I'm Never Changing Who I Am escrita por Moça aleatoria


Capítulo 22
Nada com que se preocupar


Notas iniciais do capítulo

Haha, postei na hora certa! Mereço cometários a mais por isso!
Okay vamos as más noticias... É o último capítulo que eu tenho, então se demorar o proximo culpem a Elisa por que eu tenho escrito todos os capítulos acho (acho) que desde a briga divina, já que quando ela demora eu tenho pego os capítulos dela, que eu deixo muito grande acabo dividindo em dois (ou tres). Mas dessa vez é com ela.
Mais uma má noticia? Mais ou menos.... Bem, pelo menos eu acho que voces vão me odiar profundamente por esse capítulo. Ouso dizer que algum vão ficar chateados por gostar dele.
Bem... Eu o amei! kkk
Ah, feliz dia dos pais para seus pais mortais e os olimpianos!



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Já era de dia quando finalmente terminamos o trabalho da faxina. Zeus ainda não tinha aparecido para devolver nossos poderes, então todos ainda estavam estressados e se perguntando onde passariam a noite –a manha, no caso- já que não conseguiam voltar para o Olimpo sem os poderes. Eu ofereci a casa grande, que tinha alguns quartos reservas para algumas emergências, mas eles teriam de se contentar com aquilo que de luxuoso e divino não tinha nada. Tentava colocar em minha mente sonolenta que aquilo, de fato, não era problema meu.

Caminhei até meu chalé, já via alguns campistas de pé, começando suas tarefas mesmo após a festa, chalé de Demeter principalmente em função aos jardins que, segundos os filhos da deusa, não poderiam esperar. Vi alguns filhos de Ares também acordados para o treino, provavelmente aqueles sem espirito festivo, e que tinham ido em bora da festa cedo. Todos eles me olhavam estranho e confusos quando me arrastei para meu chalé, com energia apenas para tirar as roupas molhadas pelo acidente de Ártemis, sujas, e colocar uma bermuda de pijama. Sem nem mesmo colocar a blusa, me julguei pronto para dormir, e peguei no sono antes mesmo de fechar os olhos, jogado na cama confortável onde esperava ficar um bom tempo.

...

Cai da cama pelas batidas ritmadas da porta pouquíssimas horas depois. Tinham se passado o que? Duas horas? Menos?

Que merda.

O duro era que Zeus estava certíssimo, eu estava com uma ressaca do Tártaro. Mesmo assim me arrastei até a porta onde esperava encontrar Grover, já que era ele quem geralmente me acordava de manhã para treinos ou algo do gênero.

Minha surpresa foi enorme quando vi os cabelos ruivos do outro lado da porta.

–Bom dia, flor do dia. –Rachel cumprimentou com um sorrio quando abri a porta. Me encarou meio sem jeito no segundo seguinte. Foi então que notei que eu ainda estava sem a blusa. Engoli a falta de jeito que me invadiu, como Apolo me mandava fazer.

–Bom dia. - Troquei o peso de perna e mudei de assunto. –o que é isso?

Perguntei apontando pra cesta que ela trazia em uma das mãos. Rachel sorriu.

–Ah, sim! Vim chama-lo para um piquenique! –disse ela sorridente, e eu notei que ela tomava cuidado para manter o olhar apenas no meu rosto.

Em um primeiro momento minha vontade foi de recusar e dizer que estava doente ou algo do tipo, mas eu sabia que seria rude. Olhei para a cesta de piquenique e pensei no trabalho que Rachel teria tido para prepara-la, e principalmente olhei para sorriso amigável e olhar puro da menina em meu rosto. Não pude deixar de sorrir ao responde-la.

–Claro, ótima ideia. Só me deixe tomar um banho, eu acabei de acordar.

–Te acordei?

–Não foi nada. –dei um passo para traz e abri a porta para que ela pudesse passar. –entre, estarei pronto em cinco minutos.

Estava indo ao banheiro mas tive que voltar ao notar que, agora que tinha perdido os poderes, não podia usa-los para aparecer uma roupa, então precisava, de fato, pegar a minha própria. O ato parece ter passado despercebido por Rachel. Acho que agia tanto como se não tivesse poderes que algumas pessoas se esqueciam disso.

Entrei no banheiro, escovei os dentes e entrei no banho. Deixei a água fria para ver se a temperatura ajudava em minha dor de cabeça e fiz questão de me apoiar da parede com as costas, apenas para deixar a água percorrer meu corpo da cabeça aos pés. Eu poderia até não ter poderes, mas a água ainda conseguia me deixar bem, mesmo que se tratasse de algo mais psicológico do que físico.

Apenas consegui pensar em que revira voltas a vida de uma pessoa pode dar. Pensando se de fato esqueci quem queria esquecer para estar com Rachel, se fato estou conseguindo seguir em frente. Acho que seguir em frente, esquecer e superar, é quando alguém consegue pensar na outra pessoa, consegue falar com ela, falar seu nome sem deixar outros sentimentos e lembranças virem à tona. Se isso foi superar, eu com certeza não superei. Não sabia se conseguiria pronunciar seu nome sem pensar naqueles momentos e naqueles sentimentos, e não sabia se ignorar o fato me faria esquecer. Tudo o que sabia é que daria o meu máximo para fazê-lo, por que simplesmente não havia mais nada fora aquilo para fazer.

Passei as mãos pelo cabelo para me acordar novamente, lembrando a mim mesmo de Rachel do lado dentro do quarto. Terminei meu banho e me troquei. Ainda com o cabelo molhado sai do banheiro.

Rachel não me viu sair, então fiquei parado um tempo reparando nos detalhes que o sono em excesso não tinha me permitido olhar. Rachel usava um shorts jeans e uma blusa larga, como se não quisesse deixar transparecera verdadeira beleza que tinha. A mesma coisa que sempre observei em.... Annabeth, como ela também tinha o mesmo costume.

Parei meus pensamentos quando notei quão errado era comparar uma com a outra.

Bem, ela também tinha o cabelo solto como sempre, e estava apoiada sobre os joelhos em cima de minha cama, desajeitada para que seus pés não relassem no colchão, ela tentava observar o chifre do Minotauro pendurado na parede de meu quarto, bem em cima da cama. A recordação de minha primeira aventura como semideus, e quando descobri o que significava ser um.

Fechei a porta atrás de mim e ela se virou, como se tivesse sido pega fazendo algo de errado, Rachel deslizou novamente, sentando-se na cama.

Eu sorri para a menina.

–Eu tinha 12 anos quando consegui o chifre. –contei. –fui atacado ao chegar no acampamento, foi quando descobri que era um meio-sangue. Parece que foi ontem, e já fazem 5 anos.

Rachel esperou, provavelmente na expectativa que eu desse detalhes da história, mas era uma história longa e triste, e apenas mais uma que me faria parecer o herói que eu nunca acreditei ser, e que nunca pedi pra ser. Eu sorri para ela, mas não prossegui com a história. Ela sorriu também, e se levantou com a cesta em mãos.

–Vamos, temos um piquenique a fazer.

...

Estendi a toalha que Rachel trazia pelos campos de morango enquanto ela se sentava e tirava de lá pães, refrigerante, suco, frutas e doces, um café da manhã super completo.

–Onde você conseguiu tanta comida? –perguntei maravilhado.

–No refeitório. Bem, o refrigerante em latas foi com os Stolls, já que o refeitório só tem em copos, e eu fiquei com medo de quebra-los.

–Você é incrível, sabia? –disse mordendo um pão com uma fome enorme que não sabia que possuía. Na verdade, não me lembrava da última vez que de fato havia comido alguma coisa. Parecia fazer dias.

Rachel pegou uma maça e a mordeu vagarosamente, fazendo com que eu, inconscientemente –eu juro- reparasse em seus labios, e sentisse uma vontade enorme de beija-la.

Porém, tudo que fiz foi enfiar outro pão daqueles na boca.

–Então, o que tem feito no acampamento quando não está recitando profecias mortais? –Rachel sorriu, e comeu um dos pães que havia pego. Provavelmente para ver o que o pão tinha de tão bom que eu comia um atrás do outro.

–Bem, eu não tenho muitos amigos ainda, então pinto um pouco. –ela deu de ombros.

–Preciso te apresentar alguns amigos meus.

–Seria bom.

–Também não entendo nada de arte. O que voce pinta?

Ela ergueu os olhos, interessada no assunto. Seus olhos esverdeados encontraram os meus. Era um verde diferente do meu, um verde mais claro, mais delicado e doce. Não eram os verdes agitados e marítimos que eu mesmo possuía. Sinceramente? Eu preferia o tom dela, preferia a tranquilidade.

Rachel descrevia uma paisagem que ela dizia pintar, fechei os olhos para imaginar o local. Ela descrevia uma montanha que dava para um vale, parecido com a colina meio sangue, o sol se punha atrás da montanha e a silhueta de uma garota em um banco era o destaque no fundo da paisagem. Era uma imagem relaxante, calma e bela, mais ou menos como eu via Rachel. Tudo bem, ela não era o que a maioria das pessoas do mundo a descreveriam como calma. Rachel era animada e agitada, eu sabia disso, mas minha vida tendia a ser tão agitada que fazia a menina parecer uma brisa calma.

–Percy? –eu não tinha notado quando, mas minha mente se tornava sonolenta, a parte do rosto que era apoiada em uma das minhas mãos já estava adquirindo a marca dessa. Meus olhos se tornaram pesados ao tentarem se abrir, mas eu o fiz assim mesmo. Pensei que veria uma expressão brava, triste, até mesmo ofendida em Rachel, por estar prestes a cochilar em quanto ela falava. Mas tudo que vi foi um olhar cuidadosos e preocupado sobre mim. –Percy, voce está se sentindo bem?

Só quando ela perguntou, me dei conta que minha mente rodava e meu estomago estava embrulhado, ele parecia ter o tamanho referente a uma ervilha, que tentava empurrar todas os pãezinhos que havia comido anteriormente.

–Acho que não muito... –me queixei.

Rachel se afastou um pouco e em seguida cruzou as pernas.

–Deita, voce parece prestes a desmaiar de cansaço, no mínimo. –ela disse com a expressão carregada de preocupação, sem um pingo de malicia. Então eu me deitei em seu colo, e suas mãos e unhas compridas passaram a brincar com meus cabelos ainda úmidos. Ela não parecia preocupada se meu cabelo molhado molharia ou não seu short.

–Percy, o que voce fez depois da festa? Foi atacado por um hipopótamo, só pode.

Eu queria poder usar a tão útil e interessante informação que havia adquirido no Animal Planet semana passada, sobre como um hipopótamo e muito mais rápido que um ser humano e como eu saberia o que fazer caso um hipopótamo me atacasse. Eu subiria em uma árvore, obvio. E vocês já sabiam disso, é claro. Contudo, minhas energias foram gastas quando resolvi explicar para ela a real situação.

Olhei para cima, para seu rosto, enquanto alguns fios de seus cabelos ruivos pareciam acariciar minhas bochechas tanto quanto seus dedos em meus cabelos. A vi gargalhar quando descrevi os deuses limpando o refeitório sem nem mesmo saber segurar uma vassoura, a vi ficar preocupada quando contei da minha formosa queda da arvore e depois rir quando eu mesmo ri da situação, e a vi morder os labios quando contei sobre o vinho grego estragado e sua reação alcoólica, principalmente sua reação “ressacal”, –palavra a qual eu acabei de inventar, e daí? –me garantindo a dor de cabeça e enjoo de uma ressaca em proporções divinas.

–Voce não pode se curar da ressaca? –ela perguntou.

–Não, por que Zeus tirou os meus poderes, meus e dos outros deuses envolvidos na festa. –as sobrancelhas de Rachel se ergueram.

–Durma um pouco, voce mal deve ter dormido essa noite. –voce não tem ideia...

–Aqui? –perguntei.

–Por que não?

Eu sorri junto a ela, que em seguida se debruçou sobre mim, me beijando nos labios. Eu a segurei pelo queixo em um beijo desajeitado, de ponta cabeça. Sorri entre o beijo, e Rachel nos separou, voltando suas mãos em meus cabelos.

Mal soube quando foi que adormeci. Foi vagarosamente, calmamente e tranquilamente.

Eu tive um sonho estranho. Na verdade, não sei se foi bem um sonho.

Me lembro apenas de fragmentos dele. Escuridão. Apenas a escuridão pura e simples. Fosca. Apesar disso, se olhasse alto o suficiente, conseguia ver a escuridão se dissipar o suficiente para que um brilho dourado fosse visto, mas pequeno e insignificante se comprado a escuridão.

Algumas figuras pareciam brigar, colidir entre si. Pessoas desfiguradas, machadas. Manchadas de vermelho. De sangue? Não, uma delas era inteiramente vermelha só por si. O brilho mutuo parecia ameaçar despencar sobre as desfiguradas pessoas a colidir. Quem mantinha aquele brilho aceso?

Quem?

Quem disse que se tratava de alguém?

Isso não faz sentido.

–Percy?

A voz de Rachel me acordou. A costas de sua mão estava em minha bochecha, ela tinha o olhar preocupado sobre mim.

Saltei de seu colo quase colidindo nossas testas.

Colidindo....

Me sentei depressa e corri as mãos pelos cabelos. Minha cabeça ardia e meus tímpanos estouravam.

–Percy! –ela chamou novamente, se postando na minha frente. –O que aconteceu?

–Eu tive um sonho tão, tão estranho.... –admiti, suspirando. –deuses.

–Estranho tipo uma vaca dançando balé ou o tipo estranho perigoso sobre monstros e deuses zangados?

A verdade é que aquilo fora estranho, simplesmente estranho. Não era como se eu estivesse vendo uma cena completamente real, como eram alguns dos meus sonhos. Mas não parecia ser o tipo de sonho estranho que um mortal sonha. Afinal, nada que acontece comigo e digno de um mortal comum, tudo é sempre muito maior, muito mais perigoso.

Contudo, a poeira parecia abaixar a meu redor, e a sensação de qualquer perigo próximo era quase imperceptível se comparada ao desejo de paz e tentativa de felicidade que preenchia todo o meu ser. Como poderia eu, deixar toda a paz a meu redor se dissolver, deixar os traços delicados de Rachel preocupados, e deixar que as olheiras constantes que costumavam preencher minhas faces cansadas continuassem sempre presentes? Eu tentava construir uma paz que poderia se dissolver com uma frase, com a confirmação da segunda opção dada por Rachel.

Rachel ainda me encarava, aguardando minha resposta com os olhos agitados correndo o meu rosto. Me perguntei se ela também não possuía hiperatividade.

–O tipo que nós não precisamos nos preocupar. –sorri para ela e me inclinei para beija-la.

Ela me parou, com a mão sob meu peito, com nosso narizes quase se tocando.

–Tem certeza? Voce parece preocupado. –enquanto ela falava, o ar quente de seu hálito de maça moviam a ponta de meu cabelo.

Eu sorri, tentando desfazer a pose de tensão que ainda me apoderava.

–Tenho certeza.

Ela não parecia convencida, mas eu certamente também não parecia certo de minhas próprias palavras. Mesmo assim, deixou que eu me aproximasse e a beijasse calmamente.

–A quanto tempo estamos aqui? –disse entre um beijo e um suspiro de Rachel.

–Muito tempo. Já são quase três da tarde. –me separei de Rachel, confuso.

–O que fez por tanto tempo, quanto eu dormia? –perguntei, e ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. Só então notei que ela tinha um lápis de desenho atrás da orelha também. Corri os olhos pelo lugar e encontrei um bloco de desenhos. –voce desenhou?

Eu sorri e tentei pegar o bloco, ao lado de Rachel, mas a menina se jogou em cima dele primeiro.

–Não, não. Eu não acabei. Ficou horrível. –ela dava desculpas enquanto colocava o bloco atrás do corpo. –Não pode ver.

–Vamos.... –insisti, alongando feito uma criança a primeira silaba. –me deixe ver!

–Ficou horrível!

–Nada que voce faz horrível! –argumentei e Rachel ficou vermelha. –por favorzinho?

–Não, Percy.

–Tudo bem então. –disse.

A desculpa fez com que Rachel se desarmasse tempo o suficiente para que eu avançasse novamente no bloco atrás dela.

–Não! Percy! –ela protestou, mas tinha um sorriso no rosto.

Quando finalmente consegui pegar o bloco de desenhos com as pontas dos dedos, Rachel já havia se jogado de costas contra ele. Bem, na realidade, ela não tinha se jogado, exatamente. Eu havia me debruçado sobre ela para pega-lo, e sem desistir, Rachel havia caído sob a grama, e sob o caderno.

A boa notícia é que eu ainda estava por cima de Rachel.

Ela não teve muita escolha quando eu puxei o caderno de baixo dela.

–Tudo bem, voce venceu! –ela exclamou

–Venci mesmo. -mas eu não resisti a beijar a pontade seu nariz franzido em frustração.

Eu me sentei e abri o caderno. Ela se sentou em seguida.

Rachel havia nos desenhado, havia desenhado aquela exata cena. Eu deitado sobre seu colo, com o cabelo de Rachel cobrindo quase inteiramente seu rosto, mas o meu estava bem a mostra, estava.... Perfeito. Linhas perfeitas traços perfeitos. Nós estávamos rodilhados pela plantação de morangos, mas o fundo estava incompleto, assim como os traços de meu rosto.

–Eu disse que não tinha acabado. –ela tirou o caderno de minhas mãos. –e que estava horrível.

–Está lindo, Rachel! –ela me olhou feio, como se gritasse para eu parar de mentir. Coisa que eu não estava fazendo, por favor. –Qual é, tudo que eu sei fazer é bonequinhos de pauzinho, por isso minha professora de artes da primeira serie me detestava. –tentei fazer graça, e Rachel sorrio. –Está lindo, mesmo.

–Queria que voce tivesse me deixado concluir o desenho. –ela disse, repuxando o canto do lábio levemente para baixo.

–Bem nos poderíamos...

Não consegui concluir a frase, pois um trovão estralou no céu. O que era estranho, por que o céu parecia limpo até poucos minutos atrás. Ou será que havia dormido demais, e não notara as nuvens negras se aproximando?

–Percy? –Rachel chamou, enrugando a testa confusa par aos céus. –pensei que voce tivesse dito que não era possível chover no acampamento.

–E não é. As nuvens vão nos contornar antes de chegar em nos.

–Já estão em nos.

–Serio?

Ela não conseguiu responder, pois outro trovão explodiu nos céus, e a chuva começou a cair sobre nós. As águas eram fortes e intensas, fria e grossa, rude e zangada.

Eu iria falar com Zeus sobre isso assim que ele aparecesse para nos devolver nossos poderes, mas o fato de raios chicotearem o céu tão fortemente fazia-me pensar que se o humor de Zeus estivesse ali, eu ficaria sem meus poderes por um bom tempo.

–Vamos! –peguei Rachel pela mão em quanto ela usava a outra para colocar a cesta vazia de piqueniques sobre a cabeça, tentando diminuir o fluxo de agua que caia sobre ela e molhava seus cabelos e todo o resto de seu corpo, assim como o meu. –meu chalé é perto daqui, mais perto que a sua gruta.

Rachel não discutiu, até porque se sua boca estivesse se enchendo de água tanto quanto a minha, também preferiria não pronunciar. Mal conseguia enxergar de tão densa que era a chuva. Via campistas confusos correndo e se abrigando da tempestade. Alguns olhavam para mim, procurando alguma explicação para aquilo, mas eu não tinha uma explicação, então ignorava os olhares.

Abri a porta do chalé e ombro a ombro a Rachel, nós corremos para dentro.

...

Eu havia prometido a mim mesmo que não o faria, mas me pegava refletindo sobre o sonho que tivera, e o quão pouco sentido possuía. Por que um sonho tão pouco compreensível me perturbava tanto? Quando se trará de algo obvio, ou ao menos algo capaz de se compreender, costumo me preocupar por saber da gravidade dos fatos. Agora não ter a mínima ideia do que se trata? Isso sim é apavorante. Saber o que está acontecendo é horrível, mas não saber é pior ainda.

Na verdade, a pior parte era não conseguir chegar a uma conclusão nem do que vi, nem do que fazer em seguida. Queria ignorar aquilo, tira-lo da minha mente, mas era impossível, o assunto parecia martelas em minha mente. Minha cabeça queimava como se alguém quisesse entrar em minha cabeça para colocar as respostas. Só podia ser efeito do Vinho Grego.

–Tudo bem? –A voz de Rachel soou da porta do banheiro. Dei meu máximo para desfazer a tenção do meu corpo, tentando inutilmente fazer-me parecer distraído e tranquilo jogado em minha cama.

–Ótimo. –confirmei e sorri para ela.

Rachel havia tomado uma ducha pela chuva fria, e pela falta de roupas limpas emprestei-lhe um blusão e uma calça de moletons. A blusa lhe ficara grande, é claro, as magas eram compridas e a blusa chegavam-lhe nas coxas, quase nos joelhos, por sinal. Já a calça... era outro assunto. A vestimenta ficava tao larga em sua cintura que acreditava caberem duas Rachel dentro dela. Ela segurava a camada frouxa da calça com a mão direita, enquanto a esquerda se apoiava na porta.

–Voce jura mesmo que não tem nada menos largo que isso? –ela perguntou, fazendo careta. Era obvio que ela não se importava com a aparência desleixada que o moletom lhe causava, eu mesmo compartilhava de moletons parecidos com o dela, mas a calca era tão larga que se ela o soltasse, provavelmente cairia.

–Levei minhas roupas antigas de quando cheguei ao acampamento de volta para casa do começo do verão passado. –ela franziu o nariz e enrugou a testa. Não foi proposital, mas vê-la dentro de roupas tão grandes e ainda enfezada fez com que a cena de tornasse cômica, mas piedosa. Me levantei e caminhei até a cômoda. –Ah, deve ter alguma coisa por aqui....

Revirei minhas coisas para encontrar blusas do acampamento furadas e rasgadas dos anos anteriores. Eram blusas estragadas que usava em missões e que se tornavam completamente inutilizáveis, mas continuava as guardando. Quando olhava para lembranças presas em coisas como o chifre do minotauro, eu enxergava um herói que eu não era, mas quando via camisetas estragadas e rasgadas, eu via o menino que falhava e que levava voadoras de monstros mais vezes do que os partia em cinzas. Aquilo fazia com que eu me sentisse encorajado a treinar mais, me esforçar mais, levantar e lutar.

Bem, talvez a falta de minha mãe para inspecionar minhas roupas também contribuíssem para as blusas acumuladas.

Fechei uma gaveta e abri outra, depois mais outra e mais outra.... Até que na última gaveta, enterrado entre meus jeans e bermudas, encontrei uma peça conhecida, mas que não tinha ideia que estava ali.

Se tratava de um shorts jeans. Curto, pequeno, velho e gasto, mas em perfeito estado e ainda com o cheiro da dona, Annabeth Chase.

Como foram parar nas minhas coisas? Provavelmente era a troca de roupa de alguma missão, mas uma recente, pois o tamanho não era pequeno o bastante para servir em uma Annabeth versão 12 ou 13 anos de idade. Deveríamos ter nos confundido ao arrumar nossas coisas em algum momento e devo ter colocado o shorts em minha mochila e depois simplesmente socado as roupas em minha cômoda. A suposição fazia total sentido pra mim.

Passou pela minha cabeça como Annabeth ficaria brava se eu emprestasse a roupa para Rachel, mas me passou também que, desde que se tornou uma caçadora, Annabeth não havia voltado a usar shorts, apenas vestidos, talvez até fosse proibida de tal.

Fiz uma careta rápida e a desfiz antes de me virar para Rachel.

–Tenho isso. –disse, e lhe joguei o shorts.

Rachel pegou e riu.

–Lindo modelito. –ela o segurou com uma das mãos, só não segurando com a outra para manter a calca na cintura. –deve ficar uma gracinha em voce.

Ela sorriu e voltou pro banheiro para se trocar, e eu voltei para minha cama, com a coberta por cima de mim, me esquentando. Rachel não perguntou de quem o shorts era ou o que estava fazendo ali, Rachel sabia que Annie era a única menina com quem tinha amizade, e sabia que minhas chances com ela eram tão pequenas que sentir ciúmes era inútil. Bem, ou isso ou era ótima em disfarçar.

–Melhor? –perguntei quando ela saio do banheiro com o short, jogando a calça em minha direção.

–Perfeito!

–Não está com frio? –perguntei ao notar que ela abraçava os braços mesmo cobertos pelo moletom, apenas imaginava o frio das pernas. Em pensar a pouco tempo atrás o sol invadia o acampamento e agora o frio havia dominado o local. Rachel acenou timidamente com a cabeça. –Vem cá.

Encostei minhas costas contra a parede e tirei o cobertor de metade da cama de solteiro, dando um espaço para ela em baixo das cobertas quentes. Rachel hesitou por um instante, mas correu até a cama em passos curtos e saltitados que evitavam tocar o chão frio com apenas meias entre seus pés e ele.

–Eu te ofereceria outra cama –disse, esticando os braços para a cama acima de nossas cabeças. Afinal, era uma beliche. –mas elas não temos cobertas. Só Tyson dorme aqui e, como é um ciclope, não tende a sentir muito frio.

Eu queria ter uma cama de casal para horas como essa.

Rachel se encolheu contra meu peito.

–Não se preocupe, aqui está ótimo. Está mais quentinho com nos dois aqui.

Pensando bem, eu não queria uma cama de casal, não.

Não sei quando foi, mas antes que pudesse me dar conta nos já estávamos nos beijando. Como voce pode beijar alguém sem nem ao menos notar, Perseu? Juro que não sei. Em algum momento de nosso transe de tentar se aquecer um no outro, nossos corpos pediram por um beijoque nos cedemos. Nos beijávamos embaixo das cobertas quentes. Um corpo sobre o outro, um lábio sobre o outro. Éramos sobreposições de pessoas, sentia as bochechas de Rachel quentes em meus labios e suas mãos frias em minha nuca, suas coxas estavam frias e se enroscavam na minhas aquecidas.

–Como vocês mortais aguentam um frio desse? –a porta foi arregaçada sem bater e de repente, quebrando o silencio de beijos com gritos eufóricos. Era como se alguém tocasse bateria dentro de uma sala de aula em exame final. –Puta merda!

A cama era estreita, Rachel e eu estávamos enrolados em cobertas e um no outro. No momento em que, com o susto, me levantei da cama para olhar a porta enrosquei meus pés na coberta –ou seria em Rachel? -e rolei cama a baixo. E Rachel com estar presa a mim pelos cobertores, rolou junto. Ela caio por cima de mim, fazendo com que eu xingasse o mundo pela segunda queda em dois dias e ficasse aliviado por ela não ter caído de costas no frio e duro chão. Eu compensação eu tinha, mas não vamos nos apegar a detalhes.

Sinto muito, mas eu tive uma crise histérica de risos em seguida. Rachel me acompanhou em quanto o deus do sol tinha as mãos sobre os olhos, mas com fendas entres os dedos claramente abertas.

–Gritem se não estiverem vestidos. Gritem se não estivessem vestido. Gritem se.... –Apolo tirou as mãos dos olhos e nos viu rindo no chão, completamente vestidos, por sinal, é claro. –ah, isso é decepcionante.

–Tarado. –acusei, ajudando Rachel e se pois de pé. –é claro que estamos vestidos.

–Mais cinco minutos e a cena poderia ter sido diferente, conquistador. –ele deu de ombros, fazendo pouco caso. Não tive coragem de olhar para Rachel, mas sabia que a menina corava.

–O que voce está fazendo aqui, Apolo? –perguntei.

–Ah, eu estou dividindo um quarto com Ártemis, já que só tem dois quartos vagos e Afrodite insistiu em ficar com um deles.Com insistiu eu quero dizer que ameaçou acabar com todo romance que eu tivesse com mortais pelo próximo século assim que recuperasse os poderes. E eu não duvido daquela deusa. –ele reclamou. –Está o frio do caramba e as duas pegaram todas as cobertas pra elas. Inúteis. Então eu vim aqui em busca de abrigo e aquecimento.

–Eu não tenho cobertores aqui. –disse.

–Por isso estão dividindo a cama? –ergueu uma sobrancelha.

–Como chegou aqui sem se molhar? –desviei o assunto.

–Trouxe um grada-chuvas, ué. –disse ele. –mas deixei lá fora para não molhar sua aconchegante residência.

–Não vai molhar por que voce está de saída. –eu disse, empurrando Apolo. –não posso te ajudar, não tenho poderes nem cobertores. Peça a Quíron!

–Voce é um jovenzinho muito mal, Percy! –ele disse. –Aliás, boa sorte. –ele sussurrou, piscou malicioso para mim antes de desaparecer com um guarda chuvas rosa choque estampado com o slogan dos pôneis de festa noite chuvosa a dentro.

Me virei para Rachel, mas ela estava virada de costas para mim, com uma das mãos apoiadas na cabeceira da cama.

–Sinto muito por ele. –disse me aproximando dela. –Ele fala demais mas no fundo é uma boa pessoa. –Rachel continuou sem se mover. –Rachel, voce está bem?

Toquei seu ombro e ela se virou para mim. Ela tinha uma das mãos agarradas aos cabelos, pressionadas contra uma das têmporas. Sua outra mão não apenas segurava a cabeceira, se apoiava completamente nela. Seus olhos estavam apenas semiabertos e seus labios não tinham cor alguma, assim como seu rosto.

–Rachel? –ergui o braço para sustenta-la pela cintura e tentar conduzi-la a cama, mas antes que conseguisse Rachel desmaiou. Ela cairia para trás se não tivesse meus braços a seu redor.

Me ajoelhei a seu lado, deixando a gravidade nos levar. Toquei seu rosto, ela estava fria.

“É uma profecia! Só pode ser isso! Ela vai começar a recitar a qualquer instante, e então vai acordar bem, sã e salva...”

Rachel não acordou nos segundos seguintes. Eu passei um dos braços por suas pernas e a ergui do chão facilmente.

Abri a porta com os cotovelos e ombros e gritei em plenos pulmões em pânico pelo deus da medicina, que ainda se afastava, escuridão chuvosa e surda.

Rachel não faria nenhuma profecia essa noite, e eu temia que também não acordasse nela.


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Notas finais do capítulo

Ps1: Estou começando a shippar isso, admito. Não, não vai durar pra sempre.
Ps2: Como eu AMO Apolo!
Gente, como eu expliquei a cima (leia as notas iniciais) talvez demore para que eu poste o proximo capítulo... Então comentem para ver e conseguem converser a Elisa a escrever! E pra me deixar muitissímo feliz, né! Por que quando atrasamos para postar atrasamos de receber os lindos cometarios que voces postam aqui! Alem das recomendações, que eu AMO!
Ah, sim. Eu deixei uma grande brecha de suspense e mistério aqui. Vamos lá, gente, pra tudo existe um motivo! Por que voces acham que isso aconteceu com a Rachel?'
Dica:
1- Não, gente, eles são puros, ela não está gravida, antes que alguém pense besteira.
2- Nããããoooooooooooo, a Annie também não fez macumba! Ela não faria isso! A menina tem bom coração!
Agora eliminei bastente possibilidades, vamos oraculos! Pensem!
Até quando der, semideuses!



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