Dani havia dormido e acordado com a maior ansiedade que já tinha sentido na vida. Quando levantou pensou que talvez não devesse supervalorizar aquele encontro daquela forma, até porque ele nem era exatamente um encontro.

Tentava se dizer isso, enquanto ficava se arrumando muito mais que o normal em frente a um espelho velho do banheiro, do qual ela não queria sair da frente.

Decidiu ir de cabelo solto, mas quando o soltou percebeu inclusive que ele precisava urgentemente de um corte. Fazia quanto tempo que não ia a um salão mesmo? Se pegou desejando também ter comprado maquiagem alguma vez na vida, pelo menos uma base para comprir algumas daquelas manchinhas chatas do seu rosto, que parecem sardas e ela nem sabe porque as tem sendo que nem ruiva oficialmente ela é.

Seu cabelo era somente em um tom acobreado e estranho, como diria.

Colocou finalmente suas lentes de contato, que só usava em situações importantes, para economizá-las, já que eram muito mais caras do que ela poderia pagar facilmente e então depois de meia hora ali em pé naquele banheiro, ela saiu.

Na verdade, saiu até um pouco atrasada se quisesse chegar lá, seis e meia mesmo, como tinha combinado.

No caminho ouviu seu celular chamar e percebeu que já recebia mensagens desesperadas do Shan lhe perguntando se estava mesmo indo, onde estava e etc, etc.

Respondeu só quando estava no gramado do Instituto, dizendo que já estava chegando e foi andando ali até o trilho de um trem municipal com um galpão do lado. O galpão guarda várias caixas que são descarregadas em um vagão do trêm que para ali para isso.

Mas nesse momento, como na maioria, aquela área estava somente deserta e quieta. Quando chegou na casinha que é o galpão a menina rodeou ela, para olhar para o trilho, tempo o bastante para quase ter um enfarto com a visão e morrer do coração ali mesmo.

Alguma coisa estava muito errada. Alguma coisa TINHA que estar errada. Sem ar, com a respiração presa sem conseguir respirar, Daniella pegou o celular no desespero e escreveu às pressas uma mensagem.

“Shan, vc jah ta aqui? Onde você tá?”

“Aqui? Como assim? Eu não estou te vendo. Estou sentado no trilho.”

O “menino” do trilho realmente digitava algo no celular e depois levantou a cabeça procurando por alguém.

Oh, não! Aquilo era mesmo verdade? Dani queria se estapiar ou se beliscar para ter certeza que não estava dormindo ainda. Porque no fundo tinha certeza que estava sonhando. Era seu sonho durante a noite, já que dormiu com esse encontro matutando em sua cabeça.

Tudo bem, ela conhece sua própria mente e sabe que ela é pertubada assim mesmo. Esse seria exatamente o tipo de peça que seria a cara de sua consciência lhe pregar...

“Eu estou te vendo... Eu só não esperava MESMO por isso...” Dani finalmente resolveu enviar e tentar entender até onde aquilo iria.

“O que foi? Sou tão mal assim? Ficou decepcionada? x.x”

“Não! ... Só... Eu nem sei o que dizer... x.xv”

“Aparece aqui para a gente conversar. Onde você está?”

Ele pareceu ter o intuito de levantar e procurá-la, então ela se apressou e enviou:

“Eu acho que... Não é uma boa ideia a gente se encontrar hoje.”

“Como assim? Você jah sabe quem eu sou. Isso é injusto... Desbalanceia o mundo xP” Ele usou sua frase.

“xD estou falando sério, é melhor assim...”

“Estou te esperando aparecer aqui. Vou ficar esperando enquanto tiro um cochilo”

Dizendo isso o doido simplesmente se deitou no TRILHO!!! A boca de Dani se abriu, ainda mais incrédula. Ele continuava digitando uma mensagem deitado lá e logo o celular de Dani vibrou com a mensagem chegando que dizia:

“Mas vê se não demora mt pq senão um acidente pode acontecer cmg :3 Confio em você!”

Oh meu deus, Dani pensou. Ele não podia estar mesmo faendo aquilo. Ele não ia fazer aquilo, certo? Mas então ela viu sua resposta com ele somente se ajeitando ainda deitado no trilho, procurando uma posição realmente confortável para tirar sua soneca.

Aquilo estava quase a levando ao completo desespero. Ela estava pronta para ir lá, quando deu um passo e derrubou uma caixa que fez um barulho ao cair atraíndo atenção para a parte de trás do galpão.

O Garoto do trilho pareceu escutar aquilo, então levantou indo em direção ao barulho. Em direção da Dani! Então a única coisa que ela conseguiu pensar que poderia fazer, foi sair dali correndo.

Correu o mais rapidamente que pôde em direção ao prédio do Instituto que teria aula. Foi só o que pôde pensar.

A garota sabia, no minuto depois que parou, que foi só depois que entrou no banheiro do primeiro subsolo, um banheiro deserto por lá, que “ele” nunca mais iria querer falar com ela.

Sentia-se cansada e com calor pela corrida, mas também extreammente mal pela sua idiotice. Olhando a menina besta a sua frente através do espelho daquele local, Dani fez uma trança em seus cabelos.

Que tipo de idiota diz que vai encontrar alguém e simplesmente sai correndo? De onde ela tinha tirado aquilo? Ela queria muito se bater! Arrancar seus cabelos! Queria sumir com um buraco que se abrisse debaixo da terra e a engolisse.

Ou pelo menos queria poder voltar para casa e dormir, para sempre.

Mas pelo contrário, ela era bolsista e devia, na verdade, era seguir para sua aula orbigatória de química que seria no segundo andar.

Subiu até lá, depois de achar já ter enrolado demais no banheiro e depois de enrolar também sua trança. Sabia que chegaria atrasada e talvez o professor nem a deixasse entrar, mas agora não conseguia nem ao menos considerar se haveria possibilidade de continuar no IGE, depois de fazer o ato mais imbecil que poderia fazzer na vida.

Quando chegou ao seu andar de aula, percebeu que não estava tão atrasada quanto imaginava. Os professores pareciam não ter chegado ainda também, então a maioria dos alunos estavam todos para o lado de fora da sala, pelo corredor conversando, se empurrando e rindo.

Ela teve que desviar de um inclusive que foi empurrado para cima dela e a fez cambalear por ter esbarrado levemente. Mas o rapaz nem se virou para se desculpar. Daniella na verdade agora só queria passar ali o mais discretamente possível, para que ninguém mexesse com ela e para que ela não tivesse que ver ninguém. Então nem ligou para o rapaz que trombou nela.

Logo que chegou na porta viu Jane, sentada em sua carteira, lhe esperando com uma cadeira vazia ao seu lado. Era a única coisa tranquila e confortante que presenciou nesse dia de começo atribulado.

Sentou-se lá e Jane continuou lendo algo em um livro e nem olhou direito para a vermelha e preocupada Dani. A menina olhava impacientemente para a porta, mordendo os lábios e invés do professor aparecer ali, sentiu seu celular vibrar um minuto antes de ver quem apareceu ali na porta. Uns meninos, que ela obviamente conhecia, entrando na sala.

Aqueles meninos perfeitos como sempre, entravam conversando algum assunto, muito assiduamente e que parecia inclusive muito engraçado. Sim, Shan estava entre eles.

Vendo o rosto dele ali, com um sorriso de algo que os outros lhe diziam, ela imediatamente virou sua cabeça para o outro lado e se abaixou em sua mesa. Até que se tocou que essa era outra de suas idiotices! Porque ele jamais iria notar uma garota como ela.

Pegou seu celular e o encarou como se ele fosse seu pior inimigo. Ficou o olhando por mais tempo do que pretendia sem saber como agir, então pronta para vencer a batalha contra seu celular, colocou uma máscara de pessoa-segura-e-raivosa e abriu a mensagem com pura indiferença.

Então a leu, que dizia:

“Anjo, tenha uma boa aula. Espero que a gente possa deixar esse encontro para uma próxima :T mas eu realmente gostaria de ter te visto, hoje...”

Como assim??? Por que ele estava agindo normal?

Como o Shan podia ainda existir? Não conseguiu se conter, tinha que responder. Porque ela estava a cada segundo gostando mais dele, de tudo que tinha haver com ele, desse garoto em seu celular. Independente de quem ela viu no trilho hoje.

O garoto que lhe mandou a mensagem agora, era aquele mesmo garoto que passava seus dias a conversar... Não tinha porque ter medo ou insegurança com ele. Sorriu sentindo seu coração doer de felicidade.

“Eu sou uma estúpida. Que tipo de idiota sairia correndo assim, não é?”

“=) eu te assustei. Eu sei que minha parência não é a melhor de todas, prometo me arrumar melhor da próxima vez... ^^”

“-.-‘’’’’’”

“=)”

Daniella olhava para a carinha que havia recebido com um sorriso debil nos lábios e o angustiante pensamento de não saber o que fazer. O professor tinha entrado e estava falando sobre interessantes reações orgânicas e relacionando-as ao dia a dia. Mas ela não conseguia pensar ou ouvir qualquer coisa sobre qualquer outro assunto nesse momento.

Ainda encarava seu celular e esperava a hora que fosse acordar daquele sonho doido... Que sua cabeça a meteu...

Escorou simplesmente sua testa na mão, enquanto digitava com a outra embaixo da carteira, uma nova mensagem.

“Eu sou horrível...”

“Eu estou grávido”

O quê???? Como assim? Do que ele estava falando?

“Como assim? Você pirou? Por que está falando isso?”

“Só achei que vc estava querendo brincar de falar coisas impossíveis... ^^”

“T.T para de ser legal comigo, você vai se arrepender.”

“Que tipo de ameaça seria essa? xD”

“Não é uma ameaça. É só o que vai acontecer. E eu não quero que aconteça e você se desiluda, eu não quero te ver mal. Então pare de criar esperanças! =(“

“=) e você pare de se preocupar. E me diz que dia a gente vai se encontrar de nv?”

“Nunca u.u”

“>.> não gostei dessa resposta. U.U que tal no baile? Vc disse que ia se eu fosse.”

“Não falei isso não.”

“Pode ser lá então?”

“-.-“

Como então passou-se um tempo e Shan não falou mais nada, Dani já tinha inclusive desistido de prestar atenção ou aprender qualquer coisa nessa aula, ela só decidiu escrever e enviar finalmente:

“Ok, a gente se encontra lá...”