Meu Snape escrita por Hawtrey


Capítulo 26
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

Me perdoem pela demora gente, faculdade!



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As fotos estavam exatamente do jeito que encontrara, nunca as tirava do álbum e cuidara delas com tanta destreza e carinho quanto lhe era possível. Quatro anos havia se passado desde o vivido dia em que encontrara aquele álbum sobre a mesa em sua sala, quatro anos desde que Hermione se fora.

Lembrava-se tão bem daquele dia que às vezes pensava que tudo acontecera no dia anterior.

Começou a desconfiar quando abriu os olhos e não reconheceu o lugar onde estava. Parecia uma velha cabana que fora abandonada às traças no meio de uma floresta completamente desconhecida por ele. Demorou alguns minutos até se recuperar do atordoamento e imaginar o pior.

Afinal, por que mais alguém o manteria fora de seus terrenos daquela forma?

Sem pensar em mais nada, abandonou a cabana e aparatou.

Os portões da Mansão Snape estavam abertos, no entanto, não havia qualquer sinal de movimento em sua casa. Então por que seu coração doía tanto?

Então escutou passos leves e lentos... não havia vizinhos antes de uma grande distância e inacreditavelmente ele reconhecia aquele som.

Hermione.

Olhou ao redor com rapidez e a encontrou bem mais distante do que imaginara, parada e de costas para ele, quase ultrapassando o limite de seus terrenos.

— Hermione!

Seu chamado ecoou até ela com tanta força que até ele mesmo sentiu o impacto. Mas tudo o que recebeu em resposta foi um olhar assustado e arrependido.

Lagrimas mancharam o semblante desesperado de Snape ao se dar conta do que sua esposa tinha acabado de fazer. Hermione havia ido embora.

Depois disso tudo passou como um borrão, apenas imagens desconexas e que sua mente teimava em tentar ignorar. Lembrava-se de ter entrado e encontrar a própria Mansão revirada de cabeça para baixo, os moveis estavam todos quebrados ou revirados, as decorações escolhidas a dedo por Hermione, despedaçadas. E quando encontrou Helena no meio daquela bagunça de varinha erguida compreendeu tudo o que podia ser chamado de plano estupido.

Por que não falar com ele? Por que não contar e pedir ajuda? Por que despedaça-lo daquele jeito?

— Eu quero falar com ela Helena! — gritou pela segunda vez.

Por que era tão difícil simplesmente lhe dizer onde Hermione estava? Ele fora um espião duplo por anos, saberia ser cuidadoso!

— Desculpa pai, não posso — Helena respondeu em tom calmo — Será mais seguro se ninguém souber onde ela está.

— Mas você sabe!

— Eu sou exceção.

Ele jogou mais alguma coisa na parede e bufou.

— Vocês estão fazendo muito barulho — anunciou Eileen entrando na sala.

Snape se virou e encontrou sua mãe no fim das escadas com Rose choramingando em seus braços. Suspirou e se aproximou tentando se acalmar, logo em seguida pegando a menina em seus braços.

— Ela está sentindo falta da mãe...

Ele a acomodou melhor e de repente se sentiu cansado. Por que tantos problemas? Por que não conseguiam ser uma família completamente feliz?

— Está sentindo falta do pai também...

Respirou fundo. Não compreendia o motivo do silêncio de sua esposa, mas pelo menos compreendia o motivo de sua fuga. Estavam em Guerra novamente, uma guerra silenciosa e mortal. Todos sabiam sobre, todos conheciam o motivo, conheciam os lados opostos... mas ninguém ousava se mover. A lembrança da última guerra ainda viva e sangrenta em suas mentes o faziam temer até o menor dos ataques.

Snape quase podia ser classificado como um deles. Prosseguiu sua vida normalmente, dando aulas em Hogwarts como sempre fizeram, dando detenções por qualquer coisa como era de se esperar. E odiava isso. Sabia perfeitamente bem quem estava por trás daqueles ataques, quem criara toda aquela confusão.

Só que agora ele tinha filhos e precisava zelar por eles. Fazer sacrifícios. Como Hermione fizera.

***

O som das teclas que reagiam sob seus dedos encheram seus ouvidos e ecoaram pela sala. Era sempre assim. Sentava-se sobre aquele banco e deixava seus dedos agirem enquanto seus pensamentos voavam para longe dali, para quatro anos atrás quando vira sua família pela última vez.

Naquele dia ela achou que voltaria, prometera isso aos seus filhos, mas agora não tinha tanta certeza. Não mais. Tanta coisa aconteceu dentro daquele longo e torturante espaço de tempo que nem podia dar a certeza de que estaria viva no dia seguinte. O caos explodiu de um dia para o outro, literalmente, e por muito tempo esteve confusa com tudo ao seu redor.

A vida se tornara frágil como uma fina e antiga linha. Forte o suficiente para se manter, mas frágil demais para manter a outros.

Mas ela ainda tentava.

Não que o próprio destino não jogasse contra ela. Aliás, ele é um ótimo jogador.

Raramente dormia e quando dormia mantinha a varinha bem o seu lado. Com tantos alertas feitos por Helena, ainda achava que uma varinha seria pouco.

Estava em Rouen há um ano e desde então nada mudara. Tentava fazer coisas diferentes todos os dias, assim mantinha a mente ocupada. Mas sem poder sair de casa com muita frequência e com o passar dos meses, sua vontade foi se esvaindo. Todos os livros foram lidos, todos os feitiços usados, todas as receitas de comida testadas e aprovadas. Não havia muito o que fazer.

— Hermione!

Abriu os olhos imediatamente. Por um momento imaginando que era a voz dele, a voz do seu marido. Mas aquela voz era diferente, com certeza, mas tão familiar quanto esperava.

— Rony?

Levantou-se bruscamente e correu até a sala, olhando em volta freneticamente até acha-lo. Mas ele não estava sozinho.

— Ai meu Deus. Harry!

Rony estava todo sujo e um filete de sangue saia de sua boca. Harry estava pior. O moreno só estava em pé graças ao apoio que Rony dava.

Correu até eles e logo ajudava a levar Harry para o sofá, seus olhos já ardendo com a situação.

— O que aconteceu? — exclamou assustada — Como conseguiram chegar aqui?

— Uma garota nos mandou pra cá. Eu não conheço — Rony respondeu ofegante enquanto sentava no chão — Nos atacaram no Beco Diagonal. Um ataque direto.

Hermione arregalou os olhos e correu para pegar as Poções para cuidar de Harry.

— Quem faria isso? — perguntou quando voltou.

— Comensais da Morte, claro. Aqueles que fugiram.

Ela engoliu o choro e passou a poção nas feridas de Harry com cuidado. O amigo agora estava inconsciente e nem se mexia quando a poção forte entrava em contato com sua pele rasgada ou cheia de hematomas.

— E os outros? Estão seguros? Estão bem?

— Não sei, não consegui ver mais ninguém.

Desde que Harry e Rony tinham chegado seu humor havia melhorado. Colocaram as noticias em dia e Hermione se sentiu na obrigação de ao menos tentar explicar quem era a garota que os ajudara na fuga. Sendo sincera consigo mesma, nem sabia por onde começar. Helena era sua filha, certo. Mas como? Por que? De onde surgiu?

Bem. Pelo menos ela tentou.

— Então ela é sua filha? — questionou Harry pela segunda vez.

Hermione riu diante da nítida confusão dele e lhe entregou um copo de chocolate quente.

— Tecnicamente sim. Meio que veio do futuro — respondeu sentando-se entre ele e Rony — Não conseguimos uma explicação exata ainda. E provavelmente não vamos conseguir tão cedo.

— Eu até que achei ela bem parecida com você Mione — comentou Rony.

Hermione sorriu. Nunca havia parado para pensar nas semelhanças entre elas e nem mesmo com Severo. E depois de alguns minutos mergulhada em lembranças constatou que sim, eram bem parecidas.

— E ela veio salvar vocês de quê? — Harry continuou.

— De uma morte horrenda até onde sei — Hermione respondeu encarando o fogo inquieto da lareira.

— E por que ela não pediu nossa ajuda?

— Eu realmente não sei, Harry.

Um barulho a fez erguer os olhos e parar de tocar. Harry descia as escadas com preço com Rony em seu encalço e um semblante preocupado. Ela imediatamente engoliu em seco. Era certo que a situação piorava a cada dia e que aquelas expressões estavam se tornando comuns, mas sempre sentia seu coração falhar e seu corpo tremer quando o via daquele jeito.

— O jornal chegou — ele anunciou indo para o sofá.

Ela compreendeu de imediato e se aproximou dele em passos rápidos. Ainda se lembrava do primeiro Profeta Diário que receberam graças a Helena.

— O que diz? — Rony questionou preocupado.

Hermione ficou quieta enquanto observava Harry passar os olhos sobre o papel com urgência.

— Droga! — praguejou fazendo ela saltar de susto.

Sem esperar ela arrancou o jornal das mãos dele e encarou as letras flutuantes em destaque: FUGA EM MASSA EM AZKABAN.

— Isso não pode ser bom... — Rony murmurou ao seu lado.

Ela respirou fundo e se jogou no sofá para ler em voz alta:

FUGA EM MASSA EM AZKABAN

COMENSAIS PROMETEM VIGANÇA

Todos se lembram da última edição onde uma carta anônima nos alertou de uma possível vingança dos seguidores do já falecido Lord Voldemort. Naquela época, apenas algumas semanas atrás, posso dizer que muitos desconsideraram e até ignoraram tais palavras que até pareceram ser absurdas. No entanto, hoje o Mundo Mágico amanheceu com a notícia de que todos, literalmente todos os Comensais da Morte conseguiram fugir da prisão mais segura que já tivemos um dia.

É claro que quem acompanhou o Profeta Diário ao longo dos anos e permaneceu em alerta, já esperava por algo assim. Lembrando da primeira fuga feita por Sirius Black, seguida pela fuga de sua prima Bellatrix Lestrange e mais um grupo de Comensais da Morte que logo se mostraram um grande problema para o próprio Ministério da Magia. Até poderíamos mesmo esperar uma fuga já que nada em Azkaban foi alterado e que ainda estamos nos recuperando de uma guerra desastrosa. Mas posso confirmar com total certeza de que ninguém esperava que Azkaban se esvaziaria com tanta rapidez e facilidade.

O Ministro da Magia recentemente eleito, Kingsley Shacklebolt, não poupou palavras e alertas ao ser questionado sobre a situação: “Posso dizer que Azkaban está mergulhada em falhas há muitos anos e que foi um enorme erro nosso não cuidar disso como a nossa maior prioridade. Agora teremos que tornar nossa segurança nossa maior prioridade. Eu queria muito dizer que tudo está sob controle, mas não está. Todos os Comensais fugiram e sei por experiência própria que eles não poupam esforços para conseguirem o que querem. Eu convocarei toda a ajuda possível de dentro e fora do país, mas tenham em mente que acabamos de sair de uma guerra e que perdemos muito nesse evento. Tenham em mente que toda a ajuda possível pode não ser suficiente. Comensais da Morte se espalham e se multiplicam em uma rapidez que não conseguimos acompanhar. O meu conselho para todos do nosso povo, que moram ou não no Mundo Mágico, é que se protejam da melhor forma que conseguirem e que não saiam de casa com muita frequência. Nós já vimos que pânico não ajuda, então mantenham a atenção no que é mais importante, a vida de vocês e de suas famílias..”.

— Muito tranquilizador — Rony resmungou.

— Pelo menos ele foi sincero... — retorquiu Harry tenso.

Mas Hermione não conseguia pensar direito. Estava acontecendo de novo, estavam no meio daquela bagunça de novo. Os Comensais agora estavam soltos por ai planejando o fim de centenas, talvez milhares de vidas em nome de um mestre que foi morto por um garoto de dezessete anos.

Uma guerra era tudo que queriam no último dia do ano. Claro.

— O que diz aí? — Rony questionou tirando-a do transe.

Hermione sentiu a apreensão crescer ao observar Harry. Dessa vez o amigo parecia mais preocupado que o normal e isso se confirmou quando ele lhe lançou um olhar significativo. Ela quase chorou só por imaginar o que poderia ser.

— Família Snape desaparece no meio da noite — ele leu hesitantemente.

Ela sentiu o chão sumir sob seus pés e suas forças a abandonando gradativamente. Sua família havia sumido, seus filhos, seu marido, sua sogra. Sacrificara tanto por eles, para mantê-los a salvo e agora estavam desaparecidos.

— Fica calma, Mione — pediu Harry fazendo-a sentar no sofá.

Hermione queria dizer que ter calma era uma expressão que nem estava mais em seu vocabulário e que tudo o que queria era explodir, explodir cada canto daquela casa e cada Comensal da Morte.

Ainda se lembrava do dia em que recebera o Profeta Diário e vira seu marido e seus filhos na primeira página, estampados como a manchete em destaque da semana. Agora todos sabiam que Snape tinha filhos, não sabiam quem era a mãe. Mas naquele momento Hermione soube que algo daria errado. E enfim, deu.

— Mãe?

Ela ergueu a cabeça e encontrou Helena bem a sua frente, mas não se moveu. Haviam se visto no dia anterior, então se ela estava ali tão rápido as noticias não seriam muito boas.

— O que aconteceu? — questionou sentindo as lágrimas desabarem.

— Nós temos um plano.

As lágrimas subitamente pararam, porque Hermione previu dor em Helena, a dor da perda. Mas ao contrário disso, encontrou um sorriso.

***

Hermione viu Rony cutucar o fogo da lareira com um pedaço frio de madeira e voltar a olhar para ela com expectativa. Parecia que todos esperavam sua resposta, mas na verdade todos estavam pensando nos riscos.

— Então sugere que eu use Hogwarts como refúgio? — ela questionou fitando o fogo.

— Sim — concordou Helena sem hesitar — Todos os Snape estão lá, assim como os Weasley, o Malfoy, alguns Aurores e o Ministro.

— É mesmo seguro? — perguntou Harry.

— A veritasserum é usada toda semana em dias e horários diferentes, sem padrões. Assim como os interrogatórios. Há feitiços protetores, azarações contra traidores, todos os meios de comunicação são revistos e ninguém sai ou entra sem passar por tudo isso. Há Aurores em cada canto, centauros e até Dementadores — ela respondeu rapidamente e depois de um longo suspiro, completou — É segura. Hogwarts finalmente pode ser classificada como o lugar mais seguro do Mundo Mágico.

O trio se entreolhou. Sabiam que Hogwarts nunca seria totalmente segura, nenhum lugar era. Mesmo com todo o cuidado do mundo, havia sempre uma brecha na segurança. Só que eles não poderiam se esconder ali para sempre, algum dia aquilo tinha que acabar.

Hermione piscou algumas vezes e tentou clarear a mente. Aquela era sua chance. Reencontraria sua família e ainda teriam a chance de pôr um fim naquela maldita guerra. Com certeza era um risco que valia a pena.

— Tudo bem — concordou fazendo Helena sorrir — O que tem pra mim?

— Os professores e Dumbledore conversaram... e todos concordaram que você pode assumir o cargo de professora de Feitiços.

Hermione arregalou os olhos.

— Professora de Feitiços? E quanto a Flitwick?

— Fílio Flitwick decidiu se aposentar das salas de aula — Helena esclareceu — Mas afirmou que só vai deixar de ser diretor da Corvinal quando morrer.

Hermione hesitou. Se tivesse escolha voltaria para Hogwarts apenas para completar seus estudos, nunca havia pensando em assumir uma cadeira na mesa principal. Estava mesmo preparada para ser professora de Feitiços? Sabia o suficiente? Sua cabeça estava lotada de duvidas e essas dúvidas levavam à hesitação.

Mas toda a sua família estava em Hogwarts, estavam vivos e a esperando em Hogwarts. Como ela poderia negar? Se ser professora era sua única chance de vê-los, claro que aceitaria.

— Quando podemos ir?


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