Clínica de Reabilitação para Super-Vilões escrita por The Mother


Capítulo 8
Desnecessário


Notas iniciais do capítulo

Consegui postar no natal! Ha! õ/ Feliz Natal e Feliz Ano Novo, meus amores!
E agora vou ter que ficar pelo menos duas semanas longe do word por causa do vestibular T.T espero que não se incomodem com a demora, mas vai ser preciso mesmo.
Aproveitem o capítulo!



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Graças a Brandon e seus sentidos felinos, conseguiram atravessar o labirinto que levava até o andar térreo rapidamente. Lisa quase não conseguiu o acompanhar de tão rápido, talvez por medo de saber o que acontecia lá em cima.

Mas o caos tomou mesmo conta de sua visão quando abriram a ultima porta. Havia fumaça e destroços para todo o lado e, por entre a fumaça, ainda saiam alguns lasers que atravessavam indo para algum lugar que não podiam enxergar.

Brandon começou a tossir e puxou a camiseta cinza de modo que cobrisse seu nariz, parecendo um bandido de faroeste. Lisa não pareceu se importar com a poeira, estava mais preocupada em saber onde estava Lex.

‒ Não se preocupe, ele sabe se virar. – tranquilizou Brandon. Se antes Lex conseguia enfrentar o Super-homem sem armadura, ele aguentaria agora com ela também.

‒ Mas e se armadura tiver algum defeito?! – perguntou, preocupada. ‒ E se não for forte o suficiente e ele cair e esmagar algum osso?!

Brandon bufou e depois riu.

‒ Nossa, que negativa! – brincou ele. Mas Lisa percebeu que ele havia franzido um pouco, o que não era bom. ‒ Apenas confie nele.

Achou estranha aquela atitude, o que só piorou sua frustração. Mas antes que pudesse perguntar qualquer coisa, uma das janelas que ainda estavam inteiras estourou em mil pedaços e Lex foi jogado para dentro, rachando o chão com o peso de sua armadura. O capacete retraiu-se para dentro da armadura como se o metal fosse líquido e podia-se perceber que ele respirava com dificuldade.

Lisa e Brandon esconderam-se atrás de um balcão feito de mármore, como se ele pudesse os proteger. Ela queria ir até lá e socorrê-lo, mas havia uma sombra que aproximava-se e fazia-se projetar no chão, por isso ela decidiu esperar.

Entrando pela mesma janela que Lex havia sido jogado, veio Super-homem. Ele pairou, majestoso e de rosto impassível até em frente a Lex, que o olhava com desprezo. Lex parou por um momento para observar o estrago ao seu redor e depois virou-se novamente para seu inimigo.

‒ Precisava mesmo fazer tudo isso? – perguntou Lex, dramatizando um pouco – Você por acaso vai pagar pelo estrago? Não era mais fácil e educado vir ao meu escritório?

‒ Você está matando mutantes e infectados. – disse ele, segurando sua raiva e ignorando os gracejos de Lex – Porque?!

‒ Eu não sei do que você estava falando.

Lisa rolou os olhos. Muito convincente, Lex.

O herói desceu do alto como um jato e pousou violentamente perto de Lex, em seguida agarrando seu pescoço e o erguendo. Lisa tentou levantar-se e ir a seu socorro, mas Brandon a segurou. Lex não precisava ser salvo, ele sussurrou, mas ela percebeu o quanto ele estava incomodado. Se Super-homem avançasse mais um pouco, ele não iria se segurar.

‒ Eu sei sobre o Projeto Alpha. – disse o herói, entre dentes – Os seus “experimentos” escaparam quando eu destruí seu laboratório, não foi? Agora você está os matando um por um.

Um curto silêncio se fez após a declaração. Lá fora era possível distinguir o som de carros policiais chegando.

‒ Bom, − começou ele, nem um pouco nervoso por estar sendo segurado pelo pescoço – se você já sabe de tudo, então por que se deu ao trabalho de vir aqui?

‒ Porque quero que você pare.

Lex riu.

‒ Você é uma graça.

− Eu posso provar! Posso colocar você na cadeia, no lugar onde você já deveria estar a muito tempo!

Lex suspirou entediado.

− Boa sorte com isso.

Um ruído alto e um clarão saíram de um dos braços mecânicos de Lex e arremessou o herói, fazendo-o atravessar uma das paredes.

Lisa e Brandon comemoraram em silêncio e quase fizeram um high five, lembrando-se então no ultimo segundo que Lex ainda estava no salão. Não queriam que ele os visse e se distraísse.

Esperaram até que ele se levantasse e voasse para fora do prédio, em busca do seu inimigo.

− Então, o que achou? – perguntou Brandon enquanto se levantava junto a Lisa e sacudia o pó de seu casaco de couro – Linda, né? Ele passou uns bons seis meses trabalhando nela. Ainda está trabalhando, na verdade, precisa de alguns ajustes...

seis meses? – impressionou-se Lisa. Conhecia engenheiros excelentes, mas nenhum deles conseguiria fazer aquilo em menos de dois anos.

− Ei, estamos falando de Lex! Coloque um monte de lata velha nas mãos dele e ele te constrói uma máquina do tempo!

− Ele já fez uma máquina do tempo?!

− É claro que não, né Lisa! – ele a olhou como se fosse louca – Só fiz um exemplo.

Um estrondo em uma das paredes do salão de recepção assustou os dois, que tiveram que esperar a poeira abaixar para procurar quem foi que tinha entrado desta vez. Detestava essas entradas dramáticas em cenas.

Mas o que Lisa sentiu foi o coração palpitar quando ouviu gemidos de dor baixos a alguns metros deles.

− Lex?! – perguntou para aquela escuridão. O sol já estava se pondo lá fora, dificultando a entrada de luz.

Por alguns segundos ninguém respondeu.

− Lisa? – uma voz fraca a chamou. – Lisa!

Lisa sentiu o coração escalar pela garganta quando viu Lex, jogado no chão, com um buraco no centro da armadura. A armadura ainda fazia pequenos ruídos enquanto fios de eletricidade passavam por sua superfície.

Brandon ajoelhou-se perto do irmão, e por mais que tentasse esconder, era claro o seu nervosismo.

− O que foi que aconteceu?

Lex puxou o ar com dificuldade. Lisa estava procurando algum botão que fizesse a armadura sair, mas não achava. Lentamente, ele conseguiu apontar para o botão que ela procurava.

Quando a armadura o soltou, Lex sentiu-se aliviado, apesar de ainda estar severamente machucado.

− Os Sentinelas. – respondeu com a voz rouca. Lutou para se colocar de pé, mas o máximo que conseguiu foi sentar-se.

Havia um machucado enorme no lugar onde a armadura tinha quebrado devido a eletricidade. Ela provavelmente tinha sofrido uma sobrecarga no local, fazendo-o implodir.

− Os Sentinelas? – Lisa perguntou-se confusa.

Os Sentinelas eram uma dupla de super-heróis que apareciam sempre quando as lutas começavam a sair do controle e quando, além de destruir patrimônios, começavam também a machucar cidadãos. Foram eles que tinham conseguido acabar com a batalha que acontecera uma semana atrás e que tinha mandado vários dos pacientes de Lisa para o hospital e para a prisão.

O que Lisa não entendia era porque os Sentinelas, ou melhor, porque o seu pai e Peter Petrelli machucariam Lex daquele jeito.

Brandon estava com o celular na mão. Estava ligando para o hospital, e ameaçava quem quer que estivesse na linha para chegar o mais rápido possível. Lisa sorriria pelo jeito como ele se parecia com Lex quando estava brabo, mas estava nervosa demais para isso.

Orientou Lex a continuar respirando fundo e para que não dormisse, por mais que sentisse vontade.

− Eu não entendo... – disse para Brandon – Porque eles o machucariam? Olha pra ele, será que tinha necessidade disso?

Ela estava profundamente chateada. Não apenas pelo que aconteceu, mas porque ela poderia ter impedido. Se havia algo que Lisa detestava, era a regra principal dos Grays.

Nunca se intrometa.

Nunca tente interferir em nenhum acontecimento o qual você não está envolvida. Nunca altere os fatos.

Richard nunca pedia mais do que isso. E por um lado ele tinha razão. Se nós, seres divinos, nos intrometêssemos na vida das criaturas do universo, nada seria natural. Nós poderíamos atrasar a evolução de uma espécie, ou impediríamos uma pessoa de aprender com seus erros. O que era quase uma blasfêmia para Richard.

− Lisa... pode ser que não tenha sido intencional... – começou Brandon coçando a cabeça e tentando não olhar para ela, o que acabou chamando a atenção de Lisa – Bom, lembra que eu disse que a armadura ainda precisava de ajustes?

Lisa assentiu. Lembrava disso, mas não tinha prestado atenção. Pediu para que continuasse, ignorando o olhar que Lex enviou aos dois. Com certeza, não ficaria satisfeito com Brandon dividindo uma de suas falhas.

− A armadura tem um alto nível de sensibilidade a eletricidade. Pode apenas aceitar uma certa quantia; aquela necessária para fazer tudo funcionar. Mas Lex está trabalhando para corrigi-la.

Lisa dirigiu um olhar severo a Lex ao ouvir aquilo. Andar por aí com uma armadura que ainda tinha falhas – e falhas muito fáceis de se encontrar – não era algo muito esperto. Detestava quando Lex fazia isso. Ele sabia que estava em perigo, mas não se importava.

− Você saiu por aí com uma armadura sensível a eletricidade, Lex? – disse a ele, e teve que balançar a cabeça quando o outro fez cara de quem não ligava. – Sabe, às vezes acho que o Brandon tem razão. Você só é esperto para algumas coisas.

Lex virou-se indignado para ela. Lisa deu uma leve risada. Sabia que isso iria irritá-lo e tinha feito apenas para descontrair um pouco. Tinha que deixar esse assunto para depois, o importante agora era levá-lo com segurança para o hospital.

Lex estava reagindo muito bem, na verdade. Não parecia a ponto de morrer a qualquer momento. Se fosse qualquer outra pessoa, provavelmente não aguentaria muito tempo, mas Lx não era qualquer um.

Por isso não se sentiu muito culpada por deixar os dois ali, esperando pela ambulância.

− Bran, segure isso pra mim. – entregou sua bolsa para ele, que a colocou do seu lado.

− Onde você vai? – perguntou.

− Vou ver o que está acontecendo lá fora. – respondeu enquanto se levantava e ia em direção à porta... ou a algum dos buracos abertos na parede. – E tentar dar um soco no Peter.

Brandon riu.

Lex sorriu também, já parecendo um pouco melhor. Seu poder regenerativo parecia estar evoluindo muito ultimamente.

− Dê um choque nele por mim, por favor.

* * *

Lisa nunca fora uma pessoa de muitos inimigos. Se fossemos analisar a fundo, na verdade, ela não possuía nenhum. Claro que, vez ou outra, ela saía um pouco da linha e perdia a paciência com certas coisas, mas bem, quem é que não perde? Era mais humana do que sua família gostaria de admitir.

Richard a criticava por se dedicar tanto ao universo, mas, secretamente, ele admirava a neta. Até mesmo a invejava um pouco. Ser a Suprema Divindade era muito trabalhoso e, na maioria das vezes, ele mesmo não podia usufruir de seu próprio universo, até mesmo quando conseguia criar brechas para fugir do trabalho e se divertir.

Também nunca fora de muita ação. Desde pequena, Lisa apreciava conversar e conhecer as pessoas, mesmo quando algumas delas não queriam conversar. Lex fora uma dessas pessoas; sempre encolhido num canto da sala de aula. Lisa tivera que se esforçar muito para penetrar suas barreiras.

O que também não quer dizer que pessoas falantes não tenham barreiras.

Loki, por exemplo, da primeira vez que se viram tinham 6 anos. Loki a contou sobre todas as intrigas da família, sobre como seu irmão roncava e não o deixava dormir, que Balder fazia xixi na cama e contou ainda como tinha conseguido sabotar o jantar daquela noite, colocando minhocas no lugar da massa.

Mas levou dois anos para que a contasse que achava que o pai não gostava dele e que chorava (muito bravamente!) quando o pai levava Thor para reuniões e não o levava junto.

Cada pessoa é um caso diferente. A tática que você usa num time, pode não funcionar em outro. Tudo depende do que está em campo. Pessoas diferentes. Com habilidades diferentes.

Desde cedo Lisa aprendera que antes de qualquer coisa, antes que formar qualquer argumento ou opinião, seja sobre algo ou alguém, você deve analisar o fato de todos os lados. E nunca, nunca mesmo, deixar de atualizar esses fatos. O mundo, ou melhor, o universo não para no tempo. Você pode se iludir, pensando que tudo está bem e perfeito como está, mas se todos pensassem assim há mil anos atrás, hoje você não teria um celular. Ou não estaria lendo isso.

Peter Petrelli era uma dessas pessoas que queriam que nada mudasse. Que tudo ficasse do jeito que está. Andava sempre com cara fechada e não gostava de nada nem ninguém. Fazia o que tinha que fazer e depois se escondia em seu apartamento, esperando pelo próximo trabalho.

Peter estava perto de completar 41 anos terrestres. Nunca chegou a se casar, mas teve um filho, Daniel. Colega de trabalho de Elizabeth.

Poderia passar pela sua cabeça que Peter então seria um cara chato. Que ele deveria mudar, tentar ver que o mundo precisa de mudanças, lutar pelo bem e não só apartar as brigas ou mandar todo mundo ficar quieto e voltar pra casa. Mas ele já foi assim. Peter já foi um cara legal que queria fazer coisas legais pela humanidade. Só que a vida não é e nunca vai ser previsível. A vida ri de você quando você faz planos e se você não tem planos de reserva... a vida te fode.

Eu não posso listar agora os motivos pelos quais Peter é um cara tão ranzinza, mas posso te dizer que eram neles que Lisa estava pensando agora, enquanto segurava seu punho firmemente sobre a mesa, tentando ao máximo não acerta-lhe uma no maxilar.

− Mas era mesmo necessário fazer aquilo?! Quanto volts você usou nele? Você poderia tê-lo matado! – exclamava enquanto gesticulava e cuidava para não quebrar a mesa com sua força. Estavam no esconderijo dos Sentinelas.

− Não seja tão dramática. – Peter disse na sua voz monótona. Tateou os bolsos em busca de um cigarro para acender – Além do mais, que mal faria se ele morresse? Pelo que sei ele anda matando bem mais gente.

Lisa arregalou os olhos e deixou o queixo cair. Virou-se indignada para Sylar.

− Ouviu isso, pai?! Ele enlouqueceu! – Sylar olhou para a filha com ar de que não queria se meter na conversa. Peter continuava a fumar seu cigarro. – Vamos matar pessoas que matam para nos livrar delas! Genial! Pensou nisso sozinho?!

Lisa estava tão nervosa que seus fios de cabelo pareciam eletrizados, deixando-os bagunçados, e junto de seus olhos saltados e indignados, faziam-na se parecer como uma versão feminina do Coringa.

Tudo bem que Lex estava no hospital e passava bem, mas isso não mudava o fato de que ele tinha um buraco no estômago.

O que mais a enfureceu foi saber, no momento que saiu para a rua para analisar a situação, que Peter já havia se resolvido com Clark e que ele nem estava mais lá. Tinha ido, sem luta nenhuma, para a sua casa.

Por que, então, Peter tinha descarregado uma baita onda de eletricidade pra cima de Lex? Se Lisa o conhecesse bem, e conhecia, diria que apenas porque não gostava dele.

Eles eram os Sentinelas. Não tomavam parte em nenhuma luta, apenas a apartavam. A atitude de Peter não era só irritante, era antiética. E Lisa fez questão de lhe dizer isso.

− Ela tá me irritando, Sylar. – Peter ameaçou.

Eu tô te irritando?! – levantou-se da cadeira, ainda com as mãos apoiadas na mesa, aproximando-se de Peter. – Por quê? Falei alguma verdade? – devolveu no mesmo tom de ameaça.

Um silêncio curto se fez. Peter ergueu-se abruptamente da cadeira, agarrando com uma mão o pescoço de Lisa, para desespero de Sylar, que com pressa, tentou separar os dois.

Por sorte, não foi necessário, uma vez que Lisa, carregando seu corpo com eletricidade, descarregou tudo nele, fazendo-o voar e cair em um dos painéis de controle do esconderijo.

− Maldito insolente! – berrou irada – Como você se atreve?

Peter ergueu-se novamente, vermelho de raiva.

Sylar, prevendo no que aquilo podia dar, empurrou-o novamente para o chão com sua telecinese, ignorando seus protestos.

− Lisa, querida, por favor. – suplicou Sylar para sua filha – Não quero ter que ver vocês dois brigando.

− Então você vai continuar defendendo ele? Mesmo ele tendo enlouquecido desse jeito?! – dizia Lisa, angustiada.

− E você não defende os seus? – perguntou ele. Lisa parou no meio de uma sentença, fora pega de surpresa.

Seu pai tinha razão, se alguém pudesse ajudar Peter, seria ele. E ele não desistiria. Lisa tinha a quem puxar.

Suspirou, agora mais calma, e olhou para Peter, preso no chão por uma força invisível. Ele reclamava e soltava palavrões em sua direção, chamando-a para a briga.

Por um momento, teve a impressão de ver uma aura, uma espécie de névoa negra, o cercando. Aquilo disparou um pequeno alarme no seu inconsciente. Lisa franziu.

− Tem alguma coisa errada. – sussurrou para si mesma enquanto via a névoa sumir.

Sylar sentou-se numa das cadeiras e esfregou as mãos no rosto, sentindo se cansado.

− O que disse? – perguntou quando ouviu Lisa sussurrar.

− Hm? Ah, nada... eu acho. – disse, pensativa. Peter estava mesmo muito fora de si ultimamente... – Apenas fique de olho nele. Ele anda passando muito dos limites.

− Não se preocupe. – Sylar deu um sorriso cansado e levantou-se de novo para despedir-se da filha, que já estava de saída. – E peça desculpas a Lex por mim. Irei visitá-lo assim que eu puder.

Lisa via vários motivos para se preocupar, mas decidiu não dizer nada. Peter era responsabilidade de seu pai assim como seus pacientes eram dela.

− Pedir desculpas por você? Você nem fez nada, pare com isso! – deu um empurrão de leve no pai e sorriu − Mas irei avisá-lo, sim. Até mais, pai.

Deu um abraço e um beijo no nele e despediu-se alegremente de Peter, que em retorno, se contorceu no chão e soltou alguns palavrões.

* * *

Lex acordou com o barulho de zumbidos e resmungos. Seus olhos pareciam dois pesos que o impossibilitavam de ver o que estava acontecendo; quis tentar se mexer, mas em retorno tudo que conseguiu foi soltar um gemido de dor.

Ouviu um som parecido com o de um fósforo sendo acendido e depois, todos os zumbidos sumiram.

− Maldito... – murmurou uma voz familiar – Lex? Lex, você acordou?

Aos poucos Lex conseguiu abrir os olhos, sendo recebido com um sorriso largo e alegre vindo de ninguém menos do que Loki.

Lex suspirou.

− Feliz Natal!! – Loki gritou e atirou os braços para cima. Lex percebeu, um pouco confuso, que Loki usava um gorro de papai noel.

− Natal? – perguntou com a voz manhosa; ainda estava meio grogue e confuso – Estamos em maio, Loki.

− Maio? Não, não, Lex. Estamos em dezembro! ...Oh. – a voz de Loki foi enfraquecendo, até assumir um tom sombio – Ah, Lex, sinto muito.

O tom de Loki chamou a atenção de Lex, que olhou em sua direção com um ar de suspeita.

− Sente... pelo quê? – perguntou lentamente.

− É que... você esteve em coma, Lex. – disse o outro, parecendo muito culpado – Por oito meses.

Lex levou um momento para assimilar o que ele havia dito. Aos poucos começou a sentir o pavor subir e começou a olhar para os lados, desesperado, tentando se situar. Ainda não estava se sentindo muito bem. Em coma? Mas como?!

− Oh, meu Deus! – tentou levar as mãos à cabeça, mas logo percebeu que era uma má ideia. – Mas... e a empresa?! Oh Deus, os projetos!– Lex ofegava, nervoso; a maquininha apitando no ritmo do seu coração acelerado.

Loki estava adorando.

− Mas Lex, antes de você cair em coma profundo, nós assinamos os papéis de união civil! Você não lembra?

− Nós o que?!

Loki se fez ofendido pela confusão de Lex.

− Nós casamos, Lex! – disse Loki, entristecido – Eu que estou tomando conta da LexCorp. Você não lembra disso?

Lisa conversava com uma enfermeira e um médico sobre o estado de saúde de Lex quando ouviu um grito vindo do quarto onde ele estava.

Sentindo novamente o coração palpitar, ela correu, junto da enfermeira, até o quarto de Lex, esperando encontrar alguém tentando o matar.

− Não! Não pode ser! – ouviu Lex gritar numa voz manhosa de criança que não quer ir dormir.

Apesar dos gritos de Lex, aliviou-se quando viu que não havia ameaça no quarto. Ou quase isso. Loki estava sorridente ao lado da cama, usando um gorro de natal.

− Lisa! – chamou Lex, naquela voz manhosa, quando a viu – Lisa, é Natal!

− O que? – Lisa o encarou confusa enquanto a enfermeira mexia nos aparelhos e abria as gavetas em busca de um calmante.

− Eu estava em coma! – disse choroso.

− Coma?! Lex, você foi internado ontem à tarde.

Lex ficou em silêncio. Por alguns segundos, os únicos sons eram os da enfermeira inserindo os calmantes na bolsa de soro. Olhou para todos os presentes na dala com ar muito suspeito.

− Eu... eu o que?

Lisa não respondeu. Estava ocupada olhando para Loki com a expressão mais acusativa e repreensiva que sou rosto gracioso conseguia colocar. Enquanto isso, ele cobria o rosto com o gorro e não parava rir.

Com o som dos saltos batendo no chão, ela correu até ele e o deu uma bolsada.

Seu babaca! – levantou a bolsa de novo, decidindo se lhe batia mais uma vez ou não. Loki encolheu-se para se proteger do golpe, mas ainda ria. – Onde é que já se viu fazer uma coisa dessas, quer que ele volte para a sala de cirurgia?!

Lex olhava a cena toda se sentindo um idiota. Se não estivesse quase dormindo e não estivesse gravemente ferido, teria com certeza dado um soco em Loki.

− Ei! – reclamou Loki outra vez quando Lisa lhe deu um tapa na cabeça – A ideia foi do Brandon, ok?! Eu só aproveitei a chance! – riu de novo – Você tinha que ver a cara dele! Brandon vai ficar tão chateado de ter perdido!

Lisa puxou com força o longo cabelo dele e o mandou calar a boca. Lex tinha voltado a dormir.

− Mas falando nisso, – disse em voz baixa, sentando-se com Loki no sofá – onde é que está o Bran?!

− Foi tomar café da manhã aqui na cafetaria do hospital. – respondeu ele, rolando os olhos. O gato sempre estava com fome. – Aliás, ele está demorando. Pedi para que me trouxesse uma pizza. – disse, impaciente.

Lisa o olhou como se fosse alguma espécie nova e estranha de animal.

Pizza, Loki? São 8 da manhã!

Loki deu de ombros.

− E?

Ela achou melhor nem discutir. Deuses nórdicos não tinham hora para comer, muito menos Gigantes de Gelo.

− Mas falando em comida... – começou ele, esticando rapidamente o pescoço para ver se Lex estava mesmo dormindo e então chegando mais perto de Lisa, com cara de quem vai fazer fofoca – O que que a vaca da Úrsula veio fazer aqui ontem à noite? Não sabia que ela se importava tanto assim com o Lex.

− Credo, Loki! Você anda aprendendo muito palavrão terrestre pro meu gosto. – reclamou Lisa, que era tão contra nomes grosseiros quanto Hannibal – E como assim o que ela veio fazer aqui? Não é óbvio? — falou com descaso.

Loki ficou a encarando por um tempo, pensativo, até que Lisa se deu conta de que ele ainda não sabia sobre Lex e Úrsula. Isso era até um pouco surpreendente, levando em conta que Loki adorava uma boa fofoca e já devia ter descoberto isso antes.

− Porque... você sabe, né, Loki? Os dois... – Lisa tentou fazer alguns gestos esclarecedores. Ele não pareceu entender nada, para desapontamento de Lisa; o bom senso midgardiano ainda não o havia alcançado. – Eles estão saindo, Loki. – disse por fim.

Como era de se esperar, ele pareceu surpreender-se.

Saindo? Você quer dizer... namorando?- Loki se sentiu como se Lisa acabasse de ter anunciado a chegada de Cristo.

Úrsula era uma cadela sem coração, de nariz empinado e por quem Loki nutria uma profunda antipatia desde o dia em que se conheceram na terapia. A ideia de que ela pudesse estar “saindo” com o seu melhor amigo – pois desde o encontro com Thor, Loki havia se convencido que ele e Lex agora eram superamigos – era completamente apavorante.

Lisa estava um pouco impaciente e nervosa. Loki não dizia nada desde que ela havia contado sobre os dois. Ficou durante 5 minutos apenas olhando pela a janela com um rosto nada feliz.

Não fazia parte do seu trabalho deixar seus pacientes tristes. Também não podia mentir para eles só para se sentirem confortáveis, mas isso não diminuía sua culpa.

Não devia ter dito nada.

Estava olhando ao redor da sala e pensando sobre a vida e como ela era complicada, quando percebeu de canto de olho um lindo e generoso buquê de flores em cima de uma pequena bancada do quarto.

− Ah, flores! – cochichou sorrindo para Loki – Quem foi que as mandou?!

− Flores? – acordou-se ele de seus devaneios, ainda assimilando o que Lisa tinha dito. Quando ela tentou levantar para ir olhá-las de perto, Loki a puxou com força para baixo – Não! As flores não! – gritou ele, esquecendo-se de Lex e levando um tapa na boca por parte de Lisa.

− Não grita, porra! – reprimiu ela, e calando-se logo em seguida quando percebeu Lex se mexer na cama. Depois voltou-se para Loki, cochichando – E porque não?

− Abelhas! – sussurrou exaltado e mexendo as mãos freneticamente em direção ao buquê de flores – Aquele negócio estava cheio de abelhas presas entre as flores! Ela se soltaram todas quando eu mexi nelas, foi um caos! – ele sussurrava alto, de tão indignado. – Eu tive que usar mágica para sumir com as malditas. Foi nessa hora que o Lex acordou...

Lisa estava horrorizada com aquilo. Não conseguia nem imaginar como teria sido horrível se essas abelhas tivessem picado o pobre e ferido Lex. Que espécie de pessoa insana poderia ter feito uma coisa dessas?!

Uma pessoa.

− Quem foi que as mandou? – perguntou de novo.

Loki suspirou e com uma expressão sarcástica no rosto, repetiu o que estava escrito no pequeno cartão que vinha acompanhado com as flores.

“Sinto muito pelas suas tripas... Com amor, Coringa.”

Lisa reclinou-se no sofá e levou uma das mãos ao rosto, balançando a cabeça. Em situações como esta, às vezes não sabia se ria ou se chorava.

Eu amo meu trabalho, eu não vou matar meu primo, repetia para si mesma, mentalmente.

E em meio aos suspiros de Lex dormindo tranquilamente sobre a maca, questionava-se novamente por que o universo tinha que ser tão sacana e complicado.


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Notas finais do capítulo

Olha só, consegui até escrever um pedacinho de Natal noite passada! tadinho do Lex, rodeado de trolladores.
E aí, curtiram? Às vezes fico insegura se essas trocas de cena rápidas estão funcionando, podem comentar se quiserem! >.



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