Clínica de Reabilitação para Super-Vilões escrita por The Mother


Capítulo 10
Team: Parte II




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Estava passando do meio-dia.

Lisa dirigia o porshe de Lex por Smallville sem saber exatamente para onde estava indo, não sabia dizer para onde poderiam ter levado Loki. Lex tinha insistido em dirigir e quase se sentiu insultado quando Lisa disse que ele estava muito fraco para isso e que ela dirigira para ele. Ele estava agora sentando no banco do carona olhando pela janela com um olhar pensativo enquanto Lisa decidiu entrar num atalho para Gotham City.

Lex virou-se para ela. Tinha uma expressão séria no rosto, mas que não era agressiva, e esfregava uma mão na nuca; desconfortável.

‒ Você não percebeu nada de diferente naquela enfermeira? – perguntou com a voz calma e suave, como aquela que usava para fechar contratos com outras empresas.

Ela deu de ombros, sem tirar os olhos da estrada.

‒ Não. Por que?

Lex deu de ombros também.

‒ Por nada. – respondeu e ficou em silêncio.

Lisa tirou os olhos da estrada por um segundo para olhar para ele.

‒ Pode falar... Você viu alguma coisa? – perguntou num tom mais gentil. Quando se tratava daquele pequeno detalhe sobre Lex, ele ficava nervoso e fechado e preferia não falar nada. Tinha levado um bom tempo para que ela descobrisse que Lex possuía o que os antigos chamavam de Olho dos Deuses, onde um ser era capaz de ver através das dimensões. Especialmente porque Lex fingia que ele não via nada.

‒ Bom... É que... – suspirou frustrado e confessou: – É que ela brilha.

Por alguns segundos o único som do carro era o leve ronronar do porshe.

Lisa ergueu as sobrancelhas.

‒ Hm... Brilha? – falou com cuidado – Hã... tipo... tipo Crepúsculo?

‒ Não! – exclamou Lex, colocando uma mão no rosto – Não é isso. É que... sei lá, é como se ela estivesse emitindo luz própria. – tentou explicar – Como uma névoa.

Lisa franziu concentrada para a estrada.

Então teve um estalo e virou-se para Lex lentamente, com uma expressão de choque.

‒ Ai meu deus, ela é um fantasma?! – berrou Lisa. – Mas como é que eu a vi?

Fantasmas normalmente se pareciam com pessoas normais. De fato, se não fosse pela luz esverdeada que emitiam, era impossível um mediador ou médium, os diferenciar das outras pessoas e evitar fazer o papelão de falar sozinho no meio da rua.

‒ Não, Lisa! – Lex berrou de volta, colocando a mão nas têmporas. Era por essas e outras que detestava falar disso com os outros; ninguém entendia e ele não sabia explicar. ‒ É o mesmo que eu vejo com você! Eu nunca tinha visto antes a não ser em você!

Lisa sentiu-se pega de surpresa. Lex nunca tinha dito antes que via algo nela. Por pouco não freou o carro, só não o fez porque Lex iria reclamar que ela estava estragando as rodas.

‒ O que foi que disse? – o carro estava em silêncio de novo.

Lex suspirou e apertou os olhos, dando-se conta do que tinha dito.

‒ Eu achei que fosse nada demais, ou até mesmo que fosse impressão minha. Porque eu só vejo algumas vezes. Quando você está mais feliz. – confessou. Como só estavam ele e Lisa no carro, não se sentiu muito mal por estar um pouco perdido, coisa que não faria na frente dos outros, mas ainda se sentia desconfortável. Lisa o encarava como ele tivesse dito que gostava de andar pelado na rua. ‒ E tem outra coisa... – falou agora um pouco mais sério – Se você fosse algo... algum ser diferente, queria que você me contasse. Porque eu confio em você, Lisa.

A última frase veio com um pouco de pressão junto e Lisa encolheu-se um pouco no banco, encarando a estrada. Lex esperou que ela ultrapassasse um carro irritantemente lento que Lex olhou com desaprovação, depois virou-se apreensivo para ela.

‒ Você não vai dizer nada?

Lisa virou-se para ele.

Lex tinha os olhos muito expressivos. Os mais vivos que já tinha visto. Talvez fosse porque trancava muitos sentimentos para si.

‒ Eu não sei, Lex. – respondeu. E não sabia mesmo. O assunto tinha mudado tão rapidamente de Amy para ela, que chegava a se sentir tonta. E o que podia dizer? É claro que Lisa não era um ser humano normal. Nem era um ser humano para começo de conversa. Mas não sabia se estava preparada para ter essa conversa agora. – Será que podemos falar disso outra hora? – pediu gentilmente, não queria que Lex achasse que ela não confiava nele. Ela apenas não podia falar. – Vamos nos concentrar em encontrar Loki agora, está bem?

Lex assentiu com a cabeça e virou-se novamente para a janela. Não falou mais nada durante todo o caminho até os arredores de Gotham, que não foi tão longo assim devido a velocidade do porshe.

‒ O que fazemos agora? – perguntou Lex, quebrando o silêncio, assim que entraram no perimetro da cidade. Ela ainda estava isolada por conta da ameaça de bomba cósmica.

‒ Primeiro pegamos uma pizza. Daí vamos para o esconderijo do Coringa. – disse Lisa, num tom sério genuíno.

Lex a encarou.

Pizza, Lisa? – perguntou incrédulo.

‒ Lex! São quase uma e meia, você não está com fome?! – defendeu-se ela – Porque eu estou!

Lex bateu o punho contra a janela, furioso e impaciente.

‒ Droga, Lisa, o Loki foi sequestrado pelo Coringa! Será que você não se preocupa com isso?! Ele pode estar morto agora! – gritou angustiado e esfregou ambas as mãos no rosto. Às vezes não entendia os métodos de Lisa e não sabia se ela queria lhes deixar melhor ou pior.

Sentiu uma mão afagar seu ombro carinhosamente e olhou novamente para Lisa.

‒ Ele não vai o matar, Lex. Não se preocupe. – deu um sorriso consolador.

‒ Eu não me preocupo. – disparou Lex, como se Lisa fosse acreditar a essa altura – E como você pode saber disso?

Ela suspirou e parou o carro no drive-thru do Pizza Hut. A fila era curta e não iria demorar.

‒ Porque o problema dele não é com o Loki, Lex. É comigo. – explicou – Ele está brabo comigo e quer demonstrar isso ferindo Loki.

‒ Mas por quê?

Lisa olhou para suas mãos no volante, sentindo-se a pior pessoa do mundo. Era realmente culpa dela. Tinha pensado nisso durante o caminho a Gotham.

‒ Lembra da sexta passada? ‒ Lex assentiu – Ele está furioso comigo desde aquele dia. Não diria nem furioso, mas magoado... Loki o colocou uma lâmina na garganta e eu o coloquei de castigo e falei sua identidade secreta. Realmente não foi um dia bom para ele; ele sente que eu deveria ter colocado o Loki de castigo e não ele.

‒ Mas foi ele quem começou.

‒ É, mas ele não pensa assim.

Ficaram em silêncio por alguns segundos.

‒ Mas, sabe, também não foi bem certo o que você fez. – confessou Lex, um pouco hesitante.

Lisa ergueu as sobrancelhas.

‒ Vai me dar sermão sobre o que é certo e errado, Lex? – olhou irritada para ele, mas não demorou muito até sua expressão suavizar e se transformar em culpa de novo. Lisa suspirou. – Mas você tem razão, eu não devia ter feito aquilo, não posso perder o controle desse jeito... Sou uma péssima psicanalista, e extremamente antiética, não sei como vocês continuam voltando.

Seu tom fora um pouco triste e bastante sincero. Lex olhou para ela de testa franzida, um sorriso divertido se formando no canto dos lábios. A moça do drive-thru chamou Lisa e ela fez seu pedido.

‒ Você não sabe mesmo por quê? – perguntou quando ela acabou.

Ela virou-se para ele. Ainda se sentia insegura.

— Você é a única pessoa que não acha que somos completos monstros e que acredita ardentemente que podemos mudar e ainda não sabe por quê voltamos para você?

Lisa olhou para ele, um pequeno sorriso teimando em aparecer, então suspirou e deu de ombros. Não disse mais nada. Lex deu um daqueles sorrisos que ela idolatrava e acariciou sua mão que pousava na marcha.

‒ Às vezes acho que você é tão problemática quanto a gente.

* * *

‒ Não estou gostando nada disso.

Brandon se remexeu no banco traseiro, brincando com seu cinto de utilidades, abrindo e fechando compartimentos.

‒ Quem é que está no porta-malas, Coringa? – perguntou ele ‒ Você não sequestrou meu irmão, né? – parou de repente e agarrou-se no banco do passageiro da frente, puxando o rosto do Coringa de modo que pudesse encará-lo. – Não é o meu irmão, né, seu palhaço? Ou eu juro por Deus que-

Coringa tapeou a mão de Brandon e o empurrou para trás.

‒ Relaxa, gatinho! Não é o seu clone.., Mas ele vai ficar chateado! – deu uma risada histérica.

‒ E o que você está fazendo aqui? – Brandon perguntou para a mulher a seu lado.

Úrsula o espiou de canto de olho, deu de ombros.

‒ Pareceu interessante. – sorriu maliciosa.

Úrsula era a nova namorada de Lex. Uma péssima escolha na opinião de Brandon, mas, pra falar a verdade, quando é que Lex fazia boas escolhas? Todas as suas ex já tinham tentado o matar. Talvez namorar uma psicopata piromaníaca com pirocinese fizesse sentido para ele.

Mas também não dava pra dizer que era só isso. Úrsula era realmente muito bonita. Kat volta e meia a secava, herdando olhares nada agradáveis por parte de Lex. Seu rosto, bronzeado, mais parecia feito de porcelana; seus olhos, verdes e brilhantes, pareciam feitos de vidro e seu corpo era perfeito, nas proporções certas, e sempre coberto pelas mais caras e modernas peças de roupa. Para Brandon, a única coisa estranha eram seus cabelos ruivos: secos e extremamente volumosos, como os de um chow-chow. Possivelmente por causa de seu poder de fogo. De fato, esse era o apelido que Loki e Coringa haviam lhe dado: chow-chow. De resto, Úrsula era uma completa bonequinha, muito parecida com a última esposa de Lex, Lana Lang, só que muito mais madura e fria.

‒ Ei, ei, o que é isso?! – Coringa virou-se em seu banco, ficando de joelhos e de frente para o banco de trás. Estava apontando para um frasquinho com um líquido cor-de-rosa que Brandon havia tirado de um dos compartimentos do cinto.

‒ O que? Isso? – ele levantou o frasquinho – Ah, nada não, só uma coisa que roubei da bolsa da Lisa. – deu de ombros. Roubar era quase como um músculo para ele, movia-o inconscientemente, o levando a simplesmente roubar coisas.

‒ Roubou? – Coringa franziu por um momento, fazendo com que ambos Brandon e Úrsula o encarassem.

Percebendo que havia acabado de se preocupar com alguém roubando sua prima, e demonstrado isso, seguiu em frente.

‒ E o que isso faz? Mata pessoas? Explode coisas?!

Brandon deu de ombros de novo, olhando para o conteúdo no frasquinho. Não havia pensado em testar ainda.

‒ Eu sei lá. – virou-se para Coringa com um sorriso malandro no rosto – Quer testar?!

Coringa afastou-se rapidamente.

‒ Eu não!

Brandon riu e levantou-se do seu banco, tentando puxá-lo para perto.

‒ Ah, vamos, que mal vai fazer?!

Os dois começaram uma briguinha de puxa e empurra e os dois começaram a rir. Úrsula estava achando tudo terrivelmente tedioso e tentava empurrar os pés descalços de Brandon para longe até que foi confundida com uma jogadora e sem querer começou a brigar também.

Kat que estava dirigindo o carro deu um grito:

‒ Parem, seus merdas! Vão estragar meu carro! – tentou furiosamente puxar Coringa de volta para o banco – Brandon, para de arranhar o banco, seu filho da puta!

Todo aquele caos durou 2 minutos, até que Kat parou o carro abruptamente, jogando quase todos para a frente.

‒ Ai, Kat! – choramingou Coringa, esfregando uma mão na cabeça. Tinha a batido no para-brisa. – Não sabe brincar?!

‒ Brincar o cacete! Olha o estado do estofamento seus imbecis! – berrou ela.

Coringa ignorou e olhou para fora do carro. O calor estava escaldante e já tinham atingido a terra vermelha, á sua direita podia ver um precipício. Estavam no deserto.

‒ Chegamos! – cantarolou ele. Depois deu uma de suas risadas histéricas e pulou para fora do carro.

Estavam todos do lado de fora do carro, rodeando Coringa no porta-malas. O sol estava forte e o céu estava limpo, sem nenhuma nuvem. Não fosse por algumas árvores finas e secas e alguns arbustos, estavam no meio do deserto.

‒ E se alguém passar por aqui? – perguntou Úrsula com uma mão sombreando os olhos. Olhava para o horizonte, na direção da onde tinham vindo.

‒ Ninguém vai passar aqui, docinho – deu uma risada –, acredite, eu sei! Nenhuma alma viva passa por esse atalho a pelo menos uns seis anos. É um ótimo lugar para descartar o lixo, se é que me entende! – piscou o olho para Úrsula.

Úrsula deu de ombros e imediatamente se aproximou do penhasco para espiar a descida. Kat e Brandon a acompanharam.

No começo não viram muita coisa além de muitos sacos de lixo. Até que Brandon conseguiu usar sua elasticidade de gato para olhar mais de perto.

­- Ai que NOJO!! – resmungou horrorizado e colocando uma mão na frente dos olhos. – Você é um grosso, sabia?!

— Ah, não vem de mimimi não, tá legal? Você já viu coisa pior. – reclamou Coringa, enquanto procurava as chaves do porta-malas.

— Duvido muito.

Brandon olhou para as garotas para ver se alguma das duas dividia o seu nojo, mas elas não haviam movido um músculo sequer do rosto.

— Nossa, eu sou mesmo o único que não tem coração gelado aqui, né? – resmungou brabo outra vez e as seguiu novamente até onde Coringa estava. Abrindo o porta-malas.

Houve uma pequena pausa e algumas exclamações quando Coringa o abriu. E resmungos, muitos resmungos abafados. Mas que vinham só de uma pessoa.

—Oh. Meu. Deus. – sussurrou Brandon – Não acredito que fez isso!

Coringa deu de ombros.

— Hm... Lisa não vai gostar nada disso... – disse Kat, preocupada. Ela e Brandon se entreolharam.

— Dane-se a Lisa! – berrou Coringa e agarrou os cabelos de Loki, o arrastando para fora.

Ursula aproveitou e sentou-se na beirada do porta-malas, parecendo muito satisfeita.

Coringa o largou no chão quente do asfalto e começou a saltitar em sua volta.

— Oláa! Com o vai nosso Avatar preferido, hm? – Coringa empurrou Loki com o pé para que visse seu rosto. – Não parece tão corajoso agora... O que foi? Perdeu sua faquinha, é? – chutou seu estômago com toda a força. Começou a rir.

Kat suspirou e encostou-se no carro, decidiu acender um cigarro. O trabalho dela era levar eles até ali; já tinha o feito.

— Loki, Loki, sabe o que um passarinho me contou? – deu uma risadinha, compartilhando um olhar cúmplice com Úrsula – Acho que você tem uma fraqueza, uma bem interessante. Não é verdade?

Loki balançou a cabeça negativamente e resmungou furioso contra o pano que o calava. Estava sentindo seu corpo arder sob o sol escaldante, mal conseguia abrir os olhos por causa da luz cegante.

— Hmmmm... eu acho que sim. Está se sentindo bem, Loki? Não está muito quente? – Coringa começou a rir histericamente.

Úrsula compartilhou da animação e acendeu uma bola de fogo em sua mão, olhando dela para Loki.

Os olhos dele se arregalaram. Loki começou a olhar em volta, procurando por ajuda.

Brandon estava sentado no chão, não muito longe dele. Sua expressão demonstrava preocupação, mas não havia nada que ele pudesse fazer.

— Brandoon! – cantarolou o palhaço – Não vai brincar com a gente?! Pensei que gostasse!

O gato olhou para Coringa depois para Loki de novo.

— Não estou muito animado hoje. Deve ser o calor. – forçou um sorriso.

Coringa começou a rir de novo e dizer “Boa!” até que Úrsula chamou sua atenção.

— Vamos logo, palhaço! – disse impaciente, e colocando-se de pé.

Aproximou-se lentamente do corpo de Loki, jogado no chão, impossibilitado de se mover.

— Ah sim, sim. Aliás... – virou-se empolgado para Loki – Percebeu que sua magia não funciona nas amarras?! É um souvenirzinho que Úrsula conseguiu para nós. Algemas asgardianas. Não são o máximo?

Loki estava começando a se desesperar de verdade. Estava sentindo sua pele ressecar rapidamente, seu rosto parecia estar pegando fogo. E Úrsula ainda estava se aproximando com as mãos repletas dele.

Ele só conseguia pensar numa coisa: Onde estava Lisa uma hora dessas?


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