Clínica de Reabilitação para Super-Vilões escrita por The Mother


Capítulo 1
Metrópolis




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O sol nasce sem pressa no horizonte e as estrelas se despedem com teimosia. Tão poética é a manhã que parece se espalhar rápido em Metrópolis, empurrando as pessoas para fora de suas casas com toda a brutalidade de uma segunda-feira... mesmo que na verdade seja sexta e toda essa brutalidade seja porque as pessoas querem logo ir para as festas.

Em algum lugar no meio dessa cidade, uma jovem observa da janela de seu apartamento pessoas saindo para trabalhar e carros que aumentavam de quantidade a cada minuto. A cada buzina e grito seu coração batia mais rápido. Nada era mais empolgante que o barulho de seres humanos se agitando. Melhor do que o silêncio morto do espaço.

Eram pessoas indo para o trabalho, outras voltando. Pessoas que provavelmente voltavam da farra... E que planejavam voltar para ela depois do trabalho.

Aprontou suas coisas e preparou-se para juntar-se às pessoas que saiam para o trabalho.

Devo dizer que ela estava um tanto animada para uma segunda-feira.

Também era muito cedo para sair e provavelmente não havia quase ninguém no escritório, mas ela gostava de percorrer o caminho até a clínica e observar as pessoas no caminho ou até mesmo conhecê-las. Muitos questionariam este hábito, principalmente seu pai e seu tio que achavam que ela poderia conhecer algum assassino e não voltar para casa. Mal sabiam eles que isso já havia acontecido algumas vezes, mas não a impediu de voltar pra casa. Aliás, eles até mesmo se ofereciam para acompanha-la e entregá-la com segurança.

Também gostava de passar pela Cadmus Labs e visitar Lex Luthor, seu amigo de infância e também paciente, para que ele não se esquecesse da reunião.

Sim, eu sei o que você está pensando (ou deveria estar pensando), um psiquiatra não pode ser amigo de seu paciente, mas bem, Lisa vem de uma família de foras da lei. Para ela, regras eram feitas para ser quebradas.

– Srtª Elisabeth Gray? – ouviu quando já estava perto da porta. Olhou para trás para ver seu pai, Gabriel Gray (conhecido pelas más línguas como Sylar), encostado na entrada da cozinha usando um moletom bege tricotado por ele mesmo e uma caneca de café na mão. – Não está se esquecendo de nada? – disse com um fingido desinteresse.

Lisa pensou por um instante. Quando não respondeu, Gabriel apontou para a caneca.

– Ah, o café! É claro! – deu um tapa dramático na testa – Pode deixar que eu tomo no caminho! – sorriu, em seguida correndo para beijar-lhe o rosto. – Gabrielle já deve estar abrindo a cafeteria.

– Quer uma carona? – perguntou outra voz vinda da cozinha. Era seu tio Dexter que havia acabado de tomar café e também se preparava para sair. Seu tio trabalhava nas empresas Luthor como hacker profissional, dentre outras coisas, desde que tinha saído da polícia. Ela nunca soube exatamente que era o dentre outras coisas, mas preferia não se meter – Só tenho que acabar esses bolinhos – disse de boca cheia devorando os bolinhos que seu irmão caçula preparou, não só porque eram deliciosos, mas porque Dexter era um saco sem fundo. Lisa achava misterioso o modo com seu tio conseguia devorar tantos bolinhos e permanecer em forma. – Também preciso levar Harrison para a faculdade. - disse ele, e Lisa pode ouvir alguns grunhidos de segunda-feira vindos do fim do corredor, provavelmente Harrison que acabava de acordar.

– Não, obrigada, Dex. Gosto de ir a pé e ver o movimento. – despediu-se dos dois e dirigiu-se para a porta.

O céu estava mais claro quando saiu do prédio, o sol refletia nas janelas dos gigantescos edifícios dando vida à cidade. Não que ela não tivesse vida à noite, na verdade havia vida até demais à noite, devido a um misterioso palhaço e seu namoradinho morcego.

Lisa respirou o ar surpreendentemente fresco, culpa dos famosos jardins que ocupavam a maioria dos topos dos prédios da cidade. Era com certeza uma cidade muito peculiar. Não só pelas estruturas, mas também por seus habitantes. Era como a cidade de Smallville ou Haven, onde coisas estranhas aconteciam o tempo todo, só que bem maior e bem mais diversificada. Falando em Smallville, fez uma nota mental para não se esquecer de visitar a cidadezinha o mais breve possível, precisava de amostras de meteoritos para uma experiência que estava fazendo. Lex ia emprestar-lhe o laboratório.

No caminho, passou na livraria e cafeteria Grays & Sons, loja da família, onde Gabrielle já abria o café. Seu pai apenas abriria a loja lá pelas oito horas e ainda eram sete da manhã, mas pelo horário era mais lógico ter pelo menos alguém na cafeteria. Quem havia dado a ideia era Lex, o que também é lógico, pois era um empresário e você sempre deve aceitar conselhos de um empresário (a não ser que seja seu concorrente).

Gabrielle era uma moça mais ou menos da idade de Lisa, com a beleza de uma modelo. Tinha a pele morena e o cabelo liso amarrado atrás como uma escultura moderna e as franjas caindo na altura dos olhos. Quando Lisa entrou na loja, Gabrielle regava suas plantas pelas quais (assim como qualquer outra fada) era apaixonada.

Lisa ficou por alguns minutos observando enquanto Gabrielle preparava seu café e se perguntando por que uma moça tão linda trabalhava numa cafeteria onde poucos poderiam vê-la. Foi então quando pensou melhor e se perguntou por que uma moça tão linda não poderia trabalhar numa cafeteria.

– Você é muito bonita, Gabrielle. – disse Lisa de repente, despertando a moça que até então estava concentrada servindo o café.

Lisa tinha o costume de dar elogios repentinos. O costume vinha junto da sinceridade, que por muitos podia ser considerada exagerada. Ela nunca entendeu exatamente o que era um exagero de sinceridade e porque era tão alarmante.

Gabirelle sorriu.

– Obrigada. – agradeceu no seu jeito doce de fada.

Lisa sorriu em retorno. Olhou para sua xícara de café e de volta para Gabrielle.

– Não é engraçado como existem profissões para a beleza? Nascer bonito já te dá uma profissão. É o quanto valorizamos a beleza exterior. – confessou Lisa, num de seus lampejos de sinceridade e reflexão. Depois inclinou-se sobre o balcão como se fosse contar um segredo – Nunca deixe sua beleza escolher sua vida por você. – voltou para o seu lugar – A não ser, é claro, que você aprecie a escolha.

Com isso tomou seu café como prometido e se despediu de Gabrielle, deixando a moça a regar suas plantas e a se olhar nos reflexos da vitrine da loja.

A Cadmus Labs era um enorme edifício moderno no centro da cidade onde se abrigavam centenas de laboratórios. Era somente uma das várias empresas da família Luthor, mas o lugar preferido do jovem herdeiro Alexander, ou como era popularmente conhecido: Lex (Luthor é para os inimigos). Tinha sido construído bem ao lado do edifício principal das empresas Luthor complementando a beleza futurística que era marca registrada da poderosa, porém amaldiçoada, família.

Amaldiçoada porque, bem, uma família onde um garoto perde o cabelo permanentemente, a mãe enlouquece e mata o recém-nascido na frente do dito garoto e um pai que é um sociopata magnata não é exatamente uma família feliz. Muito pelo contrário, Lisa achava impressionante como Lex tinha chegado à idade adulta sem fazer nenhuma bobagem. Tinha medo de perguntar se havia tentado, tinha a sensação de que não iria gostar da resposta.

Lex, como era de se esperar, encontrava-se sentado atrás da mesa de seu escritório no penúltimo andar do edifício. Sua sala ocupava quase todo o andar. Usava as roupas típicas de um empresário, com exceção do paletó que estava pendurado atrás de sua cadeira. O que mais se destacava era sua gravata estampada em verde e roxa com detalhes dourados. Lex era muito caprichoso quando se tratavam de gravatas e Lisa adorava esse detalhe sobre ele.

– Lisa! – Lex atirou-lhe seu sorriso mais contagiante levantando-se assim que Lisa entrou em seu escritório. Era um daqueles sorrisos largos e encantadores que te desarmam, não deixando outra escolha a não ser sorrir de volta.

Quando se abraçaram Lisa pode sentir o leve e agradável perfume que impregnava suas roupas, como se elas fossem feitas de flores do campo. Lex tinha as melhores colônias... ou as mais caras. Dá no mesmo.

Parecia estar no escritório há muito tempo. Haviam leves olheiras em seus olhos azuis, que para Lisa, pareciam ter pequenas partículas de diamante que faziam o azul brilhar e se movimentar como ondas do mar.

Os olhos de Lex eram algo extremamente intrigante. O modo como as cores pareciam ter vida própria, eram para Lisa algo sobrenatural, que, devido a fama da cidade, não era algo tão surpreendente assim.

– Imaginei que você já estivesse aqui e vim vê-lo. – disse Lisa quando se separaram – E também para assegurar que não vai fugir de outra reunião na clinica...

– Ah... sim. A reunião. – Lex começou a andar lentamente pela sala como um predador cercando a presa. Fazia isso mais por costume do que qualquer outra coisa – É que eu estive... ocupado.

E devia estar mesmo, pensou Lisa. Pois, Lex Luthor – assim como qualquer outro paciente de Lisa – é o que poderia ser chamado de super-vilão.

Sua vida consistia simplesmente em tentar derrotar seu arqui-inimigo, no caso de Lex, Super-homem, o mais poderoso super-herói do mundo. Sim, do mundo ou até mesmo da Galáxia (o que Lisa achava absurdo, afinal, numa galáxia com milhões de planetas, obviamente existe alguém mais poderoso), pois Lex nunca pensou pequeno, possuía na verdade um grande ego acompanhado de uma imensa genialidade e muito dinheiro que fazia dele tão grande e poderoso quanto seu inimigo.

Lisa não gostava de admitir em voz alta, principalmente entre heróis, mas se orgulhava muito dele por isso.

Ficou por um tempo conversando com Lex e perguntou sobre Brandon, o irmão gêmeo de Lex que morava atualmente em São Francisco; decisão de Lex. A justificativa dele era que Brandon pudesse atrapalhar seus planos, mas Lisa podia ver através das pessoas. Ela sabia que ele tinha enviado Brandon para que ficasse seguro (afinal, ele tinha incontáveis inimigos) e pelo medo de que ele passasse tempo demais com ele e passasse a odiá-lo, assim como todos aqueles de quem se aproximou. Lisa tentava incansavelmente mudar esse pensamento e ensiná-lo a dar chance para as pessoas.

Para Lisa a expectativa que a maioria das pessoas costuma ter – de que porque todas as pessoas que conheceram até agora não prestaram, nenhuma das outras prestará – é completamente insana. É fato que todas as pessoas são diferentes; não existe ninguém igual. Nem gêmeos são iguais. Você não pode acreditar que só porque se decepcionou com 10 pessoas ou mais, todas as outras 7 bilhões serão como elas.

Por isso Lisa incentivava todos os seus pacientes a conhecer o máximo de pessoas possível. Tinha até mesmo transformado isso num jogo, já que vilões tinham um carinho especial por disputas. Dava um prêmio em todas as reuniões de sexta-feira para aquele que tivesse conhecido mais pessoas e contasse um pouco sobre elas.

Era uma tarefa um tanto difícil para ela, já que precisava inventar um novo prêmio a cada final da semana.

– É sexta-feira, Lex. – disse Lisa.

– Hmm – Lex fazia algum tempo que não tirava os olhos de seu tablet, movendo a caneta com grande concentração. Ele fazia muito isso, principalmente quando estava no meio de um plano diabólico.

– Espero que tenha conhecido várias pessoas.

– Claro, claro. – disse ele, altamente concentrado.

Percebendo com isso que a conversa já tinha acabado e não havia mais nada para fazer ali, Lisa levantou-se para ir embora.

Deu a volta na mesa e carinhosamente beijou Lex no rosto, alertando-o de novo sobre a reunião e arrancando outro sorriso de Lex.

– Não se esqueça! – repetiu Lisa ao sair.

– Uh-hm – murmurou Lex enquanto pousava o tablet na mesa e um holograma se projetava no ar.


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