Com o sol brilhando já pela manhã, Hermione sabia que aquele poderia ser o dia mais lindo e calmo que poderia ter nesse ano muito turbulento, mas ela também sabia que, pela dor em sua cabeça e pelas lembranças repetitivas, porem falhas que tinha da noite anterior, não seria nada fácil. E os questionamentos que ela tanto queria fugir, vieram logo pela manhã:

― Onde você estava ontem a noite, Mione? ― questionou Gina fazendo Harry e Rony largarem suas comidas e a fitarem.

Onde ela estava? Hermione faz essa pergunta a si mesma desde o momento que abriu os olhos e livrou-se de um sonho confuso. Ela não lembrava onde esteve e tampouco sabe o motivo de não ter ido dormir no lugar que lhe é direito. Hogwarts ainda estava parcialmente destruída por causa da guerra, mas Dumbledore e o restante dos professores conseguiram consertar alguns corredores e os dormitórios da Grifinória, Sonserina e Lufa-Lufa.

― Não vai responder? ― questionou Harry insistente.

― Acredite, se eu soubesse a resposta para essa pergunta, eu responderia ― disse Hermione simplesmente. Não lhe agradava não saber uma resposta a uma pergunta sobre ela mesma.

― Você não dormiu no dormitório... ― comentou Gina com certa malicia, que não passou despercebida por Hermione.

― Eu não me lembro de nada da noite passada ― Hermione apressou-se em responder ― E não tenho ideia de como não dormir na minha cama, mas acabei acordando na mesma.

― Também não consigo pensar em como isso ocorreu ― replicou Gina indiferente ― Lá pelas quatro da manhã ouvi a porta fechando, quando virei você já estava dormindo como um anjo na cama ao lado.

― Sério? ― certificou-se a castanha desacreditando que alguem a carregou pela escola e que esse não tenha sido um dos fatos que correu pela Hogwarts assustadoramente rápido.

― Nunca falei tão sério em toda a minha vida ― confirmou Gina veementemente ― Tudo o que deu tempo de ver, foi uma capa preta sumindo. Talvez o professor Snape tenha te encontrado desmaiada por ai, só ele que anda pelos corredores de Hogwarts a essa hora.

― O professor Snape? Tem certeza? ― verificou Hermione arqueando as sobrancelhas.

― Não, mas é a suspeita mais convincente que tenho e olha que sou capaz de reconhecer muitos garotos daqui ― respondeu Gina.

― Vai ver foi ele mesmo ― disse Rony indiferente ― Quem mais poderia entrar no dormitório feminino da Grifinória se não um professor? Os garotos da nossa casa não podem entrar lá, lembram?

― Ele tem razão ― concordou Harry.

― De qualquer forma... ― interviu Hermione quando sua cabeça recomeçou a doer ― Eu não vou sair por ai perguntando quem me carregou até minha cama ontem, muito menos para Snape.

Hermione realmente pensou sobre o assunto, pensou em ir lá e pergunta para o professor Snape, mas por fim, manteve sua resposta negativa. Estava claro que Severo Snape mudou depois da guerra, mostrou-se menos rancoroso, menos mal humorado e até um pouco mais divertido, mas ele ainda era Severo Snape e nunca deixará de ser aquele professor temido por ser capaz de tudo com seus alunos.

Pelo resto do dia Hermione se manteve pensativa e alheia à maioria das coisas ao seu redor. Agora estava na Mansão Black, a reconstrução de Hogwarts estava mais intensa e ninguém podia ficar lá, então todos decidiram se manter unidos aqui após a guerra, queriam estar na presença direta de seus familiares apenas para ter a certeza maior de que todos estavam ali, sãos e salvos, apesar da perda de Tonks e Lupin parecer estar palpável no ar, todos ali tentavam seguir em frente, até mesmo Sirius Black estava se saindo bem nessa “recuperação”, Dumbledore todas as noites faz questão de lembrar que eles ainda estavam presentes ao nosso redor, não em vida como queremos, mas em alma e em amor, da forma que necessitamos.

― Hermione, tudo bem? ― perguntou Harry sentando ao seu lado na sala.

― Sim Harry, estou ótima, só um pouco entediada ― revelou a castanha sorrindo de forma sincera.

― SRTA. GRANGER ― gritou Snape do andar de cima fazendo todos os presentes se sobressaltarem.

― Esse cara já devia ter cabelos brancos há muito tempo... ― zombou Rony chateado por Snape também estar morando ali, por enquanto.

― SIM, PROFESSOR? ― gritou Hermione da forma mais educada que pôde, mas sem ao menos se mexer.

― VEM AQUI NO MEU QUARTO AGORA! ― ordenou ele furioso.

― No quarto dele? ― questionou Hermione confusa ― O que há no quarto dele que...? Ah meu Merlin! ― exclamou ela assustada, ficando de pé em um pulo enquanto arregalava os olhos.

― O que houve? O que tem no quarto dele? ― questionou Sirius ainda mais confuso.

Hermione abriu a boca em exclamação.

― HERMIONE JEAN GRANGER ― chamou Snape mais uma vez.

― Ele sabe seu nome completo? ― questionou Gina.

Hermione não respondeu, saiu correndo em direção ao quarto do seu indesejado professor. Quando chegou ao destino, arregalou com os olhos, aterrorizada.

― Ai meu Merlin!

Bichento realmente havia feito um bom trabalho, se não ótimo! A cama de Snape já não existia mais, muito menos os travesseiros... Havia penas e panos por todo lado, espalhadas por quase todos os moveis do lugar e pelo o que Hermione percebia, seu gato ainda estava preso em algum lugar dentro do que deveria ser o colchão.

― Dê um jeito nesse gato, AGORA! ― ordenou Snape mais que furioso.

Imediatamente Hermione começou a correr atrás de seu animal, que parecia ser mais rápido que ela.

― Por que não consigo usar feitiços contra ele? ― quis saber o professor com a voz nitidamente controlada.

― Bichento é uma espécie magica de gatos ― revelou a castanhas sem parar de tentar pega-lo ― Possui a mente muito semelhante a do humano, muito inteligente para um gato. Ele até poderia ter-

Nesse instante Bichento pula sobre sua dona, indo em direção à Snape, mas em vez de pular no mesmo, acaba pegando sua varinha.

― Pegado sua varinha ― completou Hermione sem graça.

Já com a expressão mostrando sua fúria, Snape não esperou por mais e começou a correr atrás do gato escada a baixo, sem escolhas, Hermione fez o mesmo.

Corriam pela casa como se fossem crianças atrás de um cachorro que segurava sua bolinha, mas os que corriam não eram crianças e nem se sentiam como tal. Hermione pensou em varias formas que Snape a castigaria, uma pior que a outra. Alguma delas ele iria usar.

Os muitos moradores da casa assistiam a tudo, pasmos. Assustaram-se quando Snape riu divertido quando Hermione tropeçou no tapete e desequilibrou-se, mas não caiu. Ela o olhou, brava, sem se importa se estava ou não sendo educada. Mas ninguém sabia se ele ria por diversão ou por pura implicância.

De repente Hermione parou. E todos pareceram parar com ela. As risadas sumiram e a preocupação ficou nítida. A castanha olhou para baixo assustada e nos segundos seguintes sentiu seu corpo cair. Antes que chegasse ao chão, Snape que estava mais próximo da garota, adiantou-se e a segurou, ele encarou os olhos dela, antes firmes, agora ameaçavam soltar quentes lagrimas.

― Mione! ― exclamaram seus amigos.

Gina foi a mais rápida e chegou à amiga primeiro, que foi posta no chão com cuidado. Para a surpresa da ruiva, Hermione a puxou para um abraço e sussurrou em seu ouvido:

― Olhe para baixo.

Confusa, Gina obedeceu e assustou-se com o que viu. Agora a resposta para tudo parecia clara, voltou a olhar para a amiga pedindo informações.

― Não sei... ― murmurou Mione já sabendo o que Gina queria.

― Não cheguem perto dela! ― ordenou Gina autoritária ― Professor Snape, será que pode chamar a professora Minerva?

O professor deu de ombros e saiu sem dizer mais nada.

― Posso saber por que não posso chegar perto da Mione!? ― indignou-se Rony.

― Porque não! E se você ousar tentar, eu vou te lançar uma azaração que durará até o meio do ano letivo!

— Me ajuda... — sussurrou Hermione.

— Não se preocupa Mione. A professora Minerva resolverá tudo — garantiu a ruiva.

Ouviu-se um estalo e Minerva pareceu correndo.

— O que houve srta. Weasley?

— Parece que ela está tendo um aborto — sussurrou Gina no ouvido da professora — Nem me pergunte como isso veio acontecer...

― Meu Merlin! ― assustou-se Minerva já se aproximando de Hermione ― Srta. Granger...

A castanha a olhou de forma suplicante e depois indicou discretamente os outros da casa. Minerva entendeu.

― Todos fora daqui. Rápido ― ordenou ela ― Sem reclamação!