Labirinto escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 7
Humilhação




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- Hã? Eu tô mesmo vendo isso? – Mônica esfregou os olhos várias vezes para certificar de que não estava imaginando coisas. Não, não estava. Havia mesmo uma luz no fim de um corredor e ela correu ofegante e esperançosa achando se tratar da saída. A luz ficou mais forte, quase lhe cegando. Ela cobriu os olhos e após alguns segundos, abriu novamente e viu que estava em seu quarto, sendo acordada com o despertador do celular.

Ela ficou confusa por um tempo e só o apitar insistente do celular fez com que ela se levantasse da cama e olhasse ao redor. Era mesmo seu quarto? Ela estava em casa? Sério mesmo?

- Será... será que foi só um sonho? – ela tinha medo até de se mexer e tudo aquilo acabar se desfazendo, levando-a de volta aquele labirinto do inferno. Nada aconteceu. Ao desligar o aparelho, ela viu que eram quatro da tarde e uma mensagem de texto chegou.

“Mô, não esquece que a festa vai ser às sete, viu? Beijo, Magá.”

- Festa? Que festa? Não tô sabendo de festa nenhuma! – um convite em cima da mesa de estudos fez com que sua memória se refrescasse aos poucos. Era uma festa no colégio organizada pelos professores. Nossa, como ela foi esquecer?

Mais aliviada por tudo ter voltado ao normal, ela correu para se arrumar. Era preciso tomar um bom banho, dar um jeito nas unhas, nos cabelos, fazer a maquiagem e, claro, vestir aquele lindo vestido que tinha comprado especialmente para a festa. Quando estava pronta, ela olhou o resultado no espelho e ficou satisfeita com o que viu.

Era um vestido vermelho, cor que ela gostava, com decote em V e um belo cinto preto marcando a cintura. Os sapatos também eram vermelhos e a bolsa preta. Tudo pronto, ela correu para o colégio sentindo-se muito feliz.

- Tomara que toquem música lenta! Assim vou dançar muito com o Cebola! Ai ai...

O colégio Limoeiro tinha um grande salão de festa e após apresentar seu convite, o segurança abriu a porta e ela entrou, parando logo em seguida.

- O-o que é isso? – ela perguntou olhando ao redor. Uma voz falou ao seu lado.
- E aí? Você gostou?
- Cebola! O que tá acontecendo aqui?
- Nada. Apenas uma homenagem a garota mais dentuça, baixinha e gorducha de todo o bairro!

Todo o salão estava decorado com desenhos e caricaturas parecidas com as que o Cebola fazia quando era criança. Eram desenhos com seus dentes enormes, outras lhe mostravam baixinha como um botijão de gás e outras eram grandes bolas com seus dentes e cabelos. Também havia bonecos, balões e toda a decoração da festa parecia destinada a lhe colocar na situação mais ridícula possível.

- Você ficou doido?
- Ué, achei que ia gostar! Ficou a sua cara, dentuça!
- Grrrr! Vai ver só uma coisa! – ela ia lhe dar uns coques quando o rapaz segurou sua mão com força e lhe jogou no chão. O que tinha acontecido com sua força?
- Não, gorducha. Quem bate agora sou eu! Hahaha! Ajoelhe-se diante do novo dono da rua!
- Seu desgraçado! Achei que a gente tinha se acertado!
- Acertado nada! Eu queria mesmo te derrotar e consegui! Tirei toda sua força e agora ninguém mais te respeita! Olha só!

No salão, estava toda a turma e outros alunos do colégio. Todos a chamavam dos seus antigos apelidos de infância. Ela chorava e implorava para que todos parassem.

- Eles só vão parar quando eu falar pra parar! – ele afastou-se, deixando-a sozinha e foi até uma moça loira de cabelos curtos. – Conheça minha nova e definitiva namorada: Irene!
- O quê? Você falou que nunca teve nada com ela, seu traidor! – Mônica gritou desesperada.
- E você acreditou? Mas é burra mesmo, viu? Eu falei isso pra você não perseguir a coitada, mas agora que não pode fazer mal a ninguém, eu finalmente tô livre pra ficar com meu grande amor! Não é, linda?
- Claro, meu gato!

Os dois se deram um beijo longo e caloroso, fazendo-a sentir como se seu coração estivesse sendo arrancado. Quando tentou sair dali, Mônica viu que a porta estava trancada.

- Onde você pensa que vai? A festa ainda nem começou!
- Dentuça! Baixinha! Gorducha!
- Não! Eu cresci e mudei muita coisa!
- Mudou nada! É a mesma anãzinha horrorosa de sempre! Olha!

Ela olhou a si mesma e viu que tinha diminuído de tamanho e aumentado a largura. Um grande espelho apareceu na sua frente lhe mostrando uma caricatura horrível. Ela não se parecia consigo mesma quando criança e sim com uma espécie de anã com o corpo deformado e os dentes enormes que nem cabiam dentro da sua boca. Todos continuavam gritando, rindo e em pouco tempo começaram a lhe atirar coisas. Até sua melhor amiga Magali estava no meio da multidão.

- Não, gente, por favor! Não faz isso! – ela implorava caindo de joelhos no chão. Não havia para onde fugir e nem se esconder e ela se encolhia toda para evitar os objetos que lhe atiravam.
- É isso aí, dentuça! Acabou! Peguem ela!

Um grupo avançou e a pegou pelas pernas e braços enquanto ela chorava e debatia. Eles a amarraram em uma parede, deixando-a imobilizada e Cebola aproximou com um marcador permanente na mão.

- Hum... acho que posso melhorar essa feiúra. Vejamos... – ele começou a desenhar em seus dentes e rosto, ignorando seus apelos para que parasse.
- Pára, por favor! Tá, você me derrotou, eu perdi! Agora me deixa ir embora!
- Te deixar ir embora? Agora que tá ficando divertido? Que nada, eu vou é te zoar até falar chega!

Após fazer vários rabiscos não só no seu rosto como também em seus braços e pernas, Cebola mandou que tomates fossem distribuídos por toda turma. Titi e Jeremias foi passando com uma grande caixa e cada um foi pegando uma unidade. Estavam bem vermelhos e maduros.

- É isso aí, pessoal! No três!

Ele se posicionou, ergueu a mão e Mônica implorou mais uma vez.

- Cebola, por favor não faz isso! Deixa eu ir embora, por favor!
- Um...
- Eu faço qualquer coisa!
- Dois...
- Por que tá fazendo isso? Eu ainda te amo! Por favor, escuta!
- Três! – ele gritou e o corpo dela foi bombardeada por tomates vindos de todos os lados. Era uma verdadeira saraivada e ninguém ali se importava com seu choro e suas súplicas.

Era a maior humilhação que ela tinha sentido em sua vida. Quando a chuva de tomates cessou, Irene chegou perto dela junto com o Cebola. Um tomate bem podre foi esfregado em sua cara, seguido de um tapa.

- Isso é por tudo o que você me fez! Agora o Cebola é meu, queridinha! E ele tá muito melhor comigo do que com uma horrorosa como você!
- Parem, eu imploro! – ela pediu num sussurro.
- A Irene tá certa, dentuça. Ela tá me fazendo mais feliz do que você jamais seria capaz de fazer. E fique sabendo que ela beija muito melhor do que você. Quer ver só?

Os dois se deram mais um beijo caloroso e Mônica fechou os olhos com força para não ver mais aquela cena. E tudo ficou silencioso. Quando não ouviu mais nada, ela criou coragem para ir abrindo os olhos aos poucos e viu que ainda estava no mesmo labirinto, estirada numa poça de lama.

Após se dar conta de que tinha sido mais um sonho maluco, ela começou a dar risadas sem saber se estava achando graça, se estava apavorada ou se tinha enlouquecido de vez. Ela ria e chorava ao mesmo tempo se debatendo na poça de lama.

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- E aí? O que achou?

Soranin coçou o queixo e disse com pouco caso.

- Nhé, tá mais ou menos. Te dou quatro pelo esforço.
- Grrrr! Seu invejoso! Então vai, faz melhor que isso! – o outro deu um sorriso perverso.
- Nem precisava pedir!


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