Clínica de Reabilitação para Super-Vilões escrita por The Mother


Capítulo 13
Capítulo XIII: O amor está no ar... Ou em estado líquido?


Notas iniciais do capítulo

Caraio lá vou eu demorando um tempão pra postar. Mas em minha defesa é por que eu queria fazer um capitulo maior e pretendo continuar com capitulos grandes se puder.

Ainda não revisei, revisarei amanhã (26/04/2020). Se quiserem podem avisar de algum erro. É que eu queria postar logo mesmo.



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Lisa atirou-se na cama e agarrou um travesseiro. Havia um buraco em seu peito.

No começo ela achou que era apenas um vazio. Mas esse vazio foi se enchendo com algo que ela reconheceu logo como pânico. Medo. Angustia. E acima de tudo, desespero.

Porque isso estava acontecendo? Tudo estava indo tão bem. Seus pacientes estavam bem, os super-heróis eram mais compreensivos. Ela estava em paz e com esperança de um futuro promissor para todos.

Até que aquela batalha aconteceu.

Lisa ainda não tinha total conhecimento sobre as causas da batalha, só sabia que havia sido apartada a tempo de não se tornar uma carnificina. Tanto para o lado dos heróis quanto dos vilões, mas principalmente vilões. Era incrível o quanto eles tinham sido espancados durante a batalha, algo incomum até mesmo para o herói mais irado.

Lisa soluçou e depois afastou o travesseiro do rosto, notando que estava úmido. Ela estava chorando? Não, não! Ela não podia chorar, tinha que ser forte. Forte por eles.

Endireitou-se na cama e sentou-se na beira dela. Algo sedoso esfregou seus calcanhares e ela olhou para baixo, sorrindo ao ver um de seus dois gatos.

— Monday! – ela agachou-se e pegou o gato no colo. Monday era um gato muito dócil e amável, ao contrário de seu outro gato, Jerome. Ele era um gato de pelagem muito peculiar; metade dele era branco e a outra era preta. Do focinho ao rabo! Enquanto Jerome era um gato laranja teimoso e agressivo, repleto de cicatrizes por brigas de rua. – Não se preocupe Monday... Eu estou- eu vou ficar bem. – assegurou ao gato, numa voz amável.

O gato ergueu-se esfregando o focinho contra o queixo da dona. Lisa o abraçou, rapidamente, para não irritá-lo, e lhe deu um beijinho entre as orelhas.

— Obrigada, Monday.

Ouviu-se algumas batidas na porta, e seu pai entrou, inclinando-se para dentro sem abrir totalmente a porta. Ao ve-la sua expressão de sorriso educado transformou-se em preocupação. Elizabeth não era de sentar no escuro de seu quarto com uma expressão de quem esteve chorando. Gabriel sentiu o peito apertar com a visão.

— Está tudo bem, querida? Quer conversar? – ele perguntou delicadamente – Eu ia chamar você para o jantar, mas não precisa comer agora se não quiser. – depois de um momento, endireitou-se na porta, como pedindo permissão para entrar. Lisa assentiu.

Gabriel sentou-se ao lado da filha na penumbra do quarto. Ele se sentia meio aflito, não sabendo exatamente o que dizer para confortá-la.

— O Harrison já chegou? – Lisa foi a primeira a perguntar.

O pai olhou para ela surpreso e depois relaxou, tentando dar um sorriso consolador.

— Não. E duvido muito que apareça. – deu uma leve risada.

Lisa assentiu lentamente, devolvendo o sorriso. Com certeza que Harrison não voltaria hoje. Devia estar irritado ainda e provávelmente sairia para descontar em alguns cidadãos. E a culpa era dela. Da inabilidade dela de ajudá-lo.

O seu sorriso rapidamente sumiu e foi substituído por uma expressão de angustia. Ela não podia deixar pessoas se machucarem por sua causa. Não podia mais deixar seus pacientes machucarem a outros tanto quanto a si mesmo. Isso lhe trazia um aperto no peito.

Esfregou as duas mãos no rosto e suspirou. Tinha que ir atrás de Harrison para se desculpar e fazer as pazes, era o único jeito de colocá-lo em rédeas curtas novamente.

— O que foi? – perguntou Gabriel ao perceber a mudança na postura da filha.

Lisa levantou-se de repente, fazendo com que Monday pulasse de seu colo para o chão, e virou-se para seu pai.

— Preciso ir atrás de Harrison. – ao ver a expressão de confusão do pai, tentou se explicar – Nós andamos nos desentendendo. Temo o que ele possa fazer caso o deixe à solta essa noite.

Com um suspiro e sem muito mais explicações, Lisa virou-se para a porta do quarto, caminhando rapidamente. Seus olhos ainda estavam úmidos e não sentia que sua cabeça ainda estava bem no lugar, mas não tinha tempo para perder. Como já tinha dito a si mesma, precisava ser mais forte que isso.

Num pulo, Gabriel a alcançou antes que saísse do quarto, segurando seu braço para chamar sua atenção.

— Filha... eu sei que você os ama. – ele disse gentilmente, envolvendo a mão de Lisa com as suas – Mas precisa parar de carrega-los nas costas e no colo. Não se culpe por tudo que eles fazem. Por favor... você já está fazendo tudo o que é possível. – seus olhos tristes e preocupados encontraram os dela – Olhe pra você... eles tomaram conta da sua vida.

Não. Eles são a minha vida.

Lisa balançou a cabeça. Surpresa com o próprio pensamento.

Gabriel deu um pequeno aperto na sua mão, como se quisesse puxar a filha do volta para a realidade, para fora de sua cabeça.

— Você está obcecada. – sussurrou, as palavras saindo contraídas. Hesitantes.

 Há muito tempo ele queria dizer isso, mas tinha medo. Lisa devotava todo o seu tempo para seus pacientes, como se fossem filhos, e ela uma mãe super protetora; não suportava ficar sem saber sobre eles nem por um dia. Ele não podia deixar de se preocupar com a saúde mental da filha, sendo tão apegada emocionalmente a pessoas que estavam constantemente ou em risco de morte ou ameaçando outros de morte.

Lisa ficou por um tempo sem dizer nada, com olhar perdido e marejado, olhando para seu pai. Não queria voltar a chorar, por mais que quisesse, e nossa como queria! Queria poder parar o tempo, abraçar o pai e ficar chorando por horas, sem se preocupar com mais nada. Nem ninguém. Só descarregar aquilo tudo.

Sabia que ele estava certo.

Mas era tarde demais para mudar agora, não queria mudar, e além disso... Eles só têm a mim. E talvez seu pai não pudesse entender isso.

Lisa retirou com cuidado a mão do acolhimento do pai, tentando lhe oferecer a melhor expressão de desculpas. Trouxe as mãos dele aos lábios e deu um delicado beijinho, sentindo-se tão culpada por fazer seu pai sofrer e se preocupar.

Respirou fundo e soltou as mãos dele, recompondo sua postura.

— Eu... – fechou os olhos, respirou outra vez – Eu preciso encontrar o Harrison. – abriu os olhos outra vez, decididamente, voltou-se para a porta e saiu.

Gabriel olhou a filha ir embora até ouvir o barulho da porta da frente se fechando. Deu um suspiro e saiu para ir à cozinha.

— Ok... – sussurrou para si mesmo, com ar cansado – Separo o prato de vocês para mais tarde.

***

Lisa passou pela cabeça todos os lugares que Harrison poderia estar e por fim escolheu aquele que parecia mais provável. Pegou seu celular e discou o numero de Brandon.

Uma voz sonolenta atendeu do outro lado da linha com um fraco “quem é?”.

— Brandon, desculpa incomodar. É a Elisabeth. – respondeu com pesar por ter o acordado – Por acaso o Harrison, ou o Coringa, está aí com você?

Brandon ouviu a preocupação na voz dela e levou mais um momento para acordar, esfregando os olhos e olhando em volta.

— Ah, olá, Lisa. Sim, sim, ele estava na sala. – disse com voz arrastada enquanto se levantava da cama – E felizmente, ainda não invadiu o meu quarto. Vou dar uma olhada se ele ainda está ali.

— Obrigada, Bran. – Lisa agradeceu, e depois de uma pausa acrescentou: - Apenas não diga que sou eu, ok? Tenho medo que ele fuja para me ignorar.

— Hm, acho que não é necessário.

— O que quer dizer? – Lisa franziu.

Brandon estava na sala de estar e, ao notar a ausência do Coringa, começou verificar todos os cômodos, que não eram muitos.

— É. – concluiu, respondendo alguma dúvida interna. – Ele não está mais aqui.

— Droga! – Lisa resmungou para si mesma – Você não faz ideia de onde ele pode ter ido?

— Hmm. – Brandon encarou sua cesta de roupas sujas e os respingos verdes por todo o chão do banheiro. – Bom, eu não sei. Mas posso dizer que não é mais o Coringa que você está procurando.

Lisa deu um suspiro. Seria muito mais difícil encontrar Harrison como Harrison porque ele se vestia como uma pessoa normal e as vezes até se comportava como uma.  Teria que ligar para casa e ver se por acaso não tinham se desencontrado e ele já havia chegado.

Se ele não estivesse lá, Lisa não fazia ideia de onde começar a procurar.

***

— Não acredito que me fez vir aqui.

Loki olhou para Lex com um sorriso divertido e entornou o copo de uísque. A preocupação com a saúde de Loki era evidente e ele estava apreciando muito isso.

— Você devia estar descansando. – continuou Lex irritado.

Luzes de diversas cores piscavam e passeavam pelo clube, mas a luz predominante era o azul-gelo, que iluminava o rosto de Loki na penumbra. Era um espaço bem aberto e sofisticado, com pouca aglomeração, possivelmente por ser um local caro. Não era desagradável, mas nem por isso Lex gostava de estar ali. Não tinha lembranças boas do lugar.

O clube zero tinha mudado muito de mãos nos últimos tempos, mas por agora parecia estar estável e prospero nas mãos de Oswald Cobblepot. O Pinguim era um dos que haviam escapado da batalha de Metrópolis e se ajeitado na cidade enquanto Gotham era recuperada.

Edward Nygma tinha sido liberado do hospital naquela manhã e também não perdeu tempo em escapar da mão dos policiais inexperientes de Metrópolis e se refugiar com Pinguim. Por ter saído naquele mesmo dia do hospital, se esperaria que Nygma estivesse de astral baixo e se recuperando na cobertura de Cobblepot, mas não. Edward estava insuportavelmente bem, incomodando a quem quisesse ouvir com suas charadas e fatos.

Lex podia ver o homem vestido com um tecido verde sedoso, tentando impressionar algumas garotas numa mesa próxima.

Loki bateu o copo no balcão, assustando Lex, e pediu mais uma bebida.

— Lex, querido, descansar é uma palavra que não está no meu vocabulário! – disse ele, nem um pouco convincente – Além do mais, - suspirou – sinto que o que eu preciso agora é de muito álcool e pessoas... Distrações! – disse de repente – É disso que eu preciso!

Loki parecia estar muito agitado, quase nervoso. Lex olhou para ele e deixou escapar um sorriso que sumiu tão rápido quanto apareceu. Ele entendia Loki. Lex era mais propenso a se afogar em álcool do que em lágrimas. Distrair sua mente em vez de alimentá-la.

Momentos depois, numa aparição súbita que fez Lex pular no banco e Loki quase subir no balcão, sensível como estava, Nygma surgiu, colocando um braço invasor ao redor dos ombros de Lex e com um sorriso de orelha a orelha.

— Me sustento entre dois ou mais indivíduos, mas se tentar me segurar sozinho, te internam num hospício. O que sou? – anunciou excitadamente, especificamente para Lex.

— Uh, qualquer coisa pesada? – respondeu Loki, arrancando um olhar mortal de Nygma, e deu de ombros. – Sei lá, achei muito vago.

Nygma abriu a boca indignado, pronto para encher Loki de desaforos, mas Lex foi mais rápido.

— Uma conversa. – respondeu com calma.

O Charada olhou orgulhoso para seu amigo e sacudiu ele.

— Acertou! – exclamou – Você realmente deve ser o homem mais inteligente de Metrópolis. – deu uma pausa – Quando não estou na cidade, claro.

— O que você quer, Nygma? Eu e Loki estamos tentando relaxar.

Nygma olhou para Loki com uma fingida expressão de pena. As notícias corriam rápido entre os vilões, então Lex não ficou nem um pouco surpreso quando o Charada expressou conhecimento sobre o que tinha acontecido aquele dia.

— Ah, sim... Soube do incidente, uma lástima, realmente. Que bom que está se recuperando bem, Loki. – Nygma lhe deu um sorriso falso que foi devolvido da mesma maneira – Mas enfim, respondendo sua pergunta. Ela é a resposta da minha primeira pergunta.

— Nygma...

— Oswald quer conversar com você. – respondeu rapidamente e virou-se sem cerimônia para a direção em que ficava o escritório de Pinguim, depois de um momento, deu uma olhada pra trás e disse: - Só você.

Lex jogou a cabeça para trás e deu um suspiro, depois olhou apreensivo para Loki. Não estava nem um pouco a fim de deixa-lo sozinho. Seu lado lógico dizia que ninguém ia sequestra-lo de novo no mesmo dia, mas seu outro lado, aquele que ele raramente dava ouvidos, tinha medo de que quando Lex voltasse Loki tivesse sumido outra vez. Seria demais para ele colocar Loki em perigo outra vez, humilhante até.

— Ah, para com isso, vai lá. – Loki adivinhou seus pensamentos e tentou assegurá-lo – Você não é minha babá, Lex. Eu posso me cuidar.

 Os acontecimentos mais recentes diziam o contrário, mas Lex achou melhor não mencionar.

Quando Lex continuou o encarando, Loki suspirou e pousou o seu copo vazio no balcão.

— Certo, certo! – disse – Eu prometo não sair daqui até você voltar, ok? – deu um sorriso assegurador.

Mas Lex ainda não estava convencido.

— Ah. – ele levantou as sobrancelhas desacreditado – Então você não vai se mover desse banco até ou voltar? Mesmo que eu demore 20 ou 30 minutos?

Loki lhe lançou um olhar e revirou os olhos, levantando as mãos em sinal de derrota.

— Certo, eu não vou sair deste estabelecimento até você voltar, ok?  Pronto, está satisfeito?

Lex suspirou e desceu do banco um pouco contrariado, depois ajeitou seu terno.

— Não. Mas vai ter que servir. – com um último olhar gentilmente ameaçador para Loki, pediu licença e saiu para o mesmo caminho que tinha ido Nygma.

***

Em um canto escuro do Lounge, um Harrison muito observador e agitado cuidava de tudo que estava acontecendo. Assistiu com um rolar de olhos seu colega de trabalho Nygma incomodar as pessoas aqui e ali com o aval de Oswald que não sabia repreender o crush, e Lex e Loki conversando como dois pombinhos, entre outros que Harrison não se importava.

Sua mão deslizou em seu bolso até sentir a superfície gelada de um vidrinho. Não entendeu na hora do que se tratava pois tinha uma péssima memoria recente, mas logo que o agarrou e tirou do bolso lembrou-se do frasquinho que tinha roubado de Brandon.

Harrison brincou com o frasquinho na mão, observando o líquido cor de rosa transparente com a fascinação de quem não tem coisa melhor para fazer.

Foi então que notou Loki sentado sozinho no quiosque enquanto Lex se afastava, indo para sei lá onde. Uma ideia surgiu. Não, é claro que não iria sequestrar Loki de novo, afinal, estava sozinho, mas isso não significava que não podia tentar atormentar o pobre deus.

Esgueirando-se cuidadosamente entre as pessoas e a escuridão, Harrison chegou até um lado mais afastado do quiosque e pediu um copo de uísque, o mesmo que Loki bebia.

Enquanto esperava, ele pegou o frasquinho e o abriu, retirando a tampa acompanhada de uma pipeta. Harrison observou a pipeta por um instante e assim que o copo de uísque chegou, pingou várias gotas dentro dele, dando em seguida uma misturada com o dedo.

O garçom que o serviu não expressou nenhuma reação, apenas virou-se para ir atender outra pessoa, mas antes que pudesse se afastar, Harrison o agarrou sutilmente pela camisa e o virou de frente para ele. Sua expressão era amigável e ao mesmo tempo ameaçadora.

— Ei, amigo, será que podia fazer um favorzinho pra mim? Hm? – cantarolou, como se estivesse falando com um velho amigo. – Você pega esse copinho aqui, e troca discretamente com o copo daquele individuo ali? – pediu como se estivesse pedindo algo simples e inofensivo e apontou para Loki.

O garçom, que já tinha experiência com esse tipo de situação criminosa, levantou uma sobrancelha como se dissesse “E porque eu faria isso?”.

Harrison entendeu rapidamente, rolando os olhos enquanto alcançava a carteira com dinheiro que tinha roubado de Brandon. Era o preço que tinha que pagar quando era Harrison e não podia simplesmente encarar maliciosamente as pessoas até elas fazerem o que ele queria.

— Certo. – Harrison retirou cem dólares da carteira e enfiou no bolsinho da camisa do garçom. – Pela sua boa vontade.

Sem dizer nada, o garçom pegou o copo de Harrison e em um momento de distração em que Loki estava olhando para trás inspecionando o ambiente, trocou os copos.

Fez tudo com impressionante naturalidade e entregou o copo trocado para Harrison que o parabenizou pela inata falta de caráter.

Não demorou muito para que Loki se virasse novamente e entornasse todo o conteúdo do copo para dentro uma vez só, para a total animação de Harrison.

Harrison esperou e esperou, pacientemente. Mas nada aconteceu. Dez minutos se passaram, quinze, até que Lex finalmente retornou, para desespero de Harrison. Isso era ridículo! O que era esse liquido afinal de contas? Suco de morango?!

Observou irritado enquanto Lex e Loki trocaram algumas palavras até que Loki levantou e os dois se dirigiram à saída. Loki parecia apenas um pouco cansado, o que não significava absolutamente nada levando em conta o que tinha acontecido mais cedo.

Harrison olhou indignado para o frasquinho e quase o jogou longe. Mas antes que pudesse fazer isso agarrou a garrafa de álcool mais próxima e na maior birra abriu a garrafa e colocou todo o conteúdo dentro, em seguida fechando e a sacudindo quase violentamente. Como se ele achasse que com aquilo estava punindo o liquido, afogando-o em alcool. Algo incoerente assim.

— Ei, pare com isso! – o garçom de antes correu até ele e tirou rapidamente a garrafa de suas mãos antes que Harrison a quebrasse. – Você não pode... – o garçom pausou ao inspecionar a garrafa e olhou para Harrison irritado – Você a abriu?!

Harrison pensou rápido e levantou as mãos em gesto de defesa.

— Mas é claro! Eu não vou comprar um uísque sem antes saber se ele é bom né? Tinha que dar uma bicada!

O garçom o encarou incrédulo.

— Você deu uma- Ok, senhor, agora o senhor vai ter que comprar. Sinto muito, são regras da casa. – disse de forma firme e repreensiva.

Harrison suspirou, prevendo que isso ia acontecer.

— Ah sem problemas, meu querido. Veja bem, meu amigo que acabou de sair queria deixar um presente pro Sr. Cobblepot, mas estava com muita pressa, então ele pediu pra mim escolher por ele. Acho que você deve ter o visto antes, Lex Luthor?

O garçom olhou com suspeita, mas assentiu.

— Bom. – disse o garçom – tenho certeza que Sr. Cobblepot aprecia o gesto, mas por medidas de segurança este tipo de agrado não é aceito por ele.

Faz sentido, Harrison pensou, ele já deve ter sofrido com tentativa de envenenamento antes. O problema é que Harrison só estava querendo se livrar da garrafa.

Olhou rapidamente ao redor até notar Nygma numa mesa conversando com Kat e Gabby.

— Bom, nesse caso, pode oferecer para aquela mesa ali. – apontou para a mesa do trio – Afinal, um presente pro Eddie é praticamente o mesmo que um presente pro Ozzie, né mesmo? Ha!

O garçom hesitou, mas acabou cedendo, ignorando o fato de que meia hora antes tinha colocado algo suspeito na bebida de outra pessoa a pedido desse mesmo homem. Pessoas secundárias em lugares como esse sempre tomam decisões convenientes para a história, nada de estranho aqui.

Harrison se afastou em direção à saída enquanto o garçom saiu em direção à mesa de Nygma. Já lá fora, Harrison se encostou perto da saída e acendeu um cigarro de uma cartela que tinha roubado no caminho.

Ficou por volta de dez minutos observando o movimento e uma briga entre duas mulheres finas que puxavam o cabelo uma da outra, decidindo em qual iria apostar, quando um carro familiar estacionou perto dele. Era Lisa.

Lisa deu uma pequena buzina e baixou o vidro.

— Estive procurando por você.

Harrison a ignorou até onde conseguia, o que levou mais ou menos cinco segundos.

— É mesmo? – tentou fingir desinteresse.

— Sim, Harrison... Eu – Lisa respirou fundo e soltou de uma vez só – Eu queria me desculpar. Sei que tenho sido dura com você ultimamente.

Harrison olhou para ela com interesse. Ele pensava que os dois iam ficar de mal por pelo menos mais uma semana antes de um deles ceder e pedir perdão por o que quer que fosse. Era sempre assim. E geralmente esse um deles era Harrison.

— Vem, entre. – gesticulou com a cabeça para o banco do passageiro. – Vamos para casa conversar, papai fez um jantar maravilhoso.

O tom reconfortante e a expressão de carinho genuína foi o suficiente para convencê-lo e ele virou-se para dar a volta no carro.

— Certo, certo, já to indo. – resmungou enquanto fazia isso – Não precisa fazer essa carinha insuportável.

***

Um vento gelado soprou e Lex fechou mais seu casaco contra si.

— Tem certeza que está tudo bem?

Loki deu um pequeno sorriso ao ouvir Lex repetir a pergunta pela milésima vez desde que saíram do bar. Os dois estavam caminhando lado a lado de volta para a LexCorp, que ficava a apenas uns dois quarteirões dali. Loki estava com o braço entrelaçado no de Lex para suporte

— Claro. Quer dizer, acho que ainda estou exausto. Você tinha razão, não devíamos ter saído.

Realmente Loki não estava se sentindo muito bem, pensou Lex, estava até lhe dando razão. Mas como era característico de Lex quando estava preocupado, continuou insistindo.

— O que está sentindo?

Loki deu um suspiro cansado e escorou mais ainda em Lex, apoiando o rosto em seu ombro.

Lex já estava acostumado a falta de consideração de Loki por espaço físico pessoal, mas mesmo assim ficou um pouco tenso com a aproximação. Brandon e Lisa eram os únicos com esse tipo de aproximação com Lex, nem mesmo Ursula era tão afetuosa.

— Sei lá... – disse Loki, quase sonolento – Um pouco de falta de ar, um desconforto no peito... Mas não é uma sensação ruim, sabe?

Lex franziu, considerando os sintomas.

— Se parece um pouco com ansiedade. – continuou Loki, com pouco interesse. - Mas... bom?

Ficaram em silêncio por um momento enquanto Lex continuava com a expressão pensativa, pensando se devia medicar Loki quando chegassem ou fazer um chá.

Loki, que até agora estava apenas com um dos braços apoiado em Lex, teve a compulsão de trazer o outro junto e praticamente agarrar-se em Lex ficando o mais próximo possível.

Em qualquer outro momento Lex teria tido aquilo como alguma piada, já que Loki tinha essa mania de deixa-lo desconfortável por diversão, mas esse não parecia ser o caso, ao que Loki fechava os olhos devagar e suspirava, como se estivesse muito contente. Seguro.

— Você está com frio? – perguntou Lex, tentando se desviar daquele momento constrangedor.

Loki negou com um pequeno riso e depois inclinou a cabeça para olhar para ele. Quando Loki não disse nada por uns longos segundos, Lex começou a corar, para seu próprio horror, algo que só aumentou o sorriso de Loki.

— Você realmente se importa comigo, não é? – novamente, para o desconforto de Lex, Loki não parecia estar brincando.

Lex tentou pensar rápido e parecer despreocupado, apesar de sentir como seu cérebro estivesse em delay.

— Não fique se achando, ok? Eu só estou cuidando de você porque Lisa pediu e ela quer que você seja mantido seguro. Isso não tem nada a ver com o que eu quero.

A expressão de Loki mudou lentamente, como se estivesse acordando de um sonho.

— É... acho que você tem razão.

Loki desenlaçou seus braços até voltar a sua posição inicial, depois, como se pensasse melhor, o soltou totalmente, ficando apenas caminhando ao lado de Lex.

Sua expressão tinha caído tanto a ponto que Lex arrependeu-se quase imediatamente do que disse e sentiu até falta do calor de Loki.

Mas só por que ele estava com frio. Só isso.

E tratou de bloquear os sentimentos de arrependimento também, pois Lex Luthor não se arrepende de nada.

Certo?

Porém, não deixou de sentir uma ponta irritante daquele sentimento alfinetando seu peito toda a vez que olhava para Loki. Tentou até mesmo perguntar se Loki estava bem o bastante para se sustentar, ao que Loki respondeu com um triste “sim, estou melhor” e um sorriso igualmente frustrante.

Lex enfiou as mãos no bolso do casaco e nos torturantes cinco minutos a mais que levaram para chegar ao loft quase terminou gritando “DESCULPA, EU ME IMPORTO. UM POQUINHO.” mas para sua satisfação do seu ego e orgulho próprio conseguiu aguentar até lá.

Entrar no apartamento foi um alivio e conseguiu arranjar desculpas para tocar em outros assuntos, o que pareceu agradável para ambos.

Lex fez um chá calmante para Loki, e por todo o tempo que ficou ocupado, Loki ficou ali, olhando para ele, com uma expressão suave que estava deixando Lex louco.

— Tem certeza que está tudo bem? – perguntou pela milésima segunda vez.

Loki riu com gosto, se bem que não tão alto e alegre quanto de costume, Lex não conseguiu evitar um sorriso também.

— Tudo bem. – respondeu Loki – Como eu disse deve ser só o cansaço, talvez um pouco de bebida também. – sorriu, mais para confortar Lex, e pegou sua xicara de chá. – Acho melhor eu ir descansar agora. Boa noite, Lex.

— Boa noite.

Lex observou Loki ir embora e apoiou-se no balcão da cozinha com sua própria xícara de chá. Sua mente repassava todos os acontecimentos do dia, assimilando tudo com mais calma. Chegou a conclusão que Loki realmente tinha tido um dia difícil e que provavelmente só estava agindo assim por conta disso.

Estava tudo bem, e amanhã voltaria tudo ao normal novamente.


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Notas finais do capítulo

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