Demigods in Hogwarts escrita por SeriesFanatic


Capítulo 2
O bruxo e o sátiro




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— Oi. - Percy respondeu sem nenhuma empolgação.

Luke recolheu a mão ao notar a tristeza do menino, deu um leve e quase inaudível suspiro. Não era a primeira vez que um novato ficava infeliz ao entrar na Lufa-Lufa.

— Não fique decepcionado por ter entrado nessa aqui. - ele forçou um sorriso, mas estava claramente magoado com a atitude do menino. - Muitos bruxos grandiosos foram da Lufa-Lufa.

— Quem? - Percy fingiu interesse.

— A criadora da nossa casa, Helga Lufa-Lufa, por exemplo. - ele sorriu como se isso fosse algo bom.

— Hum... - Percy abaixou a cabeça.

— Muitas famílias importantes pertencem a essa casa. Os Solace e os Castellan marcam presença aqui tem séculos. - Luke o lembrou.

De fato, era tradição dos Solace e dos Castellan serem da Lufa-Lufa. Duas das doze famílias importantes; mas Percy não era filho de Hermes, muito menos de Apolo. Ele era um Jackson. Ele deveria ser da Grifinória.

— Não estou querendo ofender a tradição da sua família. - Percy tentou ser o mais gentil possível. - Mas é que... o Velocino deve estar errado! Eu sou um Jackson! Deveria estar na Grifinória com meus primos.

— Thalia Grace, certo? - Luke levou um cálice com suco de abóbora aos lábios. - Vocês não se parecem muito.

— Ela também não se parece com o próprio irmão e ainda assim... - Percy abaixou a cabeça e usou seu garfo para brincar com a comida.

Luke decidiu ficar quieto, ele não tivera boas experiências com Thalia Grace. Sabia que os netos de Cronos eram esquentadinhos e Percy e Thalia eram primos, provavelmente eram muito parecidos no jeito de ser; ao menos foi o que Luke concluiu.

— Alunos. – o professor executivo os chamou.

As conversas cessaram, todos pararam de comer, inclusive os novatos.

— Sejam bem vindos a mais um ano letivo em Hogwarts. Eu sou o diretor da escola, Júpiter Grace e gostaria de dizer algumas coisas antes de vocês irem para suas salas comunais.

Grace? Não podia ser. Pelo que Percy sabia seu tio Zeus só tinha dois filhos: Thalia e Jason. Tudo bem que não havia só uma família no mundo com o sobrenome Grace. Ele mesmo já conheceu quatro pessoas com o sobrenome Jackson e nenhum deles eram seus parentes. Dois eram trouxas.

— Aos novatos, a floresta proibida é extremamente, bem, como o nome já diz proibida. Há sereianos no lago, por tanto não nadem nele ao menos que queiram ir para a enfermaria. O corredor do terceiro andar do lado direito também é proibido e cuidado para não assustar os fantasmas ou os Lares, eles não são exatamente perigosos, mas alguns são vingativos. – o diretor disse com uma voz calma.

— Ei Luke, o que há no terceiro andar? – Percy perguntou esquecendo que estava com raiva de todos da Lufa-Lufa por um instante.

— Não faço a mínima ideia. – ele respondeu seco.

Talvez Percy tivesse sido grosseiro demais e Luke se sentiu ofendido, mas não parecia que o rapaz falou daquela forma por causa do comportamento de Percy. Luke sabia o que tinha naquele andar. E não parecia ser coisa boa.

O diretor continuou dizendo algumas coisas sobre matérias e assuntos que só respeitavam os alunos mais velhos, como as N.O.M.’s e outras coisas que Percy não entendeu. Ao fim do discurso, os monitores foram indicando os caminhos até as salas comunais de cada casa, o pessoal da Lufa-Lufa não precisou andar muito, já que a sala deles ficava perto da cozinha. O lugar tinha um cheiro bom, isso Percy não podia questionar. Com as cores amarelo e preto, o lugar dava uma sensação de fome. Ou talvez fosse porque ele só tocou no jantar para brincar com a comida.

Os monitores orientaram todos os novatos com as regras, horários e depois indicaram qual quarto pertencia a qual grupo de cinco alunos. Percy mal podia esperar para poder se jogar na cama e ir dormir, mesmo tendo dormido a viagem inteira, ele sentia-se muito cansado. Terminou dividindo quarto com Dakota, Frank, Will e Chris Rodriguez.

Dakota estava animado demais para dormir, então foi tomar banho; Frank, Will e o Chris logo estavam dormindo. Percy ficou olhando para a janela e admirando a floresta negra. Uma lágrima escorreu de seus olhos, mas logo a raiva de si por ter ido para a casa errada sumiu, afinal ele viu algo engraçado na floresta. Perto de uma casa de pedras ao lado da floresta proibida, um rapaz com pernas que pareciam de bode tocava flauta sem a mínima preocupação. A música acalmou Percy e ele caiu no chão dormindo.

— Percy. Acorda cara. – Frank o chamou.

— Mamãe? – ele perguntou ainda meio sonâmbulo.

— Não, é o Frank. Anda! Temos que ir tomar café da manhã. – Frank estranhou o fato de ser chamado de “mamãe”.

Percy levantou do chão com o corpo todo dolorido e seguiu os colegas de quarto até o salão principal. Seu primeiro dia em Hogwarts. Várias mensagens de Íris apareciam com pais parabenizando seus filhos por terem entrado em determinada casa. Os professores pareciam animados, ao contrário da noite passada. Enquanto Frank e Dakota falavam de um jogo chamado Mitomagia, Chris fazia alguns colegas rirem e Will cantarolava uma música.

Percy olhou para Luke de relance, ele estava ao lado dos irmãos mais novos, Connor e Travis, os três faziam palhaçadas. Percy então olhou para a mesa da Grifinória e viu que ninguém estava fazendo brincadeiras ou dando gargalhadas, todos estavam apenas tomando café, iguais às mesas da Sonserina e Corvinal.

O garoto esperou uma mensagem de Íris furiosa de seu pai, mas nada. Foi juntamente com os colegas de quarto para as aulas e a manhã passou rápido, o que foi um verdadeiro milagre. Depois do almoço ele foi para a casa de pedra, na esperança de achar o sátiro que viu na noite anterior. Bateu na porta levemente e se deparou com Quíron enxugando uma xícara de chã em um pano, o que foi uma imagem estranha, ele usava um avental de cozinha por cima da blusa branca e tinha um sorriso calmo no rosto.

— Boa tarde senhor Jackson. – ele disse sereno.

— Boa tarde... – Percy procurou o sátiro com os olhos. – Er... Quíron... você viu um sátiro por ai?

O centauro franziu o cenho.

— Sátiro? – ele disse perdido.

— Ou fauno. Honestamente eu não sei a diferença. É que eu vi um ontem a noite, ele tocava uma flauta e a música me fez cair no sono.

— Ah sim. – ele abriu um sorriso. – Aquele é Grover Underwood. Ele precisa melhorar na flauta, aquela melodia era para aumentar a força vital das árvores, mas creio que ele esteja tão ruim que te fez dormir. – Quíron segurou um riso.

— Sabe onde posso encontrá-lo? – Percy tentou não parecer entusiasmado, mas não conseguiu.

— Senhor Jackson, o senhor tem aula agora. E a floresta proibida é perigosa para quem não a conhece, mesmo de dia. – o sorriso do rosto dele sumiu.

— Mas...

— Nada de mais. Vá para sua próxima aula antes que eu chame algum monitor.

— Sim senhor. Desculpe-me pelo incomodo.

Quíron forçou um sorriso e fechou a porta de sua casa. Percy viu que ele estava distraído e entrou na floresta, qualquer coisa para fugir das aulas e de ter que ouvir Will falando em haicai ou Frank e Dakota falando de Mitomagia. A floresta não parecia tão perigosa assim, parecia ser apenas uma floresta normal. Depois de certo tempo andando, ele começou a sentir um cheiro diferente no ar, o cheiro bom de pinheiro e ar úmido deu lugar ao que parecia ser um casaco de lã molhado que não havia enxugado direito.

Percy então encontrou uma campina tão bela que era impossível de descrever fielmente, com um riacho passando no meio e uma pedra do outro lado, aquele parecia ser o canto mais agradável e com luz de toda floresta. Então ele viu o sátiro da noite anterior deitado na imensa pedra tomando banho de sol.

— Grover? – ele chamou.

— Sim. – o sátiro se levantou. – AH MEUS DEUSES! UM HUMANO!

Ele pegou uma folha de árvore e cobriu o busto.

— Você é fêmea? – Percy franziu a testa.

— O que? Ah... não. – ele abaixou a folha. – É que eu não estou acostumado a ver humanos.

— Não sou humano, sou um bruxo.

— Mesma coisa. – ele saltou da pedra. – O que está fazendo aqui? Não sabe que essa floresta é perigosa?

— Eu sei, mas é que... sei lá... eu te vi tocando aquela flauta ontem e... pela primeira vez em meses eu não tive pesadelo. Tem como me ensinar essa melodia? Por favor?

Percy era fã de música, mas só para ouvir. Não conseguiria tocar um instrumento nem para salvar a própria vida. Mas os pesadelos com a figura de barro fizeram ele ficar desesperado. Grover o encarou, o garoto era estranho. Os cabelos pretos eram rebeldes, os olhos verdes como as árvores e a cara de encrenqueiro, mas suas emoções estavam confusas, ele estava com muita raiva de si mesmo, assim como decepcionado. 

— Lufa-Lufa hein... casa legal. – Grover disse se aproximando do riacho.

O menino desviou o olhar, suas emoções ficaram confusas, a raiva de si aumentou.

— Qual é o seu nome garoto?

— Percy Jackson. Filho de Poseidon.

— Poseidon Olympus?

— É Jackson agora.

— Que seja. Eu já ouvi falar do seu pai, ele era... engraçado.

— Você conheceu meu pai? Quantos anos você tem? Parece ser só um adolescente.

— Eu sou um adolescente. Ao menos para a idade de sátiros. Eu não cheguei a conhecer seu pai, nunca o vi, mas já ouvi falar dele. Era um encrenqueiro que gostava de pregar peças nos outros alunos. Quíron quem me disse. – Grover sentou na grama. – Ele era gentil com os seres da floresta.

— Minha mãe me disse que os sátiros são legais. – Percy sorriu.

— Somos sim! – Grover gostou do elogio. – Mas os alunos de Hogwarts não ligam para nós. Obviamente a floresta é proibida, tá meio que no nome, mas ainda assim alguns se atrevem a procurar aventuras aqui e os que encontram sátiros... não são muito agradáveis com minha espécie.

— Por quê? Vocês fazem magia com uma flauta!

Grover riu.

— Muitos bruxos são preconceituosos, Percy. Eles acham que só deveriam existir bruxos no mundo. Alguns aceitam os trouxas e nascidos trouxas, mas a maioria não é muito fã dos demais seres mágicos.

— Eu não sou assim.

Grover o analisou.

— Não, não é. Você parece ser legal.

— Você também. – sorriu.

A tarde se passou e quando deu por si, Percy já tinha contado sua história de vida para o sátiro, (não que um moleque de 11 anos tivesse uma história de vida muito longa), que fazia comentários bem pontuais como “enchiladas são a melhor comida trouxa” ou “malditos humanos e sua globalização”.

Mas ainda assim Grover continuou no outro lado do riacho, talvez por receio de que Percy o fizesse mal. Após o sol se por, Percy se despediu do novo amigo e foi caminhando em direção as luzes de Hogwarts, só que o caminho pareceu estar ficando estreito, logo ele passou a ver a mesma árvore caída repetidas vezes. Estava andando em círculos.

— Socorro! – Percy gritou e tirou a varinha do bolso, mas não sabia feitiço nenhum. – Quíron! Grover! Socorro!

“Não adianta pedir ajuda, peãozinho” uma voz ecoou em sua mente.

Percy levou a mão aos ouvidos, que zumbiam como um ninho de belhas. Ele sentiu o chão tremer e a forma humanoide de seu sonho apareceu em sua frente, o medo de seu sonho não era nada comparado ao que estava sentido naquele momento.

“Seu avô me derrotou uma vez e você me ajudará a voltar aos meus dias de glória” a voz riu.

— SOCORRO! – ele gritou mais alto.

“Ajude-me Perseu! Convença a menina a se juntar ao meu lado e eu darei a vocês dois o que mais desejam!”

Percy tirou a mão do ouvido e apontou a varinha para o que é que fosse aquela coisa feita de terra. Ele pensou em qualquer palavra em grego antigo (a língua em que boa parte dos feitiços se originou), qualquer coisa que o salvasse.

Neró! – gritou.

A ponta de sua varinha azul começou a brilhar e água saiu, atingindo o que é que fosse aquilo e a coisa sumiu, o chão parou de tremer e o zumbido parou. Foi tudo tão rápido que mal pareceu ter sido real. Percy caiu no chão exausto, já que era uma das primeiras vezes que usou magia, suas roupas molhadas com a água que saiu de sua varinha. Antes de desmaiar ele viu uma sombra indo a sua direção. Ele achou que fosse morrer, mas acordou com Annabeth o encarando.

— Você está horrível. – ela disse analisando o rosto dele.

— Deuses, você sabe como fazer um cara se sentir melhor. – ele respondeu com a voz rouca.

Ele sentou e viu que estava encostado em uma árvore perto de Hogwarts e que a floresta proibida estava há pelo menos meio quilômetro as suas costas. Assim como ele, ela usava o uniforme da escola.

— Você me assustou. – disse Grover.

Ele quase deu um pulo ao ver o sátiro atrás de Annabeth.

— O que... o que aconteceu? O que você está fazendo aqui, Grover? – ele perguntou meio tonto.

— Eu te ouvi gritar por socorro e fui atrás de você. O encontrei se contorcendo-se de dor no chão, todo molhado de água. Tentei te carregar até a casa de Quíron, mas não consegui, você é muito pesado. Encontrei essa garota saindo das estufas de Herbologia e pedi ajuda. Te carregamos até aqui e você ficou gemendo chamando o nome “Gaia”. Achei que não tivesse namorada.

— E não tenho. – Percy levou às mãos as roupas molhadas. – Nunca ouvi esse nome em toda minha vida.

— Bem, seja lá quem for essa tal de Gaia... lhe deixou com medo. – respondeu Grover. – Você não molhou suas roupas só com a água da sua varinha.

Percy ficou vermelho, Annabeth não parecia estar incomodada com o cheiro de xixi que vinha das calças dele. Ele agradeceu Grover pela ajuda e adentrou em Hogwarts juntamente com Annabeth, ambos em silêncio.

— Herbologia? – ele disse por fim.

— É o estudo das plantas mágicas. – ela respondeu como se tivesse acabado de encontrá-lo.

— Ah sim... não vi essa matéria no meu quadro de horários.

Ela não respondeu. Eles estavam a dois corredores da sala comunal da Lufa-Lufa para que Percy pudesse trocar de roupa, mas deram de cara com Luke assim que viraram em um corredor. As luzes das tochas deixavam a cicatriz dele mais sinistra.

— Percy, estava preocupado com você. – ele disse. – Quase avisei ao diretor da nossa casa de seu sumiço, onde você esteve? E por que está cheirando a urina?

— Er... – Percy não sabia se estava mais envergonhado por ter deixado alguém preocupado com ele ou por estar cheirando a xixi perto de Annabeth.

— Ele estava comigo. – ela mentiu. – O encontrei perto das estufas e ficamos conversando. Nem vimos o tempo passar e sem querer uma de minhas plantas urinou nele.

Luke pareceu estar pensando em alguma planta que tivesse necessidades fisiológicas, mas acreditou na conversa de Annabeth. 

— Nunca mais suma desse jeito, ok? Agora vá tomar banho,você tá fedendo. – Luke apontou na direção das escadas que davam ao segundo andar.

— Sim senhor. – ele respondeu cabisbaixo. – Até mais Annabeth.

— Até. – ela respondeu séria.

Percy foi à sala comunal para pegar suas coisas de banho e pela janela do quarto viu Grover conversando com Quíron.

— Pelos deuses Percy! Você está fedendo! – Chris reclamou.

— Eu já estou indo tomar banho. – ele respondeu abrindo a mala e procurando suas coisas de banho.

— Onde diabos você se meteu a tarde toda? Não apareceu em aluna nenhuma, achei que tivesse sido comido pelo cão de Plutão. – disse Will.

— Cão de Plutão? – Percy estranhou.

— É, Plutão. Nosso professor de poções, ele tem um cão de três cabeças chamado Cérbero. É o que está no terceiro andar. – Frank disse jogando um feijão de todos os sabores na boca.

— Por que Júpiter não nos disse isso ontem à noite no salão comunal? – Percy estranhou.

— Por que é um segredo, cara. – Dakota respondeu. – Sabe Luke Castellan? Ele ganhou aquela cicatriz por ter sido doido o suficiente para verificar porque o tal corredor do terceiro andar era proibido.

— E bam! Deu de cara com um cão de três cabeças chamado Cérbero. – disse Will. – Só quem sabe disso é a nossa casa, ou seja, é segredo entre os Lufos.

— Quem contou isso a vocês? – Percy disse pegando roupas limpas.

— Connor e Travis. – Dakota respondeu.

— E vocês acreditam mesmo que Connor e Travis estejam falando a verdade? Tem um dia que estamos nessa escola e até eu que sou lesado sei que eles não são de falar a verdade. – Percy respondeu.

Os quatro se entreolharam e ficaram pensando naquilo. Percy foi para o banho e encontrou com seu primo Jason e Leo Valdez. Ambos estavam vestindo o uniforme da Grifinória; Jason tentou falar com Percy, mas ele ignorou o primo, não precisava ouvir um discurso de pena. Muito menos de Jason.

Percy ligou o chuveiro e deixou a água quente acalmar seus músculos. Ele havia mentido para Grover, sabia quem era Gaia, mas sempre achou que fosse uma história de terror que seu tio Hades contava nas reuniões de família para assustar seus sobrinhos. No dia seguinte ele iria tirar essa história a limpo, mandaria uma mensagem de Íris para o pai exigindo saber se era verdade e não estava mais se importando se ia levar uma bronca ou não.


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Notas finais do capítulo

Neró = "água" em grego