Linha Tênue escrita por TAYAH


Capítulo 15
Agonizante confusão - Regina


Notas iniciais do capítulo

Não demorei para escrever esse. E espero que gostem de drama, porque está bem dramático. Obrigada mais uma vez a todos vocês, todos que estão lendo e acompanhando. Vocês fazem toda a diferença!

Boa leitura.



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Voltei para meu castelo o mais rápido que pude, eu só queria chegar a minha cama e deitar. Minha cabeça estava dando tantas voltas que eu achei que fosse desmaiar a qualquer momento. Nunca em toda a minha vida eu havia sentido coisas tão intensamente confusas. Meu coração gritava por uma coisa, mas minha cabeça por outra, aquilo era de levar qualquer pessoa a loucura. Eu mal conseguia pensar, na verdade eu não conseguia nem respirar.

— Conta tudo! – Tinker disse animada assim que me viu entrar em meus aposentos. Ela estava sentada em minha cama, como se me esperasse há horas. Já eu fiquei andando de um lado para o outro antes de conseguir pensar em algo para dize a ela.

—Me deixe sozinha. – Eu disse rude sentindo minha voz falhar. Eu realmente queria apenas deitar e tentar colocar as coisas em ordem. Mas eu estava me sentindo perdida até mesmo em meu próprio quarto, mal sabia o que fazer ali dentro.

— Pelas fadas! Você está chorando. – Ela disse ao se levantar e vir em minha direção. Já eu estava tão transtornada que nem havia reparado em meu choro. - Sua cara está péssima, Regina! – Eu passei a mão em meu rosto, mas as lagrimas não iam parar de descer tão cedo. – Foi tão ruim assim? – Ela disse calmamente pegando em minhas mãos e me puxando em direção à cama. Eu me deixei levar, estava mesmo completamente desnorteada – Vem aqui... sente-se. – Ela me fez sentar, sentando-se ao meu lado. - Você está horrível... – Tinker olhava para mim, enquanto eu olhava fixa para um ponto qualquer.

Tudo era tão desconexo em minha mente, em meu ser, que chegava a me causar dor física. Eu só queria entender as coisas, mas depois de encontrar com a estranha tudo ficou ainda mais bagunçado dentro de mim. Eu simplesmente não conseguia rever o encontro com clareza, era tudo misturado e sem sentido, exatamente como eram meus sonhos.

— Eu já mandei me deixar sozinha! – Eu praticamente gritei com Tinker, ao me levantar e andar pelo quarto outra vez. Estava tudo doendo, cabeça, coração, alma... Eu só queria conseguir entender... conseguir rever com clareza aquele encontro.

— De jeito nenhum, você está péssima! E eu como sua amiga não vou sair do seu lado até você se sentir melhor. – Ela disse de pé, ao lado da cama com os braços cruzados. - Então volte aqui e se acalme. – Tinker disse firme me olhando com autoridade. – Anda Regina, vem. – Ela disse apontando para cama – E você sabe que comigo essa coisa de “Sou a Rainha Má, me obedeça” não funciona. - Ela veio em minha direção. – Então para de me mandar ir embora, que eu não vou. – Ela me puxou novamente em direção à cama. – Vai dar tudo certo, você só tem que se acalmar... eu estou aqui para te ajudar. – Ela me fez sentar outra vez, eu me rendi, completamente sem escudos, como se tivesse tirado meu coração e colocado ali a minha frente. Para que qualquer um pudesse feri-lo a sangue frio.

Eu tentei falar, mas nada saiu, era como se as coisas que aconteceram tivessem presas dentro de mim. Me sufocando e me enlouquecendo lentamente. E aquilo era tão agonizante que por varias vezes eu tive que forçar minha respiração, antes que eu me sufocasse.

Ficamos em silêncio por longos minutos, Tinker me deu aquele tempo sem ao menos sair do meu lado, eu tinha que tentar entender o que se passava dentro de mim, eu tinha que decifrar aquela mulher, decifrar tudo que ela havia me dito... tudo que eu havia sentido.

— Ela disse que meus sonhos não eram sonhos... – Eu comecei a dizer baixinho.

Só naquele momento que as coisas começaram a voltar para o lugar. O nosso encontro deixou de ser desfocado e confuso, e começou a fazer sentido em minha mente. Tudo que a estranha havia me dito não soava mais como uma conversa sem pé nem cabeça. Não que eu entendesse e acreditasse nela, mas depois de me acalmar eu consegui rever nosso encontro de maneira nítida.

— E sim lembranças... – Eu ainda falava em tom baixo, com meus olhos fixos em minhas próprias mãos. – Ela disse que a maldição não falhou... – Eu ia falando mais para mim do que para Tinker. – E que ela é filha da Snow...

— Ela veio do futuro? - Tinker perguntou confusa.

— Não... – Eu respirei fundo, tentando fazer com que aquelas coisas tivessem sentidos para minha cabeça. Porque meu coração era um idiota que sempre acreditava em qualquer bobeira. – Eu não sei se entendi muito bem a história que me contou... Mas o menino, o Henry... – Eu olhei para Tinker que me olhava atentamente. – Ela disse que ele é meu filho... na verdade meu e dela.

— Calma... Então vocês tiveram um filho no futuro? – Tinker perguntou ainda mais confusa. – E como vocês fizeram esse filho? – Ela me olhou com uma cara engraçada, mas eu estava tão perdida em mim, que nem consegui rir.

— Não Tinker... – Eu respirei fundo. – Por favor, eu vou falar o que entendi apenas uma vez e não vou repetir. – Eu disse séria, já ela assentiu com a cabeça – Ela disse que a maldição deu certo e que eu vivi por quase 30 anos no tal Reino que ela veio, mas que para salvar todos, nós voltamos para cá e eles ficaram, mas todos nós perdemos as memórias. Que quando ela passou pela linha da cidade ontem, ela o garoto se lembraram de tudo e vieram direto para cá com a ajuda de um feijão mágico. A estranha disse que veio trazer os finais felizes de volta, e que isso incluía o meu.

— Essa história está é muito mal contada. – Tinker reclamou como se nada tivesse feito sentindo, mas na verdade não fazia mesmo. – Você não acreditou nela não é? – Seus olhos me olhavam com reprovação. - Um filho do futuro? Essa mulher só pode ser é louca! – Eu ignorei essa parte de “filho do futuro”.

— Ela disse que tinha os mesmo sonhos que eu... isso quando ainda não se lembrava... – A expressão de Tinker mudou de deboche para assustada e confusa. – E o jeito que ela descreveu os sonhos, as sensações... – Eu fechei os olhos por alguns segundos me lembrando da voz de Emma ao falar sobre isso. – É exatamente igual aos meus sonhos... Foi apenas nesse momento e que eu deixei minha cabeça de lado e segui meu coração. Porque o meu ser e a minha alma, estavam gritando desde o inicio para que eu acreditasse em cada palavra daquela mulher louca. Mesmo nada fazendo sentido...

— E o que você fez? – Ela me olhou assustada e respondeu a própria pergunta. – Não vai dizer que você a beijou!? – Ela perguntou com os olhos arregalados.

— É claro que eu não a beijei! – Eu olhei com reprovação para Tinker, um pouco assustada com aquela possibilidade. – Porque eu a beijaria? Eu nem ao menos a conheço. E ela é completamente louca! – Eu fiquei mais assustada do que queria com a possibilidade de beijar a mulher da história sem nexo.

— Ah... ela é bonita... – Tinker começou a dizer como uma criança. - E você tem aqueles sonhos com ela... e pelo o que ela disse vocês tem um filho juntas... vai que tudo isso é verdade e vocês são tipo o amor verdadeiro uma da outra? – Tinker disse com um sorriso nos lábios e nos olhos. Ela parecia feliz com aquela situação.

— Você e ela deveriam cavalgar juntas... – Eu revirei os olhos. - São duas loucas. – Eu disse irritada com o comentário dela. – Meu amor verdadeiro morreu, e você sabe disso. Não me venha querer arrumar um outro amor, porque da ultima não deu nada certo e você acabou perdendo suas asas... – Eu me levantei indo em direção a sacada.

— Eu? – Ela disse abismada ao se levantar e vir atrás de mim. – Eu arrumando outro amor para você? Claro que não! Eu só estou traduzindo as coisas... – Ela disse como se tivesse toda a razão. – Você sonha com ela e com o menino, ela sonhava com você... Você me disse que se sentia completa perto deles nos sonhos e agora que os encontrou de verdade, não quer acreditar que eles são seu final feliz? – Ela disse parando de frente para mim. Sua expressão era de como se não acreditasse que eu não estava vendo o que ela dizia.

— Não quero mais falar sobre isso. – Eu disse me virando para o céu, onde as primeiras estrelas começavam a surgir. – Amanhã eu vou ver o menino... vou falar com ele. – Eu disse em tom baixo ainda admirando o céu.

— Vai? – Ela perguntou surpresa. – E em que momento você ia me contar isso?

— Agora. – Eu disse seca, apenas querendo ficar sozinha. – Você já pode me deixar sozinha não é?

— Está bem... – Ela bufou um pouco irritada. – Nos vemos no jantar? – Ela perguntou com esperança.

— Não, eu vou dormir, e só pretendo acordar amanhã na hora de ir encontra-los. – Eu olhei para ela séria. – Me deixe sozinha e não volte aqui... – Ela me olhou meio triste com meu jeito estupido. – Quero dizer... amanhã... quando eu acordar eu te procuro. – Eu tentei ser menos grosseira. – Obrigada por tudo. – Eu tentei sorrir, mas não consegui. Ela sorriu de canto, como se me entendesse.

— Tudo bem Regina, descanse... – Ela me deu um abraço rápido e logo voltou a me olhar. – Qualquer coisa você sabe onde me achar. – Ela sorriu. – Até amanhã... - Ela disse antes de me deixar sozinha, naquele quarto frio e confuso.

Foi apenas o tempo de ouvir a porta bater e tudo dentro do meu ser, desmoronar.

Eu fechei os olhos já sentindo o choro vir com toda a força. Um choro completamente confuso e doloroso. Abri meus olhos mirando o céu negro, deixando as varias lagrimas se derramarem em meu rosto. Meus medos eram tão grandes, meu desespero era tão enorme, minha confusão era tão intensa, que eu chorava como uma criança perdida na mata escura.

Me abaixei ali mesmo na sacada, afundando meu rosto em meus joelhos como uma menina. Eu estava sem forças, não iria conseguir chegar a lugar nenhum, nem mesmo em minha cama. Eu só precisava colocar tudo aquilo para fora, tudo aquilo que eu não fazia ideia do que era.

A voz de Emma em minha mente soava tão família para meu coração, que me fazia chorar ainda mais. Mas minha cabeça teimava em me dizer que era tudo mentira, que nem mesmo meus sentimentos eram reais.

Nada depois da Maldição falha fazia sentido, nada mais em minha vida era como antes. E mesmo Emma sendo ainda mais estranha do que tudo que havia acontecido naqueles nove meses, parecia que era a única no mundo que poderia realmente devolver minha felicidade. Meu coração me implorava por eles dois, suplicava para que eu acreditasse naquela mulher e que confiasse que tudo daria certo.

Aquilo era desesperador demais para mim. Fazia meu coração doer muito, mais até do que ser esmagado. Fazia minha cabeça girar até me deixar tonta. E me tirava o ar como se quisesse me tirar a vida.

Me levantei completamente embriagada pela guerra dentro de mim, entre a razão e a emoção. Fui tirando minhas roupas pelo caminho, eu precisava de um banho, eu tinha que tentar relaxar. Desfiz o penteado e peguei a garrafa de bebida antes de chegar em meu banheiro. Terminei de me despir assim que enchi a banheiro de água quente com magia, eu não ia conseguir esperar algum criado encher para mim.

Tomei alguns goles da bebida como se fosse água, eu só queria que ela adormecesse meus sentidos e sentimentos. Mas de imediato nada aconteceu, apenas minha garganta queimando como minha cabeça e coração. Entrei na banheira e me posicionei o mais confortável que pude, coloquei a garrafa ao lado e mergulhei todo meu corpo desejando que ao voltar à superfície, tudo estivesse como antes da maldição, mas nada mudou quando voltei a respirar.

Aquela água quente, aquela bebia forte, aquele choro sem fim.

Aquela era eu completamente desnorteada, sem rumo, sem chão, sem nada que pudesse realmente me agarrar. Nada fazia sentido, nada era grande o suficiente para tampar aquele buraco negro em meu coração... nada era... até aqueles dois estranhos surgirem. Até meus sonhos confusos e desfocados, saírem de minha cabeça e surgirem a minha frente.

Eu não conseguia acreditar que aquilo tudo era real, mas eu queria, eu queria mais que toda a vingança que já desejei, eu queria mais que a vida de Daniel de volta, eu queria mais que tudo naquele mundo... Eu queria aqueles dois estranhos como meu final feliz... Mesmo sem entender o por que... mas eu queria e muito... desesperadamente.

Chorei até a bebida acabar, a água esfriar e as lagrimas secarem... Levantei da banheira com toda a força que me restava. Tudo ao meu rodar estava lento, meu corpo completamente entorpecido, minha mente mal conseguia saber o porquê de tanto choro, na verdade eu conseguia lembrar que era por Emma e seu filho, que ela disse que era nosso. Mas de resto, tudo era muito vago... A bebida tinha feito o efeito desejado, amenizar toda a dor e tristeza de meu coração, toda a confusão e tortura de minha mente.

Eu não me vesti, nem ao menos me sequei, caminhei até minha cama e me joguei tonta pelo álcool. Me cobri com minhas cobertas quentes e fechei os olhos tentando dormir. Mas era difícil ficar de olhos fechados, mesmo com o efeito da bebida, imagens de Emma surgiam como relâmpagos constantes em minha mente. Não só dela como de Henry também, daquele menino tão estranhamente meu, me chamando de mãe e me abraçando com saudade.

Me levantei em um pulo, puxei um espelho o mais próximo que pude de minha cama. Voltei a me deitar e me cobrir, fiquei o mais confortável que pude e chamei por Sidney.

— O que deseja minha Rainha, a mais bela de todos os reinos. – Sidney me bajulou, eu apenas o ignorei. Era mesmo um idiota.

— Me mostre... – Eu disse com a voz um pouco arrastada. - Emma e Henry... quero vê-los agora.

— Minha Rainha está bem? – Ele perguntou com um ar de preocupado, o que me deu vontade de socar o espelho e quebrar a cara dele... Eu queria ver Emma e Henry, era difícil de entender?

— Me mostre logo seu inútil! – Eu disse irritada e nitidamente alterada pelo álcool, levantando levemente meu corpo com o cotovelo. – Quero ver Emma e Henry! Agora! – Eu voltei a me deitar completamente.

— Sim senhora, seu desejo é uma ordem. – Ele disse ao desaparecer dando lugar a um quarto no castelo dos Charmings.

Henry já estava deitado na enorme cama, vê-lo fez meu coração feliz e me fez sorrir. Ele era tão lindo, tão único e perfeito. Eu não me lembrava dele, para mim o dia em que me abraçou, foi a primeira vez que meus olhos se pousaram nele. Mas mesmo sem uma explicação coerente, meu coração sentia tanto... tanto amor por aquele menino, que me dava uma paz extraordinária.

Ele ainda não dormia, as luzes do quarto estavam acesas, ele olhava para o teto como se esperasse por alguma coisa. Mas Emma não estava ali, e aquilo fez meu coração doer. Eu precisava vê-la também, eu tinha que olhar para aqueles verdes únicos e intensos.

Antes que eu ordenasse Sidney a me mostra-la, Emma surgiu de uma das porta, secando os cabelos com uma toalha, vestida com roupas de dormir. Eu sorri ao ver aquilo e fechei os olhos por alguns segundos me sentindo feliz com aquela cena.

— Você ainda não me disse onde esteve... – Henry disse para a mãe ao se apoiar nos dois cotovelos quase se sentando.

— É... – Emma olhou para ele com os olhos tristes. – Eu não te contei porque queria ter certeza que estávamos sozinhos... – Ela largou a toalha em cima de uma cadeira e se sentou na beira da cama, o que o fez também se sentar. – Eu fui vê-la... – Ela disse em tom baixo, com um sorriso também triste. Os olhos do menino se arregalaram como se realmente não esperasse por aquilo.

— Minha mãe? Regina? – Ele perguntou ainda parecendo assustado. Meu coração se apertou ou ouvi-lo se referir a mim como mãe.

— Sim... – A voz de Emma saiu baixinha. Ela estava realmente triste, e aquilo era tão doloroso para mim, mesmo com o álcool em meu corpo, tentando inibir todos os meus sentidos, aquilo me fazia ter vontade de voltar a chorar. – Eu me encontrei com ela, nós conversamos...

— Mas... mas... – Ele parecia confuso, e aquilo também era doloroso para mim. Lagrimas começaram a se formar em meus olhos. – Porque não me contou? Não me levou? Eu também tenho saudades... – Ele disse nitidamente chateado com ela. Me deixando cada vez mais confusa, era como se tudo que ela disse fosse real.

— Henry... – Ela parou de falar e respirou fundo. – Ela não se lembra da gente, eu não podia arriscar levar você sem ao menos conversar com ela antes... Eu sempre acreditei nela... – Aquela frase foi como um banho de agua fria, me deixando em choque. – Todos sempre a viram como a Rainha Má, mas eu sempre a vi como Regina... – Ela falava de mim de uma maneira que nunca na vida eu havia visto alguém fazer. Ela era realmente única e meu coração palpitava cada vez mais rápido em cada palavra dita. – Mas eu tinha que me certificar que ela ainda era a mesma, eu tinha que ter certeza que ela não havia voltado a ser aquela que todos sempre temeram... – Eu estava completamente estática com tudo que Emma tinha dito. Era como se até o efeito da bebida tivesse sumido.

— Tudo bem... – Henry disse tristonho. – Me diga... como foi?

— Ela ainda é a mesma Henry. – Emma disse com a voz falha, e lagrimas se formaram naqueles olhos verdes. – Ela ainda é a sua mãe, ainda é a mulher que teve que te deixar partir, ainda é a mulher que nos presenteou com memórias falsas, para que pudéssemos ser felizes. – Eu chorava junto com ela, fazendo meu coração se comprimir cada vez mais. – Ela ainda é a mesma que conhecemos... – Ela passou a mão em seu próprio rosto e depois na lagrima solitária no rosto de Henry. – Ela não se lembra de nada, mas ela vai lembrar, todos vão, nós vamos fazer isso juntos, filho. – Ela o abraçou, o que me fez levar a mão até o espelho o tocando... eu queria tocá-los, abraça-los. – Eu prometo. – Ela saiu do abraço voltando a olha-lo, mas segurando as mãos dele com firmeza. – Prometo que vou trazer o final feliz de todos. – Ela sorriu para ele, que sorriu de volta. - Amanhã, ao entardecer, você vai vê-la. Nós vamos...

— Vamos? – Ele disse animado, me tirando um sorriso entre lágrimas.

— Sim, eu marquei com ela... na verdade ela que pediu para te ver. – Ela sorriu mais uma vez, fazendo os olhos dele se encherem de esperança. Eles eram tão perfeitos que era até difícil de acreditar que estavam mesmo falando de mim.

— Será que... – Ele hesitou por alguns segundos, fazendo meu coração disparar de ansiedade com que ia dizer. – Será que ela se lembra de alguma coisa?

— Não Henry... – Emma disse com a voz frustrada. – Ela não se lembra de nada, mas o coração dela, disso eu tenho certeza, ele sim sente tudo... sente do mesmo jeito que sentíamos quando não nos lembrávamos. – Ela repousou uma de suas mãos no coração dele. – As memórias podem sumir, mas o que tem ai dentro... o que tem no coração fica para sempre... E o amor verdadeiro principalmente...

— Andou lendo meus livros mãe? Ou são os ares da Floresta Encantada que te deixaram que nem uma princesa apaixonada? – Ele disse com deboche e um ar de ironia, que me fez sorrir, fazendo-me pensar inevitavelmente que aquilo se parecia comigo.

— Você é mesmo filho dela em Henry Mills? – Emma disse bagunçando os cabelos dele e se levantando em seguida. Eu apenas permaneci com um sorriso bobo nos lábios e lagrimas nos olhos, por ela ter dito que ele se parecia comigo e por chama-lo com meu sobrenome – Agora vai dormir que amanhã será um grande dia. – Ela disse ao se levantar.

— Você não vem? – Henry se deitou.

— Vou sim, deixe-me apenas apagar essas mil velas. – Ela foi em direção a um dos lustres.

— Porque não tenta com magia? – Henry perguntou descontraído. Deixando-me mais confusa que antes. Ela podia fazer magia?

— Não tinha pensando nisso... – Emma sorriu para ele. – Mas vou tentar. Mesmo Regina não tendo me ensinado essa parte. – Eu? Eu ensinei magia a ela? Sentei em minha cama e me aproximei ainda mais do espelho, eu estava realmente curiosa com aquilo.

Emma fechou os olhos com calma. Em seus lábios um pequeno sorriso. Apenas alguns segundos se passaram e com magia todas as velas se apagaram deixando o quarto escuro, apenas com a luz da lua e das estrelas entrando pela grande janela. Mesmo sem entender, eu me senti feliz com aquilo, orgulhosa de vê-la fazer algo tão banal como apagar as luzes.

A mulher dos meus sonhos foi até a cama e se deitou ao lado do filho, o que me fez deitar de volta em minha cama. Meu coração estava mais calmo, e posso até dizer que estava também... feliz. Eles deram boa noite um ao outro o que me fez falar sozinha em meu quarto dando boa noite a eles também. Fiquei olhando eles até pegarem no sono, fazendo-me em seguida também dormir.

Fazia muito tempo que eu não tinha um sono tranquilo como aquele. Mesmo não sendo real para minha cabeça, para meu coração negro, foi como dormir ao lado do meu possível final feliz.

Acordei no meio da tarde do dia seguinte.

Com calma tudo que vivi no dia anterior foi tomando forma. O encontro com a estranha, a conversa com Tinker, meu desespero surreal, o álcool tomando conta lentamente de todo meu corpo, Emma e Henry através do espelho e por fim meus sono sereno, mas desta vez, com um sonho mais focado e diferente de todos os outras.

— Regina? – Tinker disse do lado de fora do meu quarto, batendo em minha porta. – Você está viva? – Seu tom era preocupado.

— Entre... – Eu disse de frente para ao espelho, checando se eu estava realmente bem com aquela roupa.

— Já está pronta?! – Tinker perguntou surpresa. – Achei que teria que te acordar... – Ela disse ao se aproximar. – Gosto quando usa azul, mesmo escuro... e adoro quando veste essas roupas para cavalgar. – Tinker estava sempre de bom humor. Dificilmente eu a via de outra maneira.

— É eu também gosto... – Eu disse ao olhar para ela e sorrir de canto. Eu estava me sentindo bem, com medo, mas bem... e aquilo era estranho, até mesmo para mim.

— Você está diferente de ontem... – Ela disse me analisando. – O que aconteceu?

— Nada ainda... – Eu me virei completamente para ela. – Está bom assim? – Eu disse me referindo a minhas roupas, cabelo e maquiagem.

— Uma rainha. – Tinker sorriu feliz. – Eu já pedi para prepararem Razago, eu mesma ia arruma-lo para você, mas seu cavalo sempre fica me encarando e isso me da um pouco de nervoso. – Ela disse fazendo caras e bocas.

— É Razago tem uma personalidade forte. Alguns até dizem que se parece comigo. – Eu sorri ao me virar pela ultima vez para o espelho, dar mais uma olhada em tudo e empurrar Tinker em direção a porta. – Eu estou faminta, quero comer algo antes de ir.

— Faz torta de maça amanhã? – Tinker perguntou como uma criança assim que passamos pela porta de meu quarto.

— Não sei, vamos ver como meu humor estará amanhã... – Eu respondi em meu tom naturalmente irônico.

Eu realmente estava com fome, mas foi difícil colocar alguma coisa em meu estomago, eu estava nervosa e ansiosa, o que me fazia ter náuseas e calafrios. Aquelas sensações eram bem desagradáveis, ainda mais para mim que por muito anos nunca senti absolutamente nada daquilo. Eu nem me lembrava de já ter sentindo um dia.

A hora de ir finalmente chegou, me despedi de Tinker que me desejou toda a sorte do mundo... Junto com Razago, peguei a Rota Norte e parti em direção a Emma e Henry.

Meu coração estava saindo pela boca, meu estomago revirava cada vez mais. Eu não fazia ideia do que iria falar com eles, nem do que exatamente eu esperava daquele encontro. Mas eu precisava, meu corpo, meu coração, e até minha mente, estavam querendo aquilo. Aquela paz estranhamente maravilhosa que vinha daqueles dois estranhos.

Meu coração quase se desfez quando cheguei ao campo aberto, porque diferente do dia anterior não vi Emma logo de cara. Deixei Razago próximo às árvores e caminhei até o centro da clareira. Minhas mãos estavam suando e meu ar faltava como se eu tivesse corrido até ali. Não fiquei nem dois minutos esperando. Emma e Henry logo surgiram por entre as árvores, junto com o mesmo cavalo do dia anterior. Eles desceram ali mesmo e vieram caminhando até mim. Meus olhos se revezavam entre ambos, que me olhavam de um jeito tão único que eu mal poderia descrever. Um misto de tristeza e alegria, de saudade e esperança. Aqueles olhos, tanto dela quanto dele, me falavam coisas tão nitidamente, que eu cheguei a me assustar com a minha capacidade de poder lê-los.

Eles se aproximaram o bastante. Emma me olhava do mesmo jeito que no último encontro. Ela estava nitidamente triste, mas algo dento daqueles olhos pareciam muito satisfeitos por estarem comigo naquele momento. Ela estava com uma de suas mãos no ombro de Henry, que sorria para mim de um jeito infantil, mas um pouco tristonho.

— Oi... – Foi Henry quem falou primeiro, fazendo meu coração bater ainda mais forte, se é que era possível.

— Oi... – Eu disse com um meio sorriso para ele. Algo dentro de mim quis abraça-lo imediatamente, mas me mantive no mesmo lugar.

— Minha mãe disse que você queria me ver... – Ele disse com receio, mas seus olhos estavam cheios de esperança e felicidade. Meu coração sentia que aquele menino era realmente meu e chegava a doer o jeito que minha cabeça ficava dizendo que não, que era impossível.

— É, eu disse... – Eu olhei rapidamente para Emma, que me olhava com aquelas sobrancelhas erguidas como se sentisse dor, mas logo voltei a olhar para ele. – Seu nome é Henry não é?

— Sim... – Ele disse dando um sorriso comprimido. – E como foi... sua vida... – Ele estava inseguro, mas respirou fundo e prosseguiu antes que eu respondesse. – Como foi sua vida nesses últimos nove meses? – Eu sorri de canto com a pergunta dele. Eu estava realmente me sentindo em paz ali, mesmo com todos os medos e confusões, eu estava feliz por tê-los tão próximos de mim.

— Foi... diferente... confusa... – Eu disse com naturalidade, meus muros não existiam naquele momento. – Muito confusa... – Eu sorri para ele, que me olhava tão amorosamente, que eu estava quase o abraçando. – E sua mãe ontem... – Eu olhei para ela que ainda mantinha seus olhos em mim. – Me disse coisas que me deixaram ainda mais confusa. – Eu voltei a olhar para ele.

— Não se preocupe, tudo vai dar certo, nós... – Ele disse olhando rapidamente para Emma, mas voltando a me olhar – Vamos fazer vocês todos recuperarem suas memórias... Assim você não vai mais se sentir confusa.

— Eu não sei se posso acreditar nisso Henry. – Eu disse com a “cabeça” fazendo meu coração se desmanchar dento de mim. – Você me parece um menino realmente incrível... Mas acho que quem precisa recuperar alguma coisa aqui são vocês. A sanidade. – Eu disse sentindo meus muros se erguerem involuntariamente.

— Você não precisa acreditar que tudo seja verdade. Só confie na gente, confie que a podemos sim fazer todos felizes outra vez. – O jeito com que ele falou, foi de partir qualquer coração. – Apenas acredite nisso... – Seus olhos me imploravam para que eu apenas falasse sim. – Escute seu coração, ele sim ainda se lembra de nós...

Fiquei em silêncio por alguns segundos. Tentei escutar um dos meus dois lados. Mas um me dizia para eu cair de cabeça naquela história, e o outro que me mandava fugir para o Reino mais distante possível. Aquela batalha constante dentro de mim, era o que causava toda a minha agonizante confusão.

— Essa noite eu tive um sonho diferente dos outros, foi bem nítido na verdade, me lembro de quase todos os detalhes... – Eu falei com calma, olhando apenas para Henry. – Sua mãe me disse que meus sonhos não são sonhos e sim lembranças... Se são realmente lembranças... Quero que me diga... – Ele apenas esperava pelo o que eu ia dizer. – Quero que me diga o que conversamos... Eu e você...

— Eu digo... – Ele disse com toda a esperança do mundo, seus olhos chegaram a brilhar.

— Eu acho que era uma despedida... – Eu me forçava para lembrar com todos os detalhes. – Você disse que a culpa era sua, de tudo aquilo que estava acontecendo, que se tivesse ficando comigo dentro da maldição, em vez de ter ido atrás de Emma, nada daquilo teria acontecido... Disse que pensava que estava sozinho, que eu não te amava, mas que estava errado em relação a tudo... – O sorriso dele era tão lindo e em paz, que eu podia ter certeza que ele realmente sabia do que eu estava falando. - E eu disse que não, que eu também estava errada... Que era minha culpa, que eu havia lançado a maldição como vingança... Que eu era uma Vilã, e que vilões não tinham finais felizes... – Ele sorriu feliz com aquilo, deixando uma única lagrima se formar no canto de um dos seus olhos. Meu coração já voltou a palpitar só com aquele pequeno sorriso. Se ele me falasse exatamente o que eu me lembrava do sonho, meu coração não iria aguentar... e eu teria que abraça-lo

— Você não é uma vilã, você é minha mãe. – Ele disse ainda com aquele sorriso de canto, fazendo minha respiração parar lentamente. – Nós somos uma família... Nós vamos nos encontrar de novo... – Ele disse por fim, exatamente a mesma coisa que ele mesmo havia dito em meu sonho.

Eu não consegui mais segurar, eu realmente não me lembrava de nada, mas aquela foi a confirmação, que minha mente precisava para dar passe livre ao meu coração.

Fui ao seu encontro que também veio ao meu. Era como se Henry soubesse o que eu iria fazer, como se sentisse que eu precisava abraça-lo. Eu me senti realmente amada com aquele contato. E eu podia sim dizer, que acreditava... acreditava que eles eram o meu final feliz. Que eles podiam trazer de volta o final feliz de todos

— Eu disse que nos encontraríamos... – Henry falou ainda em meus braços. O cheiro dele era tão familiar, e aquela sensação de amor materno era tão minha. Que mesmo sem me lembrar de nada, eu sentia que era mesmo mãe daquele menino.

Assim que me separei do abraço eu peguei em seu rosto com as duas mãos, tudo nele era perfeito, aquele menino era realmente meu... Meu coração dizia isso tão alto, que achei até que Emma e Henry poderiam ouvir. Eu estava feliz, em paz, e com um nervoso na boca do estomago que me dava vontade de sorrir. Tudo naquele momento parecia perfeito, parecia até mesmo um sonho, mas como em todo sonho, a gente sempre acorda em um momento.

Uma voz ao fundo gritou “Agora”, mas não deu tempo nem de ver de onde veio, ou o que exatamente era aquilo. Quando me dei conta havia me atingido, era magia, daquilo eu tinha certeza. E era forte e desconhecida, não levou nem três segundos, eu cai fraca no gramado, e apaguei em sono profundo.


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Notas finais do capítulo

O que acham que aconteceu com a Regina? Quero saber de tudo, tudinho que acharam...

Obrigada mais uma vez! :D