Saímos do Olimpo e fomos para o acampamento meio sangue. No caminho não falei muito com ninguém, estava perdido nos meus pensamentos, na verdade parecia que todos nós estávamos assim. Tudo que queria era dizer para Annabeth não virar caçadora, porém, não posso, essa decisão ela tem que tomar sozinha e eu não vou interferir, seria um péssimo amigo se o fizesse. Mesmo de de por dentro estar com uma vontade gigante de gritar para ela “Annabeth, não faça isso!”, tentava me manter calado sobre o assunto. Mas eu também tenho meus problemas, tenho a proposta de imortalidade e realmente não sei o que fazer, nunca achei que os deuses cederiam essa chance a mim, já que a maioria me odeia. Mas eles concordaram, e agora eu tenho a chance de viver para sempre... Ser um deus não é uma ideia tão ruim assim. Deve ser muito bom não ter que se preocupar com a escola, com a morte ou nada disso, com mais nada, apenas curtir uma vida eterna, mas, eu veria meus amigos morrendo diante de meus olhos e não poderia fazer nada, eu não aproveitaria a vida com eles, veria os filhos deles crescendo e morrendo e nunca podendo ficar com eles pois teria minhas obrigações de deus. Não poderia viver com minha mãe, minha única família.

Bem, e também tem Annabeth. Não sei o que eu sinto por ela, não exatamente. Mas não quero viver uma vida sem ela, ela é minha melhor amiga... Ou algo mais? Não tenho certeza. Agora já não tenho mais certeza da única coisa que podia dizer certa em minha vida a tempos atrás, minha amizade com ela. E se eu virar um deus, nunca mais saberei responder a essa pergunta, muito menos se ela se transformar em uma caçadora. Nos viveríamos toda a eternidade, porém, separados. Me pergunto e valeria a pena. Uma eternidade, porém, uma eternidade sozinho.

Foi a música alta do local que me tirou de meus pensamentos. Quando chegamos ao acampamento nos deparamos com uma festa no refeitório, parecia ser uma festa de última hora como se dissessem “Já que nós não morremos, vamos comemorar!”. Uma festa não era uma má ideia mas eu estava tão cansado que preferiria ir para o meu chalé e dormir por um bom tempo, até o natal, talvez.

A festa estava bem organizada, se é que podemos chamar um refeitório cheio de adolescentes imundos sobreviventes de uma guerra dançando e gritando de organizada. Bem, mas tinha até um rádio contrabandeado dos Stolls, acho que Quíron abriu uma exceção para comemorar o “Não fim do mundo” e permitiu a baderna, e já que os Stolls tem uma coleção de CDs de todos os tipos e de todos os gostos escondidos no chalé deles, não faltou nada. A comida estava tão deliciosa que parecia que colocaram uma pitada de flor de lótus sem que o Quíron visse. É claro que nem é preciso dizer que a música estava no tom perfeito para todos, isso é, alto, o que para mim não era lá muito bom para a terrível dor de cabeça que eu sentia.

Tínhamos acabado de chegar na festa quando começou a tocar “This is war”, obviamente, a música favorita de Clarisse. Tenho certeza que se ela não estivesse tão cansada teria subido na mesa e dançado loucamente, porém essa música não combina com o clima, já chega de guerra.

–Adoro essa música aumenta ai! – disse Clarisse.

–Não dá para tocar de música? Já cansei de guerra. – argumentou Annabeth, lendo meus pensamentos.

–Isso, chega de guerra. Trocem essa música ela está me fazendo ter dor de cabeça. –disse. -e falando nisso, alguém tem néctar ai?

A Clarisse protesta um pouco pela troca da música porém acaba cedendo, e a Thalia vai até o rádio e coloca o American Idiot, já que todos nós gostamos de Green Day. E mesmo que Green Day fosse um rock, agradeci por ela não ter escolhido nada muito mais pesado que isso, minha cabeça parecia ter sido arremessada ao chão, se bem que eu realmente não duvidava que tivesse sido.

–Cadê o néctar, cara de pinheiro? –enfatizei o apelido para irrita-la, que aparentemente deu mais certo do que queria.

–Cabeça de alga, estamos sem néctar. É só para os que realmente precisam de cura e não pessoas que estão fazendo drama como você.

Fiquei um pouco ofendido com isso, geralmente só a Annabeth me chama de cabeça de alga. Passado algum tempo a Clarisse muda a música e volta para This is War.

–Clarisse, chega de guerra!

–Eu gosto de guerras gente, qual o problema?

– ela diz, dando de ombros. –Filha do deus da guerra, lembram-se?

–Já chega de guerra, Clarisse, já não basta tantos mortos. – diz a Annabeth ficando um pouco irritada.

–Se não fosse pela guerra vencida, o olimpo estaria destruído agora, Annabeth.

–Mas se não houvessem a guerra nossos amigos ainda estariam vivos e nada disso teria acontecido. –disse Thalia entrando na discussão depois de colocar o American idiot para tocar novamente com uma violência completamente desnecessária no apertar dos botões.

–Não foi culpa da guerra, foi culpa do maldito doCastellian. –retrucou Clarisse, e, estranhamente, eu concordava com ela pela primeira vez na vida.

–O Luke corrigiu o erro dele no final. –argumentou Annabeth

–Mas não é o erro de todo mundo que quase destrói o mundo. – eu murmuro, meu maior erro de todos, pois os ouvidos de águia da Annabeth ouviram.

–Perseu Jackson, você não disse isso! – Annabeth berrou, com uma fúria ao pronunciar meu nome que senti um frio correr a espinha. Quando meu nome inteiro era usado, a coisa não podia ser boa. –Luke foi um herói! Ele deu a própria vida para salvar a nossa, de todos nós, inclusive a sua! É assim que você dá seus pêsames pela morte do seu amigo?

Todos do refeitório ficaram espantados com a reação de Annabeth, e alguns semideuses começaram a sair da festa e ir para seus chalés, outros, se aproximaram para ouvir melhor a briga, e o que começou com uma discussão agora estava se tornando uma briga de verdade.

–Eu sei, ele deu as vida por todos nós, mas pense bem, se ele não tivesse começado com isso não precisaria se sacrificar no final. – eu disse defendendo meu ponto, já estou cansado do Luke ficar por cima, mesmo quando está morto.

–Dessa vez eu concordo com o Jackson, e olha nunca achei que diria esta frase, mas o Percy está certo, se o Luke não tivesse começado com isso a Silena ainda estaria aqui. –fiquei surpreso quando vi uma sombra de cansaço, luto e tristeza passar pelo rosto de Clarisse, coisa que ela faz questão de nunca deixar aparente; porém, aquilo se foi com a mesma rapidez de chegou.

–Olhe Clarisse, a Silena é tão culpada quanto o Luke, se não mais. – Thalia rebateu.

–A Thalia tem razão, o Luke estava possuído por Cronos, mas a Silena fez tudo por conta própria. – disse Annabeth, e eu não posso acreditar que, em uma primeira vez, concordo com Clarisse não com ela. Quando se discorda com os amigos e concorda com os inimigos, se sabe que a coisa está feia.

–Mas foi o amiguinho de vocês duas que levou a Silena a fazer isso, e ele fez isso bem consciente de si, bem antes dos olhinhos dourados. –ela apontou para os próprios olhos castanhos e cheios de raiva.

–Tenho que concordar com a Clarisse. – eu digo para reforçar a opinião dela, que no caso está totalmente certa.

–Eu esperava mais de você Percy, da Clarisse eu já sabia dessa falta de compaixão, mas de você? – disse a Annabeth com uma cara misturada com uma raiva e decepção. Eu não consigo entender por que ela está defendendo Luke tão fielmente, a Clarisse está certa, se não fosse pelo Luke esta confusão nunca teria acontecido.

–Não sei quem começou com esse assunto, mas eu só estou dando minha opinião sincera. Acho que foi culpa do Luke.

– Cala a boca, Jackson, ninguém te perguntou nada! – disse a Thalia, se exaltando e batendo com a mão na mesa, cheia de fúria.

–É melhor você parar se for pra ficar insultando Luke, Percy, por que você está errado. – disse Annabeth, ela parecia estar se controlando para não voltar a berrar.

–Ninguém pediu minha opinião, mas eu quero dá-la. Não acho que o Luke tenha sido um grande herói, só acho que tenha concertado o erro dele, um erro que custou muitas vidas. –digo. –veja bem, se alguém cometeu um erro que custou tantas vidas e depois o corrigiu, fazendo com que outras fossem poupadas, eu até concordo que tenha se concertado seu erro, mas muitas pessoas morreram da mesma maneira. Isso não faz dele um herói.

–Percy, ele foi uma coisa que você nunca será, ele era o herói da profecia e não você. Ele salvou o dia e não você.

–Você estava comigo, sabia que eu me sacrificaria se fosse o caso, não posso acreditar que não acredita nisso. Nossa Annabeth, depois de cinco anos pense que no mínimo voce me conhecesse.

Agora eu realmente fiquei irritado, como ela pode dizer isso? Como ela pode defende-lo mesmo sabendo que ele está errado? Ele cometeu um erro e tentou concerta-lo ao final, deu a vida dele por isso, todos estamos triste pela morte dele, mas isso não faz dele um herói, ele apenas fez o que era certo no final. Mas ainda foi ele que causou toda essa confusão foi por causa dele que tudo isso começou, se ele não tivesse a ideia louca de destruir os deuses, essa loucura, essa guerra nunca teria começado, e nossas vidas continuariam as mesmas com todos os nossos amigos vivos e todos felizes. E ao em vez disso por causa dele nossos amigos estão mortos no campo de batalha, vários deles. Nenhum dele nunca mais verão o sol ou as estrelas novamente, eles nunca mais farão nada por que estão mortos e isso tudo é culpa de Luke.

Como ela pode dizer que ele foi um herói depois de causar a morte de tantas pessoas que nós amamos e sentiremos tanta falta? Realmente não acredito que a Annabeth está fazendo isso, ela não está usando a inteligência que sua mãe deu pra ela, e me atrevo a dizer que ela está sendo idiota de se cegar para a verdade e somente acreditar que o Luke foi um herói. Annabeth está tampando a verdade com um muro, como ela não consegue ver? Como ela não consegue ouvir? Por que ela está tão alienada em questão a ele? Porque ela não me ouve? Porque ela não vê o que estou de dizendo e admite que errou? Eu sei que ela é uma filha de Atena e não gosta de estar errada, mas no momento ela está errada por quer, já que ela que escolheu defender aquele idiota doCastellian e só ver as coisas “ boas “ que ele fez, ao em vez de ver os danos que ele causou, todas as mortes e os traumas que irão ficar em todos.

Ele quase destruiu o mundo e ela ainda o considera um herói? Eu realmente esperava mais da Annabeth.

–Preferia ser jogado no tártaro a ser um herói que ele foi.

–Percy, entenda você nunca chegara aos pés de Luke Castellian.

–Não quero ser um herói como ele, e quer saber? Ficaria ofendido se me comparassem com ele. –disse, agora com as palavras venenosas quase cuspidas para fora da boca, quase irreconhecíveis por mim mesmo.

Annabeth adquiriu uma expressão completamente indecifrável, mas seus olhos cinzas que antes brilhavam em um tom raivoso já não possuía brilho algum. Virou-se de costas e correu com passos longos e duros até a saída. Só percebi a basteira que tinha feito que tinha feito quando os cabelos loiros saíram do meu campo de visão.