Demigods in Hogwarts escrita por SeriesFanatic


Capítulo 19
Cães




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– Você pegou os doces? – Nyssa disse para Lacy.

– Claro que sim! – sorriu. – Toma, chocolate com mel. – jogou uma barra para a amiga.

– Valeu! – Nyssa sorriu.

Era depois da hora do jantar. As cinco meninas estavam se preparando para dormir depois da visita à Hogsmeade. Nyssa e Lacy compraram várias coisas, inclusive doces e livros novos. Reyna gastou todo o dinheiro da mesada com livros e Drew com o que conseguiu achar de produtos de beleza. Ela estava aplicando uma máscara fedorenta cor vermelha no rosto que a fazia parecer com um dos monstros do Scooby-Doo. Depois da conversa com Luke, Annabeth foi tomar banho e jantar. Não havia feito nada de interessante o resto do dia.

– Pelos deuses, Drew! Tinha mesmo que comprar algo que fedesse mais que seu bafo? – Nyssa provocou.

– Ao menos eu sou bonita. E você o que tem de especial? – respondeu.

– Cérebro. Algo que você nunca terá!

As demais meninas riram. Drew virou a cara e continuou se embelezando. Annabeth já estava deitada na cama, muito bem aconchegada debaixo do edredom azul quando ouviu um uivo.

– Lobos? Na floresta proibida? – Reyna disse olhando pela janela.

– É lua cheia. – disse Lacy. – Pode ser um lobisomem.

– Não, a lua cheia em si é em três dias. – Reyna respondeu.

Annabeth fechou os olhos. Não estava nem aí se era um lobo ou lobisomem. Ela só queria dormir e esquecer-se das palavras de Hal Green que ficavam martelando sua mente. Mas ela foi impedida de cair nos braços de Morfeu. Um grito de dor agudo foi ouvido em todo o castelo, deixando todos os alunos com medo.

– É UM LOBISOMEM! – Lacy gritou.

– A GENTE VAI MORRER! – Drew esperneou.

– Querem relaxar! Hogwarts é segura! – disse Nyssa.

– Ah... gente? – Reyna disse assustada.

Annabeth abriu os olhos, levantou da cama e foi para o lado da amiga. A torre era muito alta, mas ainda assim as duas puderam ver uma dúzia de Arais tentando matar o que parecia ser um cão. Só que um cão MUITO grande.

– Acho que lobisomens não tem o tamanho de uma picape. – disse Reyna.

As outras três meninas se espremeram para olhar pela janela. O creme facial fedorento de Drew terminou melado o pijama de Lacy.

– O que tártaros é aquilo? – Annabeth perguntou.

– Acho que nem o tártaro sabe o que é aquilo. – Drew respondeu.

Elas ficaram em silêncio pelos minutos seguintes tentando entender o que é que um cachorro imenso tinha feito de mal para ser atacado pelas vovós demoníacas. Então alguém bateu na porta e as cinco deram um pulo de susto, sendo acompanhadas por gritos de cada uma das companheiras de quarto. Hylla apareceu e mandou que elas fossem para o salão principal. Malcolm encontrou com Annabeth no fim da imensa escadaria que levava a sala comunal da Corvinal, ele estava assustado e pálido. Ela abraçou o irmão e foi junto com ele e os demais alunos dos demais anos e casas até o salão principal. Havia vários colchonetes no chão e nem um sinal das mesas. Era como reviver a noite em que Piper foi levada para o Bunker. Todos os professores estavam ali, inclusive o diretor e Quíron.

– Alunos. Acalmem-se! – Júpiter falou. – Como todos sabem, Hogwarts está sendo guardada pelas Arais enquanto Dédalo não é capturado. Alguém tentou invadir a escola, mas não precisam se preocupar. Mas por medidas de seguranças, todos vocês dormirão aqui essa noite. Amanhã cedo poderão voltar para sua rotina.

Os professores tentaram arrumar os alunos por casas, mas não deu certo. Amigos, irmãos e namorados quiseram dormir perto. Se não bastasse o desespero geral da escola e da evidente preocupação dos professores, Malcolm havia começado a soluçar achando que ia morrer. Também, não é todo dia que um fugitivo maníaco ataca sua escola para tentar te matar. Perto da porta, Annabeth viu Beckendorf e Silena abraçados e com medo. Piper estava perto da irmã e Leo do primo. Jason estava junto com eles, mas não tirava os olhos de Thalia, que conversava com Luke perto da mesa dos professores. Então Percy apareceu ao lado dela, com o aquário e Nemo.

– Oi. – ele disse sem jeito.

– Oi. – ela corou.

– Comprei isso para você. – ele tirou algo do roupão dourado da Lufa-Lufa. – Como você gosta de corujas, achei que ia gostar disso. – ele deu um par de brincos de ferro, obviamente foram super baratos, mas ela amou.

– Obrigada Percy. – ela se inclinou e beijou a bochecha dele, deixando-o tão vermelho quanto sangue. – Mas meu aniversário desse ano já passou.

– Eu sei. Considere isso um presente de aniversário ultra atrasado. – ele disse e Nemo cuspiu em sua cara.

– Acho que você deveria parar de tentar ensiná-lo a falar e começar a ensiná-lo a não cuspir água em você. – ela riu.

– Eu gosto. É refrescante. – ele brincou.

– Annabeth. – Malcolm disse sentando do outro lado dela. – Tô com medo. E se alguém tentar nos matar?

– Por que alguém tentaria matar vocês? – Percy estranhou.

Annabeth contou a história de Dédalo e Atena. Antes que Percy pudesse dizer alguma coisa, as luzes se apagaram e todos começaram a ir deitar. Era muito bonito dormir com o céu sobre sua cabeça. O teto do salão principal sempre foi o lugar da escola que ela sempre achou mais belo. Logo Malcolm havia parado de choramingar e ido dormir, minutos depois Percy estava babando para varear. Minutos antes de pegar no sono ela ouviu Minerva e Plutão conversando. Quem havia gritado foi Vulcano, o tal cachorro monstro o havia atacado. O doutor Michael Yew não via muita esperança, achava que teriam que contratar outro professor de Defesa Contra As Artes das Trevas muito em breve. Nos dias seguintes não se falava em outra coisa no castelo. Mensagens de Íris assustadas e brincadeiras sem graças. Era basicamente assim que se podia resumir os estudantes. Connor e Travis estavam fazendo apostas para ver se o professor viraria ou não um lobisomem. Terminaram pegando castigo para o resto do ano letivo.

– Abram o livro na página 394. – Plutão disse entrando na sala de aula de Vulcano.

– Lobisomens? Mas não estamos estudando seres noturnos. – Reyna Reyna sentada ao lado de Clovis, que estava dormindo.

– Página 394, senhorita Ramírez-Arellano. – Plutão falou, severo.

Nenhum aluno, de ano nenhum, gostou de saber que Plutão seria o professor substituto no lugar de Vulcano Smith. Hazel se encolheu na cadeira assim que viu o pálido pai entrar na sala.

– Tá usando os brincos que eu te dei. – Percy cochichou feliz.

– São lindos. – ela corou.

– Senhor Jackson. Senhorita Chase. Creio que os dois concordam comigo quando digo que sala de aula não é lugar para flerte. – disse Plutão.

– Perdão senhor. – os dois responderam cabisbaixos e com as bochechas vermelhas.

– Diz isso pro Grace e pra McLean. – Clarisse sussurrou para Bianca, que riu.

– Menos cinco pontos para Grifinória pelo seu comentário, La Rue. – Plutão disse mostrando uma figura de um lobisomem no retroprojetor bruxo. – Mais alguém tem algum comentário boboca?

– Professor? – Chris levantou a mão.

– O que foi Rodriguez? – Plutão revirou os olhos.

– É verdade que uma pessoa pode virar lobisomem se for mordido ou arranhado fora da lua cheia? – ele disse abaixando o braço.

– Não seja estúpido! – Drew exclamou. – O lobisomem na forma humana não pode infectar ninguém. Só vira lobisomem quer for mordido na lua cheia. Arranhões não transformam alguém em um lobo. Só a mordida pode fazer isso.

– Como que tártaros ela sabe disso? – Leo perguntou com o nariz pegando fogo, para varear.

– Corvinal, magricela. Não sou SÓ um rostinho bonito. – Drew disse passando a mão nos cabelos negros.

– A senhorita Tanaka está certa. Ainda assim, menos cinco pontos para a Corvinal por me interromper. – disse Plutão.

Já não bastava às monótonas e chatas aulas de poções com Plutão, ter que aturar ele no lugar de Vulcano era... horrível. Por mais que Annabeth amasse aprender, assistir aula e estudar, ela não gostava do pai de Hazel. Numa tarde perto do fim de novembro, Percy a levou até a floresta onde os pais adotivos de Tyson moravam. Foi legal conhecer dois gigantes amistosos. Grover também estava com eles, o que foi ótimo. Depois do almoço com os pais adotivos de Tyson, o quarteto foi até o lago com Blackjack os seguindo. Percy gostava de ir brincar com Arco-Íris e Tyson nas águas negras e gélidas. Mas nenhum dos dois pareciam se incomodar com o frio do fim de outono. O pégaso brincava com uma pedra enquanto Grover tocava uma leve melodia em sua flauta. Annabeth estava encostada em um troco ao lado do sátiro. Na água, Percy, Tyson e o hipocampo brincavam feitos duas crianças e um cachorro.

– No começo eu morria de medo de Tyson e dos pais dele. Mas sei lá, eles são legais sabe. – disse Grover.

– Eu os achei bem simpáticos. – ela sorriu.

– É são sim.

– E ai, você e Júniper são sérios?

– Como assim? – ele corou.

– O namoro de vocês, Grover.

– Não estamos namorando. – o rosto dele ficou da mesma cor do cabelo.

– Ah tá, desculpa. – ela sorriu.

– Somos amigos desde pequenos. Acho que as coisas estão... sabe, avançando. Mas no momento, eu apenas a acho extraordinariamente perfeita. – ele suspirou.

“Acho que sei como ela” ela pensou. Mas não disse nada. Annabeth usava calça jeans, botas de veludo marrom, um suéter feminino branco e sua jaqueta vermelha. O cabelo loiro estava preso em uma trança. Grover usava um blusão verde escuro com um casaco preto com capuz. Percy estava usando calça jeans preta, All Star da mesma cor, uma camiseta de mangas comprida vermelha lisa e seu casaco cinza. Mas tirou toda a roupa e fez um short de surfista amarelo aparecer. Tyson não parecia sentir muito frio. Usava uma bermuda jeans, tênis esportivo tamanho 50, uma camiseta de baseball branca e azul, com uma blusa xadrez preta de flanela por cima. Ao contrário de Percy, ele entrou no lago com a roupa que estava, só fez tirar o tênis. Montava em Arco-Íris como se o hipocampo fosse um pégaso. Annabeth achou que Blackjack poderia estar se sentindo ofendido.

– Ei Percy, é verdade que você e Blackjack estão conseguindo fazer cambalhotas? – disse Grover.

– É sim! Vem Blackjack! – Percy disse animado.

– Eu não acho que isso seja uma boa ideia. – Annabeth disse enquanto o pégaso levantou voo.

Blackjack voou devagar até ficar em cima de Percy e quase entrou no lago quando o menino tentou montá-lo. Em questão de segundos a dupla estava fazendo cambalhotas e piruetas. Tyson tentava imitar na água com Arco-Íris.

– Não está meio frio para brincarem na água? – Quíron disse trotando para perto do grupo com um sorriso no rosto.

– Diz isso pra esses doidos. – Annabeth riu. – Daqui a alguns dias começa a nevar... vão terminar acordando resfriados.

– Provavelmente sim. – Grover riu.

Quíron apenas riu. Usava uma blusa formal branca com um suéter verde claro por cima. Tinha uma manta de montaria vermelha por cima da parte de cavalo.

– PERCY, CUIDADO! – Quíron gritou.

Grover e Annabeth estavam tão distraídos que nem viram que duas Arais se aproximaram de Percy e Blackjack. Aparentemente, elas não conseguiam machucar animais, pois o pégaso não se sentiu prejudicado. Já Percy... ele estava extremamente pálido, como se tivesse morrido afogado. Annabeth tirou a varinha do bolso interno da jaqueta, apontou para as Arai e gritou esperando que o feitiço desse certo:

– ESPECTRO!

Uma luz branca saiu da varinha cinza com desenhos de coruja e atingiu os monstros. Blackjack e Percy despencaram em direção ao lago, Tyson conseguiu tirar os dois da água sem nenhum problema.

DI IMMORTALES CABEÇA DE ALGA! – ela disse puxando-o para seu colo.

Percy estava pálido e gélido, mas consciente. Ele sempre foi branco, mas depois de passar uma hora nadando em águas quase congeladas e de ser atormentado por Arais... ele estava parecendo que era feito de gelo.

– Annabeth... onde foi que você aprendeu aquele feitiço? – Quíron disse receoso.

– Agora não Quíron! Precisamos levá-lo ao doutor Yew! – ela exclamou.

– Aqui. – Grover disse pegando um cantil da mochila e dando para Percy beber. – Não beba demais, é néctar.

Percy concordou de leve com a cabeça e bebeu um pouco do líquido. Quíron pegou as roupas do rapaz e Annabeth lançou um feitiço, logo o short amarelo foi substituído pelas roupas quentinhas dele. Ela não sabia explicar como, mas ele não estava molhado. O vento frio de alguma forma deve tê-lo secado enquanto brincava com o pégaso.

– Annabeth... aquele feitiço... – Quíron insistiu.

– O professor Vulcano utilizou uma vez em sala. Contra um bicho papão que assumiu a forma de uma Arai. – ela disse mais calma.

– Algum problema com esse feitiço, Quíron? – Percy disse sentando-se no tronco.

– Bem... não. Não exatamente. Espectro é uma forma alterada da palavra spectrum. É uma palavra em latim que causa um feitiço muito forte de luz. A forma para a “versão atual da língua”, por assim dizer, é muito mais poderosa. Acho que a relação que vocês podem fazer é... como o patrono nos livros de Harry Potter. Só que bem mais letal. E real. Já que a magia dita no livro, bem, não condiz com nossa realidade. – ele explicou.

– Eu vi algo. – Percy disse claramente cansado. – Quando as Arai atacaram. Eu vi algo.

– O que? – Tyson disse acariciando Arco-Íris.

– Não foi bem algo, foi uma lembrança. Eu estava brincando no mar em frente lá em casa com meus pais. Acho que tinha uns seis ou sete anos. Então... mesmo com aquela lembrança feliz... meu estômago... parecia que estava pegando fogo. – ele levou a barriga.

– Isso não é surpreendente. – disse Quíron. – As Arais fazem com que a pessoa reviva suas melhores lembras, mesmo esquecidas, e façam você sentir muita dor física.

– Por quê? – disse Grover.

– Para te transformar. Fazer com que seu cérebro associe tudo de bom que já viveu ou que a vida tem de bom... com algo ruim como a dor. Aos poucos, as pessoas vão perdendo a sanidade e a esperança, pois começam a associar às coisas boas a dor. E isso as enlouquece. Por esse motivo é que ninguém nunca conseguiu fugir de Alcatraz. Lá as pessoas perdem a vontade de viver de tanta dor que sentem por causa das Arai. – Quíron disse com o olhar perdido.

Grover, Annabeth e Percy trocaram olhares. Eles sabiam que Quíron já havia ido para Alcatraz e provavelmente já havia sofrido muito.

– Mas não há nada pior que o beijo de uma Arai. – ele finalizou.

– Faz o que? Te obriga a se casar com ela depois? – Percy tentou rir da própria piada sem graça, mas estava fraco demais.

– Suga sua alma. – o centauro respondeu.

Depois de uns segundos de silencio, Grover disse:

– Vocês já notaram como o Quíron se parece com aquele protetor da Buffy? Ou guardião, sei lá o nome do que aquele cara faz. Só que Quíron tem barba e cabelo castanho.

– E uma bundona de cavalo branca. – Tyson riu.

– Obrigado pelo acréscimo, jovem ciclope. – Quíron tentou ser cordial.

Annabeth, Grover e Percy seguraram o riso. O centauro disparou rumo à escola com Percy na garupa. Tyson se despediu de Arco-Íris e voltou pra casa dos pais adotivos junto com Blackjack. O sátiro e a bruxa foram o mais rápido que puderam para a enfermaria, quando chegaram lá, Júpiter estava conversando com o doutor Yew; o diretor parecia muito irritado. O casal se aproximou do amigo da cama com cautela, Annabeth nunca havia visto Júpiter Grace daquela forma.

– Ah... senhorita Chase, senhor Underwood. – Júpiter sorriu ao vê-los. – É bom ver que estão bem.

– Obrigada senhor. – Annabeth forçou um sorriso. – Onde está Quíron?

– O mandei preparar uma carta relatando o ocorrido. Zeus precisa entender que esses monstros só irão machucar os alunos. – ele tentou parecer calmo. – Bem, eu vou falar com o nosso querido centauro. Também é preciso ter uma carta minha. Tenham um bom dia crianças.

Ele saiu da enfermaria sereno como sempre. Ouviu-se um estouro de alegria bem distante. Era clássico dos clássicos: Grifinória contra Sonserina. O único dia do ano em que Jason Grace e Piper McLean ficavam competitivos. Afinal, os dois jogavam no time de suas casas. No dia após a vitória da Grifinória, começou a nevar. O inverno havia chegado. A última excursão do ano para Hogsmeade estava para acontecer três semanas antes do recesso de natal. Annabeth havia mandado Palas levar a carta de autorização até em casa, mas recebeu o papel em branco. Isso só fez a raiva dela perante a mãe aumentar ainda mais. Enquanto os alunos do terceiro, quarto e quinto ano foram com Ceres e Circe para a cidade, Annabeth foi na enfermaria ver como estava Vulcano.

– O doutor Yew disse que depois do recesso eu já posso voltar a dar aulas. – ele forçou um sorriso.

A pele morena escondia algumas cicatrizes, mas ainda assim era visível que ele já havia se machucado muito. Pelo físico do professor, ela achava que no passado ele foi um Auror.

– Isso é uma excelente notícia. – ela sorriu. – Sentimos sua falta senhor.

– Obrigado Annabeth. Você foi a única aluna que até agora não pediu para que eu ficasse melhor só para poderem se livrar de Plutão. – ele riu de leve.

– Bem, isso é meio implícito. – ela segurou o riso.

– Eu sei. Percy disse a mesma coisa. – ele sorriu. – É um grande amigo esse que você tem, sabia. Não é todo mundo que é tão leal quanto ele.

– Desde quando lealdade e medo são sinônimos?

Touché! Você é mesmo inteligente. – sorriu. – Mas amor e medo, de certa forma, são.

– Percy e eu temos 13 anos, professor.

– Amor não só o carnal, criança. Amizade é o tipo de amor mais puro que existe. E essa que você tem com o Jackson... é algo raro. Não o perca. Eu já tive um amigo assim, mas faz muitos anos.

– O que aconteceu com ele, professor?

– Alcatraz. Foi acusado de um crime que nunca cometeu. Depois de uns tempos, ele conseguiu a liberdade.

– Por isso que o senhor sabe tão bem sobre como lidar com as Arai.

– Sim. – o rosto dele parecia morto.

“Annabeth” a voz de Percy a chamou.

Ela se virou procurando o amigo, mas só encontrou uma mensagem de Íris muito fraca aparecendo perto da mesa do doutor Yew.

– Jackson, cuidado com isso! – o médico disse quase caindo da cadeira de susto.

“Ah, desculpa. Annabeth, você precisa vir aqui!”

– Aqui onde seu lesado?

“Hogsmeade! Tem algo que você TEM QUE ver.”

– Percy, meus pais não me deram autorização.

“Você não entende. Você TEM QUE VER.” Ele disse sério e preocupado, Percy não era assim.

– Onde você tá?

“Bianca, onde é que a gente tá?” ele perguntou olhando para alguém que estava atrás da mensagem. “Ah sim” ele disse o endereço. “Venha depressa” e a mensagem sumiu.

– Eu vou fingir que não vi nada. – Vulcano disse voltando a sorrir.

– Eu também não. Contanto que vocês não venham parar em uma maca aqui. De novo. – disse Michael.

Ela sorriu e foi pegar o boné dos Yankees. Usava o uniforme do colégio, o que foi meio estranho quando ela tirou o boné já perto do local que Percy disse estar. Ela quase teve um infarto. Era a casa de seus sonhos. A ruína, melhor dizendo. Uma ruína de um templo romano antigo. A neve cobria o lugar, o terreno imenso em volta e até mesmo as cercas. Annabeth sabia que nos dias de verão aquele lugar era quente, cheirava a terra batida e muito suja. Pois Gaia sempre aparecia naquelas ruínas, nos sonhos, durante o verão. Percy usava calça jeans preta, All Star azul, uma blusa branca de mangas compridas com um suéter azul escuro por cima e o casaco cinza. Bianca também usava jeans, com um casaco marrom, blusa de manga comprida preta, botas pretas e um gorro verde na cabeça. Obviamente que Annabeth estava morrendo de frio, mas tremia por causa das ruínas.

– Esse lugar é o que eu estou pensando? – ela disse com o rosto rosa por causa do frio.

– Sim. É sim. – ele respondeu sério, igual à mensagem.

– Eu ainda não entendi o que é esse lugar. Por que tártaros vocês estão tão assustados assim? É só a Casa dos Lobos. – disse Bianca.

– Por que você não vai vê se Jason está melhor? – Percy sugeriu. – E garantir que Thalia não machuque Sherman e Mark?

Bianca olhou de Percy para Annabeth e saiu. Ela não parecia feliz em deixar o primo com a moça. Annabeth também não gostou de saber que ele estava ali, sozinho e isolado de todos com uma menina tão bonita quando Bianca.

– O que aconteceu com Jason? – ela perguntou antes que começasse a ficar com o rosto vermelho por outo motivo que não fosse o frio.

– Ele estava aqui brincando com Leo e Piper de guerra de neve. Sherman e Mark chegaram e começaram a espancá-lo. Podemos ter livrado a escola do basilisco, mas não livramos dos valentões. Bianca e eu passávamos aqui por perto e ouvimos os gritos de desespero de Piper. Botamos Mark e Sherman pra correr. Eu nem sabia que Bianca lutava tão bem. Depois que Leo queimou Jason para que ele acordasse do desmaio, Piper foi chamar Thalia e Luke, eles levaram Leo e Jason para a escola. – ele explicou sem nenhuma emoção na voz.

Annabeth não estava nem aí se Luke estava com Thalia ou se Percy estava com Bianca. Ver as ruínas daquele templo a deixavam assustadas.

– Chamam de Casa dos Lobos porque na Primeira Guerra Bruxa, aqui ficava um templo em homenagem a Lupa. A loba que salvou Rômulo e Remo na mitologia Romana. Lupa foi quem alertou os primeiros bruxos sobre Gaia. Então, durante a guerra, construíram esse templo.

– Se foi construído durante a guerra, porque só tem ruínas?

Nenhum dos dois demonstrava emoção alguma. O choque era muito grande. Mesmo estando muito longe da casa, ambos conseguiram reconhecer o local dos sonhos assustadores com Gaia.

– Na última batalha da guerra, que deu a vitória para nós e quando Gaia foi morta por Salazar e Godric, as forças dela tentaram atacar Hogwarts, mas Helga os impediu. Os soldados marcharam até Hogsmeade, mas Rowena impediu que eles matassem todo mundo. Então, como não tinha mais nenhum lugar, eles destruíram o templo. – ela disse.

– Temos que contar para alguém. – ele disse.

– Quem? Zeus? Ele não vai acreditar em nossos sonhos, Percy. – ela começou a se irritar.

– Alguém terá que acreditar! – ele exclamou.

– Vê se cresce Jackson! Temos treze anos! Ninguém irá acreditar em nós! – ela exclamou.

– Talvez não acreditem em alguém que anda por aí fugindo dos amigos! – ele começou a levar pelo lado pessoal.

– Pelo menos eu não estou afim da minha própria prima! – ela disse com ciúmes.

– Thalia? Nem sobre tortura eu sentiria algo por ela!

– Bianca seu idiota! – ela começou a caminhar para longe do local.

– Eu não sinto nada pela Bianca! Só carinho! Sabe por quê? Porque enquanto você ficava com a cara enfiada nos livros, mesmo já tendo tirado notas o bastante para ter passado de ano, ela estava lá pra mim. Estava lá para me ouvir e ser minha amiga. Assim como Grover e Tyson!

– É que ao contrário de você, Jackson, eu me preocupo com meu futuro!

– Ah claro e ficar babando pelo Luke Castellan é se preocupar com o futuro!

– Ora seu!

Ela partiu pra cima dele. Os dois começaram a se bater, socar, chutar, se morder... enfim, brigar. Só pararam quando Percy ficou encurralado entre ela e uma árvore.

– Lobisomem. – ele disse quase que sem voz.

– Não vou cair nessa. – ela disse com o punho levantado pronto para socá-lo.

– Auf.

Ela virou e viu o mesmo cão que estava sendo atacado pelas Arai na noite que Vulcano foi machucado. Era mesmo do tamanho de uma picape, com a pelagem tão negra quanto Blackjack. Não parecia que ia atacar, na verdade, tinha cara de cachorrinho na porta do açougue. Nenhum dos dois disse nada, eles começaram a correr e torcendo para que não tropeçassem na neve ou em alguma coisa. Felizmente o cachorro não os seguiu. Chegaram ao centro da vila gritando e machucados por causa da briga.

– Jackson! Chase! – a professora Circe chamou saindo do bar Cabeça de Javali.

– PROFESSORA! – eles gritaram e correram até ela.

– Mas o que aconteceu? – ela perguntou segurando Annabeth, que parecia que ia desmaiar por falta de ar.

– Lo... lo... lobisomem... – Percy gaguejou sem fôlego.

– Jackson, são três da tarde. – Circe respondeu.

O casal se entreolhou e olhou para a floresta que ficava ao lado da vila, por onde tinha uma trilha até a Casa dos Lobos. Não havia nenhum animal. As pessoas começaram a olhar espantados para o casal de pré-adolescentes, como se eles fossem loucos.

– Mas... tinha um cachorro... – Annabeth disse também sem fôlego.

– Vocês estão vendo coisas. – Circe falou.

“Não, não estamos. TINHA um lobisomem nos seguindo.” Annabeth pensou.

Mas ela não estava em condições de discutir com a professora. Não tinha fôlego, havia apanhado, batido e corrido. Estava cansada e não tinha mais adrenalina nas veias. Além do mais, ela fugiu da escola para estar ali. A última coisa que ela deveria fazer era contradizer um professor. Muito menos alguém tão carrancuda quanto Circe. MAS ELA TINHA VISTO SIM UM CACHORRO!


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