PDV Carlie.

—E foi isso que aconteceu. - ela disse com a maior naturalidade do mundo.

Então foi tudo um plano seu? perguntei incrédula. Você é louca. Papai não ouviu nada?

Ela deu de ombros.

Ness, como você podia saber que isso funcionaria... Seth, ele-ele é meu melhor amigo...

Carlie, eu sou mais perspicaz do que você pensa. Ela revirou os olhos.

Não sei se isso é certo...

Pare de pensar assim. Você tem que se arriscar. E se for mútuo?

E se não for? Vou estragar a nossa amizade! E o papai, se ficar sabendo...

Posso fazer de novo se você quiser. ela pensou, ficando animada. Temos que aproveitar do fato de o papai não saber de nada. Sou boa em esconder. Além disso, foi muito divertido.

Não, não, eu disse rapidamente, quem pode desconfiar agora é o Seth.

Revirou os olhos, mas não discutiu.

Ele desconfiou? Do seu plano? Ela negou com a cabeça.

Eu fiquei aliviada, vai que ele podia achar que eu queria beijar ele – mesmo que fosse verdade. Eu só tenho medo de uma coisa: se ele não gosta de mim do mesmo jeito que eu gosto dele? Nunca pensei que uma rejeição do meu melhor amigo doesse tanto, e isso porque não fui rejeitada ainda.

Bom, o melhor a se fazer era esquecer essa maluquice. Mais valia uma amizade verdadeira e inteira do que uma quebrada com um amor platônico.

Nessie me tirou dos devaneios puxando a coberta.

—Sua dorminhoca, já são nove e meia...

—Eu quero saber o que isso importa. - eu disse interrompendo-a – Estamos de férias, para todos os efeitos. Não vamos estudar até nos mudarmos. E desta vez vai ser em uma escola de verdade.

—Vovó decidiu fazer um almoço. Convidou-os para almoçarem aqui. - ela agiu como se eu não tivesse falado nada.

—Eles quem? – perguntei confusa.

—Jake e o Seth. - ela disse abriu as cortinas, deixando o sol invadir meu quarto. E o meu rosto!

—Nessie, não precisava fazer isso. - eu choraminguei – Poxa, para que tudo isso?

Ela riu de mim enquanto ia para a porta, dizendo:

— É o único jeito de te tirar da cama.

—Obrigada por tudo. – falei antes dela sair.

—Obrigada nada, vou querer algo em troca. – sorriu em minha direção e saiu.

Tenho a irmã mais maravilhosa – e louca – do mundo. Por causa dela tive a chance de beijar quem eu tanto amo.

Tomei um banho, e arrumei meus cabelos. Sabia que era um charme meu, então deixei meus cachos soltos. A ideia de Seth reparar em mim me deixava motivada a me arrumar melhor.

Depois de uns quinze minutos escolhendo, finalmente optei por uma calça jeans azul cintura alta, um cropped preto de alça fina, junto a um cardigã sem manga num rosa pastel, com algumas fitas nele. Por último, um tênis sapatilha preto.

Vovó estava na cozinha, o cheiro da ave que ela tinha no fogão tomava conta dali.

— Eu não entendo como consegue fazer a melhor comida do mundo sem precisar experimentar. – falei indignada, e fui lhe dar um beijo na bochecha.

— Obrigada, meu amor.

Dei uma espiada para dentro da panela, e era uma carne que vovó falou ser vitelo. E tinha uma quantidade que parecia para uma família inteira. Bom, Seth e Jacob comiam por uma família inteira.

— Depois me ajuda com uma receita nova? – sugeriu, me olhando com os olhos pidões.

— Claro que ajudo. – a abracei, com cuidado para não lhe atrapalhar ao mexer outra panela.

Meus tios e pai estavam assistindo a um jogo de baiseball. Quatro telas de uma vez. Talvez estivesse vindo uma tempestade a caminho. Tia Alice, tia Rose e mamãe estavam atentas a tela do notebook.

Peguei uma maçã, e Nessie me chamou para a floresta fora do nosso quarto.

—Jake e Seth chegaram – minha mãe disse e desapareceu.

Quase escorreguei do galho ao ouvir o nome sair da boca dela. Sorte que Nessie me segurou a tempo.

—Se nossos pais veem isso...

—Bico calado. – sibilei antes de iniciar a descida.

Apostamos corrida para ir de encontro a eles.

—E aí, Sethie. – sorri e fui abraçar seu corpo. Com uma felicidade que tive que conter, seus olhos brilharam ao ver minha roupa.

Peguei uma maçã, e Nessie me chamou para a floresta fora do nosso quarto.

— Você está linda. – falou ainda no abraço.

E de algum lugar da casa, ouvimos um pigarro. Seth, parecendo pensar o mesmo que eu, se afastou.

—Não resisti, Esme me convidou para um banquete.

—Depois de ele dizer que viria te ver. – ela o denunciou, sorrindo. Ele deu de ombros, com um sorriso sem graça.

—Eu adorei a visita. – garanti, beijando sua bochecha. Gelei por um momento. Seth sorriu.

Ajudei minha vó com a receita que ela pediu. Foi rápido.

— Eu ajudo, Esme. – Jake falou, e Seth foi junto. Eles não sabiam muito o que fazer, então vovó entregou a panela de carne para Jacob, a de macarrão para Seth, e foi com os pratos e talheres para a mesa.

—Hmmm... Está com um cheiro maravilhoso, Esme – Seth elogiou enquanto nos sentávamos a mesa.

—Uma delícia. – Jacob concordou.

— Acho que nunca vou comer comidas tão caras em toda a minha vida. – Seth disse, após vovó falar qual era a carne.

— Vocês foram num restaurante conosco uma vez. – lembrei, quando nos visitaram no nosso aniversário na ilha da mamãe.

Os dois concordaram. Naquele dia, o que gastamos no restaurante, um trabalhador comum não conseguiria pagar em dez anos de trabalho.

Depois do almoço, mergulhamos num jogo de tabuleiro, Banco Imobiliário.

E então o celular de Jacob apitou.

— Ah, fala sério. – resmungou, colocando o aparelho ao lado do jogo e se levantando. – Já volto. Preciso checar algo.

E correi para fora.

— Papai? – Ness perguntou, ainda olhando para onde ele correu.

— Leah o chamou. – respondeu, também notando o nervosismo do lobo. – Não especificou, mas é urgente.

Seth também tinha de repente um vinco de preocupação em sua testa.

Minutos depois Jacob voltou.

—Seth, Leah está nos chamando. – o chamou. – Disse que Sam quer falar conosco.

—Nos transformamos há pouco tempo - Seth ressaltou, confuso. – O que é que querem?

—Não sei exatamente. – Jacob falou e foi se despedir de Renesmee.

—Bom, volto assim que der. – Seth suspirou. – Também não quero encher o saco da Esme. Ela já é muito hospitaleira conosco.

—Sabe que ela adora vocês. – discordei. – E por ela vocês poderiam vir todos os dias.

—Só por ela mesmo. – riu, e eu entendi que ele falava da minha tia Rose. Temos a trégua, mas por ela nem existiria. Só queria distância do cheiro deles, que segundo alguns da minha família, era igual cachorro molhado.

Seth foi dar um abraço na minha irmã, e Jake bagunçou meu cabelo e me deu um abraço apertado em seguida.

— Sabe como é difícil pentear? – rosnei, pronta para lhe dar um soco, porém ele saiu correndo, rindo de mim.

—O que será que é? – eu perguntei olhando para o meu pai.

— Teremos que aguardar para sabermos. Eu só sei que vou substituir aqueles dois nesse jogo.

Sorrimos, sabendo que ele era capaz de jogar por nós quatro sem se atrapalhar.

Ficamos mais um pouco na casa da vovó. Logo estávamos todos reunidos. Algo me deixava com um pequeno vazio em meu peito, pois mesmo que fossemos nos mudar para perto um do outro, não seria mais a mesma coisa. Cada um teria sua casa, e isso seria estranho. Fiquei um tempo da ilha da mamãe, longe de todos. Porém isso não tirou o costume de estar na mansão.

Tio Emmett ficou zoando a gente e muito. Ficou o tempo todo levando tapas e broncas da tia Rose por causa das besteiras que ele falava, até uma hora que ela cansou. Depois jogamos Guitar Hero, revezamos com toda a família. Foi quase um completo impasse em tudo. Afinal, eram todos vampiros ali.

Antes de irmos dormir, Nessie e eu fomos para a floresta ao lado do nosso quarto.

—Carlie, posso te fazer uma perguntar? – ela perguntou quando estávamos um pouco longe da casa.

—Pode. – falei por impulso subindo no galho.

—O que você sente pelo Seth? – ressaltou, me fazendo ficar nervosa, pois nem eu mesma sabia responder a isso.

—C-como assim? – claro que eu tinha que gaguejar. Que droga!

—Ahh, você sabe do que eu estou falando. – falou sem se abalar com minha tentativa de fugir do assunto. Engoli em seco. –  Eu vejo o jeito que você olha pra ele. – ela apontou. – Não foi à toa que armei meu plano.

—Está tão na cara assim? – perguntei abaixando a cabeça constrangida. Para ela não havia sentido em esconder meus segredos.

—Para mim, está. Papai lê alguma coisa nos seus pensamentos. Ele te lança cada olhar, as vezes...

Quando eu ia tentar me esquivai, a salvação chegou.

—Renesmee, Carlie? – meu pai nos chamou.

—Aqui em cima. – respondemos.

—Descem daí, vocês podem cair. – ele disse alarmado.

Nós bufamos, mas descemos pulando numa perfeita aterrissagem, o fazendo ter um mini ataque cardíaco. Revirei os olhos. Quantas vezes não pulamos de lugares mais altos?

—Vamos pra casa, está ficando tarde. – ele disse ignorando o que se passou em minha cabeça.

Despedimo-nos de todos e fomos pra casa. Chegamos lá, percebi quanta terra e musgo tinham na minha roupa.

—Vou tomar um banho. – eu e a Nessie dissemos.

—Depois vou dormir. – eu disse bocejando.

—Eu também. - disse ela bocejando também. Mamãe e papai riram e nós fomos após eles nos darem nossos beijos de boa noite.

Eu quase dormi no banheiro de tanto sono. Coloquei um pijama de unicórnio e fui dormir.

Eu estava sentada em um tronco na praia de La Push admirando a beleza daquele lugar, quando sinto alguém se abaixar atrás de mim. Antes que eu pudesse me virar, sinto lábios em meu pescoço. Estremeci ao toque e suspirei, logo em seguida ouvi um riso tão familiar.

Virei-me ao dar de cara com o cara mais lindo de todo o universo. Seu rosto perto do meu. Seus lindos olhos castanhos me fitavam intensamente.

—Tenho uma surpresa para você. – ele sussurrou. Seu hálito raspando pela minha boca.

Sorri ao ouvir aquilo. Ele tirou de trás de suas costas um buquê de rosas vermelhas.

Peguei-o delicadamente.

—São lindas. Obrigada. – agradeci constrangida.

—Não mais que você. – ele discordou e fiquei sem palavras diante o elogio. Eu sentia um vento vindo em nossa direção, fazendo meus cabelos voarem. – tenho outra surpresa. – ele declarou.

—Outra? – perguntei feliz e com um sorriso no rosto.

—Feche seus olhos. – ele falou simplesmente e eu o fiz. O medo de acordar me dominava, mas me arrisquei. Senti-o se aproximar lentamente e, colar seus lábios aos meus. Sorri. Levei minhas mãos para o seu cabelo macio e ele colocou as mãos ao lado do tronco em que eu estava sentada. Ele foi me deitando lentamente na areia. Comecei a escutar um alarme tocando, mas não parecia ter nada por perto. Quando tentei virar a minha cabeça para ver o que era, Seth apertou mais seus lábios nos meus e eu me rendi. O som foi chegando mais perto e mais perto, quando, de repente...

Acordei com o meu celular apitando.