LUKE DEAN'

"O barulho e a atividade são os refúgios dos enlutados e dos culpados." –Insurgente.

A presença de Mike me incomodava e eu, após perceber que aquele seria um dia ruim, cercado de lembranças indesejadas, resolvi sair logo daquele apartamento. Era uma questão de vida ou morte.

Ok, não é para tanto. Mas eu poderia matado Mike. Eu não duvidaria disso.

Decidi por fim, correr no Central Park. Esse era um exercício que me relaxava. E boxe também, em alguns anos atrás, mas esse último não voltaria a ser presente em minha vida. Ao menos era o que eu achava até aquele momento.

As horas passaram rápido enquanto eu corria. Às vezes, desviava de crianças, outras vezes de casais ou velhinhas –opa, idosas–; houve até casos em que tive que acelerar o passo, pois azarei a mulher de alguém por aí.

Estava dando mais uma volta no lago quando avistei Rachel e Mike... Conversando, rindo, se beijando. Além de tomarem minha liberdade em casa, também vieram me atormentar no meio de minha corrida?!

Calma, Luke, você está paranóico. Relaxa, você já passou por dias como esse outras vezes..

Respirei fundo. Minha mente gritava “Dê meia volta. Isso não é da sua conta” , mas minhas pernas não respondiam a esse comando, muito pelo contrário, avançavam mais na direção do feliz casal, até parar em uma distância segura –onde eu os podia ver, mas eles não poderiam me ver.

Caraca, por que diabos estou fazendo isso?

Me submeti a tortura de ficar olhando aqueles dois. Não, moças iludidas que lêem Nicholas Sparks e John Green, não era tortura porque minha pulsação acelerava de raiva de ver aqueles dois. Eu só não gosto de casais, com todo aquele nhe-nhe-nhe de terceira categoria, essa prisão esquisita, coleira do inverno... Ô não, Luke Dean não nasceu para isso. –Lamento decepcioná-las, mas não me terão.

E, Rachel e Mike se levantaram e eu comecei a segui-los. Eles andavam de mãos dadas, indo em direção a uma das saídas do parque. Continuei a segui-los.

Que ótimo programa de final de semana, Luke. Pensei.

Até que eles entraram para um hotel. Fim da linha.

Certo.

Entrei no bar mais próximo e pedi uma garrafa de cerveja ao garçom. Sentei em uma mesa mais afastada, quase em um canto escuro do estabelecimento.

“Eu estava alterado, meio zonzo até... O que estava acontecendo com minha cabeça? Por que ela pesava tanto?

No meio da rua, eu caminhava lentamente, com a impressão de que uma hora ou outra, iria pender para o lado, cair no chão e por lá permanecer. Minha visão estava desfocada e as luzes do poste tornavam-se distantes esferas brilhantes.

Sirenes de ambulância e policia passaram em alta velocidade. Olhei aquilo artodoado, aquela era a direção... Oh, não!”

Tomei mais um gole de minha cerveja.

“Uma Sara alterada vinha em minha direção. Ela bateu as mãos em meu peito, lágrimas transbordavam de seus olhos e seu rosto estava vermelho de raiva.

–Você fez isso, não fez? Foi você, não foi? Droga, Luke! Você está chapado, não é? Olha o que você fez, porra! Vocêé um doente!

Olhei em seus olhos não entendendo o que estava acontecendo. Ela limpou os olhos com as costas da mão e voltou a gritar comigo:

–Você só faz merda nessa vida! Volta para o Falcão, volta. Vai encher a cara de bebida e fumar até ficar doidão. Não é disso que você gosta? –ela passou as mãos pelo cabelo.

–Sara, eu...

–Cala a boca, merda! Cala essa boca! Vai embora, Luke. Está me ouvindo? Vai embora e nunca mais volte. NUNCA!”

Pedi a segunda garrafa para o garçom, que meio hesitante, a trouxe para a mesa em que eu me encontrava.

“Por todas as mulheres bonitas do mundo, eu odiava aquele cheiro. O que era aquilo? Parecia anticéptico. O ar estava frio e uma claridade incessante não me permitia abrir os olhos. Dentro de minha mente, eu falava sem interrupções, mas “do lado de fora”, continuava quieto como um defunto. Aquele lugar era um hospital e eu tinha essa infeliz certeza, mas quem havia me levado a um lugar desses? Minhas últimas lembranças era eu fugindo, entrando em uma estradinha e...

–Acorda. Eu salvei você, mereço ver seus olhos. –uma voz doce e feminina ecoou em meus ouvidos.

Abri os olhos e dei de cara com uma jovem loira –um tom loiro escuro, sei lá–, de olhos castanhos e rosto corado.

Muito obrigada, Jeová! Não, eu não era testemunha de Jeová. Mas isso não vem ao caso.

–Olá. –falei com um sorriso malicioso estampado nos lábios.”

Me sentia anestesiado. Veja bem, isso é distinto de estar bem. Resolvi parar com as cervejas e caminhei lentamente até o apartamento. Já era noite e um tom azulado-rosado-roxeado parecia ter sido pintado no céu. Cheguei ao prédio e apertei o botão “13” no elevador. Quando abri a porta, deparei-me com um Deanzinho me esperando. Ele devia ter sentido meu cheiro ou algo assim, não sei. O peguei no colo e em suas tigelas coloquei leite e ração.

E então, joguei-me no sofá, preparando-me para dormir sem ao menos ter tomado banho após um dia inteiro de corrida, mas eu estava cansado demais e o sono me levava para um mundo distante e melhor...

Bateram na minha barriga e eu acordei.

–Porra, ruiva! Pirou, mulher?

–Levanta. Temos que ir para o aeroporto.

–Aeroporto? Por quê?

–Mike está indo embora.

–Pro inferno com isso! Tomara que o avião caia! –gritei.

–Luke, –interveio Emily– Ela vai estar arrasada. Ela precisa de nós. Ela precisa de você.

–Ela quem, merda?!

–Rachel.

Um nome. Uma pessoa. Uma mudança súbita.

–Certo. Desço em cinco minutos, apenas irei jogar uma água na cara.

–Ok. Estamos descendo. Te encontramos na garagem, ok?

–Ok, Emily.

Fui para a pia da cozinha –Rachel me mataria, se soubesse– e praticamente enfiei a cara debaixo daquele lugar lá que sai água. Quando me virei, Fumaça me olhava.

Isso é errado. Seus olhinhos felinos pareciam dizer juntamente com aqueles bigodes que balançavam.

Meu eterno cúmplice.

–Ok, Deanzinho. Eu te levo para um passeio de carro e você finge que nunca viu isso. Estamos combinados?

–Miau.

–Vou considerar isso um sim. Vamos logo que sua dona precisa de nós!

O peguei no colo, fechei a porta do apartamento, peguei o elevador indo em direção ao subsolo. Kate e Emily estavam distraídas, conversando. Abri a porta do banco de trás, coloquei Deanzinho ali e a fechei. O bichano era tão inteligente que ficou quietinho só para a ruiva não criar um chilique. Kate deu a marcha no carro, não sabendo do meu plano com o pequeno quadrúpede cinzento.

✶✵✴

Na volta, após encontramos Rachel desprovida de palavras e um verdadeiro tribufu em forma de gente...

–QUE DROGA É ESSA, LUKE? VOCÊ TROUXE O FUMAÇA? –Kate esbravejou olhando para trás enquanto tentava se concentrar com a direção.

–Ué, eu deixaria o pobre gatinho sozinho em casa? Deanzinho não gosta de solidão, ruiva egoísta.

–Se ele defecar ou urinar nesse carro, fique sabendo que é o senhor quem vai limpar! E com a língua!

Rachel observava tudo, um sorriso por um momento, quase apareceu em seu rosto.

–Certo, certo. Ô TPM desgraçada hein? Emily, dê um jeito nessa sua mulher! –eu resolvi dizer, coçando Deanzinho e prestando atenção em Rachel.

–Seu... Seu... –Kate dizia e dizia. Para variar um pouco.

–Parem de brigar vocês dois! –Emily gritou. –Kate, ignora ele. Luke, cuide da Rachel, sim?

Assenti e passei o braço por cima do ombro de Rachel.

–Logo chegaremos em casa, cabelo-de-capim.

E eu cuidarei de você.

Ela olhou para mim e sorri.

Não sei se era por conta da bebida, por conta do meu dia ruim ou qualquer outra coisa, mas eu pulava de ansiedade por dentro por Mike ter ido embora e pela Rachel precisar de mim, de alguma forma.

E distraí-la.... Oh, baby, seria um prazer para cada fibra do meu ser!