"Ela odiava admitir, mas ele era a única pessoa que lhe trouxera conforto até agora" -Branca de Neve e o Caçador.

–Chica, eu morreria se visse esse Luke no vão da porta com ciúmes! –Missy disse sonhada, levando os livros da faculdade contra o peito.

–Bom, realmente foi difícil manter controle na frente do Mike. –ri. –Vamos mudar de assunto. Ele só me surpreendeu.

–Você não mora com ele? Já era para estar acostumada, comadre.

–Eu sei, mas...

–Ah-ah. Que Deus cuide desse teu coração, pois nele só cabe um.

–Ninguém reside meu coração dessa forma, Missy. Não se preocupe quanto a isso. –olhei minha frente e mirei em um ponto fixo perguntando-me se aquilo era realmente verdade, afinal.

–Ei, chica rubia, vai para minha casa fazendo trabalho hoje? –Missy perguntou estalando os dedos em frente aos meus olhos.

–Ah, sim. Claro. O que é“chica rubia”, Missy? Já falei que detesto quando você usa o espanhol para conversar comigo!

–É “menina loira”. É você. –ela piscou um olho. –Vem, apaixonada, vamos embora.

–Não estou apaixonada, droga! –bufei e a segui.

✶✵✴

Cinco horas depois, Missy e eu ainda estávamos focadas no trabalho. Já havíamos acabado com dois galões de suco de laranja e três pacotes de cookies a essa altura do campeonato. “Radioactive” dos “Imagine Dragons” começou a tocar e eu fechei os olhos para ouvir.

–RACHEL!

–Que, Missy?

–Seu celular, rubia! –ela estendia meu aparelho.

Mas eu nunca tinha colocado aquela musica como toque de chamada...

–Alô?

–Oi, linda! Sou eu.

Sorri.

–Ei, Mike! Você que mudou meu toque para uma música dos Imagine Dragons?

–Não... Eu prefiro reggae. O que você está fazendo?

–Estou na casa de uma amiga da faculdade. E você?

–Estava pensando se você gostaria de me ver. Está muito cansada para mim?

Sorri de novo.

–Talvez. Mas posso fazer um esforço.

–Isso seria bom. A viagem está acabando e gostaria de passar o máximo de tempo com você.

–Farei o possível para isso, Mike. Nos encontramos no meu apartamento, pode ser?

–Yeah. Beijos.

–Beijo. Tchau. –desliguei o celular e olhei para Missy, que me encarava com um sorriso gigante e quase medonho.

–O que foi agora, mexicana?

–Você gosta dele!

–Sim, eu gosto. –sorri. Era bom admitir em voz alta.

–Ele sabe disso?

–Não. Ainda não.

–Vai contar quando?

–Não sei. –suspirei. –Terminamos depois, Missy. Eu preciso ir.

–Mande um beijo para o surfista gostoso por mim!

✶✵✴

POV LUKE DEAN ROACH

Era um dia típico no “nosso” apartamento compartilhado. Após a cena absurda na “minha” sala de estar, Rachel ficou o resto do dia me evitando e fez questão de ir para a faculdade mais cedo do que o normal e até a noite não tivemos nenhum aviso sobre seu paradeiro.

–Kate, cadê a Rachel? –perguntei à ruiva quando esta adentrou o apartamento de mãos dadas com Emily, a gostosa morena tatuada.

–Eu não sei onde sua dona está. Está com fome por acaso?

–Não. Só que ela ainda não chegou.

–Deixa ela, ué. –Kate deu de ombros naquele jeito “Kate” e Emily olhou para mim de cima a baixo.

–O que tem de errado, Emily? –perguntei a morena.

–Tatuagem legal. Ainda não tinha reparado nela. –olhei para a minha tatuagem quase no ombro. –Por que uma âncora?

–Eu precisava me firmar. –respondi simplesmente.

–Hm...Interessante, moço. –ela sorriu. Emily era do tipo que sacava as coisas rápido demais, por isso desviei o olhar.

–Querem que eu vá dar uma volta ou sei lá? -perguntei.

–Luke sendo legal? –Emily provocou. –Tem coisa aí.

–E das grandes. –Kate riu. –Mas deixa, ele vai descobrir sozinho mais cedo ou mais tarde. –ela sorriu.

–Argh. Vou correr então. Não entendo nada que mulheres falam, mesmo. Dialeto esquisito, hábitos esquisitos...

E saí bufando em direção a porta. Mas aí o telefone tocou e eu ponderei se deveria ver quem era ou...

–“Você ligou para a casa de uma ruiva lésbica, uma tábua oxigenada e um gostosão. As moças não devem estar em casa no momento, mas deixe seu recado após o bip. Se eu tiver com preguiça de apagar, elas irão ver.” Bip. –ouvi minha voz gravada ecoando pela sala.

–Cara, que porra de gravação é essa? É o James! Se você estiver aí, veado. Atende essa merda!

Kate e Emily foram para o quarto e eu peguei o telefone.

–Fala, James.

–Que bom que você está em casa! Qual andar você mora?

–Treze. -respondi.

–Treze? Credo, Luke. Está explicado sendo ferrado do jeito que é morando em um prédio tão bom. Superstições novaioquinas até servem para alguma coisa, não é? Abre a porta para eu saber qual é teu apartamento quando eu chegar. Falou.

E desligou.

Certo.

Kate não vai gostar.

Emily também não.

Rachel talvez não grite comigo...

Mas James vai querer se mudar pra cá!

Abri a porta e o meu colega saia do elevador, com jeans escuro e blusa clara. Para completar o visual, um cinto que só servia de acessório e uma touca que ficou legal nele. Será que colava comigo também? Mas eu também usava touca quando mais novo...

Certo. Eu estava convivendo demais com a Rachel.

Apertamos a mão de um jeito “macho” e James entrou. O cara podia ser meu irmão gêmeo. Mais loiro, menos bonito e menos gostoso, claro. Mas ainda assim, podia ser meu irmão!

Ele sentou-se no sofá de um jeito que me fez pensar “Será que as meninas também me vêm como um folgado sem-educação?”

–Belo apartamento, cara. Mas essa decoração... Mora com a namorada e sai para se divertir fora da cama dela é?

–Não. Eu não namoro, James. Moro com duas... –colegas? Amigas? Irmãs? Exagerei. –mulheres.

–Opa. É bancado pelas duas?

–É difícil de explicar. E é uma história longa.

–Sentimental? –ele perguntou.

–Talvez um pouco.

–Então deixa pra lá. Não quero papo de veado para o meu lado.

–Ou, não use palavras assim nessa casa.

–Por quê? –James perguntou apoiando os braços nas pernas, que estavam abertas.

Somos machos. Ohhh yeah!

–Uma das mulheres é lésbica e ela é bem invocada.

–Ela pega outras mulheres na sua frente? –ele perguntou entusiasmado.

–Às vezes.

Realmente, pensando bem, era tão bom ter Kate e Emily por perto...

–Luke! Luke! –Kate gritava comigo em minha frente.

Ô ruiva estressada!

–Fala.

–Quem é esse cara? Minha casa virou albergue agora?

–Ou, calma lá, moça. Eu tenho casa. Sou um... Parceiro de saídas. –James se manifestou.

–Ah, algo como pegar mulher e cair fora no dia seguinte? –Emily perguntou divertida.

James oscilava os olhares entre as duas, provavelmente pensando nelas se pegando loucamente.

–Por aí. –respondi dando de ombros. Emily era ótima com deduções, eu já havia dito isso.

–Que ótimo! –Kate levou os braços ao ar.

–As mulheres da cidade de Nova York estarão em grandes apuros! Imagina se isso virar uma sociedade? Poderia se chamar SCF: Sociedade dos come e foge. –Emily disse, sentada no sofá pequeno e se divertindo com seu raciocínio.

–Eu gostei! É uma ótima ideia! –James empolgou-se.

A ideia era engraçada, divertida e pura verdade.

–Ei, pode mulher no grupo? –Emily riu.

Kate olhou furiosa para ela.

–Que, baby? Eu era assim nos meus tempos de “cafajeste”.

–Arghhhhhhhh! Vai com eles então. Pode ir agora mesmo em uma droga de pub só de mulheres a fim de dar essa noite. Faça muito bom aproveito.

–Baby, calma! Eu estava brincando! Kate, amor, vem cá! –Emily riu pra nós novamente e levantou-se indo em direção a Kate.

–Gostei das suas colegas de apartamento, colega. –James disse.

–Tem a Rachel também. Mas ela está em algum lugar por aí.

–Por ai? Isso para mim significa outras coisas hein... –James rebateu.

–Rachel é santa. Ninguém quer ela, de qualquer forma. Ela é sem graça, feia.

Então, a porta abriu e por ela passou a loira. Os olhos de James na hora vidraram.

–Luke, arrum...- e parou de falar, pois encarou James. –Ah, oi! Quem é você? Posso perguntar?

–Sou o James. E você? –ele disse sorrindo e estendendo a mão.

Rachel o cumprimentou hesitante.

–Sou a Rachel.

–Uau, você é gata hein? Luke, você desmereceu a imagem dela completamente. –ele disse virando-se para mim. Traíra!

–Olha, eu tenho que me arrumar, ok? Luke, Mike está chegando aí. Por favor, POR FAVOR, comporte-se hein?!

E foi para o quarto se arrumar para o Mike, para a pessoa que não colocou uma música foda no celular dela.