary pausou o jogo e encarou James.

–Ela aceitou a proposta. Ela teria que ficar comigo por um ano inteirinho, para receber.

–Foi uma aposta, então?

–Basicamente, sim. Nicole -Nicotine, como eu a chamava- era competitiva ao extremo. Estava no sangue dela, sabe? Achou que iria ganhar.

–Você é um pobre ferrado, atualmente. Ela era boa e se mandou, pelo visto. –intervir no ‘desabafo’ de James.

–Eu... Fiz muita merda. Nós dois fizemos. Fodemos com tudo. Ela pode até ganhado a aposta, mas quem lucrou foi eu. –ele sorriu.

–Como assim, Boxeador Galinha? –a pergunta claramente partiu de Emily.

–Ela continuou comigo por um ano. E depois outro... E metade do outro também. Eu consegui o que queria. Ela se apaixonou por mim. Ela me amou.

–Uau!

–Sinto muito, cara.

–O que houve com ela? –Emily perguntou.

–Nem todo relacionamento é bom, Ems. O nosso apesar de possuir muito amor, também possuía muitas brigas, violência e complicações. Éramos extremistas... Ao mesmo tempo que nos fazíamos sorrir, nos fazíamos um puta mal.

–Vocês podem voltar algum dia?

Ele deu de ombros, evidentemente bem abalado com o assunto.

–Improvável...

–Sinto muito, Boxeador.

–Obrigada, Ems.

Encarei os dois, sem saber ao certo o que dizer naquele momento.

✶ ✵ ✴

Eu estava na rua que um dia fora minha casa, que ali não se encontrava mais. No lugar da estrutura jazia apenas um terreno baldio.

–O que você faz aqui? –Sara perguntou.

–Eu... Eu não sei. Sara, me desculpe. Por favor. Por tudo.

Ela balançou a cabeça, incrédula.

Pessoas não mudam... Sara muito menos.

Ouvi então um barulho de motor, ou algo como uma turbina. Procurei no céu o avião já esperando que ele caísse sobre nossas cabeças.

Uma luz forte penetrou meus olhos.

–Miau.

E então o barulho de turbina novamente.

Pisquei os olhos algumas vezes.

–Bom dia, Deanzinho.

–Miau! -o felino insistia em ronronar perto ao meu rosto.

–Sabe, parceiro, eu gostaria de ter dormido até mais tarde hoje...

Fumaça estava sobre meu peito, com aqueles olhos felinos e bigodes dançantes.

–Ah, cara, deixa pra lá. Sério. Não tem problema.

Deanzinho lambeu as patinhas dianteiras, mais tranquilo por eu não me importar –teoricamente– em ter sido acordado.

Levantei da minha cama –sofá, que todo mundo se sentava– e levei Deanzinho no colo até a cozinha.

O sol estava se pondo lá fora, em tons alaranjados, rosa e amarelo. Como havia virado a noite jogando com James e pela manhã, com Emily e ainda James, tirei um cochilo longo após Kate fazer um espaguete de almoço.

–O que você quer comer, parceirinho bigodudo?

–Miau.

–A Kate não vai gostar se você comer as sobras do almoço. Ela vai dizer que não é coisa de gato. –levei as mãos ao alto em sinal de rendição.

–Miau.

–Ela é uma criatura infeliz mesmo, eu sei. -afirmei positivamente com a cabeça, em completa compreensão.

Abri a geladeira e despejei leite para Deanzinho, que tomou quase tudo.

–No próximo dia que eu sair, passo no supermercado e compro sardinha, pode ser?

–Miau!

–Vamos, companheiro. Hora de ver TV.

Parei atrás do sofá, em pé, com o felino em uma mão e o controle em outra.

–“Moradores de Nova York, os metereologistas pedem estado de alerta durante a noite nos próximos dias. Afirmam que uma massa de ar quente provinda do Havaí desencadeará uma tempestade forte. Evitem de sair se não for estritamente necessário. Suzanne Chase, da BBC. Boa noite.”

–Que bom que você já não sai, hein, Deanzinho?

–Miau...

A porta bateu e um furacão amarelo adentrou o recinto.

Rachel parou na minha frente e fez cafuné na diminuta cabeça de Deanzinho.

–Oi meu amorzinho... Tudo bem com você?

–Ah, estou com um pouco de calor, mas bem. –sorri de lado.

Rachel quase sorriu. Quase.

–Oi, Luke.

–Oi, Rachel.

–Coloca uma camisa, nem está quente dentro de casa!

–Mais tarde. Me sinto confortável assim.

Ela revirou os olhos, foi até seu quarto, voltou com seu casaco favorito e uma bolsa qualquer, porém, diferente daquela que ela havia chegado.

–Preciso correr. Tenho que sair. Tchau, Luke! Cuida do Fumaça!

–Que? Onde você vai?

–Sair, oras.

–Pra onde, cabelo de capim?

–Com um amigo, Roach.

–Tipo uma porra de um encontro?

Ela vestiu o casaco e riu.

–Se quer encarar assim...

–Você tem um encontro?? –perguntei mais uma vez.

Ela me olhou com cara de tédio, e por fim ,bateu a porta. Ouvi seus saltos, chocando contra o chão do outro lado da porta.

Alguns minutos depois, me lembrei que uma tempestade terrível se aproximava de Nova York.

–Puta merda, Deanzinho!