A Irmã De Renesmee 1ª e 2ª temp- Fanfic em revisão escrita por Karina Lima


Capítulo 89
2x47 Always a Cullen


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo!! :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/432577/chapter/89

PDV Carlie.

Eu estava pensando sobre o que aconteceu ontem. Sobre o que possivelmente havia acontecido com o Seth. Ele pode ter sido abduzido. Se existem vampiros, lobisomens e bruxas, pode existir alienígenas. Apesar de essa possibilidade parecer extremamente bizarra, eu não podia descartar. O Seth que eu conheço era o oposto do que eu vi noite passada.

O jeito que ele agia, ele nunca agiria comigo daquele jeito. Aquele não era ele. Disso eu tinha certeza. Eu o conhecia tão bem quanto o mesmo. Será que ele fora hipnotizado? Eu me lembro de quando Tifanny foi a Nova York. Aquele vampiro quase me fez olhar em seus olhos para me hipnotizar. Mas e se... Aquele não fosse o vampiro com o dom de hipnotizar? E se ela estivesse apenas tentando nos enganar para salvar o verdadeiro? Será que era esse que hipnotizou Seth? Será que ele estava tentando vingar Tifanny?

Não sei se faria sentido ela ter feito aquilo, pois se eu tivesse me rendido ao desespero do momento e deixado o vampiro me hipnotizar, teria acabado a farsa no mesmo instante. Ela não seria tola a tal ponto.

A porta se abrindo me despertou do meu transe, e meu coração foi a mil ao ver quem era. Me levantei num pulo, insegura sobre ele estar em seu estado normal. Eu fui a primeira coisa que ele enxergou, me fazendo congelar. Seu olhar possuía uma mistura de emoções: confusão, ansiedade, euforia... Engoli em seco.

No segundo seguinte, meu pai estava a minha frente, e eu quase não conseguia vê-lo.

— Seu vira-lata desgraçado. – meu pai rosnou, e ameaçou a ir para cima dele, porém o segurei a tempo. Ele poderia ir facilmente se livrando de mim, entretanto era óbvio que não me machucaria.

— Papai, mantenha a calma. Não era realmente ele.

— Eu juro que não vou machuca-la. – prometeu Seth.

— Pode nos deixar a sós por um minuto? – pedi.

— Se eu ouvir algo suspeito na sua mente, você está morto. – papai falou, e se foi.

Fiquei o tempo todo encarando o chão. O silêncio dominava a sala por completo, que era até perturbador. Eu precisava ouvir algo dele. Eu necessitava disso. Eu achava que ia explodir. Ainda sentia uma leve insegurança dentro de mim, achava que a qualquer momento ele se tornaria outra pessoa que poderia querer me agredir como ontem.

Seus passos até mim foram cuidadosos e silenciosos. Talvez ele pensasse que eu estivesse com medo. Apesar de estar um pouco, eu queria sentir seus braços protetores a minha volta. Sentir o calor do seu corpo e seu cheiro amadeirado.

Meus pensamentos se foram quando minha visão se preencheu com seus pés calçados em chinelos de dedo. Se tia Alice visse isso... Quase ri com esse pensamento.

— O que houve ontem?

Levantei minha cabeça, surpresa.

— Você não se lembra de nada?

— Eu só lembro de quando estávamos na cozinha... – ele estremeceu. – E depois na escada, quando eu estava sobre você. Carl, eu te machuquei?

— Está tudo bem, Seth. – desviei de sua pergunta. Ele nunca iria se perdoar se eu dissesse a verdade. – O que importa é que você está de volta a si mesmo.

— Responda a minha pergunta.

— Seth, eu...

— Apenas responda, Carlie.

Suspirei pesadamente.

— Quando a gente caiu na escada, eu arranhei minhas costas. Foi só isso.

— Argh! Eu sou um idiota!

Ele agarrou seus cabelos, agressivo consigo mesmo.

— Seth, meu amor. – fui até ele, colocando as mãos em seu fortes braços, tentando acalmá-lo. – Está tudo bem, não foi sua culpa.

— Foi sim minha culpa, Carl. – ele fechou os olhos, se lamentando. Os abriu de repente. Seus olhos se fixaram em algo em minha bochecha. – Não me diga que eu...

— Não, eu caí da escada da Nessie. Doeu. – reclamei, massageando o lugar já cicatrizado, e ele riu. Suas mãos pousaram em meu rosto, e ele encostou sua testa a minha.

— Me desculpe, meu amor. Eu sinto tanto, tanto...

Seu sussurro bateu em meu rosto, e eu fiquei desconcertada. Eu não prestei atenção no seu pedido de desculpas, apenas colei nossos lábios.

PDV Kathlyn.

— Te juro! Pareceu até que ele foi hipnotizado por um vampiro ou algo parecido. Bem, eu não vi, só que cheguei a tempo de vê-lo caindo no chão.

Eu me sentava confortavelmente na cama de Harry, ele a minha frente também sentado relatava o que aconteceu ontem a noite.

— Meu Deus, Harry. – falei, horrorizada. – Graças a Deus sua mãe está bem.

— Sim. Eu fiquei com o meu pai enquanto ela ia a casa da tia Nessie. Ela estava muito abalada.

— E você ficou sozinho com o seu pai naquele estado? Isso foi perigoso, Harry.

— Eu tive que fazer isso. Eu tive que fazer isso pela a minha mãe. Não podia deixar ela daquele jeito.

— Uau, quanto cavalheirismo. – falei, sorrindo.

— Não foi cavalheirismo. Eu só não podia ter deixado minha mãe numa hora dessas. Afinal, ela é minha mãe.

— Sabe, as vezes eu acho que não podia ter escolhido ninguém melhor do que você para namorar.

Ele sorriu e me beijou.

— Eu te amo muito, Kath.

— Eu também te amo, Harry. Sabe? Juro que pensei que sua mãe colocou seu nome assim por causa da banda.

— Não, foi em homenagem ao meu falecido avô. – sorriu.

O abracei apertado. Sim, achei uma Directioner. Cresci ouvindo sobre coisas dessa banda, e comecei a admirar muito eles. Não é como dizem? Tal mãe, tal filho. Ou que seja.

PDV Sarah.

— Não, não e não! – meu pai exclamou, andando furioso de um lado para o outro na sala.

Brady deu um leve aperto em minha mão, tentando me passar confiança.

— Pai, por favor! – implorei. – Sabe que não sou mais uma criança. E você sabe exatamente pelo o que estou passando, pois tia Carlie e tio Seth passaram por isso!

— E agora sabemos como é estar na pele dos pais!

— Jake, você sabe como é ter imprinting.

— Ao contrário de você, eu sei como é ser o pai!

— Jake, eu te entendo, cara.

— Pai. – cortei a conversa. – Escuta, viemos apenas avisar que estamos namorando e que nada vai nos separar. Não viemos pedir permissão.

Ele abriu a boca, incrédulo.

Eu descobri que não gostava de Alec. Fiquei com ele por alguns dias, apenas por ficar. E de repente Brady não saia da minha cabeça. Quando fui dizer isso a ele, o mesmo só faltou ir a lua e voltar de tanta felicidade.  A gente se beijou, e eu descobri que realmente gosto dele. E hoje estou apaixonada por ele. Desde que eu me declarei fazia apenas duas semanas. E ele me pedira em namoro em uma semana e cinco dias.

— Eu sou o seu pai, e se eu quiser, posso te proibir de vê-lo!

— Ah, claro, vai me fazer sofrer? Sabe que quanto mais tentar me afastar dele, mais vai nos unir.

— Jake, não precisa ser tão radical nisso. – mamãe falou em seu ouvido, com a mão em seu ombro, tentando acalmá-lo. – Eu sei o que ela está sentindo, pois assim também Carlie sentiu. E não quero que Sarah sofra.

Ele respirou fundo.

— Estou de olho em vocês dois. Não poderão ficar sozinhos, quando estiverem no quarto, a porta sempre aberta, e suas mãos – ele apontou para Brady – que não passem da cintura dela.

— Está bem, papai. – falei, feliz de qualquer jeito, e fui abraçá-lo. – Obrigada.

— Tudo pela minha princesa.

PDV Renesmee.

Não posso acreditar em como a minha menininha está crescida. E agora namorando! Só de pensar que Brady quase ficou com a minha irmã e agora namora a minha pequena.

— Nem consigo acreditar que minha filha está namorando. – Jake suspirou, deitado na cama. Seus braços atrás da cabeça e seus olhos em direção ao teto. – Ela cresceu rápido. Agora entendo a raiva de Edward em relação a vocês duas.

— Bem, agora eu entendo os dois lados. – me sentei na cama. – Sei exatamente como é estar na pele da filha, e agora também sei como é estar na dos pais.

— Para mim ela ainda é a nossa menininha.

— Sempre vai ser, Jake. Sempre vai ser. – coloquei a mão em sua barriga, já que a sua estava atrás da cabeça. Ele a tirou para segurar a minha.

— Sempre parece um sonho, né? – ele sorriu. – As vezes parece um sonho de tão perfeito. Estar com você. Estar casado com você. Ter filhos com você. Parece tão surreal.

Sorri de lado e me aproximei dele na cama.

— Eu sinto exatamente o mesmo, Jake.

Nos beijamos e depois eu decidi descer para comer algo.

— Ahh, seu idiota. Finalmente deu as caras! – exclamei ao vê-lo aos beijos com Carlie no meu sofá. Ele se levantou ao notar que eu me aproximava dele. – Se você tivesse encostado um dedo que fosse na minha irmã, eu te mataria!

Comecei a bater em seu peito, entretanto ele segurou meus pulsos enquanto Carlie apenas ria.

— Ness, você sabe melhor do que ninguém que eu jamais bateria nela. Eu a amo.

— Sim, porém o problema é: como você estava hipnotizado ou sei lá o que, poderia ter o feito!

— Eu senti na hora o que ia fazer, e meu amor foi mais forte. Eu simplesmente não me permiti fazer aquilo.

— Rãn, sei. – puxei minhas mãos das suas. – De qualquer jeito, quero que fique sabendo que já estaria com o nariz quebrado, com um olho roxo e não poderia mais ter filhos.

Carlie soltou uma gargalhada que óbvio que não queria conter.

— Posso saber do que está rindo? – perguntei furiosa, sem entender o motivo da piada.

Contudo seu riso apenas se tornou mais forte.

— Carlie, pare de rir!

E não adiantou nada. Ela chegou a chorar de tanto rir. Seth e eu fomos contagiados.

— N-não é nada. – ela conseguiu verbalizar entre ofegos. – Apenas é engraçada o jeito que você falou com o Seth.

— Você não liga de eu querer matar o seu marido?

Ela riu pior que antes.

— Vou beber algo porque se eu continuar aqui minha barriga vai encolher de tanta dor.

Ela se levantou e foi a cozinha. Fui atrás dela, e Seth me seguiu.

— Harry está bem? – Carlie perguntou, tomando um gole de suco de laranja.

— Está sim. Ele me contou como você estava antes de sair de casa.

— Seth, meu amor. Está tudo bem. – Carlie tentou amenizar sua culpa.

Ele balançou a cabeça, e entendemos isso como um “Eu nunca vou me perdoar depois do que houve”.

Apesar de eu querer matar ele, Seth não teve culpa nisso. Ele provavelmente foi hipnotizado.

Posteriormente toda a minha família que restava em Londres se reuniu na minha sala, discutindo sobre o que aconteceu com o Seth.

PDV Carlie.

— Eu não entendi. O que pode ter sido? Ou melhor, quem?

Todo mundo ficou perdido com a minha pergunta.

— Será que é alguém querendo vingar Tifanny? – sugeri.

— Quem é ela? – Alec perguntou, parecendo meio sem graça de se intrometer.

— Foi uma vampira que nos criou muitos problemas.

Apesar da preocupação, resolvemos deixar isso de lado. Portanto nunca baixando a guarda.

Decidi sair de casa um pouco. Esquecer dos problemas. A brisa fria de Londres ajudava e muito nisso para mim. Londres sempre foi meu lugar favorito depois de Nova York. Onde vários ídolos meus nasceram, já que um deles foi em Mullingar.

Adentrei o Starbucks assim que o alcancei. Queria um cappuccino.

Fiz meu pedido e me sentei em uma das cadeiras. Estava pouco movimentado hoje. Melhor. Não me sinto bem comendo ou bebendo com pessoas me olhando. Me sinto intimidada.

Senti meu celular vibrar e depois tocar na minha bolsa. O peguei rápido para não incomodar as poucas pessoas ali.

Mensagem. Do meu pai.

“Querida, quando voltar, teremos uma conversa séria.”

Na hora tentei me recordar de algo ruim que fiz. E nada vinha a minha cabeça.

— O que será que aconteceu? – perguntei para mim mesma.

Nada do que ocorreu me fez uma culpada. Seth fora hipnotizado, e eu quem fui a vítima de certa forma.

— Aqui está, senhorita.

Sorri para o simpático homem, todavia estava longe com a cabeça.

Após terminar, dei uma caminhada pelas ruas antes de voltar para casa. Coloquei o casaco no pendurador de roupas que havia perto da entrada. Senti uma sensação estranha ao ver toda a minha família reunida. Toda ela mesmo. Alec e Jane estavam num canto, como se quisessem ficar alheios a conversa e não parecerem intrusos.

— Eu juro que não fiz nada! – me defendi, levando as mãos perto do rosto.

— Ninguém te acusou de nada, querida. – vovó sorriu, amorosa.

Olhei para Seth, em busca de respostas. Apesar disso, ele desviou o olhar. Isso não é nada bom.

— Isso... Vocês estão querendo me contar algo? – pousei minha bolsa em cima da mesa, e cruzei os braços.

— Sente-se. – ofereceu papai.

— Estou muito bem aqui. – dispensei, um pouco dura. – Agora falem, sem rodeios, por favor.

Encarei Renesmee, e ela possuía um olhar de culpa. Senti minha testa enrugar-se de confusão. Pareciam que todos estavam assim.

— Querem... Falar de uma vez? – rosnei, minha paciência já se evaporando.

Meu pai foi o primeiro a se manifestar. Andou até mim e segurou minhas mãos. Odiei olhar em seus olhos e ver o mesmo olhar de todos ali.

— Se lembra do seu sonho? De que você me contara que dizíamos que é adotada?

Ao ouvir, não consegui dizer nada porque simplesmente ficou preso em minha garganta. Tratei de engolir, e quase não desceu. As lágrimas já habitavam meus olhos, e quase me deixou sem ar ele nem tentar me confortar. Eu o conhecia a ponto de saber que estaria chorando se fosse humano.

Levei a mão até a boca, descrente com a sua suposta confissão.

— Lembra que eu falei que foi apenas um sonho?

Fechei os olhos, respirando fundo. Calma, Carlie. Calma...

— Eu menti. – revelou. Arfei. – Aquele sonho teve muito significado. Mais do que imagina.

— Oh, Deus. – falei engasgada, e dei um passo involuntário para trás. Eu teria caído se não fosse pelos braços dele. – Me solta. – consegui verbalizar, me livrando dele. – Vocês não podiam ter feito isso comigo. – limpei o rosto. – Principalmente vocês dois.

Apontei para a minha irmã e meu marido.

— Como vocês...? Eu não... Oh, Deus, Como...?

— Carlie, meu amor... – Edward tentou.

— Não. – o interrompi. – Fale comigo.

— Carl, não fale assim com ele.

— E quem é você para me dar lição de moral? – dei um sorriso sem humor. – Nem minha mãe é.

Ela me encarou como se eu tivesse proferido uma tonelada de palavras horríveis.

O choro veio e me sufocou. Me tirou as forças também. E eu desabei.

Senti alguém se aproximar, e pareceu pensar melhor, pois parou.

Me recordei de quando soubemos de que, durante a gravidez da Bella, queriam nos matar. Sofri junto a Renesmee, achando que aquilo era sobre mim também. Só Deus sabe o quão enganada eu estava. Agora cá estou, decaindo aos pedaços – e sozinha – por ter sido enganada esse tempo todo. As pessoas que eu mais amo nessa vida carregaram consigo esse segredo que eu tenho todo o direito de saber, e só depois de achar o amor da minha vida, me casar, ter um filho e me mudar eu fui ter conhecimento.

...

Na varanda do meu quarto eu descansava consideravelmente. Hoje foi o dia em que eles foram embora, já que Seth conseguiu convencê-los de me deixar sozinha por um tempo.

O frio – para um humano – era moderado, e eu estava apreciando o vento bater em meu rosto. No momento era mais consolador do que um abraço de qualquer um.

Eu mal podia acreditar que meu pesadelo havia se tornado realidade. Se bem que era real há muito tempo, e o problema é que eu só fui saber de tal coisa agora.

Suspirei.

— Carl, vamos dormir? – Seth perguntou, me tirando dos pensamentos.

Colocou as mãos em meus ombros, e logo tratei de esquivar. Suspirou.

— Eu não sou uma criança para me perguntar se eu quero ir dormir. – retruquei.

— Eu sei que está chateada, amor. – afagou meu cabelo, e virei a cabeça. O que ele escolheu ignorar. – E eu não vou...

— Chateada? – o cortei, indignada com a palavra. – Você acha que estou chateada? Você não sabe de nada.

Ele ficou quieto.

— Eu vou dormir no sofá, ok? – ofereceu. – Não quero te pressionar a nada.

E se foi. Apertei os olhos, querendo me livrar das lágrimas de uma vez.

Logo já era quase de madrugada. A única luz acesa da casa era do meu quarto.

Me sentei na escrivaninha e comecei a escrever em uma folha qualquer.

PDV Seth.

Acordei de um sonho muito estranho. Estranho pois eu não me lembrava de absolutamente nada, porém acordei com um mal pressentimento.

Me levantei esfregando os olhos e fui escovar os dentes. É uma porcaria dormir no sofá minúsculo daquele, ainda mais sentado. Quem manda cair no sono enquanto assiste TV?

Entrei no quarto, e não vi Carl. Achei que estivesse no banheiro, e a minha opinião foi contrariada ao me deparar com a luz apagada. Algo branco pendurado na porta de madeira do guarda-roupa me chamou a atenção. Corri até lá, arrancando-o para ler.

Em sua perfeita caligrafia, estava escrito:

Querido Seth,

estou profundamente machucada com isso tudo, e decidi deixar tudo para trás um tempo. Sei que vão se virar bem sem mim, e confio em você para não deixar Harry cometer nenhuma imprudência. Esses adolescentes de hoje em dia ficam rebeldes com qualquer coisa, né?

Meu coração se apertou quando senti a despedida.

Não precisam se preocupar com nada, muito menos com quem ou onde estou. Vou ficar uns tempos fora de casa. Acredite, estarei – a essas horas, estou— em total segurança. Sei que não vai adiantar de nada eu lhe pedir para não avisar aos meus pais, porque com toda a certeza você o fará. Só vou logo avisando: não me acharão. Então tudo o que fizerem será em vão.

Ao invés disso, continuem suas vidas nesse período em que eu estiver fora (não sei quanto tempo será, por isso, não ocupe todo o seu tempo me procurando). Apenas cuide de Harry e de Nessie.

Com amor,

Carlie.

— Oh, meu Deus!

Com o coração a mil, deixei a carta em cima da cama e corri para achar meu celular. Ainda esbarrei em Harry no meio tempo.

— Pai, o que houve?

Peguei meu celular e disquei o número de Edward.

— Vá pegar a carta que está sobre a cama. – indiquei.

Vamos, Edward, atenda! Vamos lá...

— Seth, o-.

— Graças a Deus. – exclamei, aliviado. – Carlie foi embora! Ela deixou uma carta, e quando acordei, ela não estava mais em casa!

PDV Carlie.

Estar naquele quarto solitária era pior do que ser arremessada contra uma inocente árvore. Pois eu tinha em mente o motivo de eu estar ali. E era mais sufocador do que ter a garganta fechada por algum vampiro sedento de vingança.

Eu sabia o quanto a minha família estava desesperada para me encontrar, até mesmo porque eu lutava contra o meu próprio desespero de voltar para eles. Se bem que nunca me acharão, a não ser que dessem uma de detetive pegando todos os táxis e onibus do mundo, farejassem cada centímetro de cada automóvel para tentar capturar o meu cheiro e forçassem quem nos levou a algum lugar a falar o nosso paradeiro. O que seria total perda de tempo para eles, considerando que vim de avião.

Era estranho viajar sozinha, ainda mais considerando a situação.

Foi muito legal da parte de Nahuel me acolher. Ninguém nunca saberia onde estou.

O que mais me doia era de as minhas dúvidas de anos atrás ter sido real. Renesmee fingindo não saber de nada o tempo todo. Deve ser por isso que ela ficou magoada quando tocamos no assunto, e ela disse que era “impossível não sermos irmãs de sangue”. Isso a atingiu por saber que é verdade.

Me recordo de ela sempre perguntando da esquisitice do seu nome, porém o meu é até normal. Mamãe disse que o dela é uma místura dos nomes de nossas avós. Já o meu a mistura de Charlie e Carlisle. A quem estou querendo enganar? Não sou neta de nenhum desses!

Olhei indecisa para o meu celular, me questionando se o ligava. Por mais que estivesse machucada mais do que tudo, tinha em mente que sua intenção jamais foi me magoar. O imprinting não permite.

Decidi tirar a metade de sua preocupação.

— Alô? – hesitei.

— Carlie. – sua voz me chamou, aliviada. – Oh, Deus! Como está? Aonde você está? Por que você me deixou? Por que não está respondendo?

Sorri e as lágrimas escaparam. Era impossível não ficar sorridente com a sua preocupação.

— Carl, amor, está aí?

Fechei os olhos, apreciando o som de seu timbre.

— Estou bem. – o acalmei. Minha voz saiu tão baixa que um humano com a sua mera audição não seria capaz de detectar.

— Aonde está? – voltou a perguntar.

— Acho que não vai querer desperdiçar os poucos segundos de bateria me perguntando coisas que você sabe que não terá respostas.

— Aonde você está, por favor! – sua voz chegava a implorar. Para ele eu poderia até falar. Portanto se eu contasse, sem dúvidas contaria para a minha família. E com certeza eles viriam me buscar. A última coisa que eu queria era vê-los.

— Seth... – pedi.

— Você está longe de mim há tempo demais para o meu gosto. Não sabe como sinto a sua falta. Volta para mim, por favor.

Seu pedido era tentador até demais da conta. Cada nervo do meu corpo suplicava para atendê-lo.

— Volto. Quando as coisas se ajeitarem. – menti, tentando acalmá-lo.

— Você não vai voltar, né?

Partiu meu coração em mil pedaços ao ouvir aquilo dele. Eu estava o machucando. E me odiava por isso.

— Não é isso...

— Carlie. – me cortou, e eu prendi a respiração, temendo suas seguintes palavras. – Por favor, não me iluda. Não me deixe esperando todos os dias por você, sem você aparecer. Mesmo que não vá fazer a menor diferença, pois todos os dias eu vou acordar com a esperança de que você terá entrado por aquela janela e deitado na nossa cama. Ou que eu simplesmente acorde e veja que isso foi apenas um sonho ruim que parece real demais. E eu vou te abraçar como nunca fiz antes, e você nunca me ouvirá dizer que senti sua falta durante todo esse tempo.

Lágrimas rolaram em meu rosto, me lembrando o quanto aquilo doía mais do que a tortura de Tifanny. Eu poderia voltar para ele... Não! Eu não posso voltar.

— Seth, não faz isso comigo. – minha voz falhou, e eu não sabia mais o que falar de repente. – Sabe o quanto está sendo difícil para mim ter de encarar todos esses problemas repentinos. Isso dói tanto em mim quanto em você.

— Eu dudivo disso. – ele falou, quase por me interromper.

— Está duvidando de que eu te amo? De que sinto sua falta? Que dói sua ausência? Aposto que você sabe que eu estou frustrada com você nesse exato momento!

Ouvi seu suspiro atravessar o aparelho.

— Eu sei. E sinto muito. Só queria você de volta.

Meu celular apitou, avisando sua descarga em alguns segundos.

— Seth, eu te amo, meu amor. – falei enquanto tinha tempo. – Se lembre disso, OK? Independente do que acontecer, eu te amo muito. Diga a Harry que o amo também.

— Carl, não desligue. – pediu, e fungou.

— Eu te amo. – sussurrei antes da linha cair.

Joguei o celular em qualquer canto do piso, e me encolhi ali no canto da parede onde eu me encontrava sentada.

Encostei minha cabeça e fechei os olhos, adormecendo.

— Ei, finalmente! – Nahuel me cumprimentou, surpreso de me ver. – Estava começando a ficar preocupado com você.

Franzi o cenho, e me sentei a cadeira a sua frente, deixando a mesa entre nós.

— Preocupado? Eu cheguei aqui há algumas horas. – ri, roubando um biscoito do pote em cima da mesa.

Me olhou torto, me deixando sem graça.

— Você não está aqui há algumas horas, Carlie.

Minhas pálpebras caíram durante a minha confusão.

— O que quer dizer? – questionei.

— Você está sentada naquele quarto há quatro dias.

Arregalei os olhos, interrompendo a minha mastigação.

— Tem certeza?

Balançou a cabeça, confirmando.

— Acho que seria bom se você fosse caçar. – sugeriu, tocando de leve minhas olheiras. – Há pouca distância daqui tem uma floresta. Se quiser que eu vá junto, eu vou. Preciso caçar também.

— Bem, então vamos os dois. – forcei um sorriso e me levantei. – Apenas me deixe colocar uma nova bateria no celular.

— Te espero.

Dei as costas e fui para o quarto, o fiz e voltei. Logo saímos em direção de onde tinha dito.

Quando cheguei aqui, esperei ver Nahuel e sua família. Entretanto o que não sabia era que ele tinha uma namorada, por isso morava sozinho. E com a garota. Uma bela menina de cabelos longos e a pele escura. Seus olhos claros como mel. Híbrida também. Um ou dois anos mais nova que eu. Me senti uma intrometida ao pedir abrigo, contudo ela me adorou e insistiu para eu ficar.

Foi um alívio surpreendentemente bom ao sentir o gosto de sangue outra vez.

— Posso te perguntar algo? – Nahuel puxou assunto, chutando o corpo flácido de um jaguar para longe.

— Claro que sim. – falei, andando ao seu lado quando ele iniciou uma caminhada.

— Você já experimentou sangue humano?

Com essas palavras toda a memória veio a minha mente. Tifanny com Seth em seus braços, pronta para matá-lo se eu não a obedecesse. A dor em seus olhos pelo o que aquilo me causaria depois, meu pai tentando me convencer a não fazer tal coisa. Eu quase não conseguindo parar...

Afastei esses pensamentos.

— Sim. – respondi, encarando o chão. – E não me orgulho disso nem um pouco. Ainda mais que eu fui obrigada.

— Sério? – seu tom era de surpresa. – O que houve? Claro, se não quiser, não diga.

Suspirei, e levantei os ombros. A cada passo que eu dava, sentia uma estranha sensação de vigilância.

— Era isso ou a vida de Seth.

— Ah. Mas...

Sua frase foi brutalmente cortada por um vulto que passou por nós e se escondeu novamente, não antes de me derrubar no chão úmido e barrento cheio de grama.

— Está tudo bem? – me levantou apressado, e preocupado.

— O que foi isso? – consegui dizer. Eu me encontrava num estado perfeito de pavor.

— Eu não sei. – olhou em volta, e eu fiz o mesmo. Não encontrei nada além da densa floresta. As folhas se agitavam ansiosas contra o vento que batia nelas. No tempo frio, não era possível encontrar muito mais do que alguns pássaros por aí.

Subitamente fui arremessada para longe outra vez. Desta vez caí numa poça de lama. Ótimo. Minha roupa e cabelo estavam encharcados.

— Argh, quem está aí? – gritei, furiosa. Senti mais uma vez meu amigo vir me ajudar.

E então veio uma risada de arrepiar.

— Carlie, Carlie.

Congelei ao reconhecer a voz.

— Josua?

— Achei que não ia se lembrar de mim.

Sua voz veio de uma árvore próxima, até que ele se revelou. Nahuel me ajudou a levantar, mantendo-me perto de si.

— Então quer dizer que a mamãe fugiu de casa? – debochou. Estreitei os olhos.

— Isso não é da sua conta. – rosnei.

— Pode ser, por outro lado é da sua conta de sua família não ter me aceitado anos atrás.

— Como você queria ser aceito? Você estava junto a Tifanny o tempo todo, e nunca largou do sangue humano. Não peça por coisas impossíveis.

Arregalou os dentes, e temi o que aconteceria.

— Sua pirralha! – grunhiu, e veio furioso até mim. Nahuel se pôs a minha frente, e nem deu tempo de eu protestar, pois o mesmo fora arremessado a uma árvore. Ela se partiu com um grande barulho, e ele caiu, desmaiado.

— O que você fez? – gritei, correndo até ele. Porém fui impedida a menos de dois passos a caminho.

— Aonde você pensa que vai? – sorriu, agarrando meu pescoço e me erguendo do chão. Chutei sua barriga com toda a minha força, e meu pé reclamou muito. Além de ele quase não ter se movido. – Tcs tcs tcs, muito mal criada. Talvez eu devesse te dar uma lição...

— Não se atreva a machucá-la.

Puxei uma grande quantidade de ar, tanto pela surpresa quanto por eu conseguir fazê-lo.

Como...?

Josua não esperava por essa, pois me soltou de uma vez. Caí no chão com um baque. Me virei, tentando enxergá-lo. Meu coração deu uma batida fora do ritmo ao avistar Seth ao lado do meu pai. Tio Emmett, tio Jasper e minha mãe. Tia Alice também. Juro que fiquei com medo das feições deles, fuzilando o vampiro a minha frente com os olhos.

— Seis contra um? Isso não é covardia?

— Covardia é agredir uma mulher. – a voz de Jasper saiu fria, que até subiu um calafrio em minha espinha.

Encontrei o olhar de meu marido, que vinha em minha direção. Me colocou de pé, e o abracei. Teríamos muitas coisas para falar, porém não era o momento.

— Por que não foi embora quando demos a chance? – Edward questionou. – A deixe em paz.

— Pelo o que eu ouvi dela, ela não quer saber de vocês nunca mais. – desafiou Josua.

— Ela está apenas chateada. – Seth rosnou.

Fechei os olhos e me desencostei dele. Não sabia se era apenas isso. O mesmo buraco que abrira em meu peito quando meu pai me tirou dele a primeira vez, e de quando vi aquelas fotos de Seth e Tifanny juntos. Até mesmo da vez que tive de me fingir de morta para não machucar ninguém que eu amo. Mas desta vez foi o cúmulo.

— Estão vendo? – abri os olhos, encarando Josua. – Deixem-a ir comigo, porque...

— Está louco? – indaguei. – Você tentou me matar! Tentou matar meu amigo!

— Eu não tentei matá-lo. – se defendeu. – Apenas o arremessei para longe do meu caminho.

Isso bastou para Edward e Jazz correrem até ele, e Seth me puxou para longe.

— Nahuel. – falei, me lembrando.

Me soltei de Seth e fui até onde meu amigo estava desacordado no chão.

— Acorde, Nahuel. – balancei de leve. Tentava ficar alheia a toda a briga, porém não era lá muito sucedido.

— Ele não vai acordar agora, amor.

Tentei ignorá-lo. Conversar com ele por telefone foi uma coisa, no entanto de repente ele estava ao meu lado. Eu sentia como se nunca os tivesse deixado, e todo aquele sentimento de remorso pela adoção voltado com tudo.

— Carl, temos que conversar... Você tem que conversar com a sua família sobre...

— Para que? – vociferei, me virando para olhar para ele. – Para vocês falarem a mesma coisa? Que sentem muito por ter escondido esse segredo por toda a minha vida?

— Mas... – estrategicamente chegou perto de mim, afagando meu cabelo.

Fechei os olhos, obrigando as lágrimas escapulirem. O barulho da luta contra o vampiro já havia acabado – presumo que foi fácil, já que era cinco contra um –, e provavelmente toda a atenção estava voltada a mim.

Seth continuou.

— Não quer saber a sua história? De onde veio?

— Argh! – gritei, me ajoelhando no chão, escondendo o rosto nas minhas mãos. – Eu não quero saber de nada!

Ouvi o mato se mexendo ao meu lado. Contudo eu não me preocupei com nada. Só queria gritar para tirar tudo aquilo de dentro de mim.

Senti alguém me pegar, me erguendo do chão. Minhas narinas capturaram o cheiro doce e inconfundível de Edward. Eu não tinha forças para resistir.

...

Abri os olhos. O ambiente era completamente diferente daquele de quando eu estava na casa de Nahuel. Não havia árvores, ou mato, ou lama pelo chão. Eu não estava de pé ou nos braços de alguém, como me lembrava antes de apagar. Meu amigo híbrido não estava mais perto de mim. Eu não ouvia poucos os pássaros cantando.

Eu estava dentro de uma cabine no avião, sentada em uma poltrona. Ao meu lado estava Seth, e do outro... Bella.

— Humpf. – suspirei, encostando a cabeça no assento novamente. Eu me sentiria mais a vontade se os dois parassem de me olhar como se eu fosse fugir. – Por que não me deixaram lá? Isso é sequestro, sabia?

— Porque não é lá onde você pertence. – Bella ignorou minha fala anterior.

— E como sabe disso? – indaguei.

Ela franziu o cenho.

— Como posso saber se não sou humana e vocês me hipnotizaram para eu pensar que sou uma híbrida e viver como vocês?

Ela respirou fundo – um hábito que trouxe desde sua vida humana, que papai... Edward me contara.

— Edward? – o chamou por baixo de sua respiração.

Engoli em seco. Apesar de não estar nada bem, ainda os conhecia suficiente para isso querer dizer que ela se chateou comigo e seria a vez dele de tentar conversar comigo.

Em alguns segundos, ele tomou seu lugar.

— O que? Vai me dar um sermão por não ser uma boa filha? Tem outro castigo que não inclui me fazer viajar na classe econômica?

Eu confesso que, apesar de isso não ter importância no momento, me incomodava.

— Sabe que não te magoamos porque quisemos. – ele começou, sua voz suave suave que, odeio admitir, senti muita falta. Tive de pegar uma grande lufada de ar para conseguir conter as lágrimas. – Tente nos entender, querida.

— Eu já... tentei! – grunhi, frustrada. Chutei a poltrona da frente.

Um homem se virou para nos encarar.

— Ei! – protestou. – Estou tentando dormir.

O olhei de triunfo, ao mesmo tempo em que Edward e Seth se inclinavam contra ele. Seu olhar voou entre os dois antes de cair em mim, ele se calar e voltar para o assento. Sim, isso foi muito infantil. Mas não pude evitar.

Os lábios de Edward colaram na minha orelha, sua voz calma e profunda.

— Eu sei que pode tentar melhor do que isso, minha filha. – sussurrou, me fazendo ter um esforço para não chorar. – Conheço a minha Carlie melhor do que ela mesma. Você se foi por estar chateada, portanto não teria nos deixado chegar perto de você se nos odiasse. Por que não para de agir como tal, uh?

Engoli em seco. Jamais eu os odiaria. Só odeio o fato de sentir tanta dor por causa deles.

— Você age assim justamente para ninguém perceber os sentimentos ruins acumulados dentro de si. Tenta agir friamente para que não possamos ver que está magoada. Só posso te dizer uma coisa: não pode ir contra nós, que a conhecemos tão bem a ponto de percebermos isso.

Solucei. Edward tinha uma forma indiscutível e inestimável de fazer alguém se acalmar e enxergar a realidade. Enxergar o que está acontecendo por dentro.

...

— Hmmm. – ronronei abrindo um pequeno sorriso, me deliciando com a pessoa que estava fazedo carinho no meu cabelo. Sua mão tao delicada...

Congelei. Nahuel não estaria fazendo isso sendo que tem namorada. E se não é Nahuel aqui...

— Shhhh.

Aquela voz entrou pelos meus ouvidos causando algo grande em mim. Ela me devastou por vários motivos: ao saber que estaria magoada comigo, por tudo o que eu fiz. Porém me acalmou, apenas como ela sabe.

— Fiquei tranquila, amor. Está a salvo em casa.

Deixei que a onda de tranquilidade me atingisse, e abracei a perna da pessoa.

— Não sabe quanto tempo eu te esperei. – Bella soluçou sem lágrimas. – Eu sempre imaginava você chegando em casa, cumprimentando a todos e vindo para o seu quarto. Eu ansiava a cada segundo para que isso acontecesse.

— Me desculpe. – sussurrei sem perceber. Contudo não sabia mais o que falar.

De repente não queria que me visse chorando, então me virei, provavelmente a deixando sem reação.

Sai logo, sai logo!

— Não sabe como estamos felizes por te ter de volta. – falou calmamente, perto do meu ouvido. – Não sabe como eu estou feliz. E lembre-se: sempre foi uma verdadeira Cullen.

Como se tivesse captado meus pensamentos, depositou um beijo em meu cabelo, se levantou e saiu.

Argh! Eu queria tanto dizer que apenas os perdoava, e voltar a viver normalmente. Portanto eu não podia mentir a mim mesma. Eu sabia que não ficaria bem, pelo menos por enquanto. Edward teve a coragem de mentir na cara dura, dizendo que foi apenas um sonho e que era uma verdadeira Cullen. Renesmee me olhou nos olhos ao dizer que éramos irmãs de sangue. Por isso ninguém se pronunciou sobre isso ao entrarem no quarto. Talvez o mundo inteiro soubesse, menos eu. Nahuel assegurou que não sabia, já que Bella e Edward nunca tocaram no assunto comigo, por que falariam para ele?

Outras lágrimas.

Queria ser uma dessas pessoas que esquecem o que sentem logo e voltam a viver como se nada tivesse ocorrido. Se isso não tivesse me pegado de cheio, seria tão fácil... Argh! Não conseguia aceitar que toda a minha família sabia, menos eu. Eu. Eu quem precisava saber, afinal, a principal envolvida sou eu. Argh, que droga.

Rolei na cama, fazendo um tremendo esforço para não deixar o soluço subir garganta acima. Não queria que ninguém me visse assim. Seria horrível. Não queria deixar claro o quanto me afetaram. Apesar de que, a essa altura, não era segredo para ninguém mais. Tudo deixou evidente; a minha fuga repentina, o fato de eu não ter falado com nenhum deles até agora, e de eu não ter parado de chorar enquanto estava consciente. Do que adiantaria agora eu evitá-los para não passar tal impressão?

Os Volturi sempre arrumaram desculpas para, assim, virem atrás de nós com um propósito “justo” e nos destruírem. Parece que passaram seus últimos anos com isso na cabeça. E Tifanny! Com a sede de vingança por uma discussão tão boba quanto duas crianças brigarem por um roubo de uma bala, que ela mesma criou, e me perseguiu durante tempo que me pareceu interminável. Tentou fazer mal a mim e aos meus próximos apenas com a intenção de me atingir. Com tudo isso, nunca imaginei que a minha pior tragédia seria esta. Descobrir que a família que me protegera a vida toda, na verdade nunca foi minha família.

Rolei na cama. Como eu queria apenas deixar esses pensamentos de lado. Contudo parece que eles grudaram na minha mente como um chiclete imperdoavelmente ruim cola num sapato ao pisar nele. E foi assim. Meu cérebro não teve escolha quando pisou nas palavras enquanto elas passeavam por ali após Edward ter as soltado, e eu não fazia ideia de como limpar isso.

Pisquei ao perceber uma folha de papel muito parecida com a que eu usei para me despedir se destacando na escrivaninha do meu quarto. O escuro não me impedia muito de enxergá-la. Estava com marcas de ter sido dobrada, e agora temia em ficar reta por consequência das dobraduras. A peguei. Mesmo sem olhar as minhas palavras postas ali, pude me lembrar claramente de cada caráctere escrito pelas minhas mãos naquela madrugada que me deixou indecisa sobre tudo em minha vida. Por um tempo havia desejado não ter a minha vida; não ter meu filho, nem me casado, e nem estar com os Cullen. Ser adotada foi demais, e parecia tão surreal eu ter tudo aquilo em minhas mãos.

Afinal, o que eu tive de tão especial para eles me adotarem? De onde eu vim? Como cheguei ali?

Quase ri que, anos atrás, Edward e Bella me diriam que a cegonha teria me trazido até a porta deles, e eles ficaram tão encantados com a pequena e indefesa bebê, que decidiram ficar. E agradeceram a ave, pois era exatamente isso o que queriam: filhos. E a cegonha foi muito boazinha de ter escolhido os melhores bebês para entregar a eles dois.

“Nao sabem o quanto estamos felizes por termos vocês, meus amores”, Bella disse, afagando o cabelo de Renesmee, enquanto Edward brincava com uma mecha dos meus, me deixando cada vez com mais sono.

“Vamos agradecer a dona Cegonha por toda a nossa vida”, acrescentou ele, sorrindo como um anjo. “Mas agora é...”

“Hora de dormir” completamos a duas em uníssono, desanimadas. Quando pequenas, as horas mais felizes do nosso dia – além de recebermos a visita dos nossos melhores amigos, Seth e Jacob – era quando eles ficavam na cama conosco até a hora de dormir. Nos colocavam para tomar um banho, escovar os dentes, e fazíamos uma dança ridiculamente boba que inventamos, como um ritual para dormirmos mais alegres, e assim nos enfiávamos os quatro debaixo de uma coberta. E assim conversávamos, e conversávamos, ríamos e contávamos coisas engraças e bobas. Até as dez e meia. Pois acordávamos cedo para as aulas. Não em escolas, pois o nosso crescimento não permitia. Em compensação, Edward sempre foi um excelente professor.

“Nos deixe faltar só hoje, por favor!”, praticamente imploramos, excepcionalmente cansadas.

“Não, não e não”, essa parecia ser a sua palavra final. E não queríamos aceitá-la. Não nesse dia.

“Por favoooor!”, as duas nos ajoelhamos na cama, e juntamos as nossas mãos, dando ênfase ao nosso querer.

“Ahh, então não ligam para os sentimentos de um pobre professor que terá que passar a manhã inteira sem suas brilhantes alunas?”

Sim, ele sempre foi um chantageador muito bom. E caíamos, pois também era um ótimo ator. Ficamos com o coração partido ao vê-lo triste por estar falando a verdade – ele disse que sempre gostou de nós como alunas também –, e fomos. Depois ele nos fez esquecer essa pequena mágoa, e foi tão divertido quanto nos outros dias. Afinal, tivemos uma extraordinária noite de sono.

Suspirei. Dias maravilhosos que chegaram ao fim, já que em conclusão disto, não somos mais crianças. Não moramos mais juntos, ou pelo menos, todos perto um do outro. A realidade é completamente diferente. Somos mães, casadas, temos filhos incríveis e maridos estupendos. O que mais iríamos querer?

O que mais iríamos querer? O que mais iríamos querer?

E no final de tudo, o que mais iríamos querer?

Me sentei na cama. Minha respiração se tornou ofegante pela mudança súbita de humor. Essa pergunta ecoou pela minha cabeça até eu achar a resposta:

Nada. Nada nesse mundo eu quereria mais do que a minha vida. Não tinha enxergado o quão sortuda eu estava sendo apenas pelos Cullen terem me acolhido, seja lá como me escolheram. Não sabia com qual direito estava reclamando. Nem com qual direito estava magoada. Tenho o homem que sempre fui apaixonada ao meu lado, tive um filho que sempre me deu orgulho e procurou nunca me decepcionar. Minha irmã sempre se esforçou para me fazer ficar feliz e sempre manter um largo sorriso no rosto, mesmo que isso custasse o dela. Igualmente meus pais, cujo sempre me deram do bom e do melhor, mesmo uma vez ou outra eu sendo desobediente.

E a troco de que eles fizeram tudo isso? Para, na primeira decepção que eu tivesse, fugisse de casa como se não tivesse responsabilidades como mãe e esposa?

— Você é muito estúpida, Carlie. – murmurei comigo mesma, afundando a mão no cabelo.

Egoísta. Era isso o que eu estava sendo. Ao invés de apenas agradecer pela minha vida.

Sem pensar duas vezes, me levantei da cama e corri pelo corredor. Seth tinha acabado de sair do banheiro, e me viu ali. Ficou assustado, claro, pois não esperava que eu fosse sair do quarto tão cedo.

Pulei em seus braços.

— Me desculpe, Seth! – implorei, grudada em seu pescoço. Suas mãos me seguraram contra ele, enquanto eu me suspendia do chão. – Eu te amo tanto, me perdoe por te deixar, meu amor!

— Shhhh, não de desculpe, amor. – ele disse num tom suave, porém afetado pela alegria súbita.

— Eu sinto tanto, Seth. – chorei, ofegante contra a curva de seu pescoço.

Paramos de falar por um momento, então percebi que minhas costas estavam contra a parede. Eu inalava seu cheiro amadeirado, sentindo tanta falta dele nesses últimos dias. Seus braços musculosos me apertando contra si. Sua respiração nasalada denunciava que estava ofegante, tal como eu.

Desci do seu colo, porém continuamos na mesma posição.

— Carlie. – falou, e levantou a minha cabeça. Olhar em seus olhos me fez desejar sentir seus lábios, ainda mais quando esses pareciam tão... Beijáveis. Porém ele me deu um beijo na testa. – Não se desculpe, ok?

Decidida, beijei-lhe rápido.

— Eu te amo. – falei antes de sair correndo novamente, agora escada abaixo. Avistei toda a minha família ali, sentada nos sofás da casa grande, todos preocupados comigo. Meu pai foi o primeiro a se manifestar, visto que eu corri até ele. Se levantou na hora em que eu corri para os seus braços.

Após tudo isso, abracei cada um deles presente, me desculpei com todos eles. Tio Jazz, tia Alice, tio Emm, tia Rose, vovó, vovô, Jacob, Renesmee, Mayra – que ficou em casa com Embry todo esse tempo – e mamãe.

— Nós te entendemos, Carlie. – vovô me disse, me roubando para um abraço. – Só não faça mais isso.

Ri.

— Prometo.

O sorriso em meu rosto foi desaparecendo lentamente ao me lembrar de alguém.

— Aonde está Harry? – perguntei, e a sala toda pareceu parar por um instante.

— Está lá fora desde que voltamos. – tio Emm me respondeu. Pelo seu tom, já sabia como estava meu pequeno.

Suspirei. Desci as escadas, agora mais devagar. Me preocupava ele não querer falar comigo por causa do que eu fiz. E se ele nunca mais quisesse olhar na minha cara?

A casa parecia a mesma de sempre, provavelmente contrataram empregadas para tirar o pó de tudo. Os móveis sempre ali, para quando voltássemos daqui a oitenta anos. Tudo estaria a mesma coisa para voltarem a ficar ali.

Abri a porta, já tendo meu filho a minha vista antes mesmo de sair. Ele permanecia virado de frente a floresta, de costas para mim.

— Resolveu se despedir antes de fugir outra vez?

Respirei fundo, tentando não ser atingida por isso.

— Meu querido. – sentei ao seu lado, e ele se virou um pouco contra mim. – Eu sei que o que eu fiz não foi muito legal...

— Não foi muito legal? – perguntou, rindo sarcástico. Continuei como se ele não tivesse me interrompido.

— Mas tente me entender. – afaguei seu cabelo. Relutou antes de me deixar com a mão ali. – Poxa, eu descobri que sou adotada! Meu pai e minha irmã mentiram para mim, olhando nos meus olhos. Como acha que eu me senti?

— E como acha que eu me senti ao acordar com a notícia de que minha mãe havia nos deixado? – rebateu, e ouvi um soluço arrebentar em sua garganta.

Uma lágrima correu pela minha bochecha. O abracei por trás.

— Eu sei que te causei uma dor horrível, mas estou aqui. E não vai se livrar de mim nunca, senhor Harry.

Riu em meio ao choro, e se virou. Nos encontramos em um abraço que eu não trocaria por nada neste mundo.

Um carro de cor cinza estacionou em frente a mansão, nos deixando surpresos. Toda a minha família estava lá fora, e presumi que ninguém esperava por visita. Me levantei com Harry, o colocando atrás de mim protetoramente.

Quem saiu do carro chocou a maioria de nós. Seus cabelos castanhos batendo na direção em que o vento soprava. Seus olhos iluminados ao enxergar alguém entre nós. Um sorriso de quem achou o que tanto procurava por tanto tempo. Possuia surpresa, pois seu físico mudou e muito na transformação de humano para vampiro.

Era Gabriela.

Imediatamente meus olhos voaram em direção a Derek, que estavam arregalados como se visse um fantasma.

— Derek. – sussurrou, engasgada pela emoção de felicidade que lhe tomava conta. – Eu te procurei por tanto tempo!

Correu diretamente para os braços do meu melhor amigo, e sim, o pegando de surpresa. Derek não vacilou ao recebê-la em seus braços. Pela feição de Gabriela, isso a surpreendeu. Eles sempre foram apaixonados um pelo outro desde a época do colégio, e como melhor amiga posso afirmar que ele nunca a esqueceu. Ainda sim também foi um acontecimento que sobreveio inesperadamente; para todos nós.

— Quem é ela? – Harry sussurrou para mim, me abraçando por trás.

— É uma garota pela qual Derek era caidinho na escola. – respondi com um sorriso no rosto, observando a cena. Ela não parecia incomodada com o resto de nós.

— G-Gabriela?

— Achei que não te encontraria aqui. – ela disparou, com uma ansiedade que parecia também de felicidade por vê-lo. Recuou um pouco, e riu por ver sua cara de espanto. – Escuta, eu pensei muito e decidi vir te encontrar e tirar essa dúvida que eu carrego desde a faculdade. Eu sei que nunca quis ficar comigo porque nunca fui uma garota lá muito bonita e...

— Ei, ei, ei. – Derek a interrompeu, pessoalmente ofendido. Parecia que ele quem fora insultado. – Não quero que repita isso nunca mais! Eu te amo do jeito que você é, Gabi.

— Então por que me deixou, Der? Isso vem me perturbando durante todos esses anos. Nunca imaginei que um garoto me tiraria todas as minhas noites de sono. E você o fez. Eu nem acabei a minha faculdade: tive de arriscar te procurar uma última vez. Fiquei com medo de não te achar.

Derek pigarreou. Seu jeito de brincalhão e piadista nunca me deu espaço para ter uma ideia de como ele era romântico. Romântico e sentimentalista. E não parecia nada mal.

— Eu sempre vou te amar, Gabi. – Derek falou docemente, com receio de tocar seu rosto e não espantá-la com a temperatura. O resto de nós não ousava abrir a boca para atrapalhar, contudo parecia que os dois não se importavam com a plateia que os assistiam. – Mas eu... Eu simplesmente não posso ficar com você. Não podemos ficar juntos.

Meu queixo caiu. Juro que se ele não consertar isso, darei um soco em seu queixo. Mesmo que isso resultaria em minha mão quebrada.

— Der, não me diga uma coisa dessas. Nós podemos, se quisermos.

— Escuta, eu prometo que não tem a ver com você. É bem maior que nós dois.

— Estou disposta a enfrentar isso. – cruzou os braços, o desafiando. – Mesmo que você for o demônio em pessoa, não desistirei. – acrescentou.

Ele olhou para Carlisle, em busca de respostas. Por sua vez, meu avô consentiu com a cabeça.

Olhou feliz, apesar de ainda estar incerto, para sua amada. Colocou a mão amavelmente em sua cabeça e beijou sua testa.

— Tem certeza? – certificou-se.

— Absoluta.

Ela parecia irredutível. Sua era voz objetiva.

Pegou sua mão e a levou para dentro. Estávamos logo atrás deles.

Bem, apesar de ela dizer que não se importava de que ele era o demônio, ficou pálida ao descobrir que éramos vampiros. Claro que com exceção de mim e de Renesmee, e dos lobos. Não obstante surpreendeu a todos nós quando não saiu correndo ou algo do tipo. Nem se assustou com a temperatura do corpo dele – após explicarmos tudo. Ela parecia mais fascinada do que amedrontada.

— Eu quero que me transforme, Derek.

Os olhos do meu melhor amigo se esbugalharam.

— Está louca? – indagou. – Eu... Eu não tenho controle como os demais. Eu acabaria por te matar!

— Bem, – ela disse, tentando arrumar outra solução. Seus olhos varreram todos ali na sala. – eu não me importaria se qualquer um de vocês me tornasse uma vampira. – se virou para ele, seus olhos encharcados. – Eu só não quero te perder outra vez. Quero que fiquemos juntos.

Derek, como um bobo apaixonado, sorriu de orelha em orelha.

Nunca deixei de notar que algo faltava em sua vida. E eu sempre desconfiei que era essa menina. Derek não queria essa vida para a garota que ama, por isso a afastou de sua vida, sem deixar nenhum tipo de contato quando deixamos Forks.

— Gabi, tem certeza? Eu juro que...

— Shhhh, Der. – ela o silenciou com o dedo em seus lábios. – Eu te amo, e tudo o que eu quero é passar o resto dos meus dias com você.

— Então, temos mais um membro na família? – me pronunciei, sorrindo de lado.

Ela sorriu tímida em minha direção, sem fazer contato direto com os olhos.

— Eu não me importo de transformá-la. – Carlisle se manifestou.

E assim ficou decidido que seria como decidiram. Eu aproveitei para tocar no assunto de como eu fui adotada.

— Edward e eu fomos caçar. – Bella começou. – Quando voltamos, ouvimos um choro por ali perto. Quando nos aproximamos, encontramos um pequeno bebê enrolado em um lenço branco. Ficamos surpresos de parecer ter a mesma idade de Nessie, e ficamos ainda mais ao ouvir o palpitar de seu coraçãozinho. Era tão parecido com o de Renesmee que cogitamos as duas serem da mesma espécie. E não estávamos errados. Quando levamos para casa, decidimos ficar com você. Rosalie gostaria de ter te adotado, mas ela viu a forte ligação que vocês duas tiveram, mesmo bebês. E achou que seria saudável se crescessem acreditando que eram irmãs.

Limpei as minhas lágrimas. Ela continuou.

— Sempre quisemos contar tudo a você, porém achávamos que isso acabaria te afetando. E guardamos o segredo até onde conseguimos.

Precisei de alguns segundos para assimilar a minha verdadeira história, pois não era nada do que eu esperava. Na realidade nem eu mesma sei o que esperava.

— Então eu fui abandonada? – consegui achar forças para fazer a pergunta.

— Aparentemente. – Edward confirmou.

Então tudo foi uma coincidência. Eu ser tão parecida com Edward, até pela cor dos olhos de quando era humano. Era tudo apenas uma mera coincidência.

Engoli em seco.

— Está tudo bem. – falei. – Estou feliz com a minha vida.

Recebi abraços de todos, e abracei até Gabi. Agora que fazia parte da família, podia comparecer a todas as nossas pequenas reuniões.

Meus poderes provavelmente foram porque meus pais biológicos teriam poderes muito parecidos com os dos meus pais. Até eles ficaram surpresos por isso.

Tudo corria bem – voltamos para Boston por um tempo, antes de voltarmos para Londres –, até que um dia receberam uma ligação de Carlisle. Senti uma sensação de Déjà vu com o que acontecera: Gabriela tinha sofrido um acidente de carro, portanto não estava no hospital. Soube de tudo apenas quando chegamos do longo passeio entre casais que apenas Seth e eu, Renesmee e Jacob fomos. E o pior: Derek teve de mordê-la, pois ela estava quase sem vida. Perguntei o que ele tinha haver com isso, e me responderam que ele estava com ela no momento. Bem, ele teve de abandonar o carro ali e a levou correndo para casa, onde estavam todos na casa de Carlisle. Não houve alternativa: meu amigo teve de transformá-la. Teve de resistir ao sangue quente e delicioso que pulsava nas veias dela.

Felizmente ocorreu tudo bem. Gabriela tem se comportado bem, apesar de ter tentado me atacar uma ou duas vezes. Fora isso, estava se saindo ótima!

...

Cinquenta anos. cinquenta anos se passaram. E nada mudou. A cidade parecia a mesma de sempre.

Vovô Charlie veio falecer a anos atrás. Sue não foi diferente. Billy também. Mamãe, Seth e Jacob ficaram tão arrasados com isso. Bem, todos nós ficamos. Eu senti um pedaço do meu corpo ser pisoteado, como uma dança mexicana. Não muito tempo depois... nossa avó por parte de mãe. Nós sabíamos que teríamos de lidar com a morte dos nosso amados. Só que... foi tão repentino. Tão doloroso.

Emily está velhinha já, assim como Sam. Ele decidiu parar de se transformar, para envelhecer junto a ela. Os filhos do casal tiveram o sangue de lobo em seu genes, e acabaram por entrar na matilha de Jacob e Seth. Vivem com os pais, e dissemos que eles podem se mudar para conosco em breve. Eles sabem.

Jared e Quil foram os que mais surpreenderam de uma forma interessante: suas amadas quiseram ser vampiras para viver com eles. Mas não foi vampiras como minha família: elas beberam o sangue da Mayra. Para falar a verdade, essa espécie de vampira é mais humana possível do que a dos Cullen. Então não foi algo lá tão espantoso.

Enfim. As mudanças foram radicais. Quer dizer, quando vivemos o último momento, nunca sabemos que é o último de fato. Achamos que vai durar para sempre. Porém não. Talvez seja isso que doa. Esperamos que vá durar para sempre. Cada momento precioso que se torna único ao deixarem de existir.

Só faltava a minha, então me abaixei e pousei delicadamente a rosa na pedra. Na lápide cinza aonde dormia eternamente um ser querido que ficaria para sempre em nossos corações.

— Não acredito em como ainda sinto falta dele.

Me virei para mamãe, que tapava a boca com a mão. Ah, se ela fosse humana, estaria em lágrimas agora.

— Todas sentimos, mamãe. – Renesmee a abraçou de lado, ainda com os olhos na lápide.

As observei por um tempo. Nunca achei que superaria eu ser adotada. Ou de ter sido enganada a minha vida toda. E surpreendentemente, aqui estou eu. Esse negócio de adoção está lá no fundo da minha mente, guardado a sete chaves, sem necessidade de ser aberto. No sentido emocional. Achava que isso me incomodaria pelo resto dos meus dias. Mas não. Estou ótima sendo uma Cullen. Vinda da Bella ou não.

— Vem, Carl. – Ness abriu um braço, e fui de encontro a ela.

...

Para tentar espairecer, fomos a um parque de diversão que havia ali. Com o clima de sair a noite, e com toda a diversão que enfrentaríamos, pude me permitir sentir como a garota feliz e de sorte que eu sou.

— Deveria ter me deixado ir com você. – Seth argumentou quando Derek comentou que eu havia fugido por conta da minha adoção.

Estávamos todos da família sentados em um banco que encontramos ali perto. Alguns de nós sentaram no chão, tanto por não haver espaço suficiente para todos, quanto para não quebrar a conversa. Todos estavam ali: Mayra, Embry, Brady, Gabriela, meus tios e avós, meus pais, meu cunhado, marido e irmã. Sobrinho e filho. Enfim, a família reunida para um dia de divertimento.

— Não se esqueça de que estava tão envolvido nisso quanto os outros. – falei com um sorriso brincalhão. – Além do mais, Harry precisaria de você.

— Com certeza ele iria a casa de Nessie relatar o que aconteceu.

Ele estava sentado de frente para mim, no chão. Alguns casais escolheram sentar no colo do amado, enquanto outros acharam mais comunicativo sentar de frente para os que estavam no banco.

— Mesmo assim. – insisti. – Foi bom para ele ter ficado pelo menos com você. Imagine se ele acordasse e visse que nós dois fugimos! Nem quero pensar nisso. Ele nunca mais olharia para nenhum de nós. E o que pensaria? Que o abandonamos para viver uma fantasia adolescente?

Harry gargalhou, adorando ouvir a nossa pequena discussão.

— Ele é grande. Entenderia.

— Se eu me recordo bem, ele ficou magoado comigo. – apontei, enfiando uma colher de sorvete na boca. – Fez bem você ter ficado. De qualquer jeito, estava fora de cogitação eu chamar um de vocês. Para que? Olhar em seus olhos e lembrar justo o que eu queria esquecer? Não acho que seria uma boa ideia de espairecer.

— Nunca foi uma boa ideia. – Seth revirou os olhos. – Mas sei como se sentiu. E não te julgo.

— Ainda esperamos que não faça mais isso, Carl. – disse Jake, com os braços envolvidos na cintura de Renesmee. – Nos deixou bastante preocupados.

— Sinto muito. – pedi. – Prometo que nunca mais faço isso.

Em alguns minutos o parque fecharia, então nos retiramos. Estava maravilhoso ficar entre família, então decidimos ir para outro lugar, e não imediatamente para casa. Chegamos a uma praça, onde tinha algumas barracas com vendedores ambulantes e suas comidas ou objetos. Hoje estava especialmente um dia animado; parecia que a cidade toda estava acordada. Como se fossem festejar algo.

De repente meu olhar voou entre os rostos mais do que conhecidos por mim, cada um com um sorriso familiar no rosto de felicidade. Me deixou encantada o modo que eles pareciam radiar alegria, com suas piadas bobas sendo espalhadas, e risos de toda parte, gargalhando de qualquer coisa.

Suspirei.

Não sabia se seria a mesma dali em diante. Nunca fui uma Cullen de sangue. Apesar de que tinha certeza de que era amada por todos: minha família, os quileutes, meu marido e filho. Me trataram como uma verdadeira Cullen, como uma princesa, uma merecedora de tudo aquilo. Me mimaram como se fosse sua filha: como mimaram Renesmee. Como se eu fosse da família. Afinal, eu era um bebê conceitualmente desprotegido do meio de uma floresta perigosa, completamente abandonada. E nunca saberei – talvez não teria vontade – como foi, é ou era minha mãe biológica; boa gente, malvada ou egoísta. Talvez altruísta. Nunca saberei.

Mas estando com os Cullen foi o maior presente que Deus me deu.

E isso bastava pelos próximos anos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Irmã De Renesmee 1ª e 2ª temp- Fanfic em revisão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.