POV Apolo.

A noite começa a cair sobre nós aos poucos, a lua demora a chegar ao topo mais do que o normal. Mas, ao mesmo tempo, o sol já parece ter ido há muito tempo.

Esse é o efeito colateral de Artemis e eu estarmos igualmente preocupados e sobrecarregados. Tanto o sol quanto a lua demoram a querer se erguer e se apressam a ir embora. Se continuarmos assim, dias muito escuros virão, se é que já não os estávamos vivendo. Penso que, no fundo, sempre foi conveniente que Artemis e eu nos mantivéssemos separados, assim, pelo menos um de nos se manteria sempre em pé. Mesmo assim, não consigo tirar da cabeça que não poderíamos fazer uma equipe melhor.

Afrodite está ao meu lado, sentada comigo em um tronco de arvore tombada. Estamos aguardando Artemis, que está dando ordem as suas caçadoras. Afrodite parasse abatida, talvez ainda mais que Artemis e eu. Ela abraça as pernas e repousa a tempora nos joelhos, com seu rosto virado para mim.

–Preciso confessar uma coisa, Polo. –ela começa, com uma voz cansada. Eu aceno para que ela continue. –Tenho me sentido fraca nas ultimas semanas.

–Fraca? –uma preocupação salta em meu peito, e então a palidez de Afrodite parece mais intensa do que nunca.

–Pensava que era por causa do tempo sem poderes, da doença de Rachel e agora desaparecimento de Percy e Annabeth. Mas agora com a historia dessa tal de Effy... Talvez tudo seja mais grave do que supúnhamos.

Abraço Afrodite pelos ombros.

–Artemis está voltando, logo descobriremos o que está acontecendo. Para bem ou para o mal.

–Como? –ela pergunta. –até agora ninguém elaborou um plano genial, sabia?

–Eu sei o que fazer. –Artemis aparece, com o olhar serio e determinado. –nos três vamos até o Olimpo, e vamos perguntar a Zeus.

Eu e Afrodite trocamos um olhar duvidoso.

–Zeus não vai querer nos ver. Voce sabe disso. –Afrodite diz.

–Mas nos não temos muitas opções. –digo. -mas será difícil faze-lo falar.

Artemis coloca as mãos nos quadris, enraivecida.

–Se Percy não voltou, significa que as coisas vão de mal a pior. E se o pior já tiver acontecido, se um dos deuses tiver sido capturado, então é problema nosso, é problema de todos nos. –ela estreita os olhos, como se nos desafiasse a questiona-la. –Zeus vai nos dizer o que sabe. Não é possível tantas coisas acontecerem sem que ele saiba de nada.

Olho melhor para Artemis, e noto que ela aprece mais velha. Não é como se soasse mais velha, ela sempre foi assim. Mas como se involuntariamente estivesse tornando seu corpo mais velho, mais alto. Não aprece mais ter 10 anos de idade, está quase aparentando 13. Talvez 14.

–Se Zeus não souber de nada ou não quiser nos ajudar... Então nós nos viraremos. –digo, me pondo de pé. –vamos falar com o nosso pai.

...

–Mas o que...? – questiono.

Esperava encontrar o Olimpo a minha frente, a sala dos tronos, pra ser mais especifico. Era onde nos três havíamos nos transportado, mas a nossa frente se estendia a sala de espera do Empire State.

–Zeus impedindo o transporte para o Olimpo? –Artemis diz.

–Talvez realmente não nos queira lá. –Afrodite comenta, com descrença.

Artemis bufa, e caminha até o porteiro, que está lendo o seu livro. Ele tira os olhos das paginas para olhar levemente apavorado para a deusa zangada que caminha até ele. Na verdade, ele parece mais calmo do que a maioria das pessoas ao lidar com Artemis furiosa.

–Eu quero entrar. –ela impôs.

–o senhor Zeus proibiu a entrada ou a saída de qualquer um. Sinto muito, minha senhora.

–Voce sabe quem nos somos por um acaso? –ela grita, batendo no balcão do porteiro.

–Sim. Eu sei, senhora Artemis. –ele diz, curvando a cabeça para ela. Ele se vira para nos, nos olhando por cima do ombro de Artemis. –Senhor Apolo, senhora Afrodite. É uma honra te-los aqui, mas não posso deixa-los entrar. Senhor Zeus proibiu completamente e entrada ou saída de qualquer um. Ele foi especifico. Mortais, semideuses ou deuses. Sinto muito, senhora Artemis.

Ela olha para o porteiro com tanto ódio que temo que ela o ponha em chamas. Pouso minha mão em seu ombro.

–Calma Arty, o porteiro não tem culpa. –ela me lança um olhar raivoso, mas não sei se é pelo apelido ou por defender o mortal.

–E o que você espera façamos? –ela grita.

–Ela tem razão, Polo. –Afrodite se intromete. –não podemos simplesmente voltar para o acampamento de mãos vazias. Não podemos deixar Percy. –Afrodite se inclina para o porteiro, usando charme. –Por favor, senhor, nosso amigo está em perigo. Zeus precisa saber disso.

–Eu o avisarei. Mas tenho certeza que ele já foi informado disso.

O homem não parece afetado pelo charme de Dite. Eu me pergunto se esse infeliz é ao menos humano.

Afrodite fecha a cara. Irritada tanto com seu fracasso quanto com Zeus já saber da noticia de Percy.

–Foi exatamente por causa do desaparecimento do senhor Perseu que Zeus trancou as portas do Olimpo. Posso dizer apenas que os senhores não são os únicos irritados. Isso é tudo que eu sei, senhores. –ele diz, e levanta ser livro. Encerrando nossa conversa.

–Zeus! –eu grito contra o elevador, batendo na porta de metal. –abra essa porta e nos deixe subir! Queremos saber o que merda esta acontecendo!

–Apolo, você não acha mesmo que isso vai... –Artemis começa a argumentar, mas a luz do elevador se acende, e o elevador começa a se mover, começa a descer. Então um Plim! é ouvido, uma luz se acende. E, finalmente, a porta metálica se abre.

Dele sai um homem com a barba rala, cabelos negros levemente compridos e desgrenhados. Ele parece cansado e abalado, com olhos verdes familiares. Usa bermudas e chinelos.

–Poseidon. –eu digo o obvio, e ele sorri cansado ao nos ver.

–Apolo, Artemis, Afrodite. Há quanto tempo, não?

–Mas eu pensei que Zeus não permitisse... –Afrodite começou, e Poseidon assume uma forma seria e a interrompe.

–Será rápido. E tenho certeza que Zeus não ficará sabendo, certo? –ele olha para o porteiro, que se afunda em sua cadeira, se escondendo atrás do livro e do balcão, intimidado pelo deus dos mares. –mas também não posso me demorar nem sair do prédio, ou meu irmão saberia.

–Poseidon, precisamos de ajuda. Percy está em perigo! –informo-o, mas ele não parece surpreso.

Poseidon comprime os lábios, os transformando em uma única linha. Em seus olhos não vejo espanto ou surpresa, apenas preocupação.

–Eu sei.

–E por que ainda não fez nada?

–Primeiramente, por que Percy sendo um semideus ou um deus, ele sempre conseguiu resolver seus problemas sozinho. Ele é capaz de sair da enrascada que estiver sem minha ajuda. Essa não é uma missão minha, Apolo.

–Voce parece Zeus falando!

–Mas não é só isso. Voces podem achar que a atitude de Zeus de não permitir que ninguém entre ou saia do Olimpo é ridícula e indecente. Voces acham que apenas mais um ataque de raiva de Zeus sobre vocês, mas não é isso. Geralmente, não concordo com meu irmão em vários pontos, em varias de suas decisões, mas dessa fez ele fez o mais coerente. Estamos em tempos difíceis.

–Poseidon. –Artemis pergunta, notando a gravidade do assunto. –onde Percy esta? O que está acontecendo?

–Por mais que eu ame muito meu filho, Artemis, ele não é um dos nossos maiores problemas. Mas ele ser capturado torna as coisas bem piores. –ele nega com a cabeça, e se coloca a explicar. –Nos sabíamos que a menina de Atena, Annabeth, havia sido capturada. Sabíamos por que quem o fez tinha a intenção de nos deixar sabendo, por que ela era uma isca para atrair Percy. Voces acham que Zeus os deixou sem poderes, com tarefas no acampamento e sem lhes deixar voltar para o Olimpo por que vocês deram uma festa? Ainda não acredito que caíram mesmo nessa historinha. Todo o Olimpo estava em caos por que vários deuses estavam desaparecendo. Primeiramente alguém sem importância, uma ninfa, um semideus, ou um deus menor. E depois os deuses poderosos que os amavam iam atrás deles, e acabavam também capturados.

–Então... Estão usando do amor para capturar os deuses? –Afrodite perguntou, abismada.

–Exato. –explicou Poseidon. –Tudo estava o caos, Zeus não conseguia controlar a todos. Se outros de nossos inimigos vissem o caos que estávamos vivendo aproveitariam para atacar também. Então Zeus resolveu abafar o caso. Impediu que os que estavam no Olimpo pudessem sair. E proibiu que os que estavam fora pudessem entrar. Primeiro de maneira sutil, dando a desculpa da festa. Antes mesmo disso, havia chamado Dionisio ao Olimpo, dando uma desculpa para isso também. Dessa forma conseguia dois trunfos: Percy estaria comprometido a ficar fora, e não descobrir sobre Annabeth por nenhum outro deus, e Dionisio comprometido a ficar dentro do olimpo, assim ele não...

–Assim ele não iria atrás de sua mulher, certo? –Afrodite se postou, de punhos cerrados e um olhar preocupado. -Ela foi capturada para usa-lo de isca, não é?

–Sim. Mesmo a tendo triado com a ninfa, ele provou seu amor por sua esposa apesar da infidelidade. –ele diz. –e não é a única. Capturaram Anfitrite, minha esposa. –ele tocou o peito, e via que sentia falta de sua companheira. –Zeus me impede de sair procura-la, e isso me mata aos poucos. Perséfone também se foi. Sendo assim, dois dos três grandes estão desmoronando. Zeus só mantém Hera por que ela é uma olimpiana, e é mais difícil de ser capturada.

–E... Hefesto? E Ares? Eles estão no Olimpo, certo?

A pergunta pareceu surpreender até o próprio Poseidon. Os olhos de Afrodite denunciavam uma preocupação evidente. Nunca pensei se Afrodite realmente amava alguém. Ela nunca se apegava o suficiente, é verdade, mas isso significaria que ela não os amava? Ela tinha amantes, nunca foi fiel ao marido. Mas, afinal, poderia alguém ter o Amor só para si? O Amor é de todos, todos possuímos, todos amamos. Sendo assim, ingênuo é aquele que pensa que pode ter o amor apenas para si.

E, mesmo assim, mesmo sendo de todos um pouco, Afrodite ainda tem o direito de amar. Tanto o marido quanto o amante.

–Sim, ambos estão bem e seguros no Olimpo. E preocupados com você. –Afrodite abaixou a cabeça, mas vi um sorriso tímido formar em seus lábios.

–Eu não sou casado, Artemis odeia todos os homens e Ares e Hefesto estão seguros. Se é assim por que Zeus fez tanta questão de nos manter fora?

–Por causa de Percy, obviamente. –ele responde. –Se um de vocês tivesse a mais remota ideia do que estava acontecendo, Percy desconfiaria do desaparecimento de Annabeth, e então se entregaria. Um deus a menos. E eu não queria meu filho passando por isso. E se voces soubessem vocês também contariam a ele. Mas... Percy descobriu de alguma maneira. Pensei que pudessem me explicar isso.

Dou um passo à frente, pronto para contar minha versão dos fatos.

–Percy teve um pesadelo. Ele me contou que já havia tido alguns parecidos. Nele ele via dois rostos, o de Effy, uma das caçadoras, e o de Annabeth. Nele Annabeth pedia por ajuda. Nesse dia eu, Afrodite e Artemis havíamos nos separado há uma semana. Então combinamos que nos separaríamos para ir atrás de nossas únicas duas pistas. Annabeth era uma caçadora, assim como Effy, então Percy queria checar se ambas estavam seguras ou se o pesadelo era um aviso serio. E eu fui atrás de Dite, por que a única informação que tínhamos era que Effy era filha de Afrodite.

–Mas ela não é! Ela mentiu! –Afrodite diz, enraivecida.

–Mas ela mentiu. –eu concordo, pousando minha mão em seu ombro para acalma-la. –encontrei Dite, que esclareceu a mentira, e fomos até Artemis mas Percy não estava lá.

–Tem algum lugar que ele poderia ter ido antes de procurar por mim? –Artemis perguntou.

–Na verdade, tem. –digo, com a ideia me ocorrendo pela primeira vez como algo relevante. –pedi para que ele reforçasse as barreiras do acampamento na arvore de Thalia. Achei que se Annabeth estivesse em um perigo real, se tudo desse errado, o acampamento não poderia ficar sem nenhuma proteção.

–Ainda bem que fez isso, Apolo, as coisas podem ficar feias apartir daqui. –Poseidon diz. –mas também é provável que Percy tenha sido capturado ali.

–Mas... Os deuses estavam sendo atraídos até lá. Não faz sentido que o tenham capturado.

–Alguém pode ter contado a ele, e o atraído até Annabeth. –Artemis sugere. –assim conseguiriam pega-lo sem nem mesmo um combate.

–Effy. –é Afrodite quem diz. –essa menina é traiçoeira! Eu sinto isso!

–Nunca ouvi falar de uma caçadora chamada Effy. –Poseidon começa, medindo as palavras. –mas se querem saber, estão falando que o deus que combatemos tem uma filha trabalhando para ele. Falam de uma espiã.

–Merda. –xingo. –só pode ser Effy.

–Mas quem é o deus que planejou tudo isso? –Artemis pergunta.

–Atrair as pessoas pelo amor? Quem faria isso? –digo.

–Talvez você possa respondera eles, Afrodite. Você o conhece melhor que qualquer um. –Poseidon fala.

–Sim, acho que sei quem é. Usar o amor contra os deuses? Isso é trabalho de Eros.

–Eu não quero ser rude, mas Eros não é um bebe com um arco e flechas e uma frauda?

–Talvez seja por essa visão dele que ele queria destruir o Olimpo, não acha, Apolo? –Afrodite replica.

Um trovão chicoteia os céus atrás das janelas. Nuvens densas se formam no céu.

–Zeus descobriu que estou aqui, preciso ir. –Poseidon se vira e entra novamente no elevador.

–E o que nos fazemos? –pergunto a ele.

–O que sempre fazem quando um deus é capturado. –Poseidon ergue uma sobrancelha. –assumam o controle do Acampamento Meio Sangue e juntem um trio para uma missão. –Poseidon para a porta do elevador pouco antes dela se fechar. –Zeus está fazendo tudo o que pode para conter isso, mas nos sabemos que isso não pode ser contido impedindo-nos de fazer qualquer coisa. Mesmo que não possam fazer nada pessoalmente, façam com aconteça, mesmo que precisem desobedecer ao pai de vocês.

Poseidon sorri e deixa a porta se fechar. Mas ainda posso ouvi-lo dizer antes que a porta de feche completamente, e ele tem um sorriso divertido no rosto antes que a porta bloqueie minha vista.

–Sabem, meninos, a vida de Zeus era bem mais simples quando vocês três se odiavam.