Demigods in Hogwarts escrita por SeriesFanatic


Capítulo 43
Ironia




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– Deveríamos estar estudando para as N.I.E.M.’s! – Frank disse quase arrancando os próprios cabelos.

Ele havia conseguido atingir seu objetivo e havia emagrecido, também havia crescido um pouco, deveria estar com um metro e oitenta, o mais alto dos sete. Nos últimos dois meses, todos eles haviam mudado fisicamente, todos haviam crescido e emagrecido. O estresse fez com que as meninas esquecessem que existiam produtos de beleza ou hidratantes, os meninos se esqueciam de tomar banho e de fazer a barba. Claro que é nojento, mas quando se está em uma missão contra o tempo e sem pistas nenhuma, é normal esquecer que existe algo chamado sabonete! O estresse é inevitável (ainda mais com o treinador Hedge cantando músicas dos filmes da Disney e trocando quase todos os verbos por “matar, torturar, esfolar”). O que os salvou de não enlouquecerem na busca pelas Horcruxes, que poderiam ser qualquer coisa, foram os relacionamentos. Principalmente os namoros. Os laços de amizade, de sangue e amorosos haviam sido fortalecidos ao máximo. Claro que havia diferenças entre os tripulantes, mas nada que Annabeth não pudesse dar conta.

– Também deveríamos ter ajuda da Legião ou de adultos, mas nem sempre a vida é justa! – Percy respondeu, ele estava distraído desenhando.

– Isso é loucura! – Leo exclamou, os cabelos castanhos encaracolados estavam maiores. – Tá legal, os deuses nos escolheram, mas daí a nos deixar sozinhos? Mandar a gente em uma missão sem sentido ao redor do mundo caçando partes de almas que podem estar presas a qualquer coisa... – ele bufou sarcástico. – Os Pretores e os demais estão loucos!

– Não diga isso. – Jason repreendeu.

– Sparky, sabemos que vocês descendentes dos Romanos não gostam de quebrar as regras ou ofender as pessoas, muito menos os superiores. Mas o Leo tá certo. – disse Piper.

– Sei que vocês três prefeririam estar em Hogwarts seguindo as regras e terminando o último ano da escola, mas o nosso destino é outo. – Annabeth olhou para Jason, Frank e Hazel. – Também preferiria estar estudando e tendo uma vida normal, mas, infelizmente, nós não temos escolha.

Um silêncio imenso começou, todos sabiam que a líder estava certa. Mas eles tinham saudade de casa, dos amigos e familiares... de ter uma rotina e de não correr perigo constante de vida. Jason ficou virando sua moeda/lança/espada entre os dedos, ele fazia isso quando estava estressado; Leo continuou montando alguma coisa com as peças que tirava do cinto; Piper comia um hambúrguer vegetariano; Frank comia panquecas; Hazel estava desenhando junto com Percy e Annabeth lia um livro antigo em latim. O Argo II navegava perto da Dinamarca, pois a última pista que tiveram os levou para as geleiras, mas era falsa, então resolveram voltar para a Grécia, só que o navio era mais lento no mar congelado. Eram umas oito da manhã e todos estavam tomando café, o treinador Hedge guiava o navio no deck superior enquanto os bruxos estavam na sala no primeiro deck.

Jason usava calça jeans escura, tênis, camiseta de mangas compridas roxas e uma jaqueta de couro preta. Piper usava calça jeans, botas pretas, blusa de moletom branca, cachecol azul escuro e um gorro azul claro. Leo usava calça de moletom cinza, camiseta de mangas compridas preta, meias grossas com pantufas e um cachecol preto. Frank usava calça jeans, botas de esquimó, camiseta verde com um casaco de flanela preto. Hazel usava jeans, botas pretas, blusa de mangas compridas cor de rosa, casaco jeans azul escuro, luvas de couro e os cabelos estavam presos em um rabo-de-cavalo. Percy usava calça jeans preta, meias, camiseta preta de mangas compridas, um novo casaco cinza e gorro cinza, que ficava engraçado graças a mexa de mesma cor no cabelo dele. Annabeth usava jeans, botas de veludo marrom, blusa de mangas compridas cinza, sua jaqueta marrom e um cachecol vermelho. Estava muito frio, mas a missão vinha em primeiro lugar.

– Acho que voltar para Grécia será perca de tempo. – disse Leo.

– É nossa melhor pista. – Hazel falou.

– Pois é, sobre essa história de “melhor pista”... a última nos levou até aquela cobra doida e aqueles cereais psicopáticos. Se não fosse por Hazel e Frank, nós estaríamos mortos. – Piper os lembrou. – Admitiam, estamos mais perdidos que o Percy nas aulas de poções!

Aquilo foi engraçado. A situação era grave e todos estavam tensos, era raro alguém fazer alguma piada ou brincadeira, nem mesmo Leo tinha humor para isso. Com exceção de Percy, os demais caíram na risada. Era algo bobo e que, normalmente, ninguém iria rir, apenas iriam concordar. Mas o nível de estresse estava tão alto, que essa simples brincadeira fez com que eles rissem. Percy não disse nada, apenas se levantou sério e subiu as escadas em direção ao deck superior. Os demais pararam de rir e olharam para Annabeth, ela assentiu com a cabeça e foi atrás do namorado. Estava M-U-I-T-O frio no deck superior, muito frio MESMO. O treinador Hedge usava um casaco imenso cor vermelha e a barbicha dele estava congelada. Ele assoviava no timão, tinha óculos para neve no rosto e parecia um corredor baixinho de maratona no gelo. Percy sentou-se com as costas apoiadas na figura de proa, a cabeça de Festus, o animal de estimação de Leo.

– Ei. – ela disse cruzando os braços e sentando ao lado dele. Fumaça saiu de sua boca, flocos de neve caiam nas madeixas loiras. – Piper não quis te ofender.

– Eu sei. – ele abriu as mãos extremamente brancas, por causa do frio, e mostrou a ela cubos de gelo. Ele conseguiu fazer os cubos moverem e mudarem de forma. Era capaz de controlar o gelo. – Não estou com raiva dela.

– Então... – Annabeth tentou disfarçar o fato de que ela estava maravilhada ao descobrir mais um poder dele.

– Sei lá... – Percy deu de ombros. – Sinto que estamos andando em círculos. Só que ao redor do mundo.

– O mundo é redondo, Cabeça de Alga.

– Eu sei. – ele deu um leve riso. As bochechas pálidas coraram. – Mas... sei lá... sinto que estamos indo no caminho errado. Sinto isso desde que quebrei aquele espelho idiota.

Annabeth se lembrou da noite que destruiu o diário. Das visões ilusionistas que viu. Ela se perguntou se Percy viu algo parecido.

– Você viu algo fora Piper versão masculina? – ela disse séria.

– Como...?

– Percy, eu te conheço melhor do que você mesmo. – ela zombou. – Mas... – desviou o olhar. – Naquela noite, no Bunker... antes de enfiar o dente no diário... eu senti minha mão queimando. Como se o veneno da Píton estivesse penetrando meu corpo. Vi Malcolm morrendo numa fogueira. Mamãe e papai decapitados. Thalia desmembrada. Os órgãos de Luke jogados para fora do corpo dele... vi coisas horríveis. Senti que o diário estava querendo me impedir de destruí-lo. Forçando o dente a queimar na minha mão e mostrando ilusões para me impedir de prosseguir. – ela disse com medo, ainda tinha pesadelos sobre aquela noite.

– Você me viu? – ele temia a resposta. Annabeth balançou a cabeça positivamente, mas a expressão no rosto dela parecia implorar para que ele não a força-se a revelar.

– As Horcruxes... irão fazer de tudo para que nós não a destruirmos. Irão nos mostrar nossos maiores medos. Tentar nos impedir fisicamente de prosseguir com a missão. – ela disse. – Ao menos foi isso que eu aprendi naquela noite.

– Sabe o que foi que eu aprendi naquela noite? – ele encostou a testa na orelha direita dela. – A nunca apostar contra você.

Annabeth sorriu e eles trocaram um selinho, estava frio demais para um beijo. Os lábios dos dois estavam rachados e Festus soltava fumaça pelas narinas. Segundo Jason, Festus foi um dragão construído pelo próprio Hefesto como presente para o único filho, mas durante o coma de Percy, quando os Comensais da Morte atacaram uma cidade trouxa, Beckendorf pegou o dragão do primo emprestado para salvar a vida dos humanos. Ele conseguiu salvar várias pessoas junto com Connor, Travis, Butch, Luke, Miranda, Katie, Silena e Thalia, mas o corpo de Festus foi destruído. Como a cabeça ainda funcionava, Leo colocou como figura de proa.

– Então quer dizer que você é Jack Frost?! – ela brincou abrindo a mão dele e segurando os cubos de gelo, ao ver o sorriso no rosto dela, Percy riu.

– Mais ou menos, eu acho. Eu controlo a água e gelo é água congelada. – ele deu de ombros e ela caiu na gargalhada.

– Não brinca, Sherlock! – riu.

– Bem, se eu sou Jack Frost, então você é a Elsa. – ele beijou a ponta da cabeça dela que estava encostada em seu ombro.

– São personagens de filmes diferentes, Cabeça de Alga. – ela riu

– E daí? Eu shippo! – ele sorriu.

Eles ficaram abraçados ali por um bom tempo, aturando a cantoria irritante do treinador.

– Você. – ele disse sério depois de muitos minutos em silêncio. Annabeth abriu os olhos, que ardiam por causa do frio, e o encarou com a testa franzida. – Contracorrente parecia cortar minha mão, como se o cabo fosse feito de espinhos iguais a daquela manticora que encontramos em Vancouver semana passada.

– Aquela que fez Jason chorar de medo chamado Thalia?

– É. Fisicamente... foi assim que eu me senti. Mas o que eu vi... – o rosto dele ficou mais pálido e não foi por causa do frio. – Você parecia um zumbi feito de terra, como se Gaia te controlasse. Eu me vi caindo em um penhasco, rumo ao tártaro, com você rindo dando uma de Scar em O Rei Leão... pode parecer nada, mas...

– Ei! – ela o abraçou forte. – Foi o mesmo que eu vi. Só que ao inverso. Você é que era o zumbi e eu era quem estava caindo no tártaro. – uma lágrima escorreu pelo rosto dela, congelando na bochecha. – Durante anos eu revi essa ilusão em meus pesadelos e sempre temi que um dia fosse virar realidade.

– Não vai virar! – ele beijou a testa dela e abraçou mais forte. – Nós ficaremos juntos. Sempre.

– Eu te amo. – Annabeth aninhou a cabeça no ombro dele e voltou a fechar os olhos.

O frio era tanto que o vento cortava a pele. Os cílios e sobrancelhas deles estavam congelados.

– O que você acha que meus sonhos com Piper homem querem dizer? – ele perguntou por fim.

– Não faço a mínima ideia. – ela respondeu ainda de olhos fechados. – Talvez a Horcrux quis te deixar doido ou coisa do gênero.

– Pode ser. Quer dizer, se fosse uma mensagem ou pista, você também teria visto Piper de barba. – ele deu um bocejo.

Annabeth abriu os olhos. Havia tido uma epifania.

– É ISSO! – exclamou e o beijou. – Percy, você é um gênio!

– Hoje não é primeiro de abril para você dizer isso! Estamos em setembro. – ele respondeu sem entender.

Ela levantou, gritou “Londres” para Hedge e correu até a sala, onde todos ainda se encontravam em um silêncio mortal e com o clima meio tenso. Provavelmente houve briga. Percy deu de ombros, acenou para o treinador Hedge e foi atrás da namorada. O semblante de Annabeth estava animado, algo que ele não via tinha muito tempo.

– Temos uma pista. – ela disse com sua hiperatividade fazendo efeito.

– Se isso for alguma piada... não tem graça. – Leo disse com o rosto melado de graxa.

Eles quase caíram para a direita quando Hedge moveu o navio não tão gentilmente para o novo curso. Hazel quase vomitou o café da manhã, ela se sentia muito enjoada no mar. Talvez por poder controlar a terra é que ela se sentia assim.

– Onde estamos indo? – Frank perguntou com a testa franzida.

– Vila Olímpia. Vamos visitar seus pais Piper. – Annabeth disse animada.

Todos, incluindo Percy, se entreolharam intrigados e depois olharam para Piper.

– Eu venho evitando as mensagens de Íris da minha mãe desde que saímos de Hogwarts para que ela não fique doida sabendo dos perigos que enfrentamos e você quer que a gente vá lá para casa?! – Piper exclamou. – Não sei se você reparou, mas não somos pessoas normais. Não estamos indo da escola para Londres para um fim de semana de diversão na casa de um de nossos pais. Estamos correndo contra o tempo!

– Eu sei. – Annabeth sentou na única cadeira vazia, ao lado de Jason, e olhou fixamente para ela. – Mas aí é que está. TEMOS que ir para a mansão dos Swan.

A loira contou dos sonhos que Percy veio tendo e ele confirmou. Mas falou algo que nem ele sabia. Desde que havia destruído o diário, ela sonhou com ele, mas não era exatamente Percy. Os olhos dele eram azuis e tinha uma imensa cicatriz no rosto, maior que a de Luke. Nenhum deles pareceu surpreso.

– Eu sempre vi Percy nessa cela. Agora eu sei que era a cela onde Rachel foi mantida e que era onde estava o espelho de Ojesed. Mas eu nunca conectei os fatos ou os entendi. Gente, eu não vi Percy, eu vi Perseu! – ela finalizou.

– Achei que o nome do Percy fosse Perseu. – Frank disse coçando a cabeça, confuso.

– E é. – Percy respondeu com a boca cheia de bolacha com queijo.

– Termine de mastigar e depois fale. – ela repreendeu e Percy concordou com a cabeça. – Não era você, Cabeça de Alga. Era Perseu. Aquele fantasma que adora brigar com os Lares.

– Não só com os Lares. – Jason disse. – Ele me cobriu de papel higiênico enquanto eu estava petrificado, Júpiter ficou uma fera.

– Onde foi que eu tava quando isso aconteceu? – Percy riu e quase cuspiu farelos na cara de Leo, Annabeth o repreendeu com o olhar e ele ficou quieto.

– Então... você acha que as Horcruxes estão nos dando pistas de onde estão as próximas? – disse Hazel. – Isso não faz sentido. Por que elas dariam pistas das demais? É suicídio.

– Não são as Horcruxes. São nossos antepassados. Gaia matou sete pessoas. – Annabeth apontou para cada um. – Todos os descendentes desses sete resultaram em nós. E Horcruxes são partes da alma de Gaia, mas... E SE a alma dela não foi a única coisa que ficou presa aos objetos?

– Você acha que os nossos antepassados é quem estão nos dando às pistas? – disse Frank.

– Faz sentido não é? Eu vi Perseu, o diário provavelmente era dele, o sobrenome escrito no objeto era Olympus em grego antigo. Gaia mesmo disse que esteve observando os netos durante anos. Percy viu a versão masculina de Piper nos sonhos e quando destruiu o espelho e no sonho, esse mesmo cara disse que havia construído o espelho de Ojesed. – Annabeth explicou.

– Reia. – Percy disse entendendo o raciocínio. – Reia disse que deu o diário para Eros colocar nas coisas de Silena, para assim Piper ser sequestrada e Jason destruir o objeto, tornando-se o líder. O diário esteve com Reia o tempo todo. O que não faz sentido. Se eu sou descendente de Perseu por parte de mãe, como é que minha avó materna tinha o objeto?

– Por causa do seu tio-avô. – Hedge desceu para a sala, as bochechas dele estavam muito brancas. O sátiro fechou a porta e tirou o imenso casaco, deveria estar congelando. – Richard e Jim eram os historiadores mais respeitados do Mundo Mágico. Eles guardaram a relíquia mais preciosa da família Jackson, o diário de Perseu. Quando estávamos no meio da Segunda Guerra, Richard deu o diário para Reia, na esperança de que ela o mantivesse seguro até que fosse seguro novamente, então ela devolveria o diário para Sally. Mas Rick morreu dias depois e Reia provavelmente descobriu o significado oculto do objeto, algo que ninguém da família Jackson, desde a Primeira Guerra, suspeitou existir.

– E como é que você sabe disso? – Leo estranhou.

– Elfos não são os únicos que são escravizados, Valdez. Eu trabalhei para os Jackson, meu pai trabalhou para os Jackson. Meu avô, meu bisavô... somos fieis a família de sua mãe desde muitos anos antes de Gaia nascer. Sua mãe sempre foi boa comigo, ela me libertou. Que os deuses abençoem Sally Jackson, a bruxa mais bondosa que eu já conheci. – o treinador Hedge tinha um ar de tristeza, mas ao mesmo tempo parecia se lembrar de coisas boas. – Ela é quem me deu o “apelido” de treinador. Eu era bom com vassouras e ela queria entrar para o time de Quadribol da Corvinal, então eu a ajudei. Ela virou a maior apanhadora da história da casa.

– É. Katie e Miranda me contaram sobre isso uma vez, no primeiro ano. – disse Annabeth. – Sally foi a melhor desde a fundação da escola. Ela é para os Corvinos o que Zeus é para os Grifinórios. E que Tonks foi para os Lufos.

– Treinador... – Percy levantou e ficou de frente para o sátiro, entendo o motivo dele ter se juntado nessa missão maluca. – Obrigado. De verdade. Lamento pelo que minha família fez com a sua, mas infelizmente eu não posso mudar o passado. Apenas posso lhe assegurar que o futuro será diferente.

– Você é igual a sua mãe, menino. Justo, fiel. É rebelde como seu pai, mas puxou todas as boas qualidades dela. Às vezes eu me pergunto por que você não foi para a Grifinória. Só me prometa uma coisa, garoto... se eu morrer nessa guerra... cuide do meu filho.

– Você não irá morrer treinador. E eu juro pelo rio Estige, que cuidarei de seu filho. – Percy estendeu a mão, mas Hedge o abraçou. – E eu tenho orgulho de ser da Lufa-Lufa. – ele acrescentou com um sorriso.

– Então... agora que quase tudo está explicado... pode ao menos dizer sua teoria sobre como esses objetos tem as almas daqueles sete e eles continuam mais mortos que a inteligência do Percy ou o senso de “não desmaio” do Jason? – disse Leo.

– Acho que me equivoquei quando disse que as almas dos sete também estão nos objetos. – ela disse com sua famosa cara de “estou pensando, não me interrompam”. – O diário de Perseu... o espelho da versão masculina de Piper... eu acho... que as demais Horcruxes são objetos que pertenceram aos sete mortos. E que os fantasmas deles, ou até mesmo os deuses se comunicando através das almas desses pobres coitados, é quem estão nos informando. Pensem bem, os deuses não querem que alguém seja capaz de ser imortal para sempre, por isso que surgiu a profecia dos Sete. Esse é o principal motivo dessa missão. Mas de que adianta ter guerreiros, se não há o que combater.

– Os deuses nos ajudando faz muito sentido. – disse Hazel.

– A lâmina maldita deve ser Anaklusmos. – disse Jason. – Digo, essa espada tem mais história do que as paredes de Hogwarts. Por isso deve ser maldita, já que deve ter matado muita gente.

– Também faz sentido. – disse Hazel. – Perseu foi um grande guerreiro, mas para se tornar um grande guerreiro, é preciso mais do que inteligência e treinamento. É preciso matar várias pessoas.

Percy tirou a caneta do bolso da calça e se sentiu mal. Já estava se sentindo um lixo desde que o treinador revelou a ligação história entre os Hedge e os Jackson. Agora ele sabia que a espada que salvou a vida dele por diversas vezes, era a espada que ceifaria a alma de um herói. Mesmo que ele não entendesse como um objeto físico poderia machucar algo como uma alma, que tá longe de ter ser matéria.

– Está decidido então. – Piper disse com um imenso nó na garganta. – Vamos para casa.

– Vamos lá Cupcakes! Tomem vergonha na cara e vão tomar um banho. Vocês estão mais fedidos e nojentos que o quarto do Jackson! – o treinador Hedge disse pegando um prato e sentando para comer.

– Ei! – disse Percy e todos os demais riram.

O lado bom era que os chuveiros das cabines tinham água nível: Quione, primavera, outono e Leo (ideia de Leo na hora que ele e Beckendorf estavam instalando os chuveiros). Ou seja, todos tomaram banho em alma bem quente para aliviar a tensão e para se livrarem do frio do local. Eles chegaram a Londres no fim da tarde, graças aos ventos que Jason controlou. Annabeth os dividiu em dois times. Jason, Piper e Percy iriam para a casa dos Swan, falar com Afrodite e tentar destruir a terceira Horcrux. Hazel, Frank e o treinador Hedge tinham que ir para a sede da Legião em Londres, no Largo Grimmauld, 12. Enquanto ela iria finalmente questionar a mãe sobre o verdadeiro assassinato de Cronos. Tinha um bom motivo para Piper ter ignorando as mensagens de Íris da mãe, Katoptris, sua adaga, havia mostrado que tinha Comensais da Morte tentando quebrar as barreiras mágicas do navio e provavelmente os estavam espiando. Por tanto, atender uma mensagem de Íris era perigoso. Ela contou isso para Annabeth, dizendo que viu em um sonho, e a líder proibiu mensagens de Íris.

Durante a fundação da cidade de Londres, os bruxos criaram um bairro só deles, escondidos dos olhos humanos pela Névoa. Esse bairro foi chamado de Vila Olímpia, pois Cronos, em seus poucos anos de bondade, foi quem teve a ideia de construir esse refúgio. A entrada era em um beco sujo e mal iluminado em Southwark, um dos 32 boroughs (ou bairros, traduzido para português) da Grande Londres. Cronos escolheu esse distrito da cidade porque que, no passado longínquo, foi uma área colonizada pelos Romanos. Era um beco que até os marginais e usuários de drogas ficavam longe, a Névoa causava pânico nos trouxas que ousassem a se aproximar do local. Uma vez, um trouxa foi parar no hospício após encarar o beco por cinco minutos. Mas os seres mágicos não eram afetados. Era só andar em direção à parede de tijolos negros e cheios de lodo, que a pessoa entrava na Vila Olímpia. Ao contrário do Beco Diagonal, era um lugar apenas residencial; casas extremamente seguras para os bruxos. O lugar era, no mínimo, deslumbrante. Qualquer pessoa que tivesse o mínimo de apreço por arquitetura desmaiaria, no melhor estilo Jason Grace, de tanta beleza.

Assim que se entra na vila, se depara com o formato de U, com o muro no lado bruxo “fechando” o U, como uma tampa. Uma belíssima e grande praça fica no meio do grande U, tendo jacintos, algumas oliveiras, papoulas, narcisos e algumas espigas de trigo como decoração e embelezamento; tem uma fonte de mármore branco no meio da praça, com água saindo da boca de vários animais (água, pavão, cavalo, grou, javali, coruja, grifo, cervo, caranguejo, pomba, cobra, leopardo e cão) cada par de estátuas em um “andar”, tendo a água no topo. Com bancos, brinquedos e postes de ferro do período de 1890. As doze primeiras casas a ser vistas são as mansões das 12 famílias. Casas não, mansões; mansões em estilo neoclássico, feitas de mármore e com belíssimos jardins gregos ao redor. Como eu disse, é um bairro grande. Onze ruas calçadas com paralelepípedos brancos seguem entre uma mansão e outra, originando onze ruas onde as casas dos demais bruxos são localizadas. Apesar da aparência nobre, qualquer um pode comprar uma casa nesse bairro, basta ter dinheiro. Não é preciso ser sangue puro ou ligado às doze famílias, mas várias famílias moram nesse bairro há gerações.

– PIPER! – Afrodite gritou ao abrir a porta, ela abraçou a filha com o máximo de força que tinha e depois convidou os meninos para entrarem.

Percy se sentiu meio intimidado com a sala principal dos Swan. Além de parecer um castelo (igual a todas as mansões das 12 famílias), as paredes eram feitas de mármore negro, o que deixava o cômodo parecido com o salão comunal da Sonserina, só que sem o barulho das águas do Lago Negro. Afrodite usava um vestido branco grego e estava, surpreendentemente, muito simples. Descalça, unhas ruídas, cabelos mal cuidados, sem nenhuma maquiagem no lindo rosto, os cabelos negros estavam presos numa trança e os olhos azuis entregavam que ela esteve chorando recentemente. Percy sempre se encantou com a mulher, sempre a achou a mais bonita do mundo, mas mudou de ideia depois que começou a namorar Annabeth. A semelhança entre Silena e a mãe era algo impressionante, Piper apenas tinha os olhos da mãe e alguns poucos traços. Afrodite ofereceu chá e biscoitos, mas Piper cortou logo para o assunto das Horcruxes.

– Aquele quarto? – ela pareceu confusa. – Bem... desde sempre meus pais diziam para que eu não entrasse lá. Mamãe dizia que se alguém entrasse, a pessoa seria morta por seu maior e mais misterioso medo. Nunca entendi o motivo, mas sempre a obedeci.

– O espelho de Ojesed... foi criado pela nossa família, não foi? – Piper disse séria.

– Sim. – Afrodite apontou para o imenso quadro em cima da lareira. Um homem sério, de pele castanha, cabelos que pareciam chocolate, com umas duas trancinhas, um brinco de pena na orelha direita, olhos cor de âmbar e uma leve barba. Usava armadura completa grega e tinha a adaga de Piper em mãos. – Narciso Swan. Nem sempre minha família foi composta por brancos. Narciso sempre teve esse belíssimo tom de pele que você herdou de Tristan. Ele era... muito afeiçoado a aparência e aos desejos mais profundos das pessoas. Meu pai me disse que diziam que ele era a personificação da beleza. Narciso era tão belo que podia encantar as pessoas com sua voz.

Jason e Percy se entreolharam e olharam para Piper, que se manteve de queixo erguido, igual a Narciso.

– Esse cara se parece com o tal Narciso que vocês encontraram em Épiro? – Percy sussurrou.

– Não podiam ser mais opostos. Ele era branco, loiro e de olhos verdes. – Jason respondeu.

Afrodite ficou relutante quando os três disseram que teriam que entrar no quarto proibido, mas terminou cedendo na hora que eles passaram as varinhas por cima da tatuagem e se armaram. O quarto era igual ao sonho de Percy. Só que sem Narciso e o espelho. Tinha tanta poeira ali que qualquer pessoa com alergia morreria em questão de segundos.

– Ok, o que estamos procurando mesmo? – disse Jason.

– Não faço a mínima ideia. – Percy respondeu, tossindo.

– Bem, algum pertence de Jasão e dos ancestrais de Annabeth, Frank, Leo deve estar escondido aqui em algum lugar. – Piper disse com a voz rouca.

– Não tem nada aqui. Nem um móvel, nem nada. – disse Jason.

– Deve estar escondido no assoalho. – Piper se ajoelhou e conseguiu abrir com a adaga a única taboa de madeira em falso no local. Havia um pano todo roído por traças e um anel dentro dele. Uma belíssima pedra verde escuro preso a uma esfera cinza.

– Hazel vai pirar quando vir isso. – disse Jason.

– Acho melhor destruir agora. – Percy sugeriu. – Quanto mais rápido melhor.

– Ele tá certo. – Piper colocou o anel no chão e abaixou Katoptris.

Na mente de Percy, ele viu sair muita água do buraco que se abriu na pedra verde. Logo, Percy viu Piper e Jason mortos afogados, a cornucópia flutuava ao lado do corpo dela. Ele não conseguia se mover e a água inundava seu pulmão. Por Percy poder controlar e pode respirar debaixo d’água, ele nunca se preocupou com afogamento. Não poder respirar causou pânico nele, sentir a água o matando tão lenta e dolorosamente... era uma dor pior que suportar o peso do céu. Na mente de Jason, ele via Percy e Piper morrendo asfixiados. Algo irônico para quem controlava o ar. Jason tentou se mover, mas não conseguia, apenas sentia o oxigênio ser sugado do local, a garganta ardia, os olhos estavam inchados e a dor da falta de ar era insuportável. Jason logo perdeu consciência, mas ainda assim sabia que estava morrendo por falta de ar no quarto. Na mente de Piper, sua própria voz lhe dizia para que ela se matasse. Piper pegou Katoptris e apontou para a própria garganta, pronta para se matar. Uma parte dela achou hilário o fato dela ser morta sendo controlada por si própria. Já havia controlado muitas pessoas antes e sempre achou engraçado o fato de todos fazerem o que ela queria apenas por causa de palavras com “charme”. Mas cometer suicídio por causa de seu próprio dom? Era, no mínimo, hilário, pensou uma parte do cérebro dela.


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Notas finais do capítulo

Pra quem não notou, tudo descrito na praça na Vila Olímpia é em relação a mitologia grega. Tantos os animais na fonte (carangueiro = Hefesto, cobra = Hermes, grifo = Apolo, cão = Hades), como as plantas.