Labirinto escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 4
Angústia




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/431563/chapter/4


Andando pela rua, ele viu cartazes de procura-se por toda parte. Eram quatro cartazes diferentes. Um tinha o rosto da Mônica, outro do Cebola, Magali e cascão. Eles estavam pregados nas paredes, postes, latas de lixo e alguns espalhados no chão.

Licurgo pegou um de cada e foi examinando à medida que andava. Como ele foi deixar aquilo acontecer? Por que não percebeu antes que algo de errado estava acontecendo? Agora ele não sabia o que fazer e nem a quem recorrer, já que nunca tinha enfrentado esse tipo de situação antes.

Tudo estava normal quando há cinco dias atrás os quatro desapareceram sem explicação nenhuma. Eles tinham saído para algo que chamavam de “noite da turma clássica” e não voltaram mais. Simples, sem rodeios e complicações. Seus pais, lógico, estavam desesperados. Procuraram a polícia, pediram ajuda aos parentes, percorreram hospitais, pronto-socorros e até os necrotérios. Nenhum sinal deles.

Na escola o clima era de grande preocupação. Toda a turma e os professores estavam angustiados com esse desaparecimento repentino e tentavam ajudar como podiam. Mas nada adiantava. Era como se tivessem sido tragados pela terra.

A única pista que ele teve foi que os quatro mostraram mudanças no comportamento nos últimos dias. A Mônica estava mais irritada e esquentada que de costume, Magali parecia ter voltado aos seus hábitos antigos, Cascão parou de tomar seus dois banhos semanais e Cebola estava sempre andando para baixo e para cima com planos para derrotar a Mônica. Era como se tivessem voltado a ser crianças.

Ninguém reparou nesse detalhe, mas Licurgo logo ficou desconfiado que os ID’s tinham algo a ver com isso. O problema era saber para onde eles tinham sido levados. Sua busca na terra dos ID’s não tinha dado em nada. Ele não encontrou os jovens e nem seus monstros. Para onde teriam ido e por que os monstros resolveram agir de uma forma tão incomum?

- Tenho que pensar em alguma coisa, não posso deixar assim. – ele falou consigo mesmo em voz alta, sem se importar com as pessoas que passavam e olhavam. – Mas o que posso fazer? Talvez churros com chocolate? Isso deve ajudar!

Ele correu para a barraca de churros mais próxima e pediu um bem caprichado. Enquanto comia o doce, ele foi pensando no passo seguinte. Era obvio que ele precisava de ajuda, restava saber de quem. O Ângelo não seria de grande ajuda porque ele não tinha ID. Talvez o Nimbus? O que ele poderia fazer com aquelas mágicas de salão? Por fim um nome apareceu na sua mente, seguido por uma imagem bem desagradável. Era a última coisa que ele queria fazer e só de pensar seu estômago se revirava ameaçando expulsar o churro.

Não tinha jeito. Era isso ou deixar aqueles jovens a própria sorte. Se ele podia fazer algo, então não dava para ficar parado.

- Está certo, farei isso. Mas antes... um churro com doce de leite por favor!

__________________________________________________________

Seu Quinzão retornou a cozinha meia hora depois de ter saído e encontrou o filho na mesma posição, em frente a um bolo segurando o saco de confeitar. O rapaz tinha o olhar distante e não prestava atenção em nada ao seu redor. Por fim ele entendeu que o rapaz não ia conseguir fazer nada enquanto estivesse preocupado com a namorada.

- Filho, tu podes encerrar por hoje. Eu me arranjo até o fim do expediente.
- Obrigado, pai. – ele falou ainda com aquele olhar distante. Tentando animar o filho, o padeiro sugeriu.
- Não fiques assim. A polícia está a procurá-los. Logo vão aparecer. Por que não levas uns quitutes para os pais da faminta?

Quim pegou uma cesta e colocou alguns pães com queijo e presunto, pedaços de bolo e um pacote de biscoitos. Mesmo não sabendo se aquela comida ia Fazê-los sentir melhor, pelo menos lhe dava a sensação de esta fazendo alguma coisa. Ficar parado lhe deixava angustiado.

Ele saiu de casa ainda muito triste e desanimado. Será que Magali estava bem? O que tinha acontecido com ela afinal de contas? E se ela não voltasse nunca mais? Como ele ia viver o resto da sua vida? O rapaz deu um longo suspiro e continuou seu caminho até a casa dela. Tudo o que ele podia fazer era esperar.

__________________________________________________________

No quarto da Cascuda, as garotas tentavam lhe animar do jeito que podiam. Denise cuidava dos seus cabelos, Marina pintava suas unhas e Keika fazia a maquiagem. Nada parecia funcionar.

- Ai, gatz, força na peruca! Ficar de cara amarrada é ruim pra pele.
- Aham...
- Terminei. Olha como suas unhas ficaram lindas!

Por mais que elas tentassem, o clima era de tristeza e desolação. Não somente elas como o resto da turma também. Todos estavam apreensivos e preocupados com a situação dos quatro. Cascuda era uma das que sofria mais por causa do Cascão, mas as outras garotas estavam muito tristes. Até Carmem e Denise, embora não demonstrassem muito.

__________________________________________________________

Ele detestava ficar parado sem poder fazer nada. Enquanto todos esperavam pacientemente, DC queria fazer exatamente o contrário: tomar alguma atitude, fazer algo, qualquer coisa. Quando podia, ele andava pela cidade levando os cartazes com as fotos dos quatro perguntando para as pessoas, mas ninguém lhe dava a atenção. O rapaz chegou até a levar sua bateria para o centro da cidade e tocar bem alto para chamar a atenção de todos para o problema e acabou sendo levado de volta para casa pela polícia por perturbar a ordem.

Por que as pessoas eram tão insensíveis? Quatro jovens desapareceram e todo mundo se preocupava só com o próprio umbigo?

Um dia, por acaso, ele percebeu que o Licurgo também andava meio estranho e resolveu ficar de olho nele. Era provável que o professor soubesse o que estava acontecendo. Pensando assim, ele não perdeu tempo e foi até a casa do louco a procura de respostas.

- Heim? Você por aqui? – perguntou surpreso ao ver aquele rapaz na porta da sua casa. - Olha, seja lá o que for, conversamos sobre isso na escola. Agora se me dá licença...

DC impediu que ele fechasse a porta bloqueando com o pé e falou decidido.

- Você sabe o que aconteceu com eles, não sabe? Eu quero saber também!
- Isso não é da sua conta e acho que você não iria entender.

Falar assim foi um erro.

- Pois agora assim é que eu quero saber! E não vou sair daqui até você me explicar essa história direito!

Ele conhecia aquele rapaz o suficiente para saber que não ia poder enxotá-lo. O jeito foi deixá-lo entrar para contar o que sabia.

- Raptados por monstros do subconsciente que representam nossos defeitos?
- Eu falei que você não ia acreditar.
- Claro que eu acredito! Só não entendo como isso foi acontecer!
- Nem eu entendo porque nunca lidei com isso antes.
- Eles foram levados pra onde?
- Aí é que está. Nem faço idéia. Até agora não sabia que isso era possível.
- Blé, sempre achei que você pensasse em tudo!

Um tapa voou em sua cabeça, deixando-o irritado.

- Pô, qualé?
- Você está me fazendo perder tempo valioso. Eu preciso resolver essa crise o mais rápido possível. Eles podem estar em perigo.
- Demorô! O que a gente vai fazer?
- “A gente”? Escuta, garoto, por que você não vai jogar tênis com alguém?
- Porque tacar o tênis na cabeça das pessoas não é mais divertido. Ah, deixa disso! Eu também quero ajudar!
- E o que você pode fazer? Nem eu sei o que fazer direito! Além do mais, o lugar para onde estou indo agora é muito perigoso e...

DC deu um salto do sofá e falou com toda empolgação.

- Eu também quero ir! Anda, vai! Me leva, juro que não vou atrapalhar! Não amarra não!

Depois de muita insistência, Licurgo acabou cedendo e decidiu ter mais cuidado com o que falasse para aquele rapaz no futuro, já que o cérebro dele funcionava ao contrário. Aquele ali ia lhe dar muito trabalho.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!