"Não há garantias. Nem no amor e nem na vida. Mas não podemos viver sem nunca assumir riscos." -Levada ao Entardecer.

Mike combinou de aparecer em "meu" apartamento depois do almoço no dia seguinte. Quando eu havia chegado em casa no dia anterior, Luke estava ainda... Sabe os céus onde!

Arrastei-me lentamente da cama naquela manhã e ao encarar meu reflexo no espelho, notei um sorriso bobo surgindo.

Mike era legal.

Muito legal.

E eu havia me divertido bastante na noite passada.

Fui a passos lentos até a cozinha, onde Kate estava com os óculos enfiados em mais uma leitura medieval.

–Bom dia, Kat.

–Bom dia, Rach. Como foi ontem? –ela perguntou por perguntar, já que estava concentrada em seu livro.

–Foi ótimo! –sorri e tirei o galão de leite da geladeira.

Kate assentiu, ainda concentrada.

–Eu amo essa série, As Brumas de Avalon, quero dizer. –comecei. –Mas achei o último incrivelmente broxante. –terminei despejando leite ao copo.

–Shiu. Quieta, Carell!

–Desculpa. –sorri. –O que fará hoje?

–Isso. –ela estendeu o livro e eu contemplei brevemente Morgana -ao menos eu acreditava ser ela- sobre um cavalo e a espada de Artur em mãos.

–Mike vai vir aqui, ok?

–O carinha de ontem chama-se Mike?

–Sim. Ele é da Califórnia. Coisa breve, não se preocupe. Mas ele vai vir aqui hoje.

–Okay. –ela assentiu levemente a cabeça.

✶✵✴

Mike chegou depois do almoço e a essa altura do campeonato, Luke também já estava em casa. Reclamando de dor de cabeça, estava esparramado no sofá. Levei uma aspirina para o vagabundo e em troca olhou-me de cima a baixo.

–De jeans em casa, loira?

Revisei minha roupa e assenti com a cabeça.

–Visita.

–Quem?

–A pessoa que eu sai ontem, Luke.

–Ele vai vir aqui? –ele perguntou quase incrédulo.

–Sim, portando comporte-se.

Ele gemeu de dor e virou-se para o canto.

–Luke... –chamei-o.

–Que?

–Deita lá na minha cama. Pode dormir, pois aqui na sala de estar com o Mike, que você não vai conseguir.

–Certo, moça. Boa noite para você.

–Bons sonhos, Luke! –respondi e me sentei no sofá para esperar Mike.

✶✵✴

POV LUKE DEAN

Rachel me expulsou da sala, e tenho certeza que o culpado disso foi o tal de Mike. Ao menos agora eu teria uma cama para dormir. O sofá é muito bom, bem melhor que as camas que eu havia tido nos últimos anos, mas ainda assim perdia para a cama da Rachel. Até que para uma mulher esquisita ela tinha um bom gosto para colchões.

Bom gosto para colchões?

Certo. É a ressaca, Luke. Relaxa.

Ao entrar no corredor, virei-me para olhá-la novamente. Ela estava sentada no sofá branco completamente ereta e com as mãos descansando em cima dos joelhos enquanto puxava a manga da blusa com os dedos. Parecia... Tensa? Nervosa? Melhor: Ansiosa.

Ansiosa por “Mike”. Quem podia ser esse louco?

Adentrei o quarto da loira e fechei a porta. Deitei em sua cama e logo o cheiro de cacau invadiu minhas narinas.

Esperei. Esperei. E por fim, esperei mais. Quando estava quase dormindo, ouvi o som da campainha e logo após vozes.

Segundo minha mãe, visita é aquele que te faz usar roupas de sair, só que em casa. E pensando bem, Rachel estava bem vestida em comparação as suas vestimentas de casa. Convenhamos, Rachel em casa e um mendigo não tem diferença quase nenhuma.

Levantei-me lentamente da cama e tomei cuidado para não fazer barulho ao girar a maçaneta. Observei pelo corredor, novamente Rachel sentada no sofá e ereta, a diferença é que agora havia um homem loiro vestido como um esquimó ao seu lado. Ela prestava atenção em suas palavras e sorria o tempo todo.

Quem diria que Rachel acharia alguém nessa vida!

Sim, estou sendo cruel. Não pude evitar de pensar em Fumaça me repreendendo, miando para encarando-me com aqueles olhos felinos e bigodes balançantes.

Rachel era bonitinha. Estava longe de ser um monstro ou uma freira bigoduda, é claro. Mas não havia nada de demais nela além do rostinho de menininha.

–Onde está o hospede insuportável? –Mike perguntou.

Do que o esquimó me chamou? Insuportável?

–Está de ressaca da noite passada... O mandei dormir. –ela sorriu.

Mandou. Há! E como assim ela não me defendeu? Fumaça também não aprovaria isso ou na pior das hipóteses concordaria.

–E ai, Surfista Encantado? Quer algo para beber ou comer?

Surfista Encantado. Segurei o riso e continuei a observá-los.

–Hmm... Tem leite ou biscoitos?

–É claro que tem, eu amo leite com biscoitos! –Rachel comemorou toda feliz.

–Yeah. Eu sei e também gosto muito, lembra-me a casa da minha avó.

Qual é a desse “yeah”? Convenhamos, Rachel, o cara não é tão bom assim! Na verdade, parece um playboy da região da... Flórida! Esse cara deve ser por essas bandas, impossível usar essa roupa já no final do inverno.

Eles se levantaram e Mike colocou sua mão nas costas de Rachel ao andarem até a cozinha. Voltei para o quarto de Rachel e encontrei Fumaça –também conhecido como Deanzinho–, esperando-me na cama de Rach.

–Vamos dormir, pois a Carell resolveu nos trocar por um idiota dos mares.

Deanzinho piscou os olhos, miou baixinho e voltou a cabeça para cima de suas patinhas. Acho que ele também havia ficado chateado com a chegada do tal de Mike da Flórida.

✶✵✴

POV RACHEL CARELL’

–Sabe, eu sempre achei o contrário. –digo comendo mais um biscoito de aveia com gotas de chocolate.

–Bom, mais ou menos. Quer dizer, gostamos muito de surfar, mas fazemos outras coisas também. Não somos vagabundos.

–Ah, certo. Vai me dizer que você foi um dos melhores alunos no ano passado?

–Não. Longe disso. Eu passo com o necessário, mas minha prima formou com méritos e surfava mais que eu.

–Mentira! –eu ri.

–Sim, é mentira, mas você não precisava saber. –ele sorriu de volta. –Mas cadê esse gato que até agora não apareceu?

Revirei os olhos. Sabia onde ele estava.

–Provável que esteja dormindo com o Luke.

–Onde o Luke dorme?

–No sofá. Ele não tem um quarto aqui.

–Onde ele está exatamente então?

–Meu quarto, oras.

Mike arqueou uma sobrancelha.

–Não tem medo dele, sei lá, revirar sua gaveta de calcinhas?

Eu ri. Muito.

–Essa possibilidade nunca passou pela minha cabeça, até porque, Luke tem tanta roupa intima feminina na vida que não irá atrás das minhas. Certeza absoluta. Vem, vamos ver filme. Sente-se que eu irei buscar o Fumaça.

Deixei Mike na sala e caminhei lentamente até meu quarto, fazendo o menos possível de barulho para não acordar Luke.

Girei a maçaneta e cheguei perto da cama. Luke dormia de costas para a parede, o cabelo recém-cortado (a propósito, havia ficado muito bom) pendia para o lado e estava bagunçado. Luke abraçava meu travesseiro com um dos braços e o outro segurava Fumaça, que dormia profundamente.

Senti pena ao tirar meu gatinho de lá. O levei para Mike, que sorriu.

–Mike, esse é o Fumaça. Fumaça, esse é o Mike.

Mike passou as mão direita pela minúscula cabeça rajada de Fumaça. Ele se contorceu em meu colo, mas acalmou-se.

–Deanzinho... –Luke, com calças de moletom, camiseta e cabelos bagunçados apareceu com cara de sono e chamando meu gato.

Sexy. Incrivelmente sexy. Rachel, você não pensou isso!

Fumaça arranhou a mão de Mike –que havia voltado a lhe fazer carinho– e saltou do meu colo, indo em direção a Luke, miando e rebolando aquele rabo comprido.

–O gato gosta de mim. –ele respondeu ríspido. –Não desse esquimó. Não mexam com o Deanzinho e eu não atrapalharei vocês. –sorriu sarcasticamente e passou a mão nos fios castanhos bagunçados.

–Luke! –o repreendi quando ele já havia se virado de costas e pegado Fumaça ao colo.

–Eu durmo nesse sofá, portanto eu agradeceria se não fizerem sexo aí. –e mostrou os dois primeiros dedos da mão, como se dissesse “falou”.

Encarei aquilo perplexa.