Primeiro beijo...? escrita por MariCross


Capítulo 5
E o vencedor é...


Notas iniciais do capítulo

Meu Deus! Eu estou de volta! Faz o que... mais de um mês? Quase postei essa história um ano depois (piadinha sem graça de fim de ano à parte). Gente, eu sei que é chato, mas eu realmente tenho uma ótima explicação para não ter postado antes:
1. Provas finais foram adiadas e trabalhos foram aumentados de última hora. Eu mal acreditei no meu azar e tive que estudar em dobro.
2. Problemas de saúde! Passei até por cirurgia e emergência, galera. O negócio estava feio.
3. Meu namorado veio me visitar depois de meses sem me ver. Eu tinha que aproveitar ele, minha gente. Ninguém é de ferro



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Kuroko Tetsuya sentia-se com um animal encurralado pronto para cair numa armadilha. Sua casa estava simplesmente cercada por seus ex-companheiros da Teiko. Até tentou usar o truque da porta de trás, mas eles também estavam por ali.

Conferiu na janela da frente e viu que Kagami discutia com Aomine enquanto Midorima tentava se livrar de Takao, que estava agarrado a sua perna. Na janela que dava para os fundos da casa ele observou um Akashi extremamente sério brigando com um Kise choroso e um Murasakibara desinteressado nos problemas a sua volta. Mas era estranho que ele não estava com nada de comer nas mãos ou na boca.

Como ele escaparia do grupo, ele realmente não sabia. Mesmo com a sua falta de presença, Kuroko achava que não seria capaz de passar despercebido desta vez. Suspirou pesadamente sentindo exausto com aquela situação.

– Ah... Não sabia que você era tão popular, Tetsu-chan. – Uma moça de cabelo azul claro e longo vestida casualmente agora dava uma espiada na janela da frente, parecendo se divertir com aquele estardalhaço todo.

– Eu também não sabia, mãe. – O menino retrucou irritadiço

– E isso não é algo bom? – Ele encarou com um expressão bastante animada – Tetsu-chan está sempre andando sozinho... Mamãe fica menos preocupada se você tem amigos.

– Mas eles chamam muita atenção. São barulhentos demais. Não sou adepto a esse comportamento, principalmente durante as manhãs.

– É melhor que andar sozinho, Tetsu-chan. – Fingindo estar emburrada, ela inflou as bochechas rosadas, parecendo um esquilo.

Para Kuroko, na casa dele existia uma inversão de papéis: ele às vezes sentia que ele terrivelmente mais adulto do que a própria mãe, que era muito mais “adolescente” do que ele (só no comportamento).

– Acredite, mãe. O melhor é andar sozinho. – Ele finalizou a conversa ali, sem dar direito a uma possível tréplica da mãe.

Ela caminhou em direção ao filho e bagunçou seus cabelos azuis indomáveis, com um sorriso estampado no rosto – Você é igualzinho ao seu pai. – falou em um tom suave, típico de mãe.

Apesar de detestar ser tratado como criança, ela era a sua mãe e provavelmente, na cabeça dela, Tetsuya seria uma criança para sempre. Então ele apenas deu um pequeno sorriso para ela.

Os dois se separaram para continuar os afazeres de casa antes de sair (Tetsu para a escola e sua mãe para o trabalho). Rapidamente, o menino lavou a louça e moça retirou as coisas da mesa. Enquanto sentia a água fria passar por seus dedos, Tetsuya tentava bolar um plano para escapar do grupo que o aguardava do lado de fora.

Tinha que haver algum jeito de passar despercebido. Com os olhos do imperador, Kuroko tinha certeza nada do que ele tentasse funcionaria, então passar pela porta dos fundos estava fora de cogitação. Apesar de na frente ter mais pessoas, dois eram completamente idiotas que se distraíam fácil e Takao estava segurando bem a perna de Midorima. Aquilo lhe dava uma vantagem para correr. Agora só precisava de uma distração... Mas o que poderia ser?

– Tetsu-chan, não esqueça de colocar a ração para o Nigou!

“Perfeito.” o azulado pensou.

***

Enquanto batia o pé contra o chão ritmadamente e encarava o relógio a cada segundo, Kagami Taiga sentia que sua paciência estava indo embora. Não só porque o azulado estava demorando para sair de casa, mas também porque Aomine não parava de falar sobre o que faria depois que roubasse o beijo do menor. Aquilo estava dando nos nervos não só do tigre, mas também do megane de cabelos verdes que estava por perto.

Mas o que mais estava irritando Midorima Shintarou era o fato de ter um idiota agarrado a sua perna. O que raios ele estava fazendo ali?

– Takao... Pela última vez, sai do meu pé! Literalmente!

– Shin-chan é tão mau comigo... – O moreno choramingava com as lágrimas falsas que aprendera com Kise – Você veio para cá e nem me esperou antes de ir... Shin-chan me abandonou!

– Não se preocupe... – Aomine se intrometeu – Ele não vai mais te abandonar, afinal... Eu não vou deixar motivos para ele vir para cá.

– Tão cheio de si, Ahomine... Tomara que o Kuroko te rejeite do jeito mais épico possível. – Kagami riu sarcasticamente da cara do maior.

– Não tem como o Tetsu me rejeitar, Bakagami. Ele é meu, aceite sua derrota.

– Sinto muito, Aomine. Depois que o primeiro beijo do Kuroko for meu, o destino fará com que fiquemos unidos para sempre. – Midorima sonhava enquanto olhava para o seu azul.

– Não, Shin-cha~n! – O moreno continuava choramingando.

Nesse momento, os quatro ouviram o som da porta se abrindo e os três começaram a se preparar para raptar o azulado assim que ele saísse de casa (Takao estava se preparando para não deixar o seu Shin-chan fazer isso). Surpreenderam-se quando notaram que não era o menino e sim uma moça de cabelos azuis extremamente parecida com ele.

– Wow... Uma versão do Tetsu com peitos. Que interessante. – Aomine deixou escapar. Kagami na hora deu um tapa na sua testa gritando “Essa é a mãe dele, Ahomine! Mais respeito!”.

– Eu sou a mãe do Tetsu-chan. – Ela sorriu calmamente, ignorando completamente o comentário do adolescente – Qual de vocês é o Kagami-kun?

Todos encararam o ruivo um pouco confusos e o próprio não estava diferente. O que a mãe da sua sombra poderia querer com ele?

– Ahn... Sou eu. – Depois de um tempo no modo loading, Kagami respondeu a moça.

Ela encarou o ruivo por uns segundos, como se estivesse o analisando, e de repente sorriu gentilmente. Em um movimento rápido, ela pegou algo no chão e trouxe até o ruivo.

– Tetsu-chan disse que você adora cachorros!

Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Nigou estava na sua frente latindo alegremente e tentando lamber seu rosto. Em questão de segundos, ele estava correndo da mãe de Tetsuya, que segurava o filhote, gritando como se fosse uma criancinha do jardim de infância.

Nem Midorima nem Aomine conseguiram rir da situação. Estavam chocados demais com a cena ridícula de um homem de quase 1,90m de altura estar com medo de um filhote de cachorro que era indefeso e não fazia mal a uma mosca. Takao era o único que se divertia demais com a situação, rindo até sentir sua barriga doer.

Enquanto aquela cena linda ocorria, Kuroko aproveitou o momento para escapar, saindo de fininho pela porta da frente e depois, já com uma distância segura, correndo o mais rápido possível para pegar o metrô na estação mais próxima.

Com seus olhos de falcão, é claro que o nosso querido Takao Kazunari tinha visto a fuga da sombra. Mas é claro que ele não falaria nada, não é?

***

– Oe! Essa é a segunda vez que você faz isso, seu maldito!

Aquela cena era tão deja-vú: Um Kagami arfante e suado, provavelmente porque correu demais, não só para chegar a tempo para a aula, mas também porque fora perseguido pela mãe de Tetsuya que carregava a criatura mais assustadora do mundo (para o ruivo, claro): um cachorro. Nigou, no caso.

– Ah, Kagami-kun. Bom dia. – O menor preferiu fazer-se de desentendido.

– Não me venha com esse “bom dia” calmo para cima de mim! – Os gritos furiosos do ruivo já não chamavam mais a atenção dos colegas de classe, que tomaram aquela cena como algo costumeiro – Você me deixou para trás de novo! E ainda falou para sua mãe que eu gosto de cachorros! Você quer me matar?!

– Absolutamente não, Kagami-kun. Mas devo admitir, você foi uma boa distração e eu consegui fugir sem problemas. – O azulado estava tão calmo que parecia não prestar atenção no “sofrimento” do amigo, completamente traumatizado com o que aconteceu – Agradeço a sua colaboração.

– Eu juro que vou invocar o espírito do Murasakibara e vou usá-lo para esmagar essa sua cabeça de vento, seu bastardo! – Avançou contra o menor, novamente fechando seu braço em volta do pescoço de Kuroko e bagunçando completamente o seu cabelo azul claro.

– Kaga...mi-kun... N-Não... Respiro... – “Hoje ele deve estar com mais raiva” o azulado pensou enquanto tentava inutilmente escapar daquilo.

Para a sorte do menor, aquilo não durou muito porque o professor chegou e deu outro puxão de orelha no ruivo. A aula correu normalmente depois daquilo e Kagami agora era oficialmente conhecido como o deliquente de sua sala.

***

– Kuroko-kun! Nós temos um problema!

Ao chegar na porta do ginásio para mais um treino após a aula seguido por Kagami (que ainda estava bravo por ser deixado para trás pela segunda vez e ainda ter sido usado como distração), Kuroko foi surpreendido por sua treinadora, que estava com um ar um tanto irritadiço. Logo ficou claro o porquê: um vulto loiro surgiu por trás da menina e pulou em cima do pobre azulado.

– Kurokocchi! – Kise Ryouta gritou alegremente, como se fosse um cachorrinho fazendo festa para o seu dono quando ele acaba de chegar em casa.

– Ah... Kise-kun? – Apesar de tudo, o azulado não parecia muito surpreso com a visita.

– O que faz aqui, Kise?! – É claro que o tigre já estava em posição de ataque, pronto para separar os dois e proteger a sua sombra.

– Eu também adoraria saber. – Riko parecia profundamente irritada. Aparentemente ele estava ali a um bom tempo aguentando aquele loiro desmiolado – Nada contra você, Kise-san. Mas a sua presença pode atrapalhar a sessão de treino que eu estou planejando para hoje.

– Não se preocupe. Não vou atrapalhar... – Kise fingiu ser um cãozinho obediente – Só quero roubar o Kurokocchi e seu treino pode começar.

Antes que Kise pudesse fugir com Kuroko em seus braços, o ruivo e a morena o impediram, lançando-lhe um olhar mortal. Aquilo fez até com que o loiro largasse a sua “vítima”.

– Você pode fazer o que quiser com ele, eu realmente não ligo. – A menina, que agora parecia mais com um projeto de medusa, começou a falar – Mas durante o MEU treino, NINGUÉM vai tocar nesse garoto. Entendeu?

Vendo uma horrível semelhança entre a treinadora Aida Riko e seu antigo capitão Akashi Seijuro, Kise realmente preferiu apenas concordar, sentar na arquibancada e assistir ao treino como um bom cachorrinho. Claro que ele não ficou quieto, já que a cada passe que a sombra fazia, por mais básico que fosse, ele gritava e aplaudia (e estranhamente ele vaiava quando Kagami tocava na bola de basquete), mas ninguém podia reclamar. Pelo menos ele não estava atrapalhando o bom andamento do treino.

Estranhamente, aquela calmaria não durou por muito tempo.

Quase no final do treino, numa sessão de corrida em volta do ginásio, Kuroko mal conseguia acompanhar seus companheiros de time. Suas pernas já estavam implorando por descanso e sua visão já estava um pouco turva. Para o caso de um possível desmaio do azulado, Kagami tentava ficar um pouco perto, a uma distancia segura.

– Força, Kurokocchi! – A voz do loiro vinda da arquibancada ecoava pelo ginásio, o que deixava o ruivo um pouco irritado (demais).

Por agora, o tigre devia ignorar aquela voz melosa do loiro que ecoava no local e na sua mente, e pensar em um jeito de despistá-lo assim que o treino acabasse e levar sua sombra para casa em segurança. Estava até pensando em convidá-lo para dormir em seu apartamento naquela noite, afinal nada impedia que algum deles aparecesse na casa de Kuroko e tentasse fazer algo.

“Será que eu estou muito paranóico?” o ruivo começara a pensar que as noites mal dormidas de preocupação e pesadelos com a sua sombra estavam o afetando demais. Já até começava a sentir que estavam perseguindo Kuroko naquele exato momento.

O que, estranhamente, era verdade.

– Aominecchi!

O nome chamou o ruivo de volta para a terra. Olhou para Kise na arquibancada, que estava revoltado olhando para a quadra e se preparando para correr. Quando percebeu para onde estava olhando, já era tarde demais. Enquanto Kagami estava distraído pensando, ele deixou de prestar atenção na sua sombra. O que deu tempo o suficiente para acontecer um sequestro relâmpago.

Aomine Daiki conseguiu, em poucos segundos, raptar o “seu” Tetsu, carregando o menor no estilo recém-casados, e fugir do ginásio.

– Ah, Aomine-kun. – Kuroko não parecia estar surpreso com a situação. Ele pensou que estava cansado demais e começara a ter uma alucinação.

– Yo, Tetsu. – Ele disse sem prestar muito atenção no menino em seus braços, pensando em um jeito de despistar três criaturas furiosas que corriam atrás dele naquele momento. Só para esclarecer, os três eram Kagami Taiga, Kise Ryouta e Aida Riko (e eu tenho a impressão de que, dos três, ela era a mais furiosa porque um verme *cof cof Aomine* teve a audácia de atrapalhar o seu treino).

– Posso perguntar o que você está fazendo, Aomine-kun? – Apesar de tudo, o azulado parecia indiferente a situação.

– Faz um tempo que nós não tomamos sorvete, então pensei em ir agora. – Ele continuava correndo, ignorando os monstros raivosos atrás dele.

– Agora?

– Neste exato momento.

– Não poderia esperar o treino acabar?

– Nah, estava demorando demais.

– Hm. – Kuroko conformou-se com aquelas meias respostas. Não que ele achasse aquela situação normal, mas ele não tinha força para reagir mesmo. Ele só estava realmente preocupado em como pegaria a sua mochila e seu material depois, já que deixara tudo no vestiário da escola.

– Aominecchi! Isso é contra as regras! – O loiro gritava atrás dele, correndo com tudo o que podia.

– Devolva o Kuroko, Ahomine! – Colado ao loiro, Kagami corria envolto por uma aura de tigre que acabara de ser cutucado com uma vara curta.

– Você vai me pagar por atrapalhar meu treino, seu verme inútil! – Afrente de Kise e Kagami, com uma aura que faria com que qualquer personagem dos filmes de terror parecessem coelhinhos adoráveis, Riko encarnada na forma de medusa corria atrás do jogador fantasma.

Já saindo do território da escola, atravessando os portões da Seirin, Aomine começava a ver sinais frustrados daqueles que corriam atrás dele, já que o moreno era muito veloz e começava a ganhar distância do trio enfurecido.

“Droga, eu não posso perdê-lo de vista!” o ruivo começava a dar os primeiros sinais de que perderia o fôlego a qualquer momento “Eu tenho que proteger o Kuroko!”.

“Aominecchi não pode roubar o primeiro beijo do Kurokocchi! Eu não vou deixar!” Kise agora sentia que poderia correr por mais um dia inteiro. Mas na realidade, ele não ia conseguir correr nem por vinte minutos seguidos.

Ganhando cada vez mais velocidade, Daiki corria sentindo-se o vencedor daquele jogo. Afinal nada poderia atrapalhar, ele era o mais rápido, levaria o seu Tetsu para algum lugar seguro para que nenhum daqueles idiotas tentasse nada, roubaria o tão sonhado beijo, a sombra retribuiria seus sentimentos (óbvio), largaria a Seirin de uma vez por todas, Kagami deixaria de ser a luz dele (segundo Aomine, ele nunca foi, era só uma cópia barata americana do que os japoneses faziam melhor), e viveriam felizes para sempre juntos como luz e sombra, amantes, companheiros de vida...

É, parecia justo. Por um momento, até realizável. Só tinha um pequeno problema que Daiki acabou percebendo tardiamente. Kuroko de repente tinha ficado leve demais. Quase sem peso. Quando percebeu, não tinha mais peso nenhum em seus braços, onde carregava o azulado: O menino simplesmente sumiu.

Aomine parou abruptamente de correr quando percebeu que, sem perceber, perdera a sua sombra! Quando olhou para trás, os três perseguidores a muito tinham parado de correr atrás dele e agora corriam atrás de Murasakibara que, não se sabe como, roubou Tetsuya de Aomine sem que ele nem ao menos notasse e começou a correr como um louco na direção oposta. Por mais que não quisesse, o às da Touou Academy fazia parte do trio (agora quarteto) que corria loucamente atrás do maluco que ousou tentar raptar Kuroko Tetsuya.

– Ah, boa tarde Kuro-chin. – Finalmente falando com o azulado, Atsushi parecia altamente desinteressado e indiferente com aquela situação toda, mas correndo como se sua vida dependesse disso. A visão era um tanto contraditória.

– Boa tarde, Murasakibara-kun. – Kuroko também estava mais do que indiferente. Parecia não ligar mais para tudo aquilo.

“Já cansei de pensar sobre o assunto. Além do que, estou cansado de andar. Se eles me carregarem até a estação do metrô depois, não vejo nenhum problema.” Kuroko havia chegado a tal conclusão quando ainda estava sendo carregado por Aomine.

Kise agora corria se matando de rir da estupidez de Daiki, que ainda não conseguiu alcançar nem ele, nem Kagami, nem Riko. Kagami também estava querendo rir, mas tinha que manter seu foco. Aomine era um idiota e não conseguiria nada nem se quisesse (afinal, ele se achava demais), mas com certeza Murasakibara (mesmo sendo simplesmente um outro idiota) quando queria poderia fazer acontecer. Aida Riko começava a desistir de correr.

“Aguente, Kuroko! Eu vou salvá-lo!” como em todo bom filme de perseguição no faroeste americano, Kagami apenas sonhava em resgatar sua donzela sombra.

Naquele momento, o ruivo estava se sentindo estranho. Não era o sentimento de querer proteger um amigo. Era algo mais pesado, mais escuro. Ciúmes? Mas do que? Kuroko era seu parceiro mas era só isso, não?

“Mas ele é a MINHA sombra. Ele que me disse isso.” O ruivo lembrou-se da noite em que o azulado prometeu ajudá-lo a derrotar a geração dos milagres e tornar o time de basquete da Seirin o melhor time do Japão. “Isso não significa que ele é meu?” concluiu ainda com um pouco de dúvidas. “Mas se ele é meu... Eu tenho direito a estar com ciúmes.”

Enquanto esses pensamentos um tanto quanto... Hm... Reveladores começavam a fermentar dentro do nosso querido ruivo idiota, algumas coisa aconteciam ao seu redor e ele mal percebia. Para começar, uma pré-erupção vinda do moreno que ainda não tinha alcançado a dupla Kise e Kagami (Riko acabou desistindo daquela palhaçada e resolveu jogar suas frustrações no resto do time quando voltasse ao ginásio): Aomine estava começando a entrar na zona, e se aquilo acontecesse, ninguém poderia pará-lo. Kise, apesar de ser um pouco avoado, percebeu a situação e começou a se preparar para o pior, calculando algumas estratégias para impedir que Aomine ou entrasse na zona ou chegasse perto do seu Kurokocchi.

O que ninguém estava esperando era que os olhos do imperador iriam entrar em ação, calculando uma chance perfeita para raptar o menino fantasma. Agora estavam todos correndo atrás de Akashi, que carregava Kuroko como se ele fosse tão leve quanto uma pena. O azulado agora começava a entender o que uma bola de basquete poderia sentir durante um jogo.

E foi basicamente isso que Kagami não percebeu enquanto estava refletindo sobre seu sentimentos obscuros pela sua sombra. Estranhamente, ele não chegou a conclusão alguma sobre o assunto.

***

Todos tem um físico atlético excelente, isso é inquestionável, mas nenhum dele aguentou aquela corrida por muito tempo. Kuroko foi passado literalmente de braço em braço entre os ex-companheiros de equipe (o único que não conseguiu tocar nele foi o pobre Kagami). Kise aproveitou enquanto estava correndo com ele para bulinar e apalpar certas áreas, o que fez com que Kuroko finalmente tomasse alguma atitude quanto àquela situação. O loiro não apreciou muito o tapa na cara que levou, mas o azulado não apreciou nada ter a sua bunda apalpada várias vezes.

Kagami e Aomine quase entraram na zona, mas ficaram por isso mesmo já que quando Kise soltou o azulado, o último deu uma bronca severa em todos, o que acalmou bastante os ânimos gerais, mas criou um silêncio constrangedor. Não que Kuroko se importasse: Ele estava precisando de um momento de silêncio nos últimos dias.

Todos estavam sentados em um círculo, dentro de uma quadra de basquete (onde exatamente, eles não saberiam dizer), aproveitando para descansar um pouco do exercício rigoroso. Kagami ainda fazia uma auto-análise do que sentia por Kuroko Tetsuya enquanto o silêncio ainda reinava. Acredito que ele não vá chegar a uma conclusão tão cedo.

– Nee, Kuro-chin... Vamos pegar alguma coisa para comer? Eu quero um picolé... – Murasakibara tentou soar o mais inocente possível, mas todos perceberam as segundas e terceiras intenções daquele pedido (menos o pobre Kuroko, e estranhamente Kagami, absorto em seus pensamento íntimos).

– Atsushi, mais uma palavra com más intenções para o Tetsuya e eu cortarei a sua língua da raiz. – Fuzilando o mais alto com o olhar, Seijuro silenciou qualquer um naquele círculo. – Mas seria uma ideia esplêndida tomarmos sorvete. Gostaria de me acompanhar, Tetsuya?

– Isso não é justo, Aka-chin. Eu chamei o Kuro-chin primeiro. – Antes mesmo que o fantasma pudesse falar qualquer coisa, fora interrompido pelo gigante.

– Eu também quero tomar sorvete com o Kurokocchi! – O loiro se pronunciou, falando com uma voz arrastada e extremamente manhosa.

– Depois de uma tentativa de estupro, você deveria ficar no mínimo mudo se não quiser perder os dedos, Ryouta. – Akashi falou calma e friamente, de um jeito que o loiro sentiu um horrível arrepio na espinha.

– Tentativa de estupro?! Eu não fiz nada!

– Kise-kun, acho que ainda não estou pronto para voltar a falar com você, quanto mais tomar sorvete com você. – Kuroko respondeu da mesma forma que Akashi, mas um pouco menos assustadora.

– Kurokocchi... – Kise tentava chegar perto do azulado para no mínimo abraçá-lo, mas foi impedido pelo resto do grupo que o impedia ali.

– Fique longe dele, Kise! – Aomine agora ameaçava o loiro mostrando seus punhos.

– Kise-chin, por favor mantenha-se longe do Kuro-chin. Ele é meu.

– Seu?! – Todos gritaram incrédulos (até Kagami, mas não creio que ele estava prestando atenção).

– Notei algo estranho. – Kuroko disse encarando os colegas.

– Seu amor por mim, Kurokocchi? – Disse o loiro parecendo um cachorrinho abanando o rabo para o seu dono – Fique tranquilo, isso não é estran... – Kise foi silenciado pelas mãos de Akashi, que quase arrancaram seus lábios.

– Cale-se, Ryouta. Vou mandar alguém castrá-lo para você parar de ter seus ataques de filhote no cio. – Em resposta, o loiro choramingou baixinho. – O que você notou, Tetsuya?

– Eu sabia que todos vocês vinham mesmo não avisando, mas a única pessoa que me avisou que queria me ver depois da aula não apareceu... – Ele parecia um pouco preocupado ao pronunciar-se – Será que aconteceu algo com o Midorima-kun?

– Ah, ele não pode vir. Takao-san está tomando conta dele neste momento. – Livrando-se das mãos silenciadoras de Akashi, Kise sorriu de forma maliciosa.

– Sinto que você tem envolvimento nisso, Ryouta. – Akashi o encarou com certa curiosidade.

– Digamos que eu arranjei um aliado. – Kise deu os ombros. Ele e Takao trocaram telefone e acabaram combinando de impedir Midorima a ir hoje ver o azulado. Assim os dois meio que garantiam o que era “deles”. Bem, quase: Kise ainda teria que competir com o resto, mas quanto menos concorrência melhor, certo?

– Isso é errado de tantas formas... Não que eu me importe. – Daiki apenas suspirou. Ele também concordava com a política de eliminar possíveis concorrentes para ter mais chances.

– Acho que vou em uma loja de conveniências aqui perto. Deve ter algo bom para refrescar. – Kuroko logo mudou de assunto, levantando-se vagarosamente e tirando a poeira de suas roupas. Ainda tinha que voltar para a escola para pegar seu material no ginásio, então não podia perder muito tempo.

– Ah! Eu vou com você, Kurokocchi!

– Por favor, mantenha-se a uma distância segura de mim, Kise-kun. – O azulado disse friamente, impedindo qualquer tipo de movimento brusco do loiro em sua direção. Em resposta, o loiro apenas choramingou.

– Vamos então, Kuro-chin. – O gigante da Yosen tomou as mãos do menor e saiu andando com ele na frente, deixando todos os outros para trás.

Claro que ninguém ali gostou da ousadia de Murasakibara, então quatro mãos cortaram ao mesmo tempo o “elo” entre os meninos de mãos dadas. A partir daquele ponto, uma briga silenciosa para andar de mão dadas com o menino fantasma começou: Toda vez que algum tentava, os outros imediatamente cortavam, aumentando o clima de hostilidade entre eles.

Depois de um tempo, irritado com aquilo, Kuroko escondeu suas mãos no bolso da calça, o que cessou temporariamente a briguinha infantil. Por algum motivo além de sua compreensão, seus amigos queriam ficar de mãos dadas com ele. Não que ele se importasse, mas que aquele comportamento infantil estava lhe dando nos nervos, isso era verdade.

O azulado manteve-se calado o resto do caminho, enquanto todos a sua volta estavam fazendo uma terrível algazarra sobre algo que ele realmente não estava interessado (desistiu há tempos de entender o motivo daquele comportamento), chamando atenção de quem passava. Mesmo mantendo sua expressão nada expressiva, Kuroko não podia negar que queria se esconder em algum lugar. Estava irritado com seus amigos e envergonhado. Apesar de tudo, o fantasma tinha um lado tímido.

Tirando às vezes que abriu a boca para retrucar alguma besteira pronunciada por Ahomine, Kagami ficou a maior parte do tempo calado e bastante pensativo. Às vezes o grupo até esquecia que ele estava ali, fazendo com que Kise levasse um susto toda vez que o ruivo se pronunciasse. O que estava o preocupando era aquele sentimento possessivo pelo amigo. Ficava a maior parte do tempo se perguntando se aquilo era normal e logo vinha a resposta: Não era normal! Não é como se quisesse proteger um amigo de um bando de malucos, era mais o sentimento egoísta de não querer que ninguém toque em algo que é seu.

“Mas ele não é meu. Então por que...?” o ruivo abestado não conseguia chegar a conclusão alguma. Por essas e outras o apelido dele sempre seria Bakagami.

Kuroko percebeu que sua luz estava num terrível conflito interno, mas sentiu que era algo muito particular e preferiu não interferir, mesmo estando preocupado. O que quer que ele estivesse passando, o azulado tinha a certeza de que Kagami encontraria sua própria resposta e superaria o problema.

Chegando na loja de conveniências do posto de gasolina mais próximo, cada um escolheu um picolé (Murasakibara acabou pegando outras coisas, como salgadinhos) e na hora de pagar ficaram brigando para ver quem pagaria pela sombra. Depois de muita briga e discussão, Aomine acabou ganhando e perdendo ao mesmo tempo: além de pagar por ele e pela sombra, ele acabou pagando para todos da roda, já que eles saíram andando deixando o moreno discutindo sozinho e o atendente ficou o pressionando para saber quem pagaria por tudo aquilo. Claro que Daiki não ficou nem um pouco feliz e descontou toda a sua raiva reprimida em Kise.

– Kurokocchi, me salve! – O loiro tentava chegar perto do menor, mas todos o impediam como se o fantasma fosse um pequeno tesouro que deveria ser guardado a sete chaves, bem longe de Kise.

– Afaste-se dele, Ryouta. Não me faça arrancar suas genitálias com um canivete sem nenhum tipo de anestesia. – Akashi disse seriamente apontando-lhe uma tesoura afiada (de onde ela apareceu, é um mistério).

– Kise-chin, se você chegar perto do Kuro-chin de novo, eu vou te esmagar. – O gigante pressionou suas mãos de titã contra a cabeça do loiro, apenas como uma ameaça.

– O único que pode tocar no Tetsu sou eu, Kise. Mantenha isso em mente. – Disse Aomine enquanto aplicava no loiro uma chave de braço no pescoço.

– Heh, você que pensa isso, Ahomine. – O ruivo alto começou a provocar.

– Calado, Bakagami. Uma cópia barata minha tem menos direitos que esse loiro idiota de falar. – Aomine voltou suas atenções para o ruivo, mas ainda não largara o loiro, que já estava ficando azul pela falta de ar.

– Quem você está chamando de cópia barata, seu verme?! E ainda mais de você, um narcisista sem talento que só sabe de se achar melhor que qualquer um! – Rosnou o ruivo de cabeça quente.

– Narcisista sem talento?! Sua imaginação anda fértil, Bakagami. Não está falando de si mesmo? – Retrucou sem perder a elegância, mantendo o sorriso cínico no rosto. (e sem largar Kise da chave de braço, coitado).

– Ora seu...

– Vocês são muito amigos, não? – Murasakibara comentou com pouco entusiasmo. Akashi concordou como quem não quer dizer nada.

– Não somos amigos! – Ambos gritaram em uníssono.

– Você deveriam formar um casal, assim eu ficaria com o Kuro-chin só pra mim.

– Ou você poderia misteriosamente sumir do mapa e eu ficaria com o Tetsuya. – Sorrindo calmamente, porém envolto por uma aura aterrorizadora, Akashi respondeu a audácia de Atsushi.

– Kuro-chin, me proteja. – Numa tentativa frustrada de escapar das ameaças de Akashi, Murasakibara “escondeu-se” atrás do azulado.

– Por favor não me envolva nisso, Murasakibara-kun. – O azulado disse sentindo-se desconfortável em ficar entre o gigante e o imperador. – E Kagami-kun, pare de provocar o Aomine-kun.

– Ele me chamou de cópia barata e você defende ele?! – O ruivo esbravejou.

– Você que começou. Além do que, você também o chamou de “narcisista sem talento”. Ele é muito talentoso, Kagami-kun.

– Oe, por que você também não rebateu o “narcisista”, Tetsu? – Aomine disse num rosnado.

– Porque isso não é mentira, Aomine-kun. – O pequeno disse simplesmente, com seu olhar de desinteresse – Ah, sim. Pode por favor parar de praticar bullying com o Kise-kun? Acho que ele não está mais respirando.

Depois do choque de ter sido chamado de narcisista até pelo “seu” Tetsu, Aomine largou Kise e entrou em um estado de pseudo-depressão que talvez não seria curado tão cedo. Não demorou muito para Kise recuperar a cor e sair feliz e saltitante para cima de Kuroko.

– Kurokocchi, você me salvou! – Apertando o menino contra si, Kise se aproximava cada vez mais de seu rosto – Como posso te agradecer?

– Não precisa agradecer, Kise-kun. – Kuroko falou com um tom sufocado pelo abraço de urso dado pelo loiro enquanto pensava “Só por favor, me solte.”

– Você merece uma recompensa Kurokocchi!

Kise foi se aproximando ainda mais do rosto do menino fantasma, numa velocidade que não se poderia impedir: O loiro conseguiria o primeiro beijo de Kuroko. Kagami até fechou os olhos para não ver aquilo, mais como um reflexo. Murasakibara e Akashi ainda tentariam impedir, mas sabiam que não conseguiriam.

O que aconteceu depois foi muito rápido e certeiro: Um urso de madeira em alta velocidade atingiu o rosto de Kise, que deve ter perdido um dente ou dois com o impacto. Nocauteado, o loiro desmaiou no chão. Todos olharam da direção de onde veio “projétil” e encontraram um Midorima Shintarou satisfeito e um Takao Kazunari dando uma lição de moral no maior.

– Shin-chan! Você pode ter machucado ele! – Apesar de parecer preocupado com Kise, Takao estava se concentrando para não rir da cara dele.

– Essa era a intenção, Takao. Isso é para que esse idiota aprenda a não tentar roubar algo que deve me pertencer, além de ser uma péssima influência para todos à sua volta. O melhor seria eliminá-lo. – Midorima completou ajeitando seus óculos.

– Concordo, meu caro Shintarou. Ryouta deveria ser eliminado e obviamente ele será castigado depois por tamanha ousadia. – Encarnando o demônio, Akashi sorriu enquanto dizia cada uma dessas palavras – Mas devo lhe corrigir ao dizer que ele tentou roubar algo meu e não seu.

Kuroko ainda estava estático com o ocorrido, mas logo se recuperou e falou com o megane de cabelos esverdeados como se nada tivesse acabado de acontecer.

– Midorima-kun, o que aconteceu? Achei que íamos nos encontrar depois das aulas mas você não apareceu.

– Parece que Takao e Kise estavam trocando mensagens para evitar o nosso encontro. – O megane suspirou pesadamente enquanto socava o Kazunari nas costelas – Mas é meu destino encontrá-lo, então nenhum complô fajuto me impedirá, nanodayo.

– Isso doeu, Midorimacchi! – Num pulo, o loiro se levantou irritado enquanto alisava a parte do seu rosto vermelha e inchada. Aparentemente ele não perdeu nenhum dente, para sua felicidade – Você vai acabar destruindo o meu rosto belo!

– Isso seria bem feito, Kise-chin. – Murasakibara falou indiferente, enfiando um salgadinho qualquer na boca.

– Concordo. – Aomine, Kagami e Midorima falaram em uníssono.

– Você deveria ter uma punição mais efetiva, Ryouta. Shintarou foi muito gentil com você. – Akashi disse de um jeito que Kise conseguiu confirmar a data de sua morte: hoje.

Kuroko ficou observando seus amigos discutindo um com o outro (ou todos contra Kise) por alguns momentos e não pode deixar de se sentir cansado com aquela situação, que continuava a se repetir como um disco arranhado que travava na mesma música no mesmo momento. Mesmo que apreciasse a companhia deles, sentia-se exausto com seus amigos por perto, como se todas as suas energias tivessem sido sugadas. Não lembrava de seus antigos companheiros serem tão barulhentos (menos Kise. Esse ele já estava acostumado). Estava precisando de um momento de silencio, de paz, longe de todos eles.

“E por que não agora?” o azulado pensou enquanto encarava seus amigos que estavam discutindo. Como estavam distraídos, era praticamente o momento perfeito para sumir como só Kuroko Tetsuya sabia fazer. E assim o fez.

Felizmente para ele, seus amigos demoraram demais para cair a ficha de que ele há muito desaparecera. Foi um choque para Akashi, que deixou que aquela discussão sem sentido tirasse sua atenção e os olhos do imperador perdessem o seu Tetsuya de vista. Midorima ficou frustrado porque seu horóscopo previu que hoje ele não conseguiria ficar muito tempo perto de aquarianos.

Para Kise, aquilo só podia significar sequestro, então logo ficou preocupado com o seu Kurokocchi. Aomine suspirou pesadamente, já conhecendo o seu Tetsu e a sua mania terrível de desaparecer. A vontade de socá-lo nessas ocasiões parecia, para o moreno, infinita. Murasakibara não deixou transparecer, mas ele estava realmente irritado por não ter conseguido nada com Kuroko e ainda ter perdido ele do seu campo de visão (o que não era algo raro). Takao conteve sua felicidade e fingiu estar preocupado com o desaparecido.

Mas o pior de todos com certeza era Kagami, que estava tendo uma mistura de preocupação, frustração, raiva e estado de choque. Preocupação por não saber onde sua sombra estava, se ele estava bem ou se ele tinha sido raptado novamente, agora por outro maluco. Frustração por não estar conseguindo protegê-lo de todos aqueles caras complexados. Raiva porque ele realmente ODIAVA quando Tetsuya sumia ou aparecia do nada. Aquilo deixava seus nervos a flor da pele. E ele estava em estado de choque porque Tetsuya estava perdido e, se qualquer um daqueles malucos o encontrasse sozinho, seria o fim de sua virgindade labial. Agora imagine tudo isso na mente de Kagami rodopiando com a fúria de um ciclone. Pois é, definitivamente ele estava num estado bem ruim.

– Por Kami-sama, o Kurokocchi foi raptado! – Kise começou a ter sua visão embaçada por suas lágrimas volumosas. Dessa vez, creio que eram genuínas, então era uma cena rara.

– Calado Ryouta. Tetsuya não foi raptado. – O ex-capitão falou um pouco irritado para o loiro.

– Até parece que você não está acostumado com esses sumiços do Tetsu, idiota. Ele sempre isso, não é nada incomum ou anormal. É só uma mania muito irritante dele. – O moreno disse trincando os dentes, sentindo-se impaciente e enfurecido.

– Kurokocchi fugiu por causa de vocês! – Acusando os companheiros da roda, o loiro apontou para cada um deles, o que não ajudou muito olhando para a situação que Kise se encontrava.

– O que você disse, projeto fajuto de estuprador? – Aomine rosnou para o loiro.

– Se você não ficasse agindo como uma cão no cio que sente a horrenda necessidade de fornicar na perna dos outros, talvez Tetsuya sentisse menos nojo de você e ficaria aqui conosco. – Akashi rebateu o que o loiro disse com tamanha frieza que o Alaska no inverno parecia um lugar agradável.

– Kise-chin é um cão no cio e o Kuro-chin não gosta de você. – o gigante parafraseou as palavras de Akashi, porém num tom menos assustador e bem mais indiferente.

– Por essas e outras, eu achou que você deveria ser eliminado da face da Terra, Kise. Sua presença é um estorvo e uma dor de cabeça para qualquer ser vivo. – Midorima completou ajustando seus óculos à sua face, só para dar um efeito legal. Takao continuava se segurando para não rir de Kise, que era seu comparsa para impedir que o seu Shin-chan e o fantasma ficassem juntos.

Depois de todos esses comentários de seus ex-companheiros, Kise entrou em uma profunda depressão e morreu. Mentira, ele ficou chateado (fez uma cena, chorou um pouquinho) mas logo se recuperou, já que tinha que encontrar o seu Kurokocchi e mostrar para todos aqueles malucos quem realmente ficaria com ele.

Estranhamente todos foram juntos procurar pelo fantasma, mas aquilo não passava de uma estratégia. A verdade é que ninguém realmente conseguia encontrar encontrar Kuroko já que ele era, bem... Invisível. A preocupação de cada um era que não encontrasse o menor e outra pessoa acabasse o encontrando sozinho. Então preferiram manter os amigos perto e os rivais mais perto ainda. Kagami ficou um pouco para trás para garantir que nenhum tentasse nada de muito suspeito caso eles encontrassem com a sombra. Estaria preparado para qualquer movimento estranho que, vindo daqueles malucos da Kiseki no Sedai, poderia ser qualquer coisa.

O fato mais estranho daquilo tudo não foi a facilidade de encontrar Kuroko, que era praticamente invisível aos olhos humanos. O fato mais estranho também não foi que ele estava há umas duas esquinas de distâncias já que, com o tempo que ele teve, poderia estar há uns dois ou três blocos. O mais estranho também não foi o fato de estar acompanhado por uma figura feminina.

Não. O fato mais estranho foi que Kuroko estava beijando a menina. Ou melhor, sendo beijado.

E o pior, por ninguém mais, ninguém menos que Momoi Satsuki.

***

Caminhando pela rua o mais rápida e silenciosamente possível, Tetsuya mantinha seu olhar fixo por trás do ombro, garantindo que seus amigos não tivessem descoberto ainda a sua fuga e viessem atrás dele como babuínos babões balbuciando em bando (*).

Acabou não notando o que estava a sua frente, esbarrando e derrubando alguém no meio da rua. Quando viu, a menina estava no chão, xingando o desatento Kuroko. Até que os dois notaram que se conheciam.

Momoi-san?

Tetsu-kun! – A menina levantou-se rapidamente esquecendo do tombo que acabara de levar.

Você está está bem? Estava distraído e não olhei para frente. Desculpe-me. – Kuroko fez uma pequena reverência, mantendo sua inexpressividade, mesmo estando um pouco preocupado. Estranhamente não estava nada surpreso em encontrar com ela, afinal já estava encontrando todos os membros da Kiseki no Sedai mesmo.

Estou ótima Tetsu-kun! – A menina corou um pouco, fingindo não sentir nada.

Mas o seu joelho está ralado.

Olhando agora, o joelho da menina estava bem machucado, o que fez com que Kuroko se sentisse um pouco mais culpado. Passando seus braços pelo ombros da menina, ele a levou até um banco mais próximo para que ele pudesse avaliar o machucado. Quando achou um, ajudou a menina para que ela sentasse com cuidado e foi ver o estrago que causou, o que deixou Satsuki muito envergonhada.

Não está tão ruim, que bom. – Kuroko deu um sorriso gentil para a menina de cabelos rosa, que ficou vermelha como um tomate – Gostaria de ter a minha mochila aqui, já que eu tenho alguns band-aids dentro dela, mas acabei a esquecendo na escola. Será que tem alguma farmácia por perto?

Ah, não precisa! Eu estou muito bem! Viu? – A menina tentou levantar, mas tropeçou em seus próprios pés de tão nervosa e caiu em cima de Kuroko, que a segurou prontamente em um abraço.

Hm, não acho que esteja bem...

O coração da menina batia numa velocidade que Usain Bolt ficaria com inveja. Com sua cabeça encostada no peito de Kuroko, ela conseguia esconder sua face envergonhada do menino, mas sentia que não podia perder a oportunidade de tentar algo.

Afinal, ela também estava no jogo e ela jamais deixaria que Kise roubasse algo tão precioso como o beijo de Kuroko Tetsuya.

Tetsu-kun, espero que me perdoe. Mas eu vou roubar o seu primeiro beijo!” a menina pensou já decidida, sem nem pensar em voltar atrás.

E assim o fez.

– Satsuki! O que raios você está fazendo?!

O que todos queriam falar saiu primeiramente da boca de Aomine, amigo de infância da moça de cabelos róseos que, sem nenhum pudor, continuava a pressionar seus lábios aos do azulado. Só então ela notou a presença dos demais e ficou tão vermelha quanto os cabelos de Taiga, que estava agora completamente sem chão. Murasakibara tinha deixado seu pacote de salgadinhos no chão de tanta surpresa.

– Daiki! O que faz aqui?! Ki-chan também! Akashi-kun... O que todos vocês estão fazendo aqui juntos? – A menina tentou esconder sua vergonha quando se separou rapidamente do menino fantasma, que estava estranhamente quieto encarando o chão.

– Momoicchi! O que você fez?! – Kise estava a beira de ter um ataque de pelanca, se é que não estava tendo. Pegou a menina com força pelos ombros e ficou a sacudindo enquanto ela gritava de medo e ele demarramava lágrimas pesadas por sua face.

– Largue ela Ryouta. – Akashi ordenou.

Quase imediatamente, o loiro assustado largou a menina que estava igualmente assustada com o tom do ruivo. Ela encarou aqueles olhos heterocromáticos e sentiu um arrepio terrível na espinha, sabendo que sua morte estava muito próxima e ela viria pelas mãos do imperador.

– Momoi Satsuki. – O ruivo começou a falar sem ao menos olhar para a criminosa – Você tem ideia do que fez?

Todos ficaram em um silêncio horrível, sentindo muita pena da menina. Mas quando lembraram que ela roubara o tão sonhado primeiro beijo de Kuroko Tetsuya, eles logo deixaram a pena de lado e só assistiram o seu julgamento com muito gosto.

– Akashi-kun, está tudo bem. – Kuroko interviu na situação, vendo que a menina estava bastante encrencada. Apesar de não ter apreciado o beijo, não queria que sua amiga fosse colocada na linha de fogo.

– Nada está bem, Tetsuya. Eu exijo uma explicação dela para tal comportamento.

– Momo-chin não podia fazer isso. Eu vou esmagá-la. – Murasakibara avançou para cima da menina de forma ameaçadora. Só foi impedido por Aomine, que mesmo estando revoltado não queria ver sua amiga machucada.

– Pare, Atsushi. Vamos ouvir o que ela tem a dizer. – A palavra final foi de Akashi, que acalmou os ânimos gerais antes que a menina de longos cabelos rosados começasse a falar.

Kise queria quebrar alguma coisa naquele momento. Sua raiva tomava conta de todo o seu corpo, fazendo-o tremer e bufar. Midorima ainda estava boquiaberto e paralisado enquanto Takao estranhamente o consolava (mas internamente ele dava pulos de alegria e soltava fogos de artifício enquanto seu coração dançava a Macarena).

Aomine mordia a própria língua para não gritar com sua amiga. Sentia-se frustrado e impotente: Algo que ele sempre quis e passou os últimos dias tentando arduamente fazer, a menina conseguiu em segundos com uma maldita facilidade, sem ninguém para impedir. Murasakibara ainda era segurado por Aomine, já que em seu cérebro só existia um comando naquele momento: “Esmagar”. Akashi estava tentando manter seu lado racional ativo, mas até ele mandava humilhar Momoi do pior jeito possível.

Mas creio que o estado de Kagami conseguia superar o de todos: O sentimento de que todo o seu trabalho para proteger o seu Kuroko tinha sido em vão estava o consumindo de maneira enlouquecedora. Sim, ele finalmente admitira que sentia no mínimo um sentimento forte de possessão pela sombra, mas isso não vem ao caso agora, vem? Só sei que ele só queria deitar em algum lugar, ouvir uma triste e cortar os pulsos curtir seu momento de infelicidade.

– A-Aka-Akashi-s-sama, e-eu gosto d-do T-Tetsu-kun há muito t-tempo... – A menina começou a se explicar gaguejando, mas ninguém soube dizer se era por estar com vergonha da situação ou se era por medo da reação dos meninos.

– Sinto muito, Momoi-san. Não posso retornar seus sentimentos. – A sombra fez uma pequena reverência para a garota como forma de desculpas – Mas eu te considero uma amiga muito especial.

– Ah, não tem problema, Tetsu-kun! – Ela abanou as mãos, mostrando que estava sem graça, mas escondendo que estava um pouco chateada com a rejeição – Eu já sabia que você não sentia o mesmo... Eu só queria ter o seu primeiro beijo pra mim.

– Primeiro beijo...? – Kuroko pareceu um pouco confuso.

– Momoicchi é culpada! Mandem ela para a guilhotina! – Kise gritou.

– Eu jamais ia deixar algo tão precioso como o primeiro beijo do Tetsu-kun ser seu, Ki-chan! – Momoi gritou de volta.

– Você não devia ter feito isso, Satsuki. Era para ser meu! – Aomine intrometeu-se.

– Você também estava na aposta, Dai-chan?! – Ela pareceu um pouco surpresa. O maior preferiu não responder.

– Claro que ele estava! Até o Kagamicchi estava! E você estragou tudo, Momoicchi! – Kise choramingou, parecendo uma criança mimada que acabou de deixar o pirulito cair no chão.

– Esmagar... Esmagar... – O gigante continuava a repetir para si mesmo.

– Ela... roubou... beijo... Kuroko... destino... – Midorima estava a beira de um ataque nervoso e mal conseguia formular uma frase completa. Takao o abraçou e ficou fazendo carinho em sua cabeça enquanto dizia “está tudo bem, Shin-chan. Vai passar”.

– Aposta? Do que vocês estão falando?

Kuroko parecia levemente irritado. Não entendia mais nada daquela situação e queria respostas. Todos engoliram seco, já que não pretendiam contar nada para o azulado, apenas... hum... roubar o que era deles (?). Akashi apenas suspirou pesadamente: não tinha mais porque esconder.

– Não é exatamente uma aposta. Mas descobrimos que você ainda não tinha dado o seu primeiro beijo, então eu fiz um pequeno jogo para ver quem iria conseguí-lo. – O ruivo revelou, parecendo agora sentir-se culpado – Obviamente não era para terminar sendo com esta intrusa, mas comigo. Sinto muito, Tetsuya.

– Era para ser comigo, Akashicchi! Eu que descobri que o Kurokocchi ainda era bv, então era meu por direito! – Choramingou o loiro.

– Calado, Ryouta. Você não tem direito sobre o meu Tetsuya.

– Seu? O primeiro beijo do Tetsu era para ser meu porque ELE é MEU. – Aomine esbravejou – Ele é a minha sombra, tenho mais direito do que todos vocês.

– Sua sombra? – Kagami intrometeu-se, obviamente irritado – Eu sou a luz dele agora, Ahomine.

– Cópia barata, você pode até ser a luz dele, mas ainda é tão apagado que ele nem deve te querer. Além do mais, quem iria querer um Bakagami como você?

– Ora, seu...!

– Esmagar... Esmagar...

– Meu... Destino...

– Está tudo bem, Shin-chan...

– Bakagami!

– Ahomine!

– Kurokocchi é meu~!

– Não é não, Ki-chan!

– Bando de cadelas no cio...

– Calem a boca. – Kuroko não gritou, mas disse em um tom que todos podiam escutar (o que assustou a maioria e teve o efeito silenciador desejado).

Apesar de manter a expressão calma e vazia, todos sentiam que Kuroko estava envolto por uma aura negra e assassina. Todos até se afastaram um pouco (até Akashi), porque sentiram que o fantasma seria capaz de matar alguém naquele momento (não me pergunte como).

– Vocês acham que tem algum direito sobre mim? – Todos tremeram ao ver Kuroko em “modo Akashi”. Era uma visão assustadora – Ninguém em hora nenhuma considerou o que EU sinto?

Sem resposta. Apenas um silêncio muito constrangedor.

– Vocês são sempre tão egoístas. – Kuroko suspirou pesadamente, ainda envolto pela aura aterrorizante.

– Kurokocchi, não é bem assim...

– Kise-kun, por favor cale a boca. – Aquelas palavras cortantes congelaram qualquer reação de Kise, que sentiu vontade de sair correndo e chorar por semanas embaixo do cobertor – E afinal, quem disse que esse foi o meu primeiro beijo?

Todos agora prenderam a respiração e ficaram encarando Kuroko, incrédulos. Milhões de coisas passaram na cabeça de cada um deles, mas ninguém teve coragem de dizer alto. Até que Kagami quebrou aquele silêncio.

– Esse... Não foi o seu... primeiro beijo?

– É claro que não. Por que vocês acharam que era? – Kuroko suspirou pesadamente, como se aquilo fosse a afirmação mais óbvia do mundo.

– Mas Kurokocchi! Você me disse que nunca tinha beijado ninguém! – Kise se pronunciou finalmente, um pouco desesperado. Ele não era louco, lembrava-se muito bem do que o fantasma tinha falado.

– Não me recordo, Kise-kun. Quando isso aconteceu? – Agora o fantasma estava confuso.

O loiro sentia os olhares furiosos e assassinos de todos para ele. Aquilo apenas aumentava o seu desespero e confusão. Ele não era louco, era?

– Explique-se Ryouta. – Akashi disse em um tom autoritário.

– Kurokocchi, você tem que lembrar! Aquele dia, no parque! Eu te encontrei enquanto você passeava com o Nigou... – O loiro tentava desviar dos olhares malignos, mas não adiantava. Era como se ele estivesse mentindo o tempo todo. “O que não é verdade!” pensou choramingando.

O fantasma refletiu um pouco sobre a tal cena que Kise acreditava piamente ter acontecido, mas ele realmente não conseguia se lembrar. A memória vinha e ia embora rapidamente, como se pregasse uma peça na mente do menino. Aquilo só deixava o jogador da Kaijou ainda mais angustiado. Até que...

– Ah, você está dizendo...

Era uma tarde deveras preguiçosa. Tetsuya praticamente era arrastado pelo cãozinho animado que recebera o nome “Tetsuya Nigou” por ter um olhar tão parecido com o dele. Queria continuar daquele jeito, mas o seu sossego não durou muito, pois um garoto loiro alto pulou em seu pescoço de maneira espalhafatosa, chamando a atenção de qualquer um que passasse.

Kurokocchi! – É claro que era Kise Ryouta, seu antigo companheiro de time.

Olá, Kise-kun. – O menor manteve seu tom inexpressivo, mas estava um pouco irritado. Não lhe agradava o jeito tão íntimo que Kise o tratava, mas não tinha muita coragem de dizer isso a ele – O que faz por aqui?

Trabalho como modelo aqui perto. Estou fugindo de fãs! – Kise deu um sorriso de capa de revista que faria qualquer um se derreter – Sou muito popular, sabe?

Kuroko apenas revirou os olhos, mesmo já acostumado com os ataques de fama que o loiro tinha.

E o que elas querem de você, Kise-kun? Autógrafos? – Kuroko deixou com que ele falasse, já que não achava de bom tom cortá-lo.

Um beijo meu.

E isso é valioso?

Claro que é, Kurokocchi! Eu sei que até você gostaria de um beijo meu.

Não, obrigado.

Ai, essa doeu! Assim você vai quebrar o meu coração.

Os dois continuaram caminhando e Kise ia falando sua “vasta” experiência com línguas e céus da boca. Era mais um monólogo, já que aquele assunto pouco interessava para Kuroko.

E você, Kurokocchi?

Eu o que?

Conte-me suas experiências!

Kuroko refletiu um pouco. Pensou em sua nada vasta experiência com beijos e só conseguiu lembrar de Nigou lambendo sua boca por acidente. “Não acho que isso conte” ele concluiu.

Não acho que eu tenha nenhuma experiência válida.

Vamos, Kurokocchi! Você já deve ter tido alguma.

Não acho que eu tenha, afinal eu nunca beijei ninguém.

Kise piscou várias vezes incrédulo.

O que você disse, Kurokocchi?

O menor o encarou sem entender o porque de todo aquele questionário que Kise fazia desde que chegou e repetiu a sua resposta a pergunta do loiro.

Eu nunca beijei ninguém, Kise-kun. – Kuroko repetiu um pouco impaciente.

Mas num pequeno flash de reflexão, lembrou-se de algo. Uma pequena memória que quase havia sido deletada, mas sobreviveu ao tempo. Quando virou-se para Kise, o garoto já não estava mais ao seu lado. Ele saíra correndo como um louco e deixara Kuroko completamente sozinho.

O menor achou aquilo um pouco rude, mas pensou que Kise podia estar passando mal ou estar correndo de uma fã enlouquecida, então apenas marcou o ocorrido como irrelevante e o incidente foi deletado de seus pensamentos.

– Acho que você deveria ouvir as pessoas até o final, Kise-kun. É muito rude deixá-las sozinhas em um parque enquanto ambas as partes estavam conversando.

– Mas você disse... – Kise choramingou.

– Eu logo em seguida me lembrei que uma garota tinha me beijado na cerimônia de abertura dos meus anos de ensino fundamental na Teiko. Acho que foi acidental, já que ela saiu correndo, mas isso conta como meu primeiro beijo. – O menor disse simplesmente.

Agora todos estavam seriamente pensando em aniquilar o jogador da Kaijou.

– Quer dizer que por causa de uma burrice sua, Ryouta, nós fizemos esse circo todo? – Akashi estava envolto por uma aura escura e assassina.

– Hoje o horóscopo disse que era um péssimo dia para ser de gêmeos e que coisas terríveis poderiam acontecer com uma pessoa com esse signo. Acho que vou facilitar o processo. – Midorima apertou as faixas dos dedos, pronto pra surrar o loiro idiota. Takao apenas fazia uma força imensa para segurar o riso.

– Kise-chin, eu vou te esmagar até você virar purê. – Murasakibara esbravejou.

– Prepare-se para morrer, Kise. – Aomine avançou para cima do loiro pronto para feri-lo gravemente. Até Momoi queria bater no loiro.

Enquanto o grupo cercava um Kise amedrontado, Kuroko encarava aquela situação um pouco irritado (afinal, a culpa de estar sendo perseguido a semana toda era de Kise) mas estava pelo menos mais calmo: tinha certeza que o grupo não iria mais ficar em cima dele por um tempo.

Olhou para o relógio e viu que estava ficando tarde. Ainda teria que buscar seu uniforme e material que deixara (não intencionalmente) no ginásio da escola. E assim, Kuroko sumiu sem deixar rastros enquanto o grupo estava distraído demais para perceber qualquer coisa.

O único que percebeu foi Kagami Taiga.

***

– Kuroko!

O menor olhou para trás e viu a figura de seu melhor amigo e luz correndo em sua direção. A visão o agradou um pouco. Apreciava o silêncio e a paz, mas também apreciava a companhia de Kagami: ele sempre o deixava calmo, mesmo que o ruivo não fosse a pessoa mais calma do mundo.

Quando o alcançou, o ruivo para um pouco para respirar fundo. Agora que aquilo com certeza tinha acabado, ele se sentia um pouco mais leve, já que não precisaria proteger os lábios da sua sombra daquele bando de malucos (pelo menos por enquanto). Mas ainda sim, sentia-se frustrado. Acabara de entender uma parte do que sentia pela sombra e agora não sabia mais o que fazer com aquela informação. Era quase um desperdício.

– Eu odeio essa sua mania de sumir. – Jogou suas frustrações no menor com outras palavras – Como pôde me deixar para trás com eles?! E o pior, DE NOVO!

– Você parece se dar tão bem com o Aomine. Acho que é um bom jeito de aprimorar a amizade entre os dois. – A sombra manteve sua expressão vazia, mas Kagami sabia que ele estava tirando uma com a cara dele.

– Ora seu...! – Kagami o segurou do melhor jeito que pôde e bagunçou os cabelos azuis sem nenhuma piedade – Eu não sou amigo daquele Ahomine! – Esbravejou.

– Kagami-kun, isso é bullying. – O menor falar em um tom inexpressivo, mas não significava que ele não se importava com seu cabelo. Só o pensamento de que teria que penteá-lo novamente o deixava com calafrios.

Finalmente notando a proximidade entre seus corpos, o ruivo começou a corar ferozmente.

– Isso é para você deixar de ser atrevido. – Falou soltando o menor, tentando esconder seu próprio rosto. Não queria que o fantasma o visse naquele estado.

Aquilo gerou um silêncio contínuo e um pouco constrangedor (pelo menos para Kagami) enquanto caminhavam de volta para a Seirin High School. O mais alto olhava para Kuroko e quando sentia que o menor estava o encarando, rapidamente desviava o olhar. Aquilo era uma cena ridícula mas também era muito fofa.

“O que eu sou? Um menino do primário?” Kagami sentia vergonha de suas ações, mas realmente não sabia como agir naquele momento.

– Kagami-kun, posso te perguntar uma coisa?

– C-claro. – Tentou esconder sua surpresa ao escutar a voz de Kuroko, afinal ele quase nunca iniciava uma conversa, e quando começava, geralmente era algo muito filosófico para o ruivo compreender.

– Você estava participando dessa... aposta? – Kuroko olhava para frente, como se não tivesse dito nada. O ruivo apenas balançou a cabeça positivamente, evitando olhar para o amigo – Por que?

– Aqueles caras são loucos, eu não podia deixar eles tirarem algo tão precioso de você. – Ele tentou manter a voz controlada.

– Precioso? – O menino segurou o riso – Meu “primeiro beijo” pode ser considerado algo tão precioso assim, Kagami-kun?

– C-claro que sim! O primeiro beijo é importante, certo?! – O maior começou a ficar muito vermelho. Lembrava-se que o primeiro beijo dele foi roubado (maldita Alex!), então ele era um pouco encucado com essas coisas.

– Eu não acho. Acho que existem outros que são mais importantes. – Kuroko agora sorria calmamente, algo que fascinava o ruivo – Por exemplo, um beijo com alguém que você gosta. Um beijo roubado não tem valor algum perto desse, certo?

– Acho que sim...? – Kagami sentia que a sombra começaria a filosofar, então instintivamente sua cabeça já começava a latejar. É um Bakagami mesmo – Não sei, não me recordo de ter tido um desses.

De repente Kagami notou que o menor não estava ao seu lado. Olhou para trás e notou que ele estava parado a poucos metros de distância. Parecia um pouco pensativo, um pouco voado.

– O que foi? – Ele disse um pouco confuso.

– Nada... Só foi um pensamento estranho.

Kagami se aproximou dele um pouco preocupado.

– Nunca é nada. Fala logo, assim você me deixa menos nervoso. – Falou um pouco sem jeito, mas pelo menos foi sincero.

O que aconteceu depois foi muito rápido para Kagami processar em seu pequeno cérebro: Kuroko se aproximou dele e selou seus lábios com o do maior rapidamente. Da mesma maneira rápida, separou-se dele e ficou o encarando, agora parecendo um pouco mais leve e feliz. O tigre agora estava completamente congelado.

– Ku-Kuroko... – Ele mal sabia o que dizer.

– Estava pensando... Talvez o melhor beijo seria um roubado da pessoa que você gosta. – O menor disse, ainda um pouco pensativo – Acho que eu estava certo.

O fantasma deu os ombros, como se nada tivesse acontecido e recomeçou a andar, apressando-se um pouco agora, afinal precisava pegar seu material e esperava que o ginásio ainda estivesse aberto.

Enquanto isso, na cabeça de um certo ruivo congelado passavam-se milhares de coisas. Muitas destas não faziam o menor sentido, mas todas eram a respeito do fato recentemente ocorrido. O beijo foi rápido, mas Kagami ainda sentia seus lábios arderem, como se pedissem mais. A medida que a ficha ia caindo, ele ia ficando cada vez mais e mais vermelho, como se isso fosse possível.

“Kuroko me beijou” era o único pensamento que fazia sentido naquela cabeça de vento. Até que uma linha de raciocínio lógico apareceu como por mágica na mente do tigre e ele analisou por uns instantes as palavras de sua sombra antes de ir embora. O insight quase que instantâneo que sua sombra tinha algum tipo de sentimento por ele mandou sua paralisia para o espaço e o fez correr, correr como nunca, atrás de Kuroko Tetsuya.

“Tenho que dizer o que eu sinto para ele!” foi a última coisa que Kagami pensou antes de alcançá-lo e abraçá-lo como se não houvesse amanhã.

E o que aconteceu depois? Bom, isso fica para uma próxima história. Mas creio que eu não preciso dizer mais nada, afinal eles estavam juntos e é isso o que importa.


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Notas finais do capítulo

(*) Referência a Harry Potter e o Cálice de Fogo, filme que eu estava assistindo enquanto escrevia.
Espero que vocês tenham gostado do último capítulo.
Se quer me mandar críticas (construtivas ou não), comentários, dúvidas, ideias novas, erros de português que eu cometi, mensagens inspiradoras, recadinhos amorosos, me mandar pro inferno, falar que está com vontade de morrer, de chorar, de cantar uma bela canção, ou simplesmente falar que gostou ou detestou a história, a minha caixinha de comentários estará sempre a disposição de vocês, leitoras e leitores.
Eu apreciei muito escrever essa história, foi praticamente uma terapia. Espero que vocês tenham gostado também. Eu agradeço a todos que acompanharam e torceram por alguém. Espero não ter decepcionado muito quem estava torcendo por outros, mas nada de ficar triste. Prometo fazer outras com outros pares.
Agradeço a quem leu e gostou.
Agradeço a quem leu até o final e detestou.
Agradeço a quem me deu forças para continuar.
E agradeço a mim mesma, por não ter parado.
Espero tê-los como leitores e leitoras numa próxima empreitada. Com muito carinho,
—MC