POV RACHEL’

"E eu acho que todo mundo é especial a sua própria maneira." –As Vantagens de ser Invisível.

Pela manhã, eu e Mike custávamos para caber em minha cama de solteiro. Ele praticamente dormia em cima de mim. O peso em excesso me deixara sem ar.

–Mike... –o chamei.

–Hm...

–Você está em cima de mim... Estou sem ar.

Dito isso, ele arredou para o lado, entretanto, eu quase fui de encontro ao chão.

–Desculpa, linda.

–Tudo bem. Não se preocupe.

–Dorme mais um pouco, ok? Eu vou comer alguma coisa. –Mike disse bocejando e passando por cima de mim.

Assenti, virei para o quarto e peguei no sono instintivamente.

POV TERCEIRA PESSOA, NOW! ~uhull~ Samyni em ação ú.ú

Mike mal havia saído pela porta e a loira já havia virado para o canto a fim de dormir. Ele parou por uma fração de segundos para observá-la, depois prosseguiu com seu caminho.

Havia pouco tempo que sua presença no apartamento tornara-se frequente, e Kate parecia nem ao menos notar o surfista andando pela casa apenas de shorts e fuçando a geladeira. Luke Dean, todavia, acompanhava cada passo do “intruso” com o olhar. Ele com certeza não ia com a cara daquele californiano, ou seja lá de onde ele tenha surgido.

Fumaça, o pequeno quadrúpede peludo, pulou no sofá ao lado de Luke, concordando silenciosamente que a presença de Mike, para eles, era mais do que desconfortável.

Mike continuava a fuçar na geladeira, colocando em cima da bancada em forma de “L” no meio da cozinha, tudo que lhe agradava. Suco, pasta de amendoim, pães...

Emily observava tudo aquilo no vão da porta, Luke estava tão concentrado em não gostar de Mike, que nem notara sua presença. A morena sorriu maliciosamente, adorava estar certa, adorava sua facilidade de ler pessoas, com certeza não desperdiçava tal dom. Ela chegou mais perto do cafajeste, lhe deu tapinhas reconfortantes no ombro e disse em tom baixo:

–Luke, tenta disfarçar o teu ciúme.

Logo após, voltou para o quarto de Kate. Essa última, por sinal, dormia profundamente na cama completamente bagunçada por conta da noite passada. Havia diversas peças de roupas por todo o quarto e Kate dormia profundamente, completamente exausta.

Emily não conseguiu não sorrir para si mesma e em um ato de bondade –mentira, ela julgou que era sua obrigação–, saiu recolhendo as peças que estavam a mercê. O ato não durara mais que alguns minutos. Kate ainda dormia. Aquilo não era novidade para ninguém, a ruiva praticamente hibernava! E às vezes, no meio dos sonhos mais profundos, ficava sonâmbula e falava coisas sem começo ou fim.

Emily sorria ao lembrar-se de uma cena, quando as duas ainda não namoravam, por conta de uma nevasca a morena ficara presa no apartamento e ali mesmo teve que dormir. No meio da noite, após as três terem dormido juntas no chão da sala –o medo as havia obrigado a isso – e Kate havia soltado coisas como “A Emily é tão gostosa...”, “Queria tanto ficar com ela...”. Rachel e Emily haviam dado boas gargalhadas naquela noite. Como ela gostava daquela mulher!

Foi até a cozinha, encontrou Mike repetindo o café da manhã, pegou o pão e passou a pasta de amendoim, depois despejou o galão de suco em um copo, biscoitos em uma tigela e colocou tudo em uma bandeja. Emily, infelizmente, assim como Rachel, não levava jeito algum na cozinha. Sua vontade era de fazer um café da manhã caprichado, como nos filmes, com direito a panquecas com mel, suco de laranja espremido na hora e uma florzinha branca! Mas se ela tentasse algo assim, provável que colocasse fogo no prédio ou quebrava tudo pelo caminho. Kate teria de se contentar com o que ela podia oferecer.

Emily sentou-se na beira da cama, equilibrando a bandeja nas coxas, depositou beijos delicados nos olhos ainda fechados de Kate, que logo após acordou e espreguiçou-se por completo na cama.

–Bom dia, minha baby! –a morena disse animada– Olha o que eu trouxe para você! –e mostrou a bandeja, que a essa altura do campeonato estava protegida próxima ao pé da cama.

Kate sorri olhando a bandeja composta por alimentos simples e um pouco desarrumada.

–Em! Você não existe mesmo hein! Depois de todo esse tempo, ainda consegue me surpreender! Você não precisava ter se preocupado com isso. Espero que não tenha feito muita bagunça na cozinha, mas muito obrigada! Vem cá! –então a ruiva puxa sua morena para um abraço afetuoso e um beijo delicado de bom dia.

As duas passaram a manhã inteira na cama, comendo, trocando caricias ou simplesmente conversando sobre diversos assuntos.

Enquanto atos fofos aconteciam no “recinto das namoradas”, no quarto ao lado, Rachel ainda dormia. Mike havia saído, ao lado do travesseiro da loira, havia um bilhete com letras redondas e emboladas: “Vou sair, linda. Não demoro! Xoxo, -M.”

“Onde ele foi?” era a perguntava que pairava na mente de Luke. Quer dizer, ele estava com a Rachel não, é? Por que sairia do nada? O cafajeste estava exagerando, obviamente. Procurando em todos os pontos possíveis, armações e defeitos de Mike. Se ele entrasse pela porta da sala, com um buquê ou algo do tipo, Luke o faria engolir para aprender ser tão trouxa. Bom, ao menos esse era o porquê que ele dizia a si mesmo.

Fumaça andava de um lado para o outro em seu colo, pedindo carinho. Luke acatava aos seus desejos distraidamente enquanto pensava.

–Você podia arranhá-lo mais vezes, sabe. –ele dizia ao gato, que ronronava e apenas aproveitava o carinho proporcionado a ele.

Levantou-se com “Deanzinho” em uma das mãos, pegou uma maça na cozinha, colocou leite na tigela do gatinho e voltou para o sofá, a fim de esperar a volta do “invasor idiota”.

E ficar parado, em um lugar, sozinho com seus pensamentos, era perigoso demais para ele. Apesar de ser um sedentário na maior parte do dia, fã número um daquele sofá e daquela televisão, ele sempre tentava ocupar a mente de alguma forma. Quando em um passado distante, se fez coisas erradas, só se quer esquecê-las. Enfrentá-lo não é uma opção, a fuga é o caminho que Luke escolheu. Deixar tudo para trás, não contar nada a ninguém... Ele tinha lá seus motivos, se considerava um monstro, apesar de toda a camada de ego, detestava quem ele era e detestava mais ainda não conseguir fugir de si mesmo.

Ele se levantou do sofá bruscamente. Não poderia esperar pela volta do Mike, precisava urgentemente de correr, sentir seu corpo doer, arder, implorar para parar, mas não o fazer. Ele acreditava que assim se castigava de alguma forma. De uma forma muito mais leve que ele merecia, mas ainda assim... Um castigo é um castigo de um jeito ou de outro. E logo após, ao anoitecer, muito álcool para ajudá-lo a esquecer um pouco de si mesmo. Talvez se ele tomasse doses absurdas conseguisse perder a consciência, temporariamente a memória... Bom, não custava tentar.

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