Labirinto escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 2
Ilusões




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O dia estava bem tranqüilo. Seu pai lia o jornal, Mariazinha brincava com suas bonecas e sua mãe fofocava com as vizinhas. Cebola estava sentado no sofá mexendo com seu tablet acessando a internet.

- Rapaz, esse filme é da hora! – Ele falou empolgado ao ver que estava em cartaz um filme que foi anunciado no início do ano e todos esperavam ansiosos. – Vou chamar a Mô pra gente ir ao cinema.

Ele pegou o celular e discou o número dela.

- Ué, por que tá demorando pra atender? - geralmente, ela atendia depois de dois ou três toques, já que sempre levava o celular consigo.

Depois de tentar mais três vezes, ele ouviu uma voz eletrônica no outro lado da linha.

- "Não foi possível completar sua chamada. Seu pesadelo ainda não acabou!"
- Como é?

Um forte tremor sacudiu tudo e ele sentiu seu corpo sendo arremessado para a frente. Uma porta se abriu e ele caiu de cara no chão. Quando foi olhar ao redor, deparou-se com um conjunto confuso de labirintos, escadas, portas, janelas e alçapões. Então ele lembrou-se de que estava preso naquele lugar maluco.

- O que aconteceu aqui? – ele se perguntou esfregando o rosto e os cabelos apavorado. Tudo o que ele se lembrava era de ter aberto uma porta e de repente estava em sua casa. Tudo foi uma ilusão? Qual a razão de tudo aquilo? Lhe deixar louco? Então estavam conseguindo!

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- Haha, essa manobra foi radical! – Cascão falou após saltar um grande muro com destreza e agilidade. Ninguém naquele bairro era melhor no parkour como ele.

A sua frente, vários outros obstáculos esperando para serem contornados. Latas de lixo, bancos, corrimões... do jeito que ele gostava.

- E Cascão desvia do obstáculo! Dá um salto genial! Uhuuu! Olhem só essa manobra! Eu sou o rei do parkour! – ele foi falando consigo mesmo, como que narrando sua performance.

Mais a frente, ele viu um pequeno muro e não pensou duas vezes, saltando por ele agilmente como se estivesse voando. Mas do outro lado, ao invés do chão de concreto, ele viu água, muita água.

- Não, não, nãaaaoooo! – ele gritou sentindo seu corpo cair sem poder fazer nada, mergulhando totalmente na água e se debatendo para subir a superfície sem afogar.

Um pedaço de madeira apareceu ali perto e ele se agarrou fortemente engasgando por causa da água e fazendo um grande esforço para se lembrar onde estava e o que tinha acontecido.

Mais uma vez ele se viu perdido naquele grande oceano sem fim, sob o céu cinzento e sem vida.

- Socorro! Socorro! Alguém me tira daqui! – ele voltou a gritar olhando para todas as direções a procura de alguma alma viva que pudesse lhe ajudar. Nada. Somente a solidão e o desespero.

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Após enxugar o gato com a toalha, Magali usou o secador para completar o serviço. Mingau estava limpo e cheiroso, como uma linda bola de algodão.

- Não faz essa cara, você sabe que precisa tomar banho!

O gato deu um miado rouco, mostrando claramente seu desagrado. Ela não se importou e continuou usando o secador até que seu pelo secasse totalmente. Ele só ficou mais calmo quando ela começou a escová-lo. Para finalizar, um laço de fita vermelha ao redor do pescoço que ele certamente ia tirar mais tarde.

- Ai, olha como você ficou lindo! É o cuti-cuti fofinho da mamãe! Me dá um abraço!

Ela pegou o gato no colo e sentiu o corpo dele se desmanchando em seus braços. Ao abrir os olhos, a moça viu que estava de joelhos segurando um grande bolo de chantilly com cerejas e morangos. Seu corpo estava todo sujo e havia uma porção na sua boca.

- Não, eu não posso comer isso! – ela cuspia para todos os lados tentando limpar a boca e rezando para não ter engolido nada. – Droga, não tem água aqui!

Magali cuspiu até não sobrar mais nenhuma saliva e ainda limpou o resto com sua roupa. Ainda assim havia o medo de ter engolido alguma coisa sem perceber e a idéia de ficar presa naquele lugar para sempre fez com que ela chorasse como uma criança pequena, se enrolando no chão em posição fetal.

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- Aquela ali parece um coelho. Olha as orelhas e o rabinho de pompom!
- Haha, você sempre vê coelhos em tudo!
- É, inclusive na sua cabeça! – Mônica falou lhe mostrando o Sansão de um jeito ameaçador e depois caiu na risada.

Os dois estavam deitados na grama do parque do limoeiro, olhando as nuvens que flutuavam placidamente pelo céu.

- E você, o que tá vendo? Cebola?

Ela virou-se para o lado e não viu ninguém. Somente uma campina deserta que se estendia por quilômetros de distancia, sem nenhuma arvore ou arbusto onde alguém pudesse se esconder. Como ele tinha fugido tão depressa? Claro, ele sempre fugia, sempre dava um jeito de desaparecer.

- Cebola, isso não teve graça nenhuma! Cadê você?

Ninguém respondia e ela corria de um lado para outro de forma desorientada, sem saber para onde ir.

- O que tá acontecendo? Alguém responde! – ela correu mais depressa ainda e sentiu seu corpo se chocando contra algo duro, fazendo-a cair sentada no chão. Seu rosto doía, assim como suas mãos que ainda estavam machucadas.

Mais uma vez, ela se viu perdida naquele labirinto enlouquecedor. A única coisa que ela pode fazer foi olhar para o céu e dar mais um grito desesperado.

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Era um lugar bem escuro, onde se viam somente quatro grandes telas, cada uma mostrando um lugar diferente.

- Hahaha! Eu não me canso de ver isso! Por que diabos você não teve essa idéia antes?
- Não zombe de mim, idiota! Você não teria pensado nisso nunca!
- Com é? Quer brigar por acaso?
- Silêncio vocês dois, eu não quero perder nada do programa!
- Perder o quê? – aquele que se dizia autor da idéia falou em tom de zombaria. – Você bolou o lugar mais chato e sem graça de todos! Ele só fica ali boiando sem fazer nada!
- Hunf! Vocês não entendem nada de diversão! Ele jamais teria ficado apavorado nesses labirintos bobos que vocês inventaram! Mas olhem o pavor no rosto dele! Olhem o medo de morrer naquele abismo aquático! Ah, isso é lindo demais!

O quarto componente do grupo assistia a tela em silêncio e o mais esquentado de todos resolveu provocar um pouco.

- Era sua intenção torturá-la ou recompensá-la? Por que a mandou para o paraíso dos doces?
- Quer tortura maior do que estar cercada com coisas deliciosas e não poder dar nenhuma mordida? Quero só ver por quanto tempo ela vai agüentar.

Os outros deram uma grande risada e cada um voltou a olhar sua vítima.

- Que tola! Não adianta socar nem chutar as paredes! Elas têm dois metros de espessura e se estendem até o infinito! Isso, fique com raiva! Fique com muita raiva e me fortaleça!
 


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